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Vida de Clausura, de Solidão e de Silêncio do Verbo Encarnado

Meditação para a Quarta-feira da 3ª Semana do Advento. Vida de clausura, de solidão e de silêncio do Verbo Encarnado

Meditação para a Quarta-feira
da 3ª Semana do Advento

Sumário

Para bem cumprir o tríplice dever de estudar, de amar, e de imitar o Verbo Encarnado, começaremos por meditar a vida que teve durante nove meses no seio de Maria; e veremos que foi uma vida de clausura, de solidão e de silêncio.

— Tomaremos depois a resolução:

1.° De não buscar o trato do mundo sem necessidade;

2.° De amar o retiro e o silêncio, como mais favoráveis à inocência da vida e ao recolhimento da oração.

O nosso ramalhete espiritual será a máxima da Imitação:

É no sossego e no silêncio que a alma faz progresso – In silentio et quiete proficit anima (I Imitação de Cristo 20, 6)

 

Meditação para o Dia

Adoremos Jesus ainda criança no seio de Maria, onde quis residir durante nove meses. Não quis aparecer de repente homem feito aos olhos do mundo; preferiu seguir a condição comum, e começar no seio de uma mulher a Sua vida de Verbo Encarnado. Admiremos, louvemos este desígnio de Sua eterna sabedoria; e supliquemos-Lhe que no-la faça compreender e imitar.

PRIMEIRO PONTO

A vida do Verbo Encarnado no seio de Maria
foi uma vida de clausura

Que clausura foi mais obscura? E todavia, coisa admirável, é ali que quis residir, durante nove meses, Aquele que habita os esplendores dos santos. É ali, que encerrando no mais pequeno espaço a Sua humanidade, escondendo na fraqueza a Sua onipotência e na simplicidade de uma criança a Sua infinita sabedoria, este amável cativo se clausurou por causa dos nossos crimes, a fim de nos evitar os cárceres do inferno; por causa das nossas dívidas, porque éramos devedores insolventes; e não quis sair desta clausura senão no dia e na hora designados por seu Pai. Ainda mais: não foi senão para vir ter neste mundo uma vida de tormento e martírio, sofrer uma cruel morte, e clausurara-Se depois, até ao fim dos séculos, no Santíssimo Sacramento. Ó admirável e mil vezes amável cativo, tornai-me cativo do Vosso amor, prendendo-me ao Vosso serviço por laços de afeição que nada possa quebrar!

SEGUNDO PONTO

A vida do Verbo Encarnado em Maria
foi uma vida de solidão

Jesus reside voluntariamente nesta solidão tão desconhecido, que ninguém, senão Maria, sabe que Ele ali está. E para que é isto senão para nos ensinar que não devemos diligenciar ver nem ser vistos – Nec videre, nec videre; que todo o mundo, ainda quando o víssemos em seu conjunto e em suas partes, não nos ofereceria senão um vão Espetáculo – Dimittamus vana vanis; que é melhor conservarmo-nos ocultos, cuidando da nossa alma, do que atrair as vistas com milagres, descuidando-nos de nós mesmos; que há mais proveito em ter trato com Deus do que com as criaturas; que Deus se compraz na solidão do coração, longe do bulício; que quanto mais nos separarmos do mundo e das suas conversações frívolas, tanto mais Deus se aproximará de nós, nos falará ao coração, nos fará gozar as delícias da Sua presença, a doçura das Suas consolações; tanto mais fácil nos será também conservar-nos puros e ter com o céu um santo trato? Ó vida de retiro, quão preciosa sois! Quão bom é fechar as portas do nosso coração às criaturas e nele conversar com Jesus! Em nenhuma parte se encontra um tal sossego; em nenhuma parte se é mais senhor de si e se pertence mais a Deus. É este o apreço que fazemos da vida de retiro e de solidão?

TERCEIRO PONTO

A vida do Verbo Encarnado no seio de Maria
foi uma vida de silêncio

O Verbo Encarnado, ama tanto o silêncio que, durante nove meses, não diz uma palavra, e, para o Seu nascimento, escolhe o tempo da noite, em que todas as criaturas estão caladas (1). Desde o Seu nascimento até ao momento em que geralmente as crianças começam a falar, cala-se, e desde este momento até ao Seu trigésimo ano, não pronuncia senão as palavras que exigia a necessidade ou o decoro. Durante os três anos de Sua missão, fala, porque é preciso; mas desde a Sua morte até ao fim dos séculos cala-Se ainda na Eucaristia. Ó admirável silêncio, que nos ensina que o silêncio é a escola da sabedoria; que é nele que nos instruímos na grande arte de falar e de obrar a propósito, por espírito de reflexão, de fé, de recolhimento e de oração; que há no coração do homem, que se cala, um tesouro melhor do que nos lábios do sábio que fala (2); que a devoção, que não é defendida pelo silêncio, dura pouco (3); que o muito falar distrai (4), e faz cair em inúmeros pecados (5); que, finalmente, a religião, que não refreia a linguá, é uma religião vã (6). Quanto mais silêncio há, tanto mais inocência há; se o falar causa distração, o silêncio extingue-a. Antes de falar, o homem prudente examina se o que vai dizer vale mais que o silêncio. É assim que o fazemos? Pomos nós a nossa felicidade no silêncio, e preferimos deixar falar os outros a falarmos nós mesmos?

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) Cum quietum silentium contineret omnia, et nox insuo curso medium iter haberet, omnipotens sermo tuus a regalibus sedibus… praesilivit (Sb 18, 14-15)

(2) Magnus thesaurus in ore sapientis, sed non minor in corde tacentis (Tomás de Kempis, Vallis liliorum)

(3) Perit devotio, quae non custoditur sub silenti fraeno (Tomás de Kempis, Vallis liliorum)

(4) Vanis verbis fit animus vagus, vix valens ad interiora redire (Tomás de Kempis, Vallis liliorum)

(5) In multiloquio non deerit peccatum (Pr 10, 19)

(6) Si quis putat se religiosum esse non refraenes linguam suam… hujos vana est religio (Zc 1, 26)

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo I, p. 84-87)