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Terça-feira da V semana da Quaresma

Batismo
Tomemos agora Rm 6,1-23. Na verdade, é todo o capítulo sexto desta Epístola. E é um texto, um capítulo importantíssimo! Portanto, leia-o com calma, com atenção… Sem compreendê-lo, fica difícil compreender o que é específico do cristianismo!

1. Então que diremos? Permaneceremos no pecado, para que haja abundância da graça?

2. De modo algum. Nós, que já morremos ao pecado, como poderíamos ainda viver nele?

3. Ou ignorais que todos os que fomos batizados em Jesus Cristo, fomos batizados na sua morte?

4. Fomos, pois, sepultados com ele na sua morte pelo batismo para que, como Cristo ressurgiu dos mortos pela glória do Pai, assim nós também vivamos uma vida nova.

5. Se fomos feitos o mesmo ser com ele por uma morte semelhante à sua, sê-lo-emos igualmente por uma comum ressurreição.

6. Sabemos que o nosso velho homem foi crucificado com ele, para que seja reduzido à impotência o corpo (outrora) subjugado ao pecado, e já não sejamos escravos do pecado.

7. (Pois quem morreu, libertado está do pecado.)

8. Ora, se morremos com Cristo, cremos que viveremos também com ele,

9. pois sabemos que Cristo, tendo ressurgido dos mortos, já não morre, nem a morte terá mais domínio sobre ele.

10. Morto, ele o foi uma vez por todas pelo pecado; porém, está vivo, continua vivo para Deus!

11. Portanto, vós também considerai-vos mortos ao pecado, porém vivos para Deus, em Cristo Jesus.

12. Não reine, pois, o pecado em vosso corpo mortal, de modo que obedeçais aos seus apetites.

13. Nem ofereçais os vossos membros ao pecado, como instrumentos do mal. Oferecei-vos a Deus, como vivos, salvos da morte, para que os vossos membros sejam instrumentos do bem ao seu serviço.

14. O pecado já não vos dominará, porque agora não estais mais sob a lei, e sim sob a graça.

15. Então? Havemos de pecar, pelo fato de não estarmos sob a lei, mas sob a graça? De modo algum.

16. Não sabeis que, quando vos ofereceis a alguém para lhe obedecer, sois escravos daquele a quem obedeceis, quer seja do pecado para a morte, quer da obediência para a justiça?

17. Graças a Deus, porém, que, depois de terdes sido escravos do pecado, obedecestes de coração à regra da doutrina na qual tendes sido instruídos.

18. E, libertados do pecado, vos tornastes servos da justiça.

19. Vou-me servir de linguagem corrente entre os homens, por causa da fraqueza da vossa carne. Pois, como pusestes os vossos membros a serviço da impureza e do mal para cometer a iniquidade, assim ponde agora os vossos membros a serviço da justiça para chegar à santidade.

20. Quando éreis escravos do pecado, éreis livres a respeito da justiça.

21. Que frutos produzíeis então? Frutos dos quais agora vos envergonhais. O fim deles é a morte.

22. Mas agora, libertados do pecado e feitos servos de Deus, tendes por fruto a santidade; e o termo é a vida eterna.

23. Porque o salário do pecado é a morte, enquanto o dom de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor.
(Fonte: Bíblia Católica Online)

Recorde que já explicamos a justificação, a santificação, a amizade com Deus que nos vêm através da fé em Jesus Cristo. O Apóstolo procura agora mostrar como concretamente este dom, esta graça, esta justificação, esta obra de justiça do Filho, esta obediência de Jesus chegam a nós. A resposta é: pelo Batismo!

Após uma introdução retórica (v. 1), São Paulo afirma que o cristão já morreu ao pecado e não mais pode viver nele: portanto, deve tornar-se aquilo que é! (v. 2). Sim, o cristão, inserido em Cristo, enxertado em Cristo, mergulhado no Espírito de Cristo desde o Batismo, é uma nova criatura – e essa novidade deve exprimir-se nos seus atos, nos seu modo de viver!

Pense um pouco

Pelo Batismo, o cristão é mergulhado no Espírito de Cristo imolado e ressuscitado; ele entra, portanto, num movimento, numa dinâmica de morte e ressurreição. Assim deve ser a sua vida: morte para você mundano, para você do seu jeito; vida para você segundo o Espírito, para você segundo Cristo.

Agora pense na sua vida: seu modo de pensar, seus atos, suas opções, seu modo de viver… Tudo isto é segundo Cristo ou segundo o mundo?

Faz, então, uma afirmação estonteante:

“Todos os que fomos batizados em Cristo Jesus, é na Sua morte que fomos batizados. Pelo Batismo fomos sepultados com Ele na morte, para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela Glória do Pai (que é o Espírito Santo) assim também nós vivamos Vida nova (no Espírito do Ressuscitado)” (vv. 3b-4)

E mais:

“Se nos tornamos uma só coisa com Ele por uma morte semelhante à Sua, seremos uma só coisa com Ele também por uma ressurreição semelhante à Sua” (v. 5)

Aqui cabem algumas reflexões

(a) Primeiro, é importante aqui ter presente o significado do verbo grego “batizar”: mergulhar! Certamente quando se fala em mergulhar na morte de Cristo há uma alusão à imersão batismal, que recorda um sepultamento. Entrar na água, ser por ela coberto é imagem da imersão no Espirito do Senhor imolado e ressuscitado!

(b) O cristão, portanto, pelo Batismo, é mergulhado real e misticamente na morte de Cristo: morte do homem velho, morte das velhas ações.

(c) Esta morte do cristão é dinâmica, num processo de cada vez maior conformação a seu Senhor, até à ressurreição final. Processo, portanto, que fruto do Batismo, dura a vida inteira do crente: vamos mergulhando cada vez mais no Senhor, a Ele vamos sempre cada vez mais incorporados, pois o Seu Espírito nos vai cristificando, dando-nos a morte e a ressurreição do Senhor!

(d) A ressurreição do Cristo é um evento trinitário: obra do Pai através do Espírito de Glória;

(e) Este mesmo Espírito, princípio de Vida nova no homem Jesus ressuscitado, é princípio de Vida nova também no cristão: Vida ontológica, isto é, Vida que impregna o próprio ser, a própria estrutura do humano e que deve desembocar numa atitude existencial;

(f) Quanto ao ser batizado na morte de Cristo: é dado ao cristão viver já desde agora a morte da qual morrerá! Explico: como qualquer ser humano, ele é ser-para-a-morte – sabe que morrerá um dia, mas carrega esta morte em si como uma graça, uma contínua conformação com a Páscoa do Cristo Jesus: o cristão sabe que morrerá com Cristo, morrerá em Cristo e morrerá para unir-se de modo total e definitivo a Cristo! Passa-se a ser cristão por comunhão de morte com Cristo no Batismo: é na Sua morte que fomos batizados-mergulhados e o seremos plenamente quando morrermos com Cristo (cf. 2Tm 2,11). Essa morte-com-Cristo habita em nós desde já, desde o Batismo. Um não batizado morre com sua própria solidão, experimenta a morte como um absurdo. O cristão, ao invés, mesmo dizendo: “Morro cada dia” (1Cor 15,31), faz de suas morte uma participação na morte de Cristo. A morte de Jesus cumpre sua obra em nós (cf. 2Cor 4,12), mora em nós serena e vai dando sentido à nossa vida! Assim, a morte pode ser, para o cristão, a graça suprema de conformação com Cristo, o momento supremo de união com o seu Senhor e de transformação Nele: seremos nós mesmos somente na nossa morte, que é Páscoa do Senhor e nossa páscoa.

Pare. Reflita, pois é profundo, belo, fundamental!

Nós já vivemos da morte e da ressurreição do Senhor! Porque fomos mergulhados no Espírito do imolado e ressuscitado, nossas mortes – tristezas, decepções, dores, derrotas, tudo quanto negativo enfrentamos… – já não são mortes somente nossas: são mortes em Cristo que se tornam Vida, ressurreição em Cristo Jesus.

Quando chegar a hora da morte final neste mundo, nossa união à morte e ressurreição do Senhor entre em sua fase final: morreremos Nele, com Ele e como Ele para Nele e com Ele e como Ele ressuscitarmos… Pense nisto: é tão belo, tão consolador, tão verdadeiro!

E continua:

“O nosso velho homem foi crucificado com Ele para que fosse destruído este corpo de pecado, e assim não sirvamos mais ao pecado” (v. 6).

A conformação a Cristo é dinâmica e crescente, até destruir de vez este corpo de pecado – “corpo”, aqui, nos sentido desta vida humana neste mundo marcado pelo pecado e pela ambiguidade; vida humana em todos os seus aspectos, tanto físico quanto psíquico e intelectivo. O cristão vai, assim – morto para o pecado – ficar livre e servir à justiça, isto é, à vontade de Deus (vv. 6-7).

Paulo contempla o Ressuscitado: Ele morreu e, uma vez ressuscitado, é o Vivente (cf. Ap 1,17): Cristo, participando da nossa condição humana, assumiu uma carne de pecado, uma situação de humilhação; agora, morto, é plenamente espirituado, pleno da Vida divina que o Pai Lhe concedeu pelo Espírito: a morte não mais tem domínio sobre Ele (vv. 8-10). O cristão, unido a Cristo pelo batismo, à medida que se conforma com Cristo, entra nesta dinâmica de morte (para o pecado) e ressurreição (para a vida com o Pai), pois ele agora é um vivo (em Cristo) provindo dos mortos (por uma vida de pecado) (v.13).

Finalmente, o santo Apóstolo utiliza uma linguagem jurídica, própria daquela época, quando um escravo, uma vez comprado, pertencia ao seu novo senhor e a ele devia obediência: o cristão, morto para o pecado, é “escravo” Daquele que liberta e dá Vida divina (v. 16). Como escravo, deve obedecer Àquele que conduz à justiça (v. 17-18). Escravo do pecado, o homem, desorientado, somente colhe a morte; servindo a Cristo, tem como salário a graça de Deus, que é Vida eterna em Cristo Jesus (vv. 20-23).

Reze

Senhor, que eu deixe o Teu Santo Espírito ir destruindo em mim o velho homem e plasmando o novo homem, à imagem do Homem Novo, Novo Adão, o Teu bendito e santo Filho, Jesus nossos Senhor!

Reze com devoção: 2Tm 2,8.11-13