É tão liberal e tão grata a Rainha do céu, que retribui com grandes favores os pequenos obséquios de seus servos, diz Santo André de Creta. Todavia duas coisas são precisas para que ela assim nos recompense. Em primeiro lugar devemos oferecer-lhe nossos obséquios com a alma limpa de pecado. Do contrário nos acontecerá o que São Pedro Celestino relata. Um soldado viciado tinha por costume fazer todos os dias um ato de devoção em honra de Nossa Senhora. Certa vez sentiu muita fome. Apareceu-lhe a Virgem e apresentou-lhe um manjar delicioso, mas dentro de um vaso tão sujo, que ele teve nojo de comer.
– Eu sou a Mãe de Deus, disse-lhe então Maria, e vim saciar tua fome.
– Mas a falta de asseio que noto me impede de comer, observou o soldado.
– E como queres tu, replicou a Virgem, que eu aceite as tuas devoções, oferecidas com uma alma tão imunda?!
Com isso o pobre converteu-se, fez-se eremita e viveu 30 anos no deserto. Na hora da sua morte, apareceu-lhe de novo a Santíssima Virgem, levando-o para o céu.
Afirmamos, na Parte Primeira desta obra, ser impossível, moralmente falando, que se perca um devoto de Maria. Verifica-se, entretanto, isso com a condição de que ele viva sem pecado, ou que pelo menos tenha desej o de converter-se. Nesse caso, certamente, Maria o ajudará. Quisesse alguém, ao contrário, pecar na esperança de ser salvo por Nossa Senhora, e se tornaria por sua culpa indigno e incapaz da proteção de Maria.
Em segundo lugar nossa devoção deve ser perseverante. Só quem persevera recebe a coroa, diz São Bernardo. Tomás de Kempis, sendo menino, costumava todos os dias recorrer à Virgem Maria, com certas orações. Um dia, porém, delas se esqueceu, e depois omitiu-as durante umas semanas. Finalmente, as abandonou por completo. Certa noite, viu em sonho como Maria abraçava os seus companheiros, mas em lhe chegando a vez de ser abraçado, ela disse: Que esperas de mim, tu que deixaste as tuas devoções? Afasta-te, que és indigno de um abraço meu. – Tomás despertou aterrorizado e recomeçou com as costumadas devoções.
Com razão assegura por isso Ricardo de São Lourenço: Quem é perseverante na devoção de Maria, pode nutrir a bela esperança de ver realizados todos os seus desejos. Como ninguém, entretanto, pode estar certo de tal perseverança, ninguém por isso pode também ter certeza de sua salvação, antes da morte. Memorável ensinamento deixou a seus companheiros São João Berchmans, da Companhia de Jesus. Estando ele para morrer, perguntaram-lhe por um obséquio que fosse muito agradável a Nossa Senhora e dela lhes obtivesse a proteção. O Santo respondeu: Pouca coisa, mas com constância.
Vou, contudo, indicar, de um modo simples e sucinto, diversos obséquios que podemos ofertar à nossa boa Mãe para alcançar sua benevolência. É esta, em minha opinião, a coisa mais importante de quantas deixo escritas nesta obra. Mas não recomendo a meu leitor que as pratique todas. Pratique antes aquelas que escolher, mas com perseverança e com temor de perder a proteção da divina Mãe, se vier a deixá-las. Ah! quantos dos condenados de hoje se teriam salvado, se houvessem perseverado nas práticas de devoção em honra de Nossa Senhora!
I. A Ave-Maria
Resumo histórico.
Até o século XV, a Ave-Maria terminava com as palavras “Jesus Cristo. Amém”. Daí em diante ajuntou-se-lhe a jaculatória “Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores. Amém”. A partir do século XVI, veio então o final da oração com as palavras: Agora e na hora de nossa morte. O Papa Pio V colocou no Breviário a Ave-Maria assim rezada. Mas ainda no ano de 1732 em muitos lugares o povo rezava só a primeira parte da Ave-Maria. – (Nota do tradutor).
Muito agrada à Santíssima Virgem a saudação angélica
Por ela lhe renovamos a alegria que sentiu, quando São Gabriel lhe anunciou que fora eleita para Mãe de Deus. Nessa intenção devemos saudá-la muitas vezes com a Ave-Maria.
Saudai-a com a Ave-Maria, diz Tomás de Kempis, porque ela gosta muito dessa saudação. Que não lhe podemos dirigir saudação mais agradável, do que com a Ave-Maria, disse-o a Virgem a Santa Matilde. Por ela será também saudado todo aquele que a saúde. São Bernardo, certa ocasião, ouviu de uma estátua da Senhora as palavras: Eu te saúdo, Bernardo! Ora, a saudação de Maria consiste sempre em alguma nova graça, diz Conrado de Saxônia. Pergunta Ricardo: É possível que Maria recuse mais uma graça a quem dela se aproxima e lhe diz: Ave, Maria? A Santa Gertrudes prometeu a Mãe de Deus tantos auxílios na hora da morte, quantas Ave-Marias lhe houvesse recitado em vida. Alano de Rupe afirma que, ao ouvir essa saudação angélica, alegra-se o céu, treme o inferno e foge o demônio. Com efeito, atesta-o Tomás de Kempis, pois com uma Ave-Maria pôs em fuga o demônio que lhe aparecera.
A prática dessa devoção pode ser a seguinte:
a) Dizer de manhã e de noite, ao levantar e ao deitar-se, 3 Ave-Marias, ajuntando depois de cada uma a pequena jaculatória: Por vossa pura e imaculada Conceição, ó Maria, purificai meu corpo e santificai minha alma. Em seguida, devemos pedir a bênção a Maria, conforme fazia sempre Santo Estanislau, pondo-nos sob o manto de nossa Mãe e pedindo que naquele dia ou naquela noite nos livre de todo pecado. É recomendável que, para esse fim, tenhamos juntos ao leito uma bela imagem da Santíssima Virgem.
b) Recitar o Anjo do Senhor com as 3 Ave-Marias usuais, pela manhã, ao meio-dia e à noite. Foi João XXII o primeiro Papa que indulgenciou esta devoção (1328).25 Em 1724, Bento XIII concedeu cem dias de indulgências a quem recitar o Anjo do Senhor; e indulgência plenária a quem o rezar durante um mês, confessando-se e comungando.
Outrora, ao som das Ave-Marias, todos se ajoelhavam para rezar o Anjo do Senhor. São Carlos Borromeu não se acanhava de descer da carruagem, para recitá-lo de joelhos na rua, mesmo na lama muitas vezes. Aos sábados de tarde e durante todo o domingo recita-se de pé. No tempo da Páscoa, como explica Bento XIV, em lugar dele, recita-se a antífona Regina caeli laetare (Rainha do céu, alegra-te).
c) Saudar a Mãe de Deus com a Ave-Maria, sempre que se ouve soar o relógio, à imitação de Santo Afonso Rodríguez, irmão da Companhia de Jesus (†1617), o qual à noite era acordado pelos anjos para saudar a Senhora. Saudá-la ao sair de casa e ao entrar nela, para que a Virgem dentro e fora de casa nos livre do pecado. E depois, em espírito, beijar-lhe os pés, como fazem os Cartuxos.
d) Fazer o mesmo quando se passa diante de uma imagem da Mãe de Deus. É bom colocar, quando se pode, uma bela imagem de Maria na parede da casa, para que os transeuntes a possam venerar. Em Nápoles e Roma há esse belo costume.
e) Por ordem da Santa Igreja, começa e termina cada hora do Divino Ofício com a recitação da Ave-Maria. Assim, pois, é bom rezar uma Ave-Maria ao principiar e ao terminar qualquer ação, quer espiritual, como a oração, a confissão, a comunhão, a leitura espiritual, e assistência ao sermão etc., quer temporal, como estudar, dar conselhos, trabalhar, comer, deitar-se etc. Felizes as ações praticadas entre duas Ave-Marias! Saudemos a Virgem com essa oração, ao despertar pela manhã, ao fechar os olhos para dormir. Saudemo-la em todas as tentações, em todos os perigos, em todos os ímpetos de cólera e em semelhantes ocasiões. Praticai essa devoção, caro leitor, e lhe vereis os abençoados frutos. Refere Auriema que a Santíssima Virgem prometeu a Santa Matilde uma boa morte, se rezasse todos os dias três Ave-Marias, em honra de seu poder, de sua sabedoria e de sua bondade. Declarou também à venerável Joana de França ser-lhe muito agradável a recitação de dez Ave-Marias, em honra de suas dez virtudes.
II. AS Novenas
Os devotos de Maria celebram com muita atenção e fervor as novenas de suas festividades. E durante elas a Santíssima Virgem lhes dispensa, com muito amor, as graças inúmeras e especialíssimas. Viu um dia Santa Gertrudes, debaixo do manto de Maria, uma multidão de almas que nos dias precedentes se tinham preparado, por meio de devotos exercícios, para celebrar a festa da Assunção.
São os seguintes os exercícios que se podem praticar nas novenas:
1. Práticas piedosas
a) Fazer oração mental, de manhã e à tarde, e visitar o Santíssimo Sacramento, acrescentando 9 Pai-nossos e Glória ao Pai.
b) Todos os dias visitar alguma imagem da Virgem e então agradecer ao Senhor as mercês que lhe concedeu, e pedir a Maria um favor especial para si mesmo.
c) Fazer numerosas jaculatórias a Jesus e a Maria. Nada podemos fazer, que sej a mais agradável à nossa Mãe do que amar a seu Filho. Disse-o ela a Santa Brígida: Se queres que eu seja tua devedora, ama a meu Filho Jesus.
d) Ler, durante um quarto de hora, algum livro que lhe trate das glórias.
2. Exercícios de penitência.
Com a devida licença do confessor, impor-se alguma mortificação exterior, como o cilício, o jejum, a abstinência de frutas à mesa, de comidas mais saborosas. Melhores são, entretanto, durante essas novenas, as mortificações interiores, como abster-se de ver e ouvir curiosidades, entregar-se ao retiro, ao silêncio, à obediência; evitar a impaciência nas respostas, suportar as contrariedades e outras semelhantes. Elas se podem praticar com menor perigo de vanglória, e maior merecimento, dispensando até a licença do diretor espiritual.
3. Exercício mais proveitoso, porém, será tomar, desde o princípio da novena, o propósito de corrigir-se de algum defeito a que se é mais inclinado. Por isso é bom, por ocasião das visitas acima mencionadas, pedir perdão das culpas passadas, renovar o propósito de nunca mais cair, e implorar para esse fim o auxílio de Maria.
4. O obséquio mais agradável a Maria, entretanto, é a imitação de suas virtudes. Assim é bom, em cada novena, propormo-nos alguma virtude especial de Maria, a mais adaptada ao mistério que se celebra. Por exemplo: na festa da Conceição, a pureza de intenção; na festa da Natividade, a renovação do espírito; na Apresentação, o desapego daquilo a que nos sentimos mais presos; na Anunciação, a humildade e o amor dos desprezos; na Visitação, a caridade para com o próximo, fazendo esmolas, ou pelo menos rezando pelos pecadores; na Purificação, a obediência aos superiores; e finalmente, na Assunção, a prática do desapego, fazendo tudo como preparação à morte, e aplicando-nos em viver cada dia como se fosse o último da vida. Desse modo as novenas produzirão grandes resultados.
5. Muito recomendável é a comunhão frequente, e mesmo diária, durante a novena. Dizia o Padre Ségneri que não podemos honrar melhor a Maria, do que por meio de Jesus. A Virgem (segundo o Padre Crasset) revelou a uma alma santa que não se lhe pode oferecer coisa mais cara do que a santa comunhão, porque é aí que o Salvador colhe nas almas os frutos de sua Paixão. É claro, pois, que a Santíssima Virgem nada deseja mais de seus devotos, que os ver receber a santa Comunhão.
6. Finalmente, no dia da festa, depois da comunhão, é preciso oferecermo-nos ao serviço dessa divina Mãe, pedindo-lhe a virtude que nos propusemos na novena, ou alguma outra graça especial. E é bom escolher cada ano, entre as festas da Virgem, uma para a qual nos prepararemos com maior fervor. Nesse dia então de novo nos consagraremos de um modo mais especial ao seu serviço, elegendo-a por Senhora nossa, Advogada e nossa Mãe. Então lhe pediremos perdão das negligências cometidas em seu serviço, durante o ano findo, com a promessa de maior fidelidade para o ano vindouro. Pedir-lhe-emos, finalmente, que nos aceite por servos, e nos alcance uma santa morte.
III. O Rosário e o Ofício
Observação: Santo Afonso diz:
“A devoção do santo Rosário, como se sabe, foi revelada a São Domingos pela divina Mãe, quando, estando o Santo aflito e queixando-se a sua Senhora dos hereges albigenses, que naquele tempo causavam grande dano à Igreja, a Virgem lhe disse: Este terreno há de ser estéril até que nele caia a chuva. Entendeu então São Domingos que essa chuva era a devoção, do Rosário, que ele devia publicar”.
Esse conceito do Santo autor mostra o que se tinha por certo sobre o Rosário, a partir dos meados do século
XV. Hoje, as pesquisas históricas não repetem esse conceito. Entretanto, piamente continua o Rosário ligado a São Domingos, e seus filhos tornaram-se os apóstolos dessa devoção no mundo inteiro. Em 1470 Alano de Rupe fundou a primeira confraria do Rosário. A atual maneira de rezá-lo fixou-se no século XVI. A partir do ano 1726 proibiu Bento XIII qualquer mudança nessa forma de recitação (Nota do tradutor).
1. Atualmente não há devoção mais praticada pelos fiéis de toda classe, do que esta do santo Rosário. Os hereges modernos como Calvino, Bucero e outros, que não têm dito para desacreditá-lo? Mas é assaz notório o bem que trouxe ao mundo esta augusta devoção. Quantos, por meio dela, têm sido livres dos pecados! Quantos conduzidos a uma vida santa! Quantos, depois de uma boa morte, foram por ela salvos! Podemos ler a esse respeito uma quantidade de livros. Para nós basta dizer que esta devoção foi aprovada pela Santa Igreja, e enriquecida pelos Sumos Pontífices com muitas indulgências. Para lucrar as indulgências dos Dominicanos, unidas à recitação do Rosário, é necessário ir meditando nos mistérios que o compõem. Os livros referentes ao assunto dão as necessárias e cabais explicações para o caso.
A – Quem recita o terço ganha:
1) cada vez 5 anos de indulgência (Sixto IV);
2) se se rezar em comum, indulgência de 10 anos;
3) indulgência plenária, no último domingo do mês, se se rezar ao menos 3 vezes cada semana.
Condições: Confissão e comunhão e oração segundo a intenção do Papa (Bento XII).
B – Se o terço tiver indulgências dos Crucíferos, ganham-se 500 dias em cada Pai-nosso e Ave-Maria, ainda que se o não reze todo, mas alguns Pai-nossos e Ave-Marias, à vontade.
C – Os associados da confraria do Rosário lucram mais indulgências em certas ocasiões como vem especialmente nos manuais da confraria. – (Nota do tradutor).
É preciso recitar o terço com devoção, sem esquecer o que a Santíssima Virgem disse a Santa Eulália. Cinco dezenas, disse-lhe a Senhora, recitadas com pausa e devoção, me são mais agradáveis do que quinze, ditas às pressas e com menor devoção. Por isso, é bom recitá-lo de joelhos, diante de uma imagem da Virgem, e fazer no princípio de cada dezena um ato de amor a Jesus e a Maria, pedindo-lhes alguma graça. Note-se também que é melhor recitar o Rosário em comum do que só.
2. Quanto ao Ofício Parvo de Nossa Senhora, diz-se que São Pedro Damião o compôs. A quem o recita, concedeu a Igreja várias indulgências, e a Santíssima Virgem tem mostrado muitas vezes quanto lhe é agradável essa devoção, como se pode ver em Auriema.
(O Ofício Mariano é antiquíssimo e foi recomendado pelo Doutor e Cardeal da Santa Igreja, São Pedro Damião [1072]. Já existia 300 anos antes dele, mas o Santo tornou-o mais usado e recomendou-o como proteção em várias tribulações, como por experiência lhe sentira a eficácia. A atual forma do Ofício vem das mãos de São Carlos Borromeu, santo Cardeal de Milão [1584]. – (Nota do tradutor).
3. Agradam também muito a Nossa Senhora suas Ladainhas, pelas quais se ganham indulgências; o hino Ave Maris Stella (Eu te saúdo, Estrela do mar), que ela encomendou a Santa Brígida recitasse todos os dias. Sobretudo estima o Magnificat, porque, recitando-o, louvamos a Deus com as mesmas palavras c om que ela o louvou.
IV. O Jejum
Muitos são os devotos de Maria que, nos sábados, ou nas vigílias de suas festas, lhe oferecem o jejum. Como se sabe, a Santa Igreja consagrou à Virgem o sábado, porque nesse dia ela se conservou firme na fé, depois da morte de seu Filho, diz um venerável escritor nas obras de S. Bernardo. Não deixam, por isso, os servos de Maria de oferecer-lhe nesse dia algum obséquio particular, especialmente o jejum (ou outra qualquer mortificação). S. Carlos Borromeu, o Cardeal Toledo e tantos outros nos deixaram exemplos neste ponto. Nitardo, Bispo de Bamberg, e Arriaga, da Companhia de Jesus, até se abstinham de qualquer alimento aos sábados. Auriema fala das grandes mercês obtidas por Maria aos que praticam essa devoção. Não deve parecer difícil esse jejum do sábado àqueles que se dizem especialmente filhos de Maria, e que têm consciência de ter merecido o inferno. Afirmo que quem pratica esta devoção dificilmente se há de condenar. Pois é fácil para Maria obter-lhe a perseverança na graça de Deus e uma morte bem-aventurada. Todos os irmãos de nossa pequena Congregação, que podem fazê-lo, observam ao sábado esse jejum, em honra de Maria. Mas se alguém não o pode fazer por falta de saúde, ao menos faça qualquer outro sacrifício de alguma coisa que lhe agrade.
Finalmente, se pode mostrar aos sábados especial amor a Nossa Senhora, por meio de algum exercício de piedade, como fazendo a comunhão, ouvindo Missa, visitando alguma imagem da Virgem, trazendo o cilício etc. E ao menos nas vigílias das sete festas de Maria, procurem seus devotos oferecer-lhe esse j ejum ou outra abstinência conforme lhes for possível.
Observação. Desde os séculos IX e X vem sendo o sábado dedicado especialmente a Nossa Senhora. Nessa época cantava-se uma missa votiva em sua honra. Mais tarde foi o sábado distinguido por penitências em honra de Maria Santíssima. Os teólogos do século XII motivavam o culto do sábado, em honra de Nossa Senhora, pela constância que ela mostrou no sábado da soledade após o sepultamento de Jesus.
Interpretando o sentimento de Santo Afonso, lembramos aqui a veneração de Maria nos meses de maio e de outubro, dedicados a seu culto com especial solenidade. – (Nota do tradutor).
V. Visitar as imagens de Maria
Diz o Padre Ségneri que o demônio não achou meio melhor para consolar-se das perdas que sofreu com a extinção da idolatria, que fazendo perseguir as imagens pelos hereges. Porém a Santa Igreja defende-se até com o sangue dos mártires. A própria Mãe de Deus tem demonstrado, mesmo com milagres, quanto lhe agradam as visitas e o culto às imagens.
Assim certa vez abriu-se, diante de São João de Deus, o véu que caía sobre uma estátua de Nossa Senhora. Julgando o sacristão que se tratasse de um ladrão, correu e deu um pontapé no santo, mas instantaneamente teve ele o pé paralisado.
Todos os servos de Maria costumam visitar frequentemente e com grande afeto as imagens e as igrejas erguidas em sua honra. São essas, segundo São João Damasceno, as cidades de refúgio, onde nos achamos ao abrigo das tentações e castigos que merecemos por nossas culpas. Ao entrar em qualquer cidade, a primeira coisa que o imperador São Henrique fazia era visitar alguma igreja de Nossa Senhora. O Padre Tomás Sánchez nunca voltava para casa sem ter feito a mesma coisa.
Não nos seja, portanto, demasiado trabalho o visitar todos os dias nossa Rainha em alguma igreja ou capela, ou mesmo em casa, onde seria bom arranjar para esse fim, no lugar mais retirado, um pequeno oratório com uma imagem sua, e adorná-lo com cortinas, flores e velas, ou lâmpadas, para aí recitarmos as Ladainhas, o Rosário etc. Com esse intento escrevi um livrinho, que contém visitas ao Santíssimo Sacramento e à Bem-aventurada Virgem, para todos os dias do mês.
Convém narrar aqui o fato citado pelo Padre Spinelli nos Milagres de Nossa Senhora. No ano de 1611, no célebre santuário de Maria em Monte- Virgem, aconteceu que, na vigília de Pentecostes, tendo a multidão que aí concorrera profanado a festa com bailes, crápulas e imodéstia, se ateou de repente um incêndio na casa de tábuas em que estavam os romeiros, e em menos de hora e meia reduziu-a a cinzas, morrendo mais de 400 pessoas. Só sobreviveram cinco que depuseram, com juramento, terem visto a Mãe de Deus com duas tochas acesas pondo fogo no edifício. Peço, pois, com instância aos devotos de Maria, que se abstenham e impeçam também aos outros de ir a semelhantes santuários de Nossa Senhora em dias de tais folguedos profanos. Pois, nessas ocasiões, há muito mais lucro para o inferno, do que honra para a Mãe de Deus. Romeiros tementes a Deus vão visitar os santuários, quando não há tanta aglomeração de povo.
VI. O Escapulário
Certos senhorios se gloriam de ter servos que tragam suas librés. Assim Maria Santíssima também estima que seus devotos tragam seu escapulário, em sinal de que são dedicados a seu serviço e fazem parte de sua família. Pessoas sem religião riem, segundo o costume, dessa devoção; mas a Santa Igreja a tem aprovado com muitas bulas e indulgências.
Os Padres Crasset e Lezena, falando do escapulário do Carmo, referem que, aos 16 de julho de 1251, apareceu a Santíssima Virgem a São Simão Stock na Inglaterra, e entregou-lhe um escapulário, garantindo-lhe que aqueles que o trouxessem seriam livres da condenação eterna.
“Recebe, meu filho, disse a Virgem, esse escapulário de tua Ordem, distintivo da minha confraria e um privilégio para ti e para todos os carmelitas. Quem morrer revestido dele, não experimentará o fogo eterno.”
Fora disso, outra vez apareceu Nossa Senhora ao Papa João XXII (1322), refere Crasset, dando-lhe ordem de publicar que ela, a quantos trouxessem o escapulário, os livraria no sábado que lhes seguisse à morte. Isso declarou o Papa numa Bula de 3 de março de 1322, a qual foi aprovada mais tarde por Alexandre V, Clemente VII e outros Papas. Assim fala Crasset. Como já se falou em outra parte. Paulo V também recorda essa aparição e parece determinar melhor as Bulas de seus antecessores, expondo as condições necessárias para lucrar as indulgências. Essas condições são: guardar a castidade própria ao estado e rezar o Ofício Parvo de Nossa Senhora. Quem o não puder rezar, deve ao menos guardar os jejuns da Igreja e abster-se de carne às quartas-feiras e sábados.
Ao escapulário do Carmo, das Sete Dores de Nossa Senhora, da Santíssima Trindade e especialmente ao da Imaculada Conceição, estão anexas muitas indulgências, parciais e plenárias, aplicáveis a si próprio na vida e na hora da morte.
Ao escapulário da Imaculada Conceição, entre outras, estão anexas as indulgências das sete principais igrejas de Roma, da Porciúncula, de Jerusalém e de São Tiago de Compostella. Podem ser ganhas toda vez que se rezarem 6 Pai-nossos, Ave-Marias e Glória Pai.
VII. Entrar nas Congregações de Maria
Alguns há que desaprovam as congregações, dizendo que muitas vezes são fontes de litígios, e que muitos encontram nelas por fins humanos. Mas assim como não se condenam as igrejas e os sacramentos por haver muitos que deles abusam, pela mesma razão não se deve condenar as confrarias. Longe de reprová-las, os Sumos Pontífices as têm com muito louvor recomendado e enriquecido de indulgências. São Francisco exorta com empenho os seculares a entrarem nelas. E que não fez São Carlos Borromeu para fundá-las e multiplicá-las? Em seus sínodos, sobretudo, insinua aos confessores que se esforcem para que nelas entrem os seus penitentes. E com razão, porque essas confrarias, especialmente as da Virgem, são como outras tantas arcas de Noé, onde os pobres seculares acham refúgio contra o dilúvio. Nós, com a prática das missões, bem temos podido conhecer a utilidade dessas pias associações. Em regra geral, acham-se mais pecados em um homem que não pertence à confraria do que em vinte que a frequentam. Pode-se compará-la à torre de Davi “edificada com antemuralhas e da qual pendem mil escudos para a defesa dos heróis” (Ct 4,4). As confrarias proporcionam a seus congregados muitas armas de defesa contra o inferno, e fornecem-lhes, para conservar a graça divina, muitos meios que fora delas dificilmente serão empregados.
Das principais graças oferecidas pelas confrarias
1. Um dos primeiros meios de salvação é a meditação das verdades eternas
“Lembra-te das últimas coisas e não pecarás jamais” (Eclo 7,40).
Se tantos pecadores se perdem é porque não as meditam.
“Tem sido desolada inteiramente toda a terra, porque não há nenhum que considere no seu coração” (Jr 2,11).
Ora, os associados das congregações são levados a pensar nelas, por tantas meditações, leituras e sermões que aí se fazem.
“Minhas ovelhas ouvem a minha voz:” (Jo 10,27).
2. Em segundo lugar, para salvar-se é necessário encomendar-se a Deus
Fazem-no os membros das congregações continuamente, e Deus os atende com mais facilidade, porquanto ele mesmo declarou que de boa vontade concede suas graças às preces feitas em comum.
“Ainda vos digo que, se dois de vós se unirem entre si sobre a terra, qualquer coisa que pedirem, ser-lhes-á concedida, por meu Pai que está nos céus” (Mt 18, 19).
Aqui observa Ambrosiasta: Muitos fracos tornam-se fortes quando se mantêm unidos, e a oração de muitos não pode ficar desatendida.
3. Em terceiro lugar, nas confrarias é mais fácil a frequência dos sacramentos, não só pelos estatutos, como pelos bons exemplos dos confrades
Ora, com isso garante-se a perseverança na graça. O Santo Concílio de Trento chama a comunhão um remédio que nos livra das faltas de cada dia e nos preserva do pecado mortal.
4. Além de tudo, fazem-se nas congregações muitos exercícios de mortificação, de humildade e de caridade para com os confrades enfermos e pobres de assistir os doentes pobres do lugar.
Já dissemos quanto aproveita à nossa salvação servirmos a Mãe de Deus. Ora, que fazem os confrades nas congregações, senão servi-la? Aí, quantos a louvam! Quantas orações lhe apresentam! Consagram-se desde o princípio a seu serviço, elegendo-a de um modo especial por sua Senhora e Mãe. Inscrevem-se no livro dos filhos de Maria, e como são servos e devotos distintos da Virgem, ela os trata e protege com distinção, na vida e na morte. De modo que o associado mariano pode dizer que com a congregação recebeu todos os bens.
A duas coisas, porém, precisa atender cada confrade: à intenção com que entra e à fidelidade aos compromissos. A primeira deve referir-se à glória de Deus e de Maria e à salvação da própria alma. Depois seja fiel em comparecer às reuniões marcadas, que não se devem perder para atender aos negócios do mundo. Pois na congregação se trata do mais importante de todos os negócios: a salvação eterna. Deve também procurar para sua associação novos confrades, e especialmente fazer voltar para ela aqueles que a têm abandonado. Tais egressos já têm sido às vezes rudemente punidos por Deus. (Em Nápoles, certo congregado egresso, sendo exortado a voltar para a congregação, respondeu: Voltarei quando me tiverem quebrado as pernas, e cortado a cabeça. Profetizou sem querer: pouco tempo depois lhe quebraram seus inimigos as pernas e cortaram a cabeça.) Pelo contrário, os confrades que perseveram são cumulados por Maria de bens espirituais e temporais.
“Todos os seus domésticos trazem vestidos forrados” (Pr 31,21).
Auriema fala de graças que Maria concede a seus congregados durante a vida e na hora da morte, principalmente. Conta Crasset que, em 1586, um jovem perto de morrer, tendo adormecido, disse a seu confessor ao acordar: “Ó meu padre, estive em grande perigo de perder-me, porém a Senhora me livrou. Os demônios apresentaram meus pecados no tribunal de Deus, e já estavam prontos para me arrastarem ao inferno, quando sobreveio a Santíssima Virgem e lhes disse: Para onde levais este moço? Que tendes que ver com um servo meu, que me serviu tanto tempo em minha congregação? O mesmo autor conta que outro rapaz congregado, também na hora da morte, teve de sustentar luta renhida com o inferno; mas triunfando, finalmente, exclamou cheio de júbilo: Oh! que grande bem é servir a Mãe Santíssima em sua congregação! E morreu cheio de consolação. Também em Nápoles, o duque de Popoli, moribundo, disse a seu filho: Meu filho, fica sabendo que à minha congregação devo o pouco bem que fiz em vida. Por isso a maior riqueza que tenho para deixar-te é a congregação de Maria. Estimo mais ter sido congregado, que ter sido duque de Popoli.
VIII. Dar Esmolas em Honra de Maria
Costumam os servos de Maria, sobretudo aos sábados, dar esmolas em sua honra. São Gregório fala de um irmão leigo, chamado Deusdedit, que distribuía aos pobres, no sábado, O que tinha ganho durante a semana, como sapateiro. Ora, a uma alma santa foi mostrado, em visão, um palácio suntuoso que Deus estava preparando no céu a esse servo de Maria, e em cuja construção Só se trabalhava aos sábados. O santo confessor Gerardo de Monza († 1207) não recusava coisa alguma que lhe fosse pedida em nome de Maria. O mesmo fazia o jesuíta, padre Martinho Gutiérrez. Por essa razão, como ele mesmo confessou, nunca pediu uma graça a Maria sem que a alcançasse. Tendo sido ele morto pelos Huguenotes, apareceu a Virgem a seus companheiros com algumas virgens, pelas quais mandou envolver o corpo num lençol. São Eberardo, Arcebispo de Salzburgo, tinha a mesma devoção. Por isso o viu um santo religioso, sob a forma de um menino, nos braços de Maria. “Eis O meu filho Eberardo, que nunca me recusou coisa alguma”, disse Maria. Igual prática era usada por Alexandre de Hales. Tendo-lhe um leigo de São Francisco pedido em nome de Maria que se fizesse franciscano, deixou ele o mundo e entrou para a Ordem.
Não deixem, pois, os devotos de Maria de dar cada dia, em sua honra, uma pequena esmola, que devem aumentar nos sábados. E se não podem fazer mais, ao menos, pelo amor de Maria, pratiquem alguma outra obra de caridade, como assistir os enfermos, rezar pelos pecadores e pelas almas do purgatório etc. As obras de misericórdia são muito agradáveis ao coração dessa Mãe de misericórdia.
IX. Recorrer frequentemente a Maria
Afirmo que, entre todas as práticas devotas, nenhuma há que tanto agrade a nossa Mãe, como recorrer frequentemente à sua intercessão. Peçamos- lhe, pois, auxílio em todas as necessidades particulares. Por exemplo: quando vamos tomar ou dar conselhos, nos perigos, nas aflições e tentações, principalmente nas tentações contra a pureza. Certamente nos há de socorrer a divina Mãe, se a ela recorremos com a antífona Sub tuum praesidium, ou com a Ave-Maria, ou com a simples invocação de seu santíssimo nome, que tem uma força particular contra OS demônios.
O beato Sante, franciscano, em uma tentação contra a pureza, recorreu a Maria e ela, aparecendo-lhe imediatamente, lhe pôs a mão sobre o peito e o livrou. Em tais ocasiões também é bom beijar ou tomar na mão o Rosário ou o escapulário, ou então olhar para uma imagem da Virgem Maria. Note-se que lucra cada vez 300 dias de indulgência quem pronunciar devotamente os nomes de Jesus ou de Maria.
X. Alguns outros obséquios
1. Celebrar ou fazer celebrar, ou pelo menos ouvir Missa em honra da Santíssima Virgem. É verdade que o Santo Sacrifício só se pode oferecer a Deus, principalmente em reconhecimento de seu supremo domínio. Isso, porém, não impede, diz o Sagrado Concílio de Trento, que ele possa ser oferecido ao mesmo tempo a Deus para agradecer-lhe as graças concedidas aos santos e à divina Mãe, a fim de que, celebrando nós sua memória, eles se dignem interceder por nós. Assim o indicam as próprias palavras da Santa Missa. Essa prática, assim como a recitação de três Pai-nossos, Ave-Marias e Glória Pai à Santíssima Trindade, para agradecer-lhe as graças feitas a Maria, revelou a própria Santíssima Virgem a uma alma ser-lhe muito agradável. Pois, não podendo agradecer plenamente ao Senhor todos os benefícios que lhe foram concedidos, muito gosta que seus filhos a ajudem para esse fim.
2. Venerar os santos que mais próximos foram de Maria, como São José, São Joaquim, Santa Ana. A própria Virgem encomendou a um seu servo a devoção a Santa Ana, sua mãe. Não nos esqueçamos também dos santos mais devotos da Mãe de Deus, como São João Evangelista, São João Batista, São Bernardo, São João Damasceno, defensor de suas imagens, Santo Ildefonso, defensor de sua virgindade.
3. Ler cada dia algum livro que fale das glórias de Maria. Os padres preguem com gosto sobre assuntos marianos e todos se esforcem em insinuar, sobretudo aos parentes, a devoção para com a Mãe de Deus. Disse um dia a Virgem a S. Brígida: Faze que teus filhos sejam também meus filhos!
4. Rezar todos os dias pelos vivos e defuntos mais devotos de Maria.
5. Notem-se as muitas indulgências concedidas aos que honram por diversos modos a esta Rainha do céu. Eis algumas:
1. Bendita seja a santa e imaculada Conceição da Bem-aventurada Virgem Maria e Mãe de Deus (300 dias de indulgência).
2. 5 anos quando se recitam a Salve-Rainha e o Sub tuumpraesidium,
3. 7 anos pelas Ladainhas de Nossa Senhora, cada vez.
4. 300 dias quando se diz: Jesus e Maria.
5. Jesus, Maria, José (7 anos).
6. A quem faz diariamente meia hora de oração mental, concedeu Bento XIV indulgência plenária no mês, na forma de costume.
7. 7 anos a quem acompanha o Santo Viático com tocha acesa. Quem não puder acompanhar, ganha 100 dias recitando um Pai-nosso e uma Ave- Maria, segundo a intenção do Papa.
8. 300 dias a quem reverenciar de qualquer forma o Santíssimo Sacramento, ao passar por uma igreja ou capela.
9. 500 dias ao sacerdote que, antes da Missa, recita Ego volo celebrare Missam etc.
Prepare-se, pois, cada um para ganhar essas indulgências, fazendo um bom ato de contrição. Omito ainda outras devoções, que se acham em outros livros, e termino esta obra com as belas palavras de São Bernardino: Ó bendita entre todas as mulheres, sois a honra do gênero humano, a salvação de vosso povo. Vosso merecimento não tem limites, e vosso império estende-se sobre todas as criaturas. Sois Mãe de Deus, Senhora do mundo, Rainha do céu. Sois a dispensadora de todas as graças, o adorno da Santa Igreja, o modelo dos justos, a consolação dos santos, a raiz de nossa salvação. Do paraíso sois a alegria, do céu a porta, de Deus a glória. Temos publicado vossos louvores. Rogamos, pois, ó Mãe de bondade, que vos digneis suprir a nossa fraqueza, escusar a nossa audácia, aceitar nossa servidão e abençoar nosso trabalho, imprimindo no coração de todos o vosso amor, para que, depois de termos honrado e amado na terra vosso Filho, possamos louvá-lo e bendizê-lo eternamente no céu. Amém.
Conclusão
E agora, leitor querido e fiel servo de Maria, nossa Mãe amantíssima, eu vos deixo, dizendo: Continuai fervorosamente a amar e honrar a essa boa Senhora. Esforçai-vos também por fazê-la amar por quantos conheceis, na firme convicção de que vos salvareis, se perseverardes na verdadeira devoção a Maria até a morte. Termino. Não que me falte o que dizer sobre as glórias dessa grande Rainha, mas para não vos enfastiar por mais tempo. O pouco que escrevi bem pode bastar para arrebatar-vos em entusiasmo diante desse grande tesouro que é a devoção à Mãe de Deus, à qual ela sempre corresponde com seu poderoso patrocínio. Cumpri agora o desejo que me levou a escrever esta obra: ver-vos salvo e santo, vendo-vos feito filho amante e apaixonado dessa amabilíssima Rainha. Se para esse fim contribuí com este meu livro, então encomendai-me a Maria e pedi-lhe para mim a graça que para vós peço: Deus permita que nos vejamos no paraíso, reunidos aos pés de Maria juntamente com os outros seus queridos filhos. E dirigindo-me a vós, ó Maria, Mãe de meu Senhor e minha Mãe, rogo-vos que aceiteis este meu pobre trabalho e o desejo que tenho tido de ver- vos louvada e amada por todos. Sabeis com que ardor desejava terminar esta pequena obra das vossas glórias, antes que findasse minha vida, que já vai tocando ao termo. Agora posso dizer que morro contente, por deixar na terra este meu livro que continuará a louvar-vos e a pregar o vosso amor, como tenho sempre procurado fazer durante estes anos que têm seguido a minha conversão, a qual por meio de vós alcancei de Deus. Ó Maria Imaculada, eu vos encomendo todos os que vos amam, especialmente aqueles que lerem este meu livro, e mais particularmente aqueles que tiverem a caridade de encomendar-me a vós. Senhora, dai-lhes a perseverança; fazei-os todos santos e levai-os assim a louvar-vos, todos j untos, no céu. Ó minha Mãe dulcíssima, é verdade que sou um pobre pecador, mas eu me glorio de amar-vos e espero de vós grandes coisas, entre outras, morrer em vosso amor. Espero que nas angústias de minha morte, quando o demônio me recordar meus pecados, primeiramente a Paixão de Jesus, e depois a vossa intercessão, me hão de confortar, para que eu saia desta miserável vida na graça de Deus, a fim de ir amá-lo e dar-vos graças, ó minha Mãe, por todos os séculos dos séculos. – Amém. Assim espero, assim seja.
Ó Virgem Senhora, dizei por nós a vosso Filho: Eles não têm vinho. Quão preclaro é o cálice desse vinho que inebria no amor divino! Esse amor nos faz esquecer o mundo; aquece-nos, e fortalece-nos, faz-nos indiferentes para tudo que é terreno (Autor da Salve-Rainha).
Vós sois o “campo bem-cheio”, cheio de virtudes e de graças. Surgistes qual lúcida e rubicunda aurora. Vencendo a culpa original, nascestes em plena luz da verdade, em plenos fulgores do amor. Nada conseguiu contra nós o inimigo do gênero humano, porque de vós estão pendentes mil escudos e todas as armas dos valentes. Não há virtude que não resplandeça em vós, e o que os santos possuíram repartido, possuís reunido (o mesmo autor).
Nossa Senhora, ó nossa Medianeira, nossa Advogada, recomendai-nos ao vosso Filho. Ó bendita, vós merecestes a graça de, por vosso intermédio, haver o Senhor se revestido de nossa fraqueza e indigência. Alcançai-nos por vossa intercessão que ele nos faça participantes de sua glória (Idem).
Ó bela rosa, mostrai a vossa misericórdia: j á que me amais tanto, fazei que meu coração se inflame de tal modo no vosso amor, que chegue a morrer por vós.
Doce Maria, esperança minha, sois aquela bendita estrela que guia ao porto: vós me guiareis ao céu.
Viva Jesus, Maria, José e Teresa!
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