Skip to content Skip to footer

Perda de Jesus no Templo

perda encontro jesus no templo

1º Domingo depois da Epifania

Remansit puer Iesus in Ierusalem, et non cognoverunt parentes eius – “O Menino Jesus ficou em Jerusalém, sem que seus pais se apercebessem” (Lc 2, 43)

Sumário. Quando Jesus chegou à idade de doze anos, José e Maria levaram-No consigo a Jerusalém na solenidade de Páscoa. Por ocasião da volta, porém, Jesus ficou no templo, sem que seus pais se apercebessem, e só foi achado ao fim de três dias de busca e de lágrimas. Aprendamos deste mistério que devemos deixar tudo, parentes e amigos, quando se trata de promover a glória de Deus.

I. Escreve São Lucas que Maria e José iam todos os anos à Jerusalém na solenidade de Páscoa, e levavam consigo o Menino Jesus. Era costume entre os Israelitas, conforme diz o venerável Beda, que durante a viagem ao templo (ao menos na volta) os homens andassem separados das mulheres, ao passo que os meninos acompanhavam à vontade o pai ou a mãe. O Redentor, que então tinha doze anos, depois da solenidade, ficou três dias em Jerusalém. A Virgem-Mãe pensava que Jesus estava com José e este julgava-O na companhia de Maria. — O santo Menino empregou aqueles três dias em promover a glória de seu Eterno Pai com jejuns, vigílias e orações e em assistir aos sacrifícios que eram outras tantas figuras do seu próprio sacrifício da Cruz. Para ter algum alimento, diz São Bernardo, foi-lhe mister pedi-lo por esmola, e para descansar não tinha outro leito senão a terra nua.

Quando, à noite, Maria e José se encontraram na pousada, não achavam o seu Jesus, e com suma aflição se puseram a procurá-Lo entre os parentes e amigos. Voltando depois a Jerusalém, acharam-No finalmente, ao terceiro dia, no templo, disputando entre os doutores, que pasmados admiravam as perguntas e respostas daquele menino extraordinário. — Nesta terra não há pena que se possa comparar àquela que uma alma, desejosa de amar a Jesus, experimenta quando teme que por qualquer culpa d’Ele se tenha afastado. Foi esta a dor exatamente de Maria e José naqueles dias, porquanto a sua humildade, diz o devoto Lanspergio, fazia-lhes crer que se tornaram indignos de ter sob sua guarda um tão grande tesouro. É por isso que Maria, encontrando o Filho, a fim de Lhe exprimir a sua dor, disse:

“Filho, porque fizeste assim conosco? Sabe que teu pai e eu te andamos buscando cheios de aflição”

E Jesus respondeu:

“Porque é que me buscáveis? Não sabeis que importa ocupar-me das coisas de meu Pai?”

Tiremos do presente mistério dois ensinos. Primeiro, que devemos abandonar tudo, parentes e amigos, quando se trata de promover a glória de Deus. Segundo, que Deus se deixa achar por quem o busca. Bonus est Dominis animae quaerenti illum (1) — “O Senhor é bom para a alma que o busca”.

II. Ó Maria, vós chorais por terdes perdido vosso Filho uns poucos dias. Afastou-se Ele da vossa vida, mas não do vosso coração. Não vos lembrais que o amor tão puro com que O amais, O faz estreitamente unido convosco? Vós bem sabeis que quem ama a Deus, não pode deixar de ser amado de Deus, que diz: Ego diligentes me diligo (2) — “Eu amo os que me amam”. Porque, pois, temeis? Porque chorais? Deixai que eu chore, que tantas vezes e por minha culpa tenho perdido meu Deus, expulsando-O da minha alma.

Ah! Meu Jesus, como pude ofender-Vos de olhos abertos, sabendo que pelo pecado Vos ia perder? Mas não quereis que o coração que Vos busca desespere, senão que se regozije: Laetetur cor quaerentium Dominum (3). Se em outros tempos Vos abandonei, ó Amor meu, agora Vos busco, e não quero senão a Vós. Para possuir a vossa graça, renuncio a todos os bens e prazeres da terra, renuncio até a própria vida. Vós dissestes que amais a quem Vos ama: amo-Vos, e amai-me Vós também. Estimo mais a posse do vosso amor, do que o domínio sobre o mundo inteiro. Jesus meu, não quero mais perder-Vos; mas não posso confiar em mim mesmo; confio tão somente em Vós. Por piedade! Uni-me estreitamente convosco e não permitais que ainda venha separar-me de Vós. — Ó Maria, vós me fizestes achar meu Deus, que tinha perdido há tempos; obtende-me agora a santa perseverança.

“E Vós, Pai Eterno, que fizestes reluzir sabedoria celestial na humilde puerícia de vosso divino Filho, concedei-nos que nós também, cheios do espírito de prudência, mereçamos, pela sincera humildade, a vossa complacência. Fazei-o pelos merecimentos de Jesus Cristo.” (4)

Referências:
(1) Lm 3, 25
(2) Prov. 8, 17
(3) Ps. 104, 3
(4) Or. Eccl.

Voltar para o Índice de Meditações de Santo Afonso

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 136-138)