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Jesus ora por seus inimigos

Jesus ora por seus inimigos

Capítulo XXX

Pater dimitte illis: nom enim sciunt quidi faciunt – “Meu Pai, perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc 23, 34)

Jesus acabava de ser pregado na cruz, via circular em volta de si os autores do seu suplício e os seus algozes. Lança sobre eles um olhar, eleva em seguida os olhos ao céu, e exclama:

“Meu Pai!”

Tinha guardado silencio enquanto o crucificavam; eis que o rompe e invoca a seu Pai; escutemos o que lhe vai pedir. Dir-lhe-á ele:

“Meu Pai: vós sois testemunha dos meus sofrimentos, sois testemunha dos ultrajes indignos de que me cobrem e sabeis a minha inocência; fazei, pois cair sobre este povo ímpio todo o peso da vossa vingança?”

Não, não, tal não será a súplica do nosso bom Jesus. Alma cristã, que isto meditas, atenção, e aprende a conhecer a misericórdia infinita do nosso Salvador.

“Meu Pai, brada, meu Pai, perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem!”

Oh! Quão grande era a chama de amor que abrasava o coração deste doce Redentor, pois que no mais forte das suas dores, e no tempo em que a veemência dos seus tormentos lhe tirava o poder de orar por si mesmo, a força do seu amor para com os homens faz que ore por seus inimigos e exclame com uma voz forte: Pater dimitte illis: “Meu Pai, perdoai-lhes!”. Assim, para nos mostrar que o amor que nos tinha era tão ardente que não podia ser diminuído por sorte alguma de penas ou tormentos, e para nos ensinar também quão dispostos havemos de estar a perdoar ao nosso próximo. (São Francisco de Sales, sermão de Sexta-feira Santa)

Ó meu Jesus! Como sois rico de misericordiosas! E qual é o pecador que depois de um tão belo exemplo de clemência, desespere do perdão dos seus pecados? Ó minha alma! Confiança, e não te deixes abater pela multidão de tuas iniquidades. És agitada por mil e mil diferentes paixões, és atormentada por mil e mil tentações; não importa: confiança! Ainda tens um refugio segui o nas chagas de Jesus; corre a refugiar-te nelas porque são penhores do seu amor para contigo. Que direitos não tens a esperar do teu Salvador, tu que agora choras os teus pecados, quando sabes que ele perdoa aos que o crucificaram e que orou por eles com tanta bondade?

Mas se por ele mais prontamente queres ser ouvida, se mais seguramente queres obter o favor de Jesus; se queres gozar o seu amor, perdoa como ele, e tão sinceramente como ele, ao teu irmão, quando te ofender. Perdoa-lhe faltas pequenas, para que Deus te perdoe as grandes. Pede pela sua salvação, como pedes pela tua, e tornar-te-ás digno de Jesus que te ordenou que amasses os teus inimigos, e orasses por eles. Ah! qual não será a tua confiança ao sair desta vida, se poderes ter a consoladora consciência de que sempre suportaste pacientemente as injurias, as afrontas e os desprezos, e que sempre os perdoaste?

Senhor Jesus, vós que dissestes: “Perdoai e ser-vos-á perdoado”, dignai-vos perdoar-me todas as ofensas de que me tornei culpável para convosco, porque perdoo de todo o meu coração a quem me causou penas. Sim, perdoo-lhe, como vos peço que me perdoeis, e estou pronto a fazer-lhes todo o bem possível, se achar ocasião. Em compensação, ó meu Salvador! Dai-me o vosso amor. Oh! Com vosso amor, nada mais me faltará que a vista da vossa gloria no céu, com vosso amor não temerei as injurias nem as afrontas, nem os desprezos, nem as contradições deste mundo: com vosso amor os trabalhos, as cruzes, as humilhações, tudo se me tornará doce e agradável; com vosso amor, ó meu Jesus! A pobreza se converterá em riquezas, as lágrimas em alegria, as tribulações em paz, as privações em gozos; com vosso amor, a vida mais crucificada para mim só terá delicias, a mesma morte perderá todos os seus horrores. Ó divino Jesus! Feliz, mil vezes feliz o homem que vos ama! Possa eu mesmo amar-vos sempre, sempre, sempre! Ó Maria! Obtende-me esta graça. Assim seja.

RESOLUÇÕES PRÁTICAS

O Perdão das Injúrias

Não se ponha o sol sobre a vossa cólera”, diz o Apóstolo, mas perdoa sem demora a quem te ofendeu, se queres que Deus te perdoe. Não conserves aversão contra o teu próximo, meu caro Teótimo, qualquer que seja o mal que te haja feito; pelo contrario, a exemplo de Jesus Cristo, perdoa-lhe de todo o teu coração e ora por ele. Abafa ao nascer todo o desejo de vingança, se não estás exposto à cometer muitas faltas.

— Mas vais tu talvez dizer-me, não perdoo com tanta pressa ao meu inimigo; traiu-me; insultou- me; desonrou-me; fez-me todo o mal possível; devo vingar-me.

— Queres vingar-te? pois bem! anda comigo aos pés da cruz, levanta os olhos a Jesus crucificado, escuta as palavras que pronuncia: “Meu Pai, perdoai-lhes”, e ousas depois disto dizer:

“Eu não perdoarei, quero regalar-me em me vingar! — Se fosse um outro, de boa vontade lhe perdoaria; mas é um miserável que não merece a minha amizade”

— E tudo, meu caro Teótimo, permite-me que t’o pergunte, mereces a de Jesus Cristo, depois de tantos pecados que cometeste? — Então estou obrigado a amar uma pessoa que me não ama e me persegue?

— Sim, estás obrigado:

“Amai os vossos inimigos, diz o nosso bom Mestre, fazei bem aos que vos aborrecem, e orai pelos que vos perseguem e caluniam: porque, se amais só aos que vos amam, que recompensa tereis? Não fazem outro tanto os publicanos?”

— Pois sim, desta vez perdoo ao meu inimigo, mas que não volte segunda.

— Meu caro Teótimo, não é uma vez que deves perdoar, mas “setenta vezes sete vezes, diz Jesus Cristo, isto é, sempre”. Continuamente estás a carecer da misericórdia de Deus; deves portanto exercê-la tu também, e exerce-la para com todos.

— Perdoar perdoo eu, mas tenho boa memória; nunca poderei esquecer o mal que me fez.

— Queres com isso dizer que também tu não queres que Deus se esqueça dos teus pecados, porque ele tratar-te-á como houveres tratado o teu próximo.

— Perdoo-lhe, mas não o quero ver.

— Ah! que dizes, Teótimo? não queres ver o teu inimigo, afastas os olhos quando o encontras! Depois disto, ousas ainda pedir ao Senhor que lance sobre ti olhos de misericórdia! Responde.

— Não lhe quero mal.

— Isto não basta: é preciso querer-lhe bem, ama-lo como a ti mesmo, afligires-te quando o vires em pena; impedi-lo de cair, etc. (Vid. os pensamentos do P. Humbert). Arranca desapiedadamente do teu coração o menor azedume contra o próximo, e ora com mais fervor pelos que poderiam ser-te objeto de penas; perdoa-lhes, a exemplo de Jesus Cristo, e escusa-os, porque as mais das vezes obram sem a intenção de te molestar. Se perdoares sempre, poderás dizer então a Deus com segurança, e sem temer uma repulsa:

“Meu Pai, perdoai-me as minhas ofensas, como perdoei aos que me ofenderam”

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(Pinnard, Abade Dom. As Chamas do Amor de Jesus ou provas do ardente amor que Jesus nos tem testemunhado na obra da nossa redenção. Traduzido pelo Rev. Padre Silva, 1923, p. 218-222)