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Terça-feira da II Semana da Quaresma

Jesus Cristo, nosso Redentor (Pintura de Raúl Berzosa)
Jesus Cristo, nosso Redentor (Pintura de Raúl Berzosa)

Tome, caro Amigo, Rm 5,1-11.

1. Justificados, pois, pela fé temos a paz com Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo.

2. Por ele é que tivemos acesso a essa graça, na qual estamos firmes, e nos gloriamos na esperança de possuir um dia a glória de Deus.

3. Não só isso, mas nos gloriamos até das tribulações. Pois sabemos que a tribulação produz a paciência,

4. a paciência prova a fidelidade e a fidelidade, comprovada, produz a esperança.

5. E a esperança não engana. Porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.

6. Com efeito, quando éramos ainda fracos, Cristo a seu tempo morreu pelos ímpios.

7. Em rigor, a gente aceitaria morrer por um justo, por um homem de bem, quiçá se consentiria em morrer.

8. Mas eis aqui uma prova brilhante de amor de Deus por nós: quando éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós.

9. Portanto, muito mais agora, que estamos justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira.

10. Se, quando éramos ainda inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, com muito mais razão, estando já reconciliados, seremos salvos por sua vida.

11. Ainda mais: nós nos gloriamos em Deus por nosso Senhor Jesus Cristo, por quem desde agora temos recebido a reconciliação!
(Fonte: Bíblia Católica Online)

São Paulo já nos inculcou que a fé como confiança, como entrega filial, como abandono pobre nas mãos do Senhor, nos faz Seus amigos. Esta é a atitude fundamental que o Senhor Deus espera de nós, esta é a pobreza que agrada a Deus, a pobreza que nos faz bem-aventurados:

“Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos Céus” (Mt 5,3)

Quem é pobre assim, quem se entrega assim, quem se abandona assim, deixa realmente Deus reinar na sua vida, experimenta já agora em si o Reinado do Senhor Deus!

Mas, a fé e o abandono não são dirigidos a um deus qualquer! Não se trata de uma vaga ideia que alguém possa ter da divindade, de um benigno e doce sentimento religioso, mas esta fé-entrega-abandono deve ser precisamente em relação ao Deus que Se revelou, que veio a nós, que nos falou e a nós Se deu em Jesus Cristo! Portanto, crer em Deus é acolher Aquele que Ele nos enviou: Jesus, o Cristo do Altíssimo:

“A Vida eterna é esta: que eles Te conheçam a Ti, o único Deus verdadeiro, e Aquele que enviaste, Jesus Cristo! ” (Jo 17,3)

Já podemos nos perguntar: na prática, o meu Deus é o Deus que falou nas Escrituras, que Se nos deu em Jesus e nos interpela na Igreja animada pelo Seu Espírito ou é um deus feito por mim, do meu tamanho, projeção das minhas ideias difusas e confusas, que diz amém aos meus caprichos?

Bom! Tomemos, agora, o texto da Epístola aos Romanos!

O apóstolo nos olha a nós, cristãos, outrora pagãos, filhos de pagãos, de vida feita sob a própria medida; cristãos, agora amigos do Senhor: justificados pela fé, tornados amigos do Senhor Deus pela fé, estamos em paz com Deus, entramos no Seu shalom (Cf. v. 1).

O pecado jogara toda a humanidade numa situação de ruptura:

com o Senhor Deus (escondemo-nos Dele no paraíso)
conosco mesmos (nos cobrimos e mascaramos com folhas)
com os próximos (culpamos os outros pelos nossos erros e quedas)
com a criação toda (a terra nos produz espinhos e cardos e na fadiga ganhamos nosso pão)…
O terceiro capítulo do Gênesis nos dá conta desta triste situação…

Perdemos todos o shalom, a comunhão na qual o Senhor nos criara e para a qual o Senhor nos tirara do nada. Mas, agora, este shalom foi-nos dado, e dado de modo mais profundo e pleno que no início. Como?

“Estamos em paz com Deus através de nosso Senhor Jesus Cristo, por Quem tivemos acesso pela fé a esta graça” (Cf. vv. 1-2)

É por meio de Jesus Cristo, o Enviado, o Filho amado, que o shalom, a paz com Deus, é-nos dado como Vida, salvação e eternidade:

“Deixo-vos o shalom; Meu shalom vos dou; não vo-lo dou como o mundo o dá!” (Jo 14,27)

Eis o Evangelho, eis o anúncio cristão, eis a pregação do Apóstolo, eis a salvação: o Deus de Israel enviou-nos o Seu Filho, que “morreu por nossos pecados quando ainda éramos pecadores” (Cf. v. 8). Todo aquele que crer que Jesus é o Cristo enviado pelo Pai tem, em Seu Nome a justificação que vem por essa fé!

O que Deus fez por nós, entregando o Seu Filho, é tão grande que todo aquele que realmente acolher na fé o gesto salvífico de Deus recebe a graça da salvação!

Assim, a verdadeira fé em Deus manifesta-se em acolher Aquele que é o Enviado, Jesus, que “foi entregue pelos nossos pecados e ressuscitado para a nossa justificação” (Rm 4,25).

É em Jesus, crendo Nele, que conhecemos o extremo do amor do Pai por nós, a ponto de entregar o Seu Filho.

É crendo em Jesus morto pelos nossos pecados que temos o tremendo parâmetro, atrevendo medida para avaliar a nossa situação de pecado: tão grande doença demandou tão trágico remédio! Tão triste situação, exigiu tão grave solução! Que mistério que nunca penetraremos totalmente!

É crendo em Jesus ressuscitado dos mortos que contemplamos a força do Poder fidelíssimo do Senhor Deus e nos enchemos da esperança de participar da Glória do Cristo Jesus, “por Quem tivemos acesso, pela fé, a esta graça, na qual estamos firmes e nos gloriamos na esperança da Glória de Deus” (v. 2).

Medite nestas realidades.

Pense bem: não teremos real ideia da gravidade do pecado em nós e no mundo, a não ser que olhemos o Crucificado… Olhe-se diante do Cristo na cruz…

Também não teremos ideia da força do Senhor diante do mal, a não ser contemplando o Ressuscitado, que venceu o pecado e a morte!

Aqui não se trata de conceitos sociológicos, psicológicos… Mas de um temendo mistério: o Mistério da Iniquidade e o Mistério da Piedade!

Reze o Salmo 137/138