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A Salvação

Meditação para o 14º Domingo depois do Pentecostes. A Salvação

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus 6, 24-33

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: 24ninguém pode servir a dois senhores: ou não gostará de um deles e estimará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro.»

25«Por isso vos digo: Não vos inquieteis quanto à vossa vida, com o que haveis de comer ou beber, nem quanto ao vosso corpo, com o que haveis de vestir. Porventura não é a vida mais do que o alimento, e o corpo mais do que o vestido? 26Olhai as aves do céu: não semeiam nem ceifam nem recolhem em celeiros; e o vosso Pai celeste alimenta-as. Não valeis vós mais do que elas?

27Qual de vós, por mais que se preocupe, pode acrescentar um só côvado à duração de sua vida?

28Porque vos preocupais com o vestuário? Olhai como crescem os lírios do campo: não trabalham nem fiam! 29Pois Eu vos digo: Nem Salomão, em toda a sua magnificência, se vestiu como qualquer deles. 30Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã será lançada ao fogo, como não fará muito mais por vós, homens de pouca fé?

31Não vos preocupeis, dizendo: ‘Que comeremos, que beberemos, ou que vestiremos?’ 32Os pagãos, esses sim, afadigam-se com tais coisas; porém, o vosso Pai celeste bem sabe que tendes necessidade de tudo isso. 33Procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais se vos dará por acréscimo.

Meditação para o 14º Domingo depois do Pentecostes

SUMARIO

Consagraremos a nossa oração de hoje a meditar sobre duas palavras do Evangelho do dia:
Buscai primeiramente o reino de Deus e a sua justiça; isto é, seja a vossa salvação o vosso principal negócio. E para nos animarmos a cumprir bem este preceito Salvador, veremos:

1.° A suma importância da salvação;

2.° Os meios de nos salvarmos.

— Tomaremos depois a resolução:

1.° De conservarmos sempre a nossa consciência bem disposta, e de nunca permanecemos vinte e quatro horas em um estado, que poria em perigo a nossa salvação;

2.° De cuidarmos a todos os momentos na nossa salvação, propondo-nos em todos as coisas agradar a Deus.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra do Evangelho:

“Buscai primeiramente o reino de Deus e a sua justiça” – Quaerit primum regnum dei et justitiam ejus (Mt 6, 33)

Meditação para o Dia

Adoremos Jesus Cristo ensinando-nos no Evangelho a não nos deixarmos preocupar dos cuidados deste mundo, a ponto de desprezarmos a nossa salvação. Seja o vosso primeiro cuidado, nos diz Ele, a nossa salvação e santidade, que é o único meio de a alcançar. Demos-Lhe graças por tão útil e necessário conselho.

PRIMEIRO PONTO

A suma importância da Salvação

Para termos uma viva fé nesta verdade, consultemos em primeiro lugar os Santos, aqueles homens que melhor a estudaram durante a vida, e a aprenderam por experiência depois da sua morte. Enquanto viveram sobre a terra, creram, que nunca se podia fazer demasiado por tão grave interesse, e temeram sempre não fazer bastantemente; ocuparam-se durante toda a sua vida, de dia e de noite, neste importante negócio. Abraão deixa seu país, seus bens, sua família; Moisés prefere as tribulações e a pobreza do povo de Deus a todos os prazeres e tesouros do Egito. Na antiga e na nova lei, os solitários entranham-se nos desertos, sepultam-se nas cavernas, mortificam o seu corpo com jejuns e vigílias; os mártires deixam-se queimar pelas chamas, dilacerar pelas feras, afogar no sangue; muitos outros têm no meio do mundo uma vida de pureza, de oração e de sacrifício; e agora que estão no céu, longe de julgarem ter feito muito, se pudessem sentir pesar, seria de não ter feito mil vezes mais por um negócio, cujo bom êxito dá tanta felicidade, e cujo mau resultado é tão terrível.

E eu, meu Deus, que tenho feito pela salvação, em comparação dos vossos Santos? Há no céu santos, que se salvassem vivendo como eu vivo, orando como eu oro, sem mortificar mais os sentidos, sem ser mais humildes, mais abstraídos, mais generosos no vosso serviço? — Consultemos sobre isto os próprios réprobos. Na terra, cuidaram de tudo menos da sua salvação; mas hoje, oh! Como eles pensam de diferente modo a este respeito! Como deploram amargamente e sempre ter preferido alguma coisa à sua salvação! Perguntemos a esses desgraçados, no meio das chamas que os abrasam, se são excessivos os sacrifícios que exige a salvação, comparados com o inferno; perguntemos-lhes o que fariam, se Deus tornasse a encarregá-los deste grande negócio, que tão desgraçadamente falhou da primeira vez, com que ânsia nele trabalhariam! Como venceriam todos os obstáculos! Como orariam bem! Como viveriam santamente!

— Se, depois de termos consultado os que conhecem por experiência a importância da salvação, consultarmos Deus, Ele nos responderá, que é para a salvação que fez tudo, o universo, as suas leis, os seus milagres, os mistérios do presépio, do calvário, do altar, da Igreja, os sacramentos, e que a grandeza dos meios revela a suma importância do fim, — se, depois disto, consultarmos a nós mesmos, a nossa razão nos dirá, que a salvação deve ser o nosso grande negócio de todos os momentos, porque, entre todos os negócios, é o único pessoal, o único necessário, o único urgente.

Meditemos estas três palavras: É o único negócio pessoal. Trata-se aqui de mais que da minha fortuna, da minha honra, da minha vida; trata-se da minha sorte durante a eternidade, a esta sorte depende tanto de mim, que Deus, onipotente como é, não pode salvar-me sem mim. É o único negócio necessário. Posso dispensar tudo o mais; mas dispensar o céu, e ter o inferno em troca, não é possível. Ainda que me fosse necessário cortar os braços, arrancar os olhos, deixar perecer o mundo inteiro, tudo isto seria preferível a perder a minha alma. Finalmente, é o único negócio urgente. Ninguém pode responder pelo dia seguinte: quanto mais se difere, tanto mais difíceis de destruir são os hábitos, e menores as graças. Nunca devo viver vinte e quatro horas num estado em que não quisera morrer. É assim, que compreendemos, a salvação?

SEGUNDO PONTO

Meios de alcançar a Salvação

O primeiro meio é dizer comigo mesmo, a cada obra que tenho de fazer, a cada resolução que tenho de tomar:

Que importa isto à minha salvação?” – Quid hoc ad aeternitatem?

É uma coisa contrária aos interesses da minha salvação, perigosa e até inútil para ela? Não a devo fazer; a minha salvação é tudo para mim; não me devo empregar em coisa alguma que não tenda a ela, e menos ainda no que a arrisca. Ao contrário, é uma coisa proveitosa à minha salvação? Devo abraçá-la com amor, sem examinar se é de preceito ou de conselho. O homem de negócio tem sempre em vista os maiores lucros, os meios mais eficazes e seguros de se enriquecer. Porquê farei eu menos pela minha salvação?

O segundo meio é começar desde hoje mesmo a cuidar com zelo neste grande negócio, e em abraçar, para ser melhor sucedido, o que souber que é mais perfeito.

“E não se diga: Mais tarde, quando me tiver desembaraçado de certo cuidado, viverei melhor o negócio da salvação é um negócio urgente, que qualquer demora põe em risco. Não se diga: ‘Não estou obrigação a ser perfeito'”

Tender à perfeição, é um preceito rigoroso, e o céu é só para os perfeitos ou santos (1).

O terceiro meio é desprendermo-nos de tudo o que não serve para a salvação. Sendo a salvação tudo para nós, porque é que se tem apego a outra coisa? Este apego seria um laço que nos prenderia e nos exporia a não alcançar a nossa salvação.

Examinemos a nossa consciência: empregamos estes três meios de salvação?

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) Estote ergo vos perfecti, sicut et Pater vester caelestis perfectus est (Mt 5, 48)

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo VI, p. 149-153)