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1.º Meio de virmos a ser Humildes: Tomar a peito sê-lo

Meditação para a Décima Segunda Sexta-feira depois de Pentecostes. Primeiro meio de virmos a ser Humildes: Tomar a peito sê-lo

Meditação para a Décima Terceira Sexta-feira depois de Pentecostes

SUMARIO

Depois de termos meditado sobre tantas razões de sermos humildes, meditaremos sobre os meios de vir a sê-lo; e consideraremos:

1.° Que o primeiro meio é tomarmos muito a peito adquirir a humildade;

2.º Que é este um trabalho de toda a vida.

— Tomaremos depois a resolução:

1.° De pedirmos frequentes vezes a Deus esta virtude, como a coisa do mundo mais necessária;

2.º De aceitarmos de boamente todas as ocasiões de nos humilharmos.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra do Espírito Santo:

“Humilhai profundamente o vosso espírito” – Humilia valde spiritum tuum (Ecl 7, 19)

Meditação para o Dia

Adoremos a Deus achando na humildade tão grandes atrativos, tão poderosos encantos, que se compraz em olhar para os humildes (1), e que, tendo de escolher uma mãe, preferiu a Virgem, que ele reputou mais humilde (2); ao que São Bernardo acrescenta:

“Maria concebeu por sua humildade o Verbo de Deus Encarnado” – Humilitate concepit Maria

Podíeis vós, Senhor, ensinar-me melhor quanto devo prezar esta virtude entre todas as outras, e tomar a peito adquiri-la?

PRIMEIRO PONTO

Devemos tomar muito a peito vir a ser humildes

Vir a ser humilde é uma empresa difícil, que muitas vezes exige mais esforço de ânimo e verdadeira coragem do que é preciso para expôr a vida num campo de batalha. Tudo o que fere o nosso amor-próprio nos chega tanto ao vivo, que só uma grande energia de caráter e de vontade, ajudada pela graça, pode suportá-lo. Vir a ser humilde é uma coisa da maior importância, e que se deve apreciar mais que a fortuna ou a saúde, que a reputação e todos os bens da terra, pois depende disso a vida eterna. É preciso portanto tomar muito a peito a santa humildade, desejá-la tão ardentemente como se deseja o que mais se estima, pedi-la a Deus com instância e meditar frequentes vezes o seu inestimável preço. É preciso ler com preferência livros que falem dela, e gostar do que no-la inspira ou consolida; por exemplo, a simplicidade no trajo e em tudo o que é para o nosso uso, a modéstia nas maneiras e palavras, a caridade que, longe de se envergonhar da companhia dos pobres e pequenos, se compraz dela; que longe de julgar que se avilta prestando ao próximo os mais respeitosos serviços, aproveita todas as ocasiões de lh’os prestar. Finalmente, é preciso imitar o negociante que tomou muito a peito fazer fortuna, e que, por conseguinte, emprega todos os meios para a alcançar; todas as noites põe em ordem as suas contas, dá balanço aos seus prejuízos e lucros, toma precauções, seja para não sofrer os mesmos prejuízos no dia seguinte, seja para juntar novos lucros aos lucros precedentes. Assim devemos nós obrar com relação à humildade, que é a grande fortuna do cristão, a sua riqueza, o seu tesouro: todos os dias convém ter em vista adquirir esta virtude; fazer nesse intuito todos os nossos exercícios espirituais, a oração, a comunhão, as visitas ao Santíssimo Sacramento; e todas as tardes examinar a nossa consciência a este respeito, para ver em que estado nos achamos, quais são os nossos progressos ou as nossas quedas. É assim, que procedemos?

SEGUNDO PONTO

A aquisição da humildade é um trabalho de toda a vida

Sendo a humildade, por um lado, a virtude mais essencial à salvação, e por outro, aquela que estamos mais expostos a perder, pois que o amor-próprio, que no-la quer subtrair, é um perigo de todos os momentos, que nos segue no retiro, bem como nas relações sociais, que se insinua nos nossos pensamentos e fantasias, bem como nas nossas palavras e obras, é evidente que se necessita, a este respeito, de uma contínua vigilância. Se nos descuidamos um só dia, ora virá o amor-próprio falar-nos baixinho dos nossos méritos, dos nossos talentos, das nossas virtudes, e isto de um modo que nos impressiona tão agradavelmente, que nos deixaremos seduzir; ora auxiliando as suas pérfidas, sugestões, os homens virão louvar-nos, aplaudir-nos, muitas vezes até contra a sua consciência e por pura lisonja; e teremos a simplicidade de receber os seus falsos louvores como outras tantas verdades, e nos comprazeremos nisso, sem pensar no juízo de Deus, único apreciador equitativo das pessoas e das coisas. É, pois, este um trabalho de toda a vida. Suposto que tivéssemos cuidado durante sessenta ou oitenta anos em adquirir a humildade, seria necessário cuidar nisso como no primeiro dia, perseverar até ao último suspiro, e morrer na humildade. Um minuto de soberba antes da morte bastaria, para nos condenarmos eternamente, e ninguém pode responder por si; sobre um, ponto tão delicado. Não há, pois, outro meio de salvação senão tomar muito a peito vir a ser humilde. Roguemos a Deus que nos convença bem desta verdade.

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) Humilia respicit (Sl 112, 6)

(2) Respexit humilitatem ancillae suae (Lc 1, 48)

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo VI, p. 142-145)