Um quinto fruto se há de colher daquela palavra, por ela significar também, que o edifício da Igreja se concluiu na Cruz, e que a mesma Igreja saiu do lado de Cristo moribundo, assim como Eva saíra da costela de Adão, quando este dormia. Este mistério nos ensina que amemos a cruz, que a honremos, e que dedicadamente nos afeiçoemos a ela. Quem há, pois, que não tenha afeição ao lugar da naturalidade de sua mãe? Admirável é sem dúvida a que todos os fiéis consagram à sacratíssima casa do Loreto, por nela ter nascido a Virgem Mãe de Deus, pois o Anjo diz a José:
“O que nela se gerou, é obra do Espírito Santo” (Mt 1)
Daqui vem, que a Igreja, não se esquecendo da sua origem, em toda a parte representa a Cruz, em toda a parte a põe: na testa, nos templos, nas casas, não faz sacramento nenhum sem Cruz; nada santifica, benzendo, sem cruz, dedicamos, porém uma especial afeição à Cruz, quando alguma adversidade suportamos por amor do Crucificado, pois é gloriar-se na Cruz fazer o que os Apóstolos faziam quando, jubilosos, saíram do conselho, por terem sido achados dignos de sofrer afrontas pelo nome de Jesus (At 5), e o Apóstolo São Paulo, explica o que é gloriar-se na Cruz, dizendo:
“Gloriamo-nos nas tribulações, sabendo que a tribulação produz a paciência, a paciência a experiência e a experiência a esperança, e que a esperança não traz confusão porque a caridade de Deus está derramada em nossos corações pelo Espírito Santo, que nos foi dado” (Rm 5)
De onde conclui, escrevendo aos Gálatas:
“Nunca Deus permita que eu me glorie senão na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, por quem o mundo está crucificado para mim, e eu para o mundo” (Gl 6)
O triunfo verdadeiro da Cruz consiste em que o Mundo com as suas pompas e deleites morra para a alma cristã, e amante de Cristo crucificado, ela morra para o Mundo, amando a tribulação e o desprezo, que o Mundo aborrece, e odiando os prazeres carnais e a glória temporal que o Mundo ama: deste modo perfeiçoa-se e completa-se o servo de Deus, para também dele se poder dizer: — Está consumado.
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(BELARMINO, Cardeal São Roberto. As Sete Palavras de Cristo na Cruz. Antiga Livraria Chadron, Porto, 1886, p. 240-242)