Meditação para a Duodécima Segunda-feira depois de Pentecostes
Décima Terceira razão de sermos Humildes
SUMARIO
Meditaremos sobre uma decima terceira razão do sermos humildes: é, que é esse o meio de conseguir a felicidade, até desde a vida presente; e para o compreender, veremos:
1.° Quão desgraçado é o homem sem humildade;
2.° Quão ditoso é o homem verdadeiramente humilde.
— Tomaremos depois a resolução:
1.° De sermos sempre atenciosos para com toda a gente, ainda para com os inferiores;
2.° De não exigirmos que sejam atenciosos para conosco, e de recebermos agradecidos, como coisa indevida, as atenções que tiverem conosco.
O nosso ramalhete espiritual será a palavra de Nosso Senhor:
“Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração, e achareis descanso para as vossas almas” – Discite a me quia mitis sum et humilis corde, et invenietis requiem animabus vestris (Mt 11, 29)
Meditação para o Dia
Adoremos a bondade de Jesus Cristo, que nos faz achar, desde a vida presente, a felicidade no cumprimento de seus preceitos, e principalmente na prática da humildade. Demos-Lhe graças por tanta bondade e tributemos-Lhe os nossos respeitos.
PRIMEIRO PONTO
Quão desgraçado é o homem sem Humildade
Se o homem que não é humilde se considera a si mesmo, vê as suas misérias com repugnância; enche-se de uma tristeza que o torna pesado a si próprio e aos outros. Se da sua pessoa dirige a vista para o próximo, à superioridade de outrem causa-lhe inveja. Uma preferência que não lhe dão, uma falta do respeito, uma leve repreensão, ou ainda uma caritativa advertência, penaliza-o e exaspera-o. O revez em um projeto, cujo bom resultado esperava, uma palavra de censura, um motejo, um olhar, um gesto, o esquecimento de certas atenções a que julgava ter direito, é bastante para o contristar e desanimar. O mais pequeno desdém lhe causa grande desgosto; prova-o esse valido de Assuero, que derrama lágrimas de desesperação, porque em todo o império há um homem que o não estima. É um melindre que se indigna, se inquieta, se ofende de tudo. Nem sequer precisa de uma causa estranha; basta ele para se tornar desgraçado. Suspeitas que concebe, juízos temerários que forma, conceitos infundados, é o bastante para o entristecer e descontentar (1).
Examinemos o nosso passado e veremos que a maior parte dos nossos dissabores provém daí. Quem poderia dizer a tristeza que nos infundiu o desfavorável conceito, que julgávamos que formavam de nós? Que perturbação e inquietação nos não causaram uma afronta que recebemos, uma exprobração que nos fizeram, ou o pensamento de que nos não estimavam tanto como merecíamos?
SEGUNDO PONTO
Quão ditoso é o homem verdadeiramente Humilde
Nosso Senhor prometeu a paz e a felicidade aos humildes: Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração, diz Ele, e achareis descanso para as vossas almas; e cumpre a sua promessa para com todo aquele, que é verdadeiramente humilde. O homem humilde está sempre contente e em paz: recebe os desgostos com paciência, julgando que os merece; vê a superioridade de outrem sem tristeza, reputando o último lugar ainda demasiadamente bom para ele. As palavras, que ferem a sua reputação, não o impressionam: se os outros dizem bem dele, lamenta que se enganem a seu respeito; e se dizem mal, alegra-se de que pensem de si o que ele pensa. Livre assim dos cuidados que causam a outros os juízos humanos, fica inabalável, como o rochedo no meio da diversidade de conceitos que formam dele; importa-se tanto com eles como com o vento que sopra; e ocupa-se em fazer bem e em agradar a Deus. Obrar o bem e deixar falar, é a sua divisa, não por um sentimento de desprezo e orgulho, mas por um sentimento de verdadeira humildade. «Eu nada sou, diz ele consigo: por isso de nada me ofendo, a nada aspiro, nada ambiciono», e com estes humildes sentimentos ama a Deus sobre todas as coisas; Deus só lhe basta; e é feliz. Deus é tudo para ele, e não compreende como é possível, que quem O possui, queira mais alguma coisa.
Resoluções e ramalhete espiritual como acima
Referências:
(1) Ubi fuerit superbia, ibi erit et contumelia (Pr 11, 2)
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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo VI, p. 109-112)