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A Purificação da Virgem Santíssima

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Obediência de Maria

A Mãe de Deus dá-nos neste mistério um grande exemplo de obediência, submetendo-se, como as outras mulheres, à lei da purificação a que não estava obrigada, porque, sendo Mãe de Deus e a mais pura das Virgens, não tinha necessidade de purificar-se. Maria observa com exatidão todas as cerimônias da lei, sem nenhuma excetuar, nem pretender dispensa alguma. Faz ainda mais do que deve; e nós, bem ao contrário, não fazemos a maior parte das vezes nem aquilo a que estamos rigorosamente obrigados! Quando obedecemos é quase sempre por força, de mau grado, com repugnância, o mais tarde que podemos, e, por consequência, sem merecimento aos olhos de Deus. Aprendamos de nossa divina Mãe a obedecer, e imitemo-la, quanto em nós couber, na prática de uma virtude que lhe é tão cara.

Sua Humildade

A divina Mãe de Jesus confunde-se com as mulheres ordinárias, oculta as duas admiráveis qualidades de virgem e de Mãe de Deus, que lhe mereciam os respeitos de todo o universo, e consente em parecer o que não é, o que pode abatê-la e torná-la desprezada. Ainda que descendente dos reis de Judá e Rainha dó céu e da terra, Maria dá só a oferta dos pobres, evitando assim tudo o que poderia distingui-la aos olhos dos homens; e nós, bichinhos da terra, não queremos parecer o que somos na realidade, pecadores e miseráveis; queremos ser reputados o que não somos, isto é, justos e santos! Horroriza-nos tudo quanto pode humilhar-nos, não suspiramos senão por distinções honrosas, quereríamos sempre ocupar os primeiros lugares, a todos levar vantagem. Como poderá a humilde Maria reconhecer por filhos a criaturas tão miseráveis e soberbas?

Sua Caridade

A Santíssima Virgem damos hoje a mais evidente prova da sua ternura, oferecendo ela própria a vítima que deve resgatar-nos e entregando à morte o seu caro Filho. Que sacrifício para o coração de uma Mãe tão terna! Maria conhece os desígnios de Deus; sabe que o mundo não pode ser resgatado senão pelo sangue deste Filho adorável; abandona-O portanto à vontade do Pai celeste, entrega-O sem reserva a todos os golpes de sua formidável justiça! Poderemos recusar os nossos corações a tão generosa Mãe? Não seríamos horríveis monstros de ingratidão, se correspondêssemos a este amor com fria indiferença, com uma culpável negligência no seu serviço?

ORAÇÃO

Quanto é grande a minha consolação, ó Virgem Santíssima, ouvindo pronunciar o doce nome de Mãe amável que os vossos fiéis servos, os vossos queridos filhos vos dão! Sim, ó minha augusta soberana, sois toda amável, a vossa bondade e beleza ganharam o coração do Rei dos reis, do mesmo Deus, que em vós põe todas as suas complacências. Se sois tão amada do Senhor, como poderei deixar de amar-vos eu, que me acho tão enriquecido de vossos dons? Amo-vos, pois, ó minha Mãe amabilíssima, ou pelo menos desejo amar-vos e ser um daqueles que vos amam com maior ardor. Toda a minha pena é não vos amar quanto devo e vós mereceis; mas eis aqui o meu coração, eu vo-lo ofereço para que disponhais dele à vossa vontade, e o abraseis no sagrado fogo do vosso amor.

Agora se faz o Ato após a Meditação

EXEMPLO

Um equívoco providencial

Em 1855, havia em Donai (França), um virtuoso sacerdote que passava a maior parte da vida em obras de beneficência e piedade.

Uma tarde em que Mr. B. entrando em casa, repousava das fadigas, recitando o ofício divino, bateram-lhe apressadamente à porta. O sacerdote abriu-a imediatamente, e viu-se em presença de uma criança que vinha pedir-lhe a caridade de ir confessar uma pobre senhora muito doente, que morava na rua… n.° 28.

Mr. B. quis partir sem demora, mas a criança asseverou-lhe que o caso não era de tanta urgência, e que só lhe pedia o favor de não deixar para outro dia a sua visita, com receio de que durante a noite sobreviesse à doente algum acidente inesperado. Em vista disto Mr. B. resolveu terminar primeiro a reza, e pouco depois, pôs-se a caminho sem reparar no frio aspérrimo, nem na chuva que caia em torrentes.

Que importava o frio e a chuva ao zeloso sacerdote, se se tratava de salvar uma alma, de mitigar um infortúnio?

Oh! Sublime caridade!

Chegando, pois, à rua indicada Mr. B. parou em frente de uma casa de tristíssimo aspecto, que tinha o n.° 18, convencido de que era este que lhe tinham indicado. Como não havia porteiro, subiu, batendo à primeira porta que encontrou.

Um homem veio abrir, mas apenas conheceu que tinha na sua presença um sacerdote, encolerizou-se brutalmente, respondendo com as mais grosseiras injúrias à delicada pergunta que o padre lhe dirigiu, para saber se era ali que morava a enferma, terminando por lhe fechar a porta na cara.

O sacerdote, paciente e meigo, à imitação do divino Mestre, foi bater à porta imediata aonde não foi melhor recebido.

A impiedade tem conseguido tornar o padre, senão odioso, ao menos tão suspeito, às classes operárias, que só a imensa caridade de Jesus Cristo que os anima, lhes pode dar coragem para trabalharem ainda na salvação dessas almas tão injustamente ingratas.

Foi animado por essa sublime caridade que Mr. B. continuou subindo até ao 2.º andar, aonde encontrou um rapazito a brincar no corredor. —

“— Meu filho, lhe perguntou, podes-me dizer aonde mora aqui uma senhora enferma, chamada M. G.?

— Olhe, sr. cura, respondeu o pequenito, lá no fim deste corredor mora uma mulher muito doente que até o meu pai diz que ela que não passa desta noite, mas parece-me que se não chama assim como o senhor diz.

— O nome pouco importa, replicou Mr. B., o que eu quero é que me venhas indicar a porta.”

E guiado pela criança parou em frente dela; e, como a visse apenas encostada, entrou.

Junto ao leito de uma pobre moribunda, estava sentado um homem de 50 anos que apenas viu o sacerdote, levantou-se precipitadamente, manifestando a mais profunda admiração. Este, sorrindo-lhe afavelmente, saudou-o perguntando-lhe como estava a enferma.

“— Sem dúvida, continuou Mr. B., é vossa esposa e vós sois Mr. G… não é verdade?

— Não sou, não senhor, respondeu bruscamente o interrogado. E quem é que o manda ao senhor vir meter-se na nossa vida?

— Ora essa! respondeu admirado o sacerdote. Eu vim porque me foram chamar, dizendo-me que uma pobre senhora, gravemente enferma, desejava receber os últimos socorros da religião. Contudo, se me enganei na rua ou número que me indicaram, parece-me que aquela pobre senhora, que ali vejo não terá menos necessidade do meu ministério. Decerto foi Deus quem permitiu este engano para me trazer aqui!…

— Oh! Sim senhor! murmurou a moribunda, foi Deus quem o trouxe aqui!

— Qual Deus, nem qual história! exclamou encolerizado o marido. Há mais de dez anos que estou casado e até hoje ainda aqui não entrou um padre, nem minha mulher se confessou; e agora assevero-lhe também que a não confessará! A minha mulher pertence-me, portanto pode ir tratar da sua vida!

— Está completamente enganado, meu amigo, replicou com doçura e firmeza o sacerdote. Sua mulher pertence muito mais a Deus do que a si, e portanto não lhe cabe o direito de dispor da sua alma. Querendo ela confessar-se, ei de confessá-la; o meu dever é não a abandonar senão quando espontaneamente repelir o meu ministério”.

E aproximando-se da enferma continuou:

“Minha senhora quer-se reconciliar com Deus? Quer morrer como boa cristã?”

A pobrezinha chorando de alegria exclamou:

“— Sim, senhor, quero me reconciliar com Deus que teve piedade de mim, trazendo-o aqui. Há tantos dias já que eu pedi em vão a meu marido para me chamar um padre!…

— Ouviu, senhor, o que sua esposa disse? Nesse caso peço-lhe o favor de se retirar por alguns momentos e deixar-nos sós”

E o sacerdote disse estas palavras com tal firmeza que o marido da moribunda foi forçado a retirar-se imediatamente, resmungando embora.

“Aqui está, senhor, o que me salvou, disse a doente, mostrando ao confessor um rosário que tinha perto do leito. Tive a fraqueza de temer meu marido mais do que a Deus, e para evitar escândalos, há mais de dez ou doze anos que abandonei todas as práticas da religião. Contudo não cessei de me recomendar à Santíssima Virgem e todos os dias, ou quase todos, lhe recitava uma dezena do rosário, e nunca perdi o amor que tivera a esta divina mãe. Foi Ela, senhor, que me obteve de seu divino Filho, a graça de vos trazer aqui. É pela intercessão de Maria que minha alma será salva!”

O bom padre, profundamente comovido, consolou a pobre enferma e, ajudando-a a confessar-se, absolveu-a de seus pecados. Depois despediu-se, recomendando-lhe que se preparasse o melhor possível para receber o Sagrado Viático e a Extrema Unção que ele ia buscar à igreja paroquial.

Ao descer a escada recordou-se repentinamente de que o número que a pequenita lhe dera, fôra 18 e não 28.

Louvando a Deus por este feliz engano, dirigiu-se apressadamente para junto da outra enferma que o esperava impaciente. Confessou-a, e sem perder um momento, foi buscar o Santíssimo Sacramento e os Santos Óleos, dirigindo-se com eles para o n.º 18. Porém, quando entrou, a sua penitente acabava de expirar!

Tendo recebido na absolvição sacramental o perdão das suas culpas, a sua boa vontade supriu de certo junto do Deus de infinita misericórdia os outros socorros que o sacerdote lhe trazia.

OUTRO EXEMPLO

Terrível castigo de um profanador do Rosário

Em 1889 faleceu em Touraine, de uma morte muito trágica. um caçador chamado Diot, assaz conhecido pela sua impiedade.

Crê-se que a morte deste desgraçado foi um justíssimo castigo dos seus crimes, e principalmente de um sacrilégio que cometera, enrolando por escárnio um rosário ao pescoço do seu cão.

Eis alguns pormenores do fato, cuja veracidade é autêntica:

Diot tinha por costume percorrer as aldeias com o único fim de perverter os camponeses com os seus maus exemplos e palavras e pela leitura de jornais e livros licenciosos.

Tinha sempre a blasfêmia nos lábios, e entre outras dizia ele que tanto fazia batizar um homem como um bezerro, porque o resultado seria o mesmo.

Um dia, uma piedosa senhora dera a um criado da herdade de que ele era o mordomo, um rosário, que tinha trazido de Lourdes. Diot vendo-lhe nas mãos este emblema de amor a Maria, arrancou-lh’o blasfemando, e envolveu-o ao pescoço do cão.

Partiu para a caça e na volta, como tivesse apanhado uma lebre, dizia muito orgulhoso e contente a todos que encontrava:

“Se eu soubesse que dos tais rosários davam sempre tão bom resultado, mandava vir um vagão cheio deles”

Não se insulta impunemente a Mãe de Deus!

Decorridos apenas alguns dias, declarou-se-lhe uma moléstia no pescoço que o fez padecer horrivelmente durante dois anos, e principalmente nos últimos dias da sua vida em que o sofrimento foi horrível, e o fez morrer literalmente estrangulado!

O médico que lhe assistiu foi forçado a declarar que não sabia classificar semelhante moléstia, que era inteiramente desconhecida para ele.

Pela nossa parte não temos a menor dúvida em acreditar que o trágico fim deste desgraçado foi o princípio dos horríveis castigos, que pela sua impiedade tanto mereceu.

Deus, se é implacável para com os obstinados pecadores que ultrajam diretamente a Sua infinita majestade; não o é menos para com aqueles que persistem em ofender a Sua divina Mãe, cuja honra e glória Lhe é tão cara como a Sua.

Oh! Confiemos pleníssimamente na proteção valiosíssima de Maria, mas tremamos, tremam todos de lhe dirigir o menor insulto, que Deus se encarregará de vingar a honra de Sua Mãe.

Ai! Do desgraçado insultador das glórias e privilégios de Maria! É sempre trágico o fim destes infelizes. A historia é quem o diz.

LIÇÃO
Sobre o Bom Exemplo

Aquele que ama a Deus trabalha por Lhe lucrar corações, e o melhor modo de os lucrar é persuadir-lhes com bons exemplos que o amamos.

As exortações à virtude fazem amar a virtude, mas o que à exortação junta a prática persuade muito melhor; o exemplo dos santos faz santos.

Quão poucos cristãos há que com seu exemplo deixem sentir o bom cheiro de Jesus Cristo?

Parece que os homens somente se comunicam para contribuírem à mútua condenação pelos maus exemplos que reciprocamente se dão.

Se é crime roubar ao próximo os bens da terra, qual não será roubar-lhe os bens da eternidade? É ser emissário e instrumento dos demônios.

Principalmente os pais de família, os superiores, todos os que estão revestidos de alguma autoridade devem esmerar-se em dar bom exemplo, para que as pessoas que lhes estão sujeitas se conformem com o seu proceder.

Nisto devem empregar maior desvelo os grandes, os nobres e os constituídos em dignidade. Se eles não respeitam a lei de Deus nem os preceitos da Igreja, acharão logo quem os imite; pois muitos entenderão que é glória seguir seus exemplos.

Terão eles acaso maior grandeza do que Maria que, como Mãe de Deus, reuniu todos os títulos de nobreza e elevação que abaixo dEle possa possuir uma simples criatura? Devem, pois, aprender desta Virgem singular a usar para glória de Deus da alta condição, a que Ele os elevou.

Acaso a grandeza será um título que dê direito a ser menos cristão?

A maior elevação, se bem o pensamos, não é senão uma obrigação mais grave.

Máxima Espiritual

“Tem mais força os exemplos do que as palavras; melhor se ensina com a obra, do que com a palavra” – São Leão, Papa

Jaculatória

Causa nostrae laetitiae, ora pro nobis

Causa da nossa alegria, rogai poi nós

Agora se faz as Encomendações e outras Orações


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(SILVA, Pe. Martinho António Pereira da. Flores a Maria ou Mês de Maio consagrado à Santíssima Virgem Mãe de Deus. Tipografia Lusitana, Braga, 1895, 7.ª ed., p. 212-223)

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