Meditação para a Sexta-feira da 4ª Semana do Advento
Sumário
Depois de ter meditado a vida de Jesus em Maria, meditaremos a vida de Maria unida à de Jesus; e veremos que foi uma vida:
1.° Toda interior;
2.° Toda de amor;
3.° Toda de imitação.
— Tomaremos depois a resolução:
1.° De vigiar a nossa alma para não a deixar o ocupar-se no que a distrai, como as novidades, as conversações frívolas, os vãos divertimentos, os pensamentos inúteis;
2.° De nos unirmos muitas vezes a Deus por atos de amor e pela aplicação em imitar Jesus Cristo.
O nosso ramalhete espiritual será a palavra de Maria:
O meu espírito se alegrou por extremo em Deus meu Salvador – Exultavit spiritus meus in Deo salutari Meo (Lc 1, 47)
Meditação para o Dia
Adoremos o Verbo Encarnado residindo em Maria como em Seu tabernáculo. Unamo-nos aos anjos, que ali O adoram; unamo-nos ainda mais a Maria que, melhor do que todos os anjos, lhe oferece os seus louvores com o seu amor, e o honra com a vida mais santa que tenha jamais tido e que jamais terá uma pura criatura.
PRIMEIRO PONTO
A vida de Maria unida a Jesus foi uma vida toda interior
O homem, sobre a terra, tem a escolher entre duas vidas: a vida exterior e a vida interior. A primeira passa-se toda fora, em uma perpétua distração, que alimentam ora a seriedade dos negócios, a gravidade dos, interesses o curso dos acontecimentos, ora a curiosidade das novidades, as conversações frívolas, as vãs diversões, as leituras inúteis. A segunda, concentrada na alma, ocupa-se na sua santificação, na perfeição das suas obras ordinárias, aprecia mais um ato de amor de Deus do que todas as riquezas da terra. A Santíssima Virgem, possuindo o Verbo Encarnado em seu seio, não hesitou entre estas duas vidas. Que lhe importava o mundo com todas as suas distrações, todos os seus loucos prazeres, todas as suas preocupações das coisas perecedoras? Deus, que ela trazia em si, era tudo para a sua alma; e tudo o mais nada era para ela (1). Se é verdade que o coração do homem está onde está o seu tesouro, o coração de Maria não podia estar senão em Jesus, pois que Jesus era verdadeiramente o seu tesouro, a sua riqueza, a sua alegria, o seu tudo (2). Fazia consistir a sua felicidade em pensar em Jesus, amar a Jesus, agradar a Jesus, e vivia mais neste querido Filho do que em si mesma. Oh! Como o mundo lhe parecia desprezível, miserável, indigno de ocupar um espírito imortal, de atrair um coração feito para o infinito, e que nada pode saciar senão o bem infinito! – É a mim, o que sucede a respeito desta vida contemplativa? Deus está comigo pela Sua imensidade, que enche tudo, pela Sua providência, que governa tudo, pelo Seu amor, que me persegue em toda a parte; e eu estou tão raras vezes com Ele, esqueço-me tanto dAquele que nunca de mim se esquece! Ponho a minha alegria em pensar em qualquer outra coisa, como nas ninharias da terra, muitas vezes até em quimeras; o recolhimento de espírito parece-me um exercício penoso e sem atrativo, e não gosto de fazer companhia no íntimo do meu coração ao Deus, que e as delícias do paraíso! Oh! Quando é que Deus será tudo para o meu coração, e que, contente com Ele só, serei todo dEle, unicamente dEle?
SEGUNDO PONTO
A vida de Maria em Jesus foi uma vida toda de amor
A vida interior de Maria abrangia eminentemente a prática de todas as virtudes no mais perfeito grau; todavia o amor era nela o sentimento dominante. Se nada se pode comparar ao amor de uma mãe para com seu filho, quem pode imaginar até onde chegava em Maria o amor maternal para com um Filho tão amável, o mais belo dos filhos dos homens (3), para com um Filho em quem se achavam reunidas todas as perfeições que pôde comportar a natureza humana, e as perfeições infinitas da divindade, que conservam no céu os anjos em um contínuo êxtase? Era um amor sempre novo, produzido pela admiração sempre nova, que lhe inspirava o contraste de tanta grandeza, de tanta elevação rebaixada, de tanta imensidade restringida por um prodígio de caridade, cujo teatro era o seu coração. Era um amor recebendo sua chama do mesmo foco do amor divino, que tinha feito descer dos esplendores dos santos à sua pobre alma o Verbo Encarnado, e que, por conseguinte, excedia incomparavelmente qualquer outro amor, ainda mesmo que fosse o amor dos mais puros Serafins e dos mais fervorosos Querubins. Era um amor prático, que entregava toda a sua pessoa e todas as suas faculdades intelectuais à direção do seu amado Filho, a ponto de deixar dirigir por Ele todos os seus atos, todas as suas palavras, todos os seus pensamentos e sentimentos. Jesus falava-lhe ao coração, inspirava-lhe todos os Seus desígnios; e Maria, atenta a ouvi-lO, não era menos pronta em obedecer, generosa em executar.
Ó vida santa, vida perfeita, vida do completo influxo do amor divino em uma alma! Quão longe estou desta vida de amor! É já tempo de nela entrar deveras e de a imitar ao menos o mais possível.
TERCEIRO PONTO
A vida de Maria em Jesus foi uma vida toda de imitação
Entre às perfeições que Maria contemplava no Verbo Encarnado, estudava especialmente as que podia imitar; porque sabia, que um dos principais fins da descida do Verbo divino à terra era oferecer aos homens o modelo da vida perfeita, e que Jesus nada ama tanto como ver-Se reviver nos Seus escolhidos. Por conseguinte, assemelhar-se a Jesus era toda a sua ambição: ser humilde como Ele, pobre e mortificada como Ele, afável o terna como Ele, era o objeto das suas contínuas aspirações. Consultava-O interiormente, perguntava-Lhe o que ele faria, o que diria, o que pensaria nas diversas circunstâncias em que ela se achava; e o divino Menino lhe fazia ouvir a resposta no fundo do seu coração, e ela aplicava-se a obrar, a falar, a pensar como esse adorável modelo de todos os predestinados. Assim fazia Maria, assim devemos fazer. Fazemo-lo?
Resoluções e ramalhete espiritual como acima
Referências:
(1) Quidquid Deus non est nihil est, et pro nihilo computari debet
(2) Deus meus et omnia
(3) Speciosus forma prae filiia hominum (Sl 44, 3)
Voltar para o Índice do Tomo I das Meditações Diárias de Mons. Hamon
(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo I, p. 112-116)