Meditação para o Vigésimo Segundo Sábado depois de Pentecostes
SUMARIO
Continuaremos a estudar a amabilidade cristã em Nosso Senhor, e veremos quanto Ele foi amável:
1.° Na vida doméstica;
2.° Para com os inferiores e aflitos;
3.° Para com os que tem defeitos;
4.° Para com os seus inimigos.
— Tomaremos depois a resolução:
1.° De nos mostrarmos sempre amáveis e atenciosos na vida doméstica;
2.° De acolhermos sempre cordialmente os meninos, os pobres e os aflitos;
3.° De opormos somente a bondade e caridade aos defeitos e erros dos outros.
O nosso ramalhete espiritual serà a palavra do Apóstolo:
“Em tudo procuro agradar a todos, não buscando o que me é de proveito, senão o de muitos – Per omnia omnibus placeo, non quaerens quod mihi utile, est, sed quod multis (1Cor 10, 33).
Sede nisto meus imitadores, bem como eu também o sou de Jesus Cristo” – Imitatores mei estote, sicut et ego Christi (1Cor 11, 1)
Meditação para o Dia
Adoremos Nosso Senhor tão amável para com todos que com razão pode dizer como o Apóstolo:
“Procuro agradar aos pequenos e aos grandes, aos pobres e aos ricos, aos aflitos e aos alegres, aos cheios de defeitos e aos meus amigos” – Per omnia omnibus placeo (1Cor 10, 33)
Agradeçamos-Lhe tão universal amabilidade, e tributemos-Lhe todo o nosso respeito e acatamento.
PRIMEIRO PONTO
Jesus Cristo amável na Vida Doméstica
Jesus Cristo viveu como inferior durante trinta anos, e como senhor durante três. Como inferior, honrou sempre a Deus seu Pai naqueles a quem obedecia; como senhor, falou sempre com mansidão, repreendeu sem aspereza, mandou rogando. Seja como inferior, seja como senhor, nenhuns meios desprezou para tornar felizes os que O cercavam. É assim que Ele nos indica essa vida doméstica, que é a salvaguarda dos bons costumes, a mãe, a protetora das virtudes, e que ensina a todos os membros da família a adornar a existência uns dos outros com uma reciprocidade de afeições e atenções; aos pais e mães a fazer as delícias do lar doméstico; aos filhos a ser cheios de gratidão, de respeito e amor para com os autores dos seus dias, a consolar e alegrar sua velhice com as suas palavras e maneiras amáveis; aos criados, a prezar e servir fielmente os seus amos; e aos amos a olhá-los como seus irmãos em Jesus Cristo. É assim que nos portamos?
SEGUNDO PONTO
Jesus Cristo amável para com os Inferiores e Aflitos
É amável para com os meninos chama-os para junto de Si, afaga-os, abraça-os, impõe-lhes as mãos e abençoa-os; é amável para com os pobres: nasce, vive e morre na pobreza, para lh’a tornar honrosa e mais suportável; mistura-Se com eles como um deles, evangeliza-os primeiro que a outros, e declara que olha como feito a Ele todo o bem que lhes fazem, e como recusado a Ele tudo o que lhes recusam finalmente, escolhe entre eles os chefes da sua Igreja, para governar na terra os reis e os povos, e os julgar no último dia juntamente com Ele. É amável para com os aflitos: Vinde a mim todos os que andais em trabalho, e vos achais carregados, lhes dizia Ele (Mt 11, 28); sente os males alheios como se Ele mesmo os padecesse (1); e chora em Betânia com os parentes e amigos de Lázaro (2).
Examinemos a nossa consciência: como Jesus Cristo, somos nós amáveis para com os meninos? É uma perversidade desprezá-los ou afligi-los injustamente, e é um absurdo querer incliná-los à virtude espancando-os. Somos amáveis para com os pobres? Eles são já bastantemente desgraçados sem os contristar ainda, tratando-os com desdém ou aspereza; este tratamento torna-lhes mais doloroso o seu estado; sentem quanta crueldade há em lhes pagar a esmola com a humilhação. Ao contrário, nada os consola tanto como ver-se tratados com atenções. Uma palavra doce, diz o Espírito Santo, vale para eles mais que a esmola que recebem (3). Finalmente, somos amáveis para com os aflitos? O infortúnio é uma coisa sagrada (4). Nada há mais vil que faltar às atenções para com um irmão aflito, assim como nada há mais delicioso do que aliviar aquele que padece.
TERCEIRO PONTO
Jesus Cristo amável para com os que têm Defeitos
Ele vive durante três anos com doze pescadores, sem educação, sem polidez, sem trato do mundo; e os seus maus modos não o enfadam; não lhes opõe uma palavra pesada, nem um gesto que possa penalizá-los. Sofre todos os desgostos da parte deles sem que nenhum lhes cause, sem que profira, a respeito daqueles mesmos que sabia que haviam de ultrajá-lo, traí-lo ou abandoná-lo, uma só palavra ofensiva. Vive no meio deles mais como seu servo do que como seu senhor, para nos ensinar a ser amáveis ainda com aqueles que nos desagradam pelo seu gênio, seus desvarios ou vícios.
— E nós que, apesar de todos os nossos defeitos, queremos que os outros sejam amáveis para conosco, com que direito exigimos que os outros não tenham defeitos para sermos amáveis para com eles?
QUARTO PONTO
Jesus Cristo amável para com os seus Inimigos
Eles cobrem-O de injúrias, chamam-O um samaritano, um possesso do demônio; e Ele responde-lhes com sossego:
“Qual de vós me arguirá de pecado?” (Jo 8, 46)
Querem apedrejá-lo, limita-Se a dizer-lhes:
“Eu tenho feito no meio de vós muitas obras boas: por quais destas obras me quereis vós apedrejar?” (Jo 10, 32)
Judas atraiçoa-O com um ósculo, e Ele chama-o seu amigo – Amice (Mt 26, 50). Herodes entrega-O à irrisão da plebe, os soldados açoitam-O e coroam-O de espinhos, o povo declara-O pior que o ladrão e o assassino Barrabás, os algozes crucificam-O; e no meio de todos estes inimigos tão iníquos, tão bárbaros, não deixa escapar uma vista de olhos, uma palavra, um gesto, que indiquem descontentamento.
Ai! É assim que tratamos os nossos inimigos? A menor ofensa excita-nos frieza, antipatia, ódio, rancor, desejos de vingança. Examinemos a nossa consciência sobre um ponto tão importante da moral cristã.
Resoluções e ramalhete espiritual como acima
Referências:
(1) Misereor super turbam (Mc 8, 2)
(2) Et lacrymatus est Jesus (Jo 11, 35)
(3) In omni dato non des tristitiam verbi mali… Verbum melius quam datum (Ecl 18, 15.16)
(4) Res sacra miser
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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo V, p. 154-158)