Tomás de Kempis (1379-1471)
Salve Maria!
A Imitação de Cristo é uma obra que tem feito muito bem às almas ao longo destes anos todos e certamente ainda fará mais com a graça de Deus. Muitos Santos, como São Francisco de Sales, Santo Afonso Maria de Ligório, Santo Inácio de Loyola, Santa Teresa e muitos outros, a liam e recomendavam, justamente pela abordagem didática, fácil e muito prática que Tomás de Kempis nos exorta no decorrer dos quatro livros.
Se você, caro leitor, deseja ser Santo, este livro certamente será um grande salto em sua vida. Portanto, crie uma rotina diária de leitura meditada de cada capítulo para assim confrontar os conselhos e exortações de Tomás de Kempis com sua vida e, desta maneira, certamente dará largos passos no caminho rumo à santidade.
Índice
Notas biográficas
Livro I. AVISOS ÚTEIS PARA A VIDA ESPIRITUAL
1. Da imitação de Cristo e desprezo de todas as vaidades do mundo
2. Do humilde sentir de si mesmo
3. Dos ensinamentos da verdade
4. Da prudência nas ações
5. Da leitura das Sagradas Escrituras
6. Das afeições desordenadas
7. Como se deve fugir à vã esperança e presunção
8. Como se deve evitar a excessiva familiaridade
9. Da obediência e submissão
10. Como se devem evitar as conversas supérfluas
11. Da paz e do zelo em aproveitar
12. Da utilidade das adversidades
13. Como se há de resistir às tentações
14. Como se deve evitar o juízo temerário
15. Das obras feitas com caridade
16. Do sofrer os defeitos dos outros
17. Da vida monástica
18. Dos exemplos dos Santos Padres
19. Dos exercícios do bom religioso
20. Do amor à solidão e ao silêncio
21. Da compunção do coração
22. Da consideração da miséria humana
23. Da meditação da morte
24. Do juízo e das penas dos pecadores
25. Da diligente emenda de toda a nossa vida
Livro II. EXORTAÇÕES À VIDA INTERIOR
1. Da vida interior
2. Da humilde submissão
3. Do homem bom e pacífico
4. Da mente pura e da intenção simples
5. Da consideração de si mesmo
6. Da alegria da boa consciência
7. Do amor de Jesus sobre todas a coisas
8. Da familiar amizade com Jesus
9. Da privação de toda consolação
10. Do agradecimento pela graça de Deus
11. Quão poucos são os que amam a cruz de Jesus
12. Da estrada real da santa cruz
Livro III. DA CONSOLAÇÃO INTERIOR
1. Da comunicação íntima de Cristo com a alma fiel
2. Que a verdade fala dentro de nós, sem estrépito de palavras
3. Como as palavras de Deus devem ser ouvidas com humildade e como muitos não as ponderam
4. Que devemos andar perante Deus em verdade e humildade
5. Dos admiráveis efeitos do amor divino
6. Da prova do verdadeiro amor
7. Como se há de ocultar a graça sob a guarda da humildade
8. Da vil estima de si próprio ante os olhos de Deus
9. Tudo se deve referir a Deus como ao fim último
10. Como, desprezando o mundo, é doce servir a Deus
11. Como devemos examinar e moderar os desejos do coração
12. Da escola da paciência e luta contra as concupiscências
13. Da obediência e humilde sujeição, a exemplo de Jesus Cristo
14. Que se devem considerar os altos juízos de Deus, para não nos desvanecermos na prosperidade
15. Como se deve haver e falar cada um em seus desejos
16. Que só em Deus se há de buscar a verdadeira consolação
17. Que todo o nosso cuidado devemos entregar a Deus
18. Como, a exemplo de Cristo, se hão de sofrer com igualdade de ânimo as misérias temporais
19. Do sofrimento das injúrias e quem é provado verdadeiro paciente
20. Da confissão da própria fraqueza, e das misérias desta vida
21. Como se deve descansar em Deus sobre todos os bens e dons
22. Da recordação dos inumeráveis benefícios de Deus
23. Das quatro coisas que produzem grande paz
24. Como se deve evitar a curiosa inquirição da vida alheia
25. Em que consiste a firme paz do coração e o verdadeiro aproveitamento
26. Excelência da liberdade espiritual, à qual se chega antes pela oração humilde que pela leitura
27. Como o amor-próprio afasta no máximo grau do sumo bem
28. Contra as línguas maldizentes
29. Como, durante a tribulação, devemos invocar a Deus e bendizê-lo
30. Como se há de pedir o auxílio divino e confiar para recuperar a graça
31. Do desprezo de toda criatura, para que se possa achar o Criador
32. Da abnegação de si mesmo e abdicação de toda cobiça
33. Da instabilidade do coração e que a intenção final se há de dirigir a Deus
34. Como Deus é delicioso em tudo e sobretudo a quem o ama
35. Como nesta vida não há segurança contra a tentação
36. Contra os juízos dos homens
37. Da pura e completa renúncia de si mesmo para obter liberdade de coração
38. Do bom procedimento exterior, e do recurso a Deus nos perigos
39. Que o homem não seja impaciente nos seus negócios
40. Que o homem por si mesmo nada tem de bom e de nada se pode gloriar
41. Do desprezo de toda honra temporal
42. Como não se deve procurar a paz nos homens
43. Contra a vã ciência do século
44. Que se não devem tomar a peito as coisas exteriores
45. Que se não deve dar crédito a todos, e quão facilmente faltamos nas palavras
46. Da confiança que havemos de ter em Deus quando se nos dizem palavras afrontosas
47. Que todas as coisas graves se devem suportar pela vida eterna
48. Do dia da eternidade e das angústias desta vida
49. Do desejo da vida eterna e quantos bens estão prometidos aos que combatem
50. Como o homem angustiado se deve entregar nas mãos de Deus
51. Que devemos praticar as obras humildes quando somos incapazes para as mais altas
52. Que o homem se não repute digno de consolação, mas merecedor de castigo
53. Que a graça de Deus não se comunica aos que gostam das coisas terrenas
54. Dos diversos movimentos da natureza e da graça
55. Da corrupção da natureza e da eficácia da graça divina
56. Que devemos renunciar a nós mesmos e seguir a Cristo pela cruz
57. Que o homem não se desanime em demasia, quando cai em algumas faltas
58. Que não devemos escrutar as coisas mais altas e os ocultos juízos de Deus
59. Que só em Deus devemos firmar toda esperança e confiança
Livro IV. DEVOTA EXORTAÇÃO PARA A SAGRADA COMUNHÃO
1. Com quanta reverência cumpre receber a Cristo
2. Como neste Sacramento se mostra ao homem a grande bondade e caridade de Deus
3. Da utilidade da comunhão freqüente
4. Dos admiráveis frutos colhidos pelos que comungam devotamente
5. Da dignidade do Sacramento e do estado sacerdotal
6. Pergunta concernente ao exercício antes da comunhão
7. Do exame da própria consciência e propósito de emenda
8. Da oblação de Cristo na cruz e da própria resignação
9. Que devemos com tudo quanto é nosso oferecer-nos a Deus, e orar por todos
10. Que não se deve deixar por leve motivo a sagrada comunhão
11. Que o corpo de Cristo e a Sagrada Escritura são sumamente necessários à alma fiel Voz do discípulo
12. Que a alma se deve preparar com grande diligência para a sagrada comunhão
13. Que a alma devota deve aspirar, de todo o coração, à união com Cristo no Sacramento
14. Do ardente desejo que têm alguns devotos de receber o corpo de Cristo
15. Que a graça da devoção se alcança pela humildade e abnegação de si mesmo
16. Como devemos descobrir nossas necessidades a Cristo e pedir sua graça
17. Do ardente amor e veemente desejo de receber a Cristo
18. Que o homem não seja curioso escrutador do Sacramento, mas humilde imitador de Cristo, sujeitando sua razão à santa fé
Notas Biográficas de Tomás de Kempis
Por Pe. Antonio Royo Marin, O. P.
O mais conhecido e lido dos autores ascéticos do mundo, Tomás de Kempis, nasceu em Kempen (junto a Colônia) em 1379. Aos doze anos foi enviado por seus pais para estudar em Deventer onde conheceu Florêncio Radewijns. Terminados os estudos se dirigiu em 1399 ao Monastério de Agnietenberg, onde seu irmão João de Kempis era prior. Não tomou o hábito até 1406. Sofreu naqueles anos grandes tentações e trabalhos, ignoramos, porém, de que gênero. Não lhe faltou, pois, experiência de vida. Em 1413 ordenou-se sacerdote. E no Convento de Agnietenberg permaneceu toda sua vida (com exceção dos anos 1429-1432), copiando códices, compondo obras espirituais, poéticas e históricas (não menos de trinta compiladas pela edição de Phol) e amestrando os noviços nas vias do espírito. Foi alguns anos prior e morreu em 1471 com a avançada idade de 92 anos.
Um cronista que viveu com ele nos relata sua espiritualidade dizendo que “era um grande amante da Paixão do Senhor e admirável consolador de tentados e atribulados”. E outro, pouco posterior, acrescenta: “muito afável e consolador dos enfermos e tentados foi este devoto e bom padre”. Aqui vemos a imagem de um Tomás de Kempis com toda sua piedade afetuosa e caritativa. Retrato verdadeiramente amável, que nos faz pensar em um religioso humilde, afável, sentimental e terno.
Obras de Tomás de Kempis
Para a formação religiosa dos noviços escreveu o Diálogo dos noviços, onde traça as devotas biografias dos fundadores da Devotio moderna; e uma série de pequenos tratados como o Livro do exercício espiritual, Doutrinal dos jovens, Manual dos párvulos, Hospital dos pobres, Da solidão e do silêncio, Sermões aos noviços, etc.
Da vida monástica e suas virtudes trata o Livro dos três tabernáculos, Da verdadeira compunção, Da disciplina claustral, Horto de rosas, Vale de lírios.
Quanto aos Sermões da vida e Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, não tem nada de sermões propriamente predicáveis; são o mesmo que as Meditações da vida e benefícios do Salvador Jesus e as Orações da Paixão do Senhor e da bem-aventurada Virgem, suaves considerações, afetuosos colóquios e preces mais ternas que profundas. Um dos mais belos livros de Kempis é o Soliloquium animae, nostalgia da pátria celeste, gemido da alma que busca a seu amado ausente, abrasado desejo de união com Deus; mas não passa as cancelas da mística, porque a consideração dos pecados o detém. Onde Tomás de Kempis voa mais alto é no pequeno tratado De elevatione mentis ad inquirendum sumum bonum.
Em nenhuma de suas obras Kempis revela uma mente lógica, nem um propósito de dispor organicamente os temas que toca. Dão a sensação de serem formadas em retalhos, seguindo o ímpeto da inspiração particular em cada momento, sem ordem nem plano previamente estabelecido.
Sobre o livro A Imitação de Cristo
O livro mais famoso de Tomás de Kempis, mundialmente conhecido e apreciado como uma das jóias mais preciosas da literatura cristã de todos os tempos, é intitulado Imitação de Cristo. Sua importância e influência na história da espiritualidade é enorme.
Conservam-se dele 355 manuscritos e 292 edições de incunábulos ou semi-incunábulos. Desde 1617 até 1862 foram feitas, segundo Becker, 2.214 reimpressões. Atualmente calcula-se que passam das 6.200. O que supõe que tenham sido lançadas à luz pública cerca de quarenta milhões de exemplares. Foi traduzida para mais de 65 línguas e dialetos (cf. Becker, Essai bibliographique sur le livre “De imitatione Christi”. Liége: 1864).
Este livro genial foi lido por inumeráveis santos, entre os quais consta expressamente São Thomas More, Santo Inácio de Loyola, São Felipe Neri, São Luíz Gonzaga, São Francisco de Sales, São Carlos Borromeu, São Roberto Belarmino, Santa Teresa d’Ávila, Santa Bernadete Sourbirous, Santa Teresa de Lisieux, etc.
Foi recomendado por muitos Papas, como Alexandre VI, Paulo IV, Pio V, Pio XI, João XXIII. Literatos, homens de ciência, teólogos de todas as escolas e outras insignes personalidades encheram-no de elogios. Alguns lhe consideraram o melhor livro do mundo depois da Bíblia.
O estilo da Imitação de Cristo é vigoroso, apodíctico, cortado em sentenças lapidares. Ao mesmo tempo está pleno de cadências musicais e de assonâncias e rimas. É doce e efusivo. Carece de ordem lógica e de uma estruturação dialética metódica. Uns livros podem ser separados de outros, pode-se alterar a ordem, sem que por isso o todo perca a unidade estrutural que não tem. O próprio fenômeno se dá na distribuição dos capítulos. Mais ainda: se pode alterar ou suprimir muitos parágrafos, muitas sentenças, e o livro permanece.
Consta de quatro pequenos tratados de desigual extensão. O primeiro se intitula “Avisos úteis para a vida espiritual”; o segundo, “Avisos para a vida interior”; o terceiro, complemento do anterior, se intitula “Livro da consolação interior” e, finalmente, o quarto (terceiro no manuscrito) “Devota exortação para a Sagrada Comunhão”. que é muito diferente dos outros e que, por estranha anomalia, no manuscrito se intercala entre o segundo e o terceiro, rompendo a continuação temática.
O primeiro livro é de estilo mais conciso, austero, forte, de sentenças lapidares. Proclama a necessidade de seguir a Cristo, a nulidade dos valores humanos e das coisas terrenas (honras, ciência, prazeres, longevidade). Deve-se buscar a compunção do coração, a humildade, a obediência, meditar na morte, nos pecados, reformar a vida. É um manual de desenganos, com típica mentalidade monacal.
O segundo é um chamamento à interioridade: Regnum Dei intra vos est. Deve-se renunciar a todo conforto externo, não amar senão a Jesus e segui-lO pelo caminho real da Santa Cruz.
O terceiro são falas suavíssimas e penetrantes do Mestre interior ao discípulo, interrompidas com súplicas deste último. Exalta-se a abnegação, a vitória sobre si mesmo, a paciência, a humildade, a paz, a confiança e, sobretudo, o amor: “os admiráveis efeitos do amor divino”; se descrevem os sutis “movimentos da natureza e da graça”.
O quarto, sobre a devoção à Eucaristia, parece encerrar em si um tratado mais breve (c. 6-9), de preparação para a Comunhão.
A doutrina exposta por Kempis é enormemente positiva, profundamente evangélica, simples, sólida e maciça. Não se esqueça, no entanto, que foi escrita e concebida para religiosos e monges, razão pela qual alguns de seus conselhos não podem ser levados materialmente à prática pelos seculares. ainda que todos possam aproveitar de seu magnífico espírito transbordante de piedade.
Todo o livro está escrito em um latim claro, vigoroso e doce, com alguns germanismos ou neerlandismos e com frequência cadências rítmicas, com assonâncias e rimas; raras vezes se dilui em fáceis e floridas amplificações ou em reiterações afetuosas, que tanto abundam em outros escritos de Kempis.
Como é sabido, durante muitos anos se vem disputando sobre quem seja o verdadeiro autor do maravilhoso livro. Ele foi atribuído ao beneditino Jean Gersén († 1245), abade do Monastério de Santo Estevão de Vercelli; a Gerardo Groot, iniciador da Devotio moderna; a Jean Gerson, chanceler da Universidade de Paris e, finalmente, a Tomás de Kempis. A controvérsia, que não terminou ainda, vai se inclinando cada vez mais a favor do monge de Agnietenberg. Em todo caso, é questão que nada afeta a excelência intrínseca da doutrina. Como adverte o próprio Kempis:
“Não te mova a autoridade do que escreve, se é de pequena ou grande ciência; mas convide-te a ler o amor da pura verdade. Não olhes quem o disse; mas escuta o quê, tal como foi dito” (Imitação de Cristo I. 1, c. 5)