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A Eucaristia, modelo dos nossos deveres para com o Próximo e para Conosco

Meditação para o 2º Domingo depois do Pentecostes. A Eucaristia, modelo dos nossos deveres para com o Próximo e para Conosco

Meditação para o 2º Domingo depois do Pentecostes

SUMARIO

Depois de termos visto como a vida perfeita de Jesus Cristo na Eucaristia nos ensina os nossos deveres para com Deus, veremos como ela nos ensina os nossos deveres:

1.° Para com o próximo;

2.° Para conosco.

— Tomaremos a resolução:

1.° De imitarmos, nas nossas relações com o próximo, a caridade, a mansidão e a paciência de Jesus no Santíssimo Sacramento;

2.° De nos aproximarmos o mais possível de Seu espírito de mortificação o e de humildade.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra de Nosso Senhor:

“Dei-vos o exemplo, para que, como eu fiz, assim façais vós também” – Exemplum dedi vobis, ut quemadmodum ego feci vobis, ita et vos faciatis (Jo 13, 15)

Meditação para o Dia

Adoremos Nosso Senhor, dizendo-nos na Eucaristia as mesmas palavras que dizia aos seus Apóstolos durante a Sua vida mortal. Dei-Vos o exemplo, para que como eu fiz, assim façais vós também. Oh! Como Ele é realmente o modelo mais completo da vida perfeita! Agradeçamos-Lhe os grandes exemplos, que nos dá, e roguemos-Lhe a graça de O imitar.

PRIMEIRO PONTO

A Eucaristia ensina-nos os nossos deveres para com o Próximo

Estes deveres podem reduzir-se a três: amar, suportar, tratar toda a gente com mansidão. Ora Jesus Cristo na Eucaristia cumpre excelentemente estes três deveres.

1.° Que amor para com os homens! Está ali em um contínuo exercício de caridade, orando, imolando-Se por nós de dia e de noite, e pedindo a nossa salvação com ardente e inefável zelo. É assim que amamos os nossos irmãos? Amamo-los com um amor prático, que se ocupa na sua felicidade, que evita tudo o que pode causar-lhes desgosto, que busca, à custa até das nossas comodidades, tudo o que pode causar-lhes prazer; com um amor generoso, que se dedica pelos outros e não recua diante de nenhum sacrifício?

2.° Que paciência em Jesus no Santíssimo Sacramento! Como Ele suporta todas as friezas, distrações, negligências, irreverências, e até profanações! É assim que nos ensina a suportar nos outros o que nos desagrada, as suas faltas de respeito e de atenções, os seus defeitos, as suas injustiças, o seu gênio. Onde não há paciência, não há caridade.

3.º Que mansidão em Jesus no Santíssimo Sacramento! Há dezoito séculos, que sofre o abandono dos cristãos, que não vem visitá-lO, as blasfêmias do incrédulo, que O insulta até no santuário do Seu amor, a audácia sacrílega dos ladrões, que tantas vezes O tem tirado do sacrário, lançado ao chão, calcado aos pés; e desde há dezoito séculos, não tem deixado entrever o menor sinal de descontentamento. Ó mansidão, ó benignidade de meu Salvador! Como Vós condenais os nossos passageiros transportes de cólera e as nossas impaciências, os nossos arrebatamentos e asperezas, o nosso gênio que nada pode sofrer! Poderíeis fazer sair raios do Vosso tabernáculo, e só dEle sai graça, misericórdia e mansidão!

SEGUNDO PONTO

A Eucaristia ensina-nos os nossos deveres para Conosco

1.° Estamos obrigados para conosco mesmo a mortificar a nossa própria vontade que, abandonada às suas fantasias e inconstância, nos perderia; os nossos sentidos, que de outra sorte abririam a porta a todas as tentações, seriam uma fonte de dissipação e de sensualidade; finalmente todo o nosso ser que, sendo depravado pelo pecado original, tende sempre a desordenar-se.

2.° Estamos obrigados para conosco mesmo a humilhar-nos, substituindo o nosso amor-próprio por uma sincera e profunda humildade, porque está escrito, que a soberba é o principio de todo o pecado (1). Ora, que mais belo modelo de mortificação e de humildade do que Jesus no Santíssimo Sacramento! Não há ali vontade própria, faz-se dEle tudo o que se quer: é encerrado ou exposto, levado a um ou a outro lugar; nunca a mão, que O toca, acha nEle a menor resistência. Mais depressa se deixará cair no cão ou descer a um coração sacrílego, ao lado do demônio, do que fará um ato de vontade própria. Não há ali uso dos sentidos: tem pés e não anda, mãos e não obra, uma língua e não fala: é um estado de morte em um corpo vivo. Ao mesmo tempo que humildade! Ele é ali verdadeiramente o Deus escondido (2), presente e não visto, glorioso como um corpo ressuscitado, magnífico como Deus mesmo; e os acidentes eucarísticos encobrem tudo! Nada há ali que denote um homem, ainda menos um Deus; só se vê a aparência material do pão.

Que lição para o amor-próprio e para a vaidade, que querem mostrar-se, fazer-se estimar, e se rebelam contra a vida oculta, a humilhação e o esquecimento!

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) Initium omnis peccata est superbia (Ecl 10, 15)

(2) Deus abscondit (Is 45, 15)

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo III, p. 164-167)