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Necessidade da Penitência

Meditação para a Décima Quinta Segunda-feira depois de Pentecostes. Necessidade da Penitência

Meditação para a Décima Quinta Segunda-feira depois de Pentecostes

SUMARIO

Depois de termos feito consistir na humildade cristã a base de todas as virtudes, assentaremos sobre esta base os primeiros elementos do edifício, que são a penitência e a mortificação, a que os santos chamam virtudes próprias da vida purgativa, porque tem por fim purificar a alma dos vícios passados e das más tendências futuras. Veremos portanto:

1.º A necessidade da penitência;

2.° A sua urgência.

— Tomaremos depois a resolução:

1.° De oferecermos todas as nossas obras a Deus em expiação e penitência das nossas culpas passadas;

2.° De aceitarmos de bom grado com o mesmo intuito todos os trabalhos e desgostos que nos sobrevierem durante o dia.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra de Nosso Senhor:

“Se não fizerdes penitência, todos perecereis” – Si paenitentiam non egeritis, omnes similiter peribitis (Lc 13, 5)

Meditação para o Dia

Adoremos o Filho de Deus que, para nos mostrar a necessidade da penitência e a obrigação que o homem tem de a fazer, começa, com a pregação desta virtude, a anunciar o Evangelho (1), e declara expressamente que sem ela não ha salvação (Lc 13, 5). Tributemos-Lhe mil ações de graças pelo conhecimento que nos dá desta grande verdade.

PRIMEIRO PONTO

Necessidade de fazer Penitência

Todos temos pecado; logo todos devemos fazer penitência até à morte, conclui Tertuliano (2). Recebendo o batismo, todos recebemos o Espírito de Deus difundido em Jesus Cristo penitente: logo todos somos obrigados a uma contínua penitência. Todos temos uma tendência moral para o mal, que precisa de ser combatida pela penitência, sem o que ela nos perderia: logo a previsão do futuro e a reparação do passado obriga-nos a uma penitência que dure tanto como a nossa vida. Os nossos pecados, ainda mesmo perdoados, deixaram na nossa alma uma chaga que temos de curar, uma dívida temporal que temos de pagar neste mundo ou no outro: logo devemos todos os dias fazer penitência e temer os castigos com que Deus ameaça os que não a fazem. E não se diga que Nosso Senhor, tendo plenamente satisfeito por nós à justiça de seu Pai, nos desonerou da obrigação de fazer penitência. Acreditemos São Paulo, que dizia:

“Cumpro na minha carne o que falta dos sofrimentos de Jesus Cristo” – Adimpleo ea quae desunt passionum CHristus in carne mea (Col 1, 24)

Acreditemos o mesmo Jesus Cristo, que dizia: Se não fizerdes penitência, todos perecereis (3): de onde se segue que, ainda que a bondade de Dons seja infinita, não perdoará a quem não tiver feito penitência. Portanto é necessário fazer penitência, e uma verdadeira penitência que nos converta, e não uma dessas falsas penitências de que se queixava Santo Ambrósio, quando dizia:

“Conheci mais pessoas que conservaram a sua inocência batismal, do que a recuperassem com uma perfeita penitência”

SEGUNDO PONTO

Urgência de fazer Penitência

Tanto necessário é fazer penitência, quando urgente: o Espírito Santo no-lo diz:

“Não tardeis em vos converterdes ao Senhor, e não defirais de dia em dia” – Si paenitentiam non egeritis, omnes similiter peribitis (Lc 13, 5)

Vós dizeis:

«Eu bem conheço que não sou o que devo ser; não quisera morrer no estado em que me acho; proponho-me reformar mais tarde a minha vida pouco cristã»

Mas até quando quereis diferir? diz Santo Agostinho. Porque amanhã? Porque não hoje? Esquecemos que o dia seguinte é incerto; que é loucura arriscar a salvação por causa de um talvez, e deixar à ventura a vida eterna? Como não compreendeis vós que é uma indignidade pretextar à bondade de Deus para diferir a nossa conversão, adegando que Ele é muito bom para não nos esperar, como se esta bondade e misericórdia infinitas não devessem, ao contrário, ser antes para nós uma poderosa razão para adiantar a nossa penitência do que para a retardar? (4). Afiguramo-nos que mais tarde será fácil a nossa conversão; como se, ao contrário, as nossas delongas não a dificultassem, enfraquecendo a graça, fortificando o hábito, endurecendo o nosso coração, e excitando a ira de Deus contra nós (5). Afiguramo-nos, outras vezes, que a nossa conversão é incompatível com os nossos negócios presentes e as nossas ocupações: como se o negócio da salvação não fôsse o primeiro e mais importante de todos os que podemos ter neste mundo; como se, além disto, houvesse ocupações em que a salvação não fôsse possível. Finalmente, o demônio tenta talvez persuadir-nos que na hora da morte imitaremos o bom ladrão: como se fôsse possível esperar que Nosso Senhor renovará para nós este milagre, que é um dos maiores que fez, e o único que se acha na Sagrada Escritura, diz São Bernardo. Há um só homem que assim se salvasse na última hora: há um só, para que não desespereis; há um só, para que não confieis nisso (6). Fiar-nos nisso é a maior das imprudências.

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) Paenitemini et credite evangelio (Mc 1, 15)

(2) Semel peccasse, sufficit ad fletus sempiternos

(3) Non tardes converti ad Dominum, et ne differas de die in diem (Ecl 5, 8)

(4) An… Ignoras quoniam benignitas Dei ad paenitentiam te adducit? (Rm 2, 4)

(5) Secundum duritiam tuam et impaenitentens cor, thesaurisas tibi iram in die irae (Rm 2, 5)

(6) Si bene memini, in toto canone Scripturarum, unum invedies sic salvatum: unum, me desperes: unum, ne confidas (São Bernardo)

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo VI, p. 175-178)