Meditação para a Vigésima Quarta Sexta-feira depois de Pentecostes
SUMARIO
Depois de termos visto a falsidade da sabedoria do mundo, meditaremos sobre a sabedoria cristã, e veremos:
1.° Em que consiste;
2.° Qual é a sua excelência.
— Tomaremos depois a resolução:
1.° De olharmos em todas as coisas a nossa salvação como o supremo fim a que devemos referir tudo;
2.° De evitarmos com cuidado o que poderia expô-la a perigo.
O nosso ramalhete espiritual será a súplica de Salomão:
“Dai-me, Senhor, aquela sabedoria, que está ao pé de vós no vosso trono, para que esteja comigo e comigo trabalhe” – Da mihi (Domine) sedium tuarum assistricem sapientiam… ut mecum sit et mecum aboret (Sb 9, 10)
Meditação para o Dia
Adoremos o Espírito Santo ensinando-nos por si mesmo e pelos santos a excelência da sabedoria cristã, a fim de nos inspirar o seu amor e a sua prática: Ele chama-lhe a ciência dos santos, a vida e a paz da alma, a senhora, a defensora e diretora das virtudes, sem a qual ou elas não são senão vícios ou são inúteis à salvação. Agradeçamos a este Deus de bondade e de luz ter-nos dado da sabedoria cristã noções tão elevadas e preciosas.
PRIMEIRO PONTO
Em que consiste a Sabedoria Cristã?
Ela consiste:
1.° Em nos propormos, em tudo e antes que tudo, à gloria de Déus e à nossa salvação como o fim primário e principal de todas as nossas ações; e em considerarmos, todas as criaturas e todos os acontecimentos como meios de conseguir este nobre fim.
O próprio Jesus Cristo nos deu esta noção da sabedoria, quando disse:
“De que aproveita ao homem ganhar todo o mundo, se vier a perder a sua alma?” (Mt 16, 26)
Era o mesmo que dizer-nos que, exceto a salvação e a glória de Deus que é dele inseparável, tudo o mais nada vale
2.º Assim determinado o nosso fim, a sabedoria cristã consiste em empregar, para o conseguir, os melhores meios, não os que nos ensinam os sentidos ou a razão, mas os que nos revelam as máximas do Evangelho e os exemplos de Jesus Cristo: por Conseguinte, em buscar em tudo a vontade de Deus, que é a regra de toda a perfeição; e como nunca se está mais seguro de a fazer do que quando se obedece, em amar a vida de obediência.
Nas coisas, em que a vontade de Deus parece igual, a sabedoria consiste, em preferir o desprezo às honras, a pobreza às riquezas, o sofrimento ao prazer, porque é deste modo que obrou o divino Mestre (1).
3.º Assim determinados o fim e os meios, a, sabedoria diz-nos: vigiai, para não deixar escapar as ocasiões de empregar estes meios; vigiai sobre as vossas palavras para que pão sejam indiscretas, sobre as vossas obras para que sejam sempre bem feitas, sobre as vossas intenções para que todas se dirijam a Deus só; vigiai finalmente sobre vós mesmos, para que nunca vos deixeis surpreender pelo inimigo.
Examinemos se tal é o fim e tais são os meios que dirigem toda a nossa conduta.
SEGUNDO PONTO
Excelência da Sabedoria Cristã
“Invoquei o Senhor, diz o Sábio, e veio a mim o espírito da sabedoria; e a preferi aos reinos e aos tronos, e julguei que as riquezas nada valiam em sua comparação; nem pus em paralelo com ela as pedras preciosas: porque todo o ouro em sua comparação é uma pouca de areia e a prata será reputada como lodo à sua vista” (Sb 8, 7ss)
Efetivamente, a sabedoria cristã é bela aos olhos de Deus pela inocência da vida, retidão e pureza das intenções; bela aos olhos dos homens, que não podem recusar-lhe a sua estima, e que ela força a amar a religião; bela em si mesma pela sua nobre simplicidade, pela elevação de seus sentimentos, pelas grandes virtudes que inspira e pela glória eterna a que conduz. Com a sabedoria cristã, o homem salva-se; sem ela, condena-se. Com ela é feliz, até desde à vida presente; tem o coração tranquilo, a consciência em paz; goza as delícias da inocência, bem como a amizade de Deus. Ao contrário, sem ela, não há na terra, senão vaidade e aflição de espírito; o homem está cheio de remorsos, descontente de si mesmo, sente que se degrada, que se avilta, chega até a perder o respeito de si; o que é a maior desgraça que lhe possa acontecer.
Oh! Quão preciosa é, pois, a sabedoria, cristã! Peçamo-la a Deus, para que ela presida a todos os nossos conselhos e juízos, a todos os atos da nossa vida.
Resoluções e ramalhete espiritual como acima
Referências:
(1) Proposito sibi gaudio, sustinult crucem, confusione contempta (Hb 12, 2)
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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo V, p. 196-198)