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Do primeiro fruto da terceira palavra

Capítulo IX. Do primeiro fruto da terceira palavra Desta terceira palavra muitos frutos pode colher, quem atentamente a ponderar. O primeiro será o conhecimento do infinito desejo, que Cristo teve de padecer, para nos salvar, a fim de que a redenção fosse pleníssima e copiosíssima. Enquanto os outros homens providenciam, que na sua morte, e principalmente na morte violenta, desonrosa e infamante, lhes não assistam os seus parentes, para que não tenham de sentir dobrado sofrimento e tristeza, por eles estarem presentes; Cristo, não satisfeito com o próprio sofrimento atrocíssimo, cheio de dores e de desonra, quis além disso que Sua mesma Mãe, e Seu amado discípulo assistissem, e em pé permanecessem junto da Cruz, para que a dor da compaixão de pessoas que Lhe eram caras Lhe duplicasse o Seu sofrimento.

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“Eis aí a tua mãe, eis aí o teu filho”

Capítulo VIII. "Eis aí a tua mãe, eis aí o teu filho" Explica-se literalmente a terceira palavra de Cristo na Cruz

A última sentença das três, que particularmente dizem respeito à caridade do próximo, foi aquela:

"Eis aí a tua mãe, eis aí o teu filho"

Antes, porém de tratarmos dela, temos de explicar as palavras do Evangelista, que as precedem. Diz São João (Jo 19):

"Estava junto da cruz de Jesus sua Mãe, Maria mulher de Cléofas, e Maria Madalena: e vendo Jesus sua mãe, que estava em pé, e o seu discípulo predileto, diz para sua Mãe: Eis aí o teu filho, e depois diz para o discípulo: Eis aí tua Mãe; — e desde aquela hora o discípulo a tomou naquela conta"

Das três mulheres, que em grupo estavam junto da cruz do Senhor, duas são conhecidíssimas, Maria, sua Mãe, e Maria Madalena. A respeito de quem fosse Maria, mulher de Cléofas, não há certeza: geralmente, porém se diz que era irmã germana da Bem-aventurada Virgem, Mãe de Deus, filha de Ana, sua Mãe, que, dizem, também tivera uma terceira filha, chamada Maria Salomé, porém esta opinião não se pode admitir de modo nenhum, porque nem é crível, que três irmãs tivessem o mesmo nome, e tem fundamento o juízo de eruditos e pios, que dizem, que Santa Ana nenhuma filha mais tivera além da Virgem Maria, nem nos Evangelhos se faz menção de alguma Maria Salomé.

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Do terceiro fruto da segunda palavra

Capítulo VII. Do terceiro fruto da segunda palavra Um terceiro fruto se poderá colher da mesma palavra do Senhor, advertindo-se, que três foram os Crucificados, no mesmo lugar e na mesma hora; um inocente, Cristo, outro penitente, o bom ladrão; o terceiro obstinado, o mau ladrão: ou, se antes quiserem assim, que foram três os crucificados ao mesmo tempo; Cristo, sempre e excelentemente santo; um ladrão, sempre e excessivamente mau; outro ladrão mau numa época da sua vida, e santo na outra. Disto podemos entender, que não há neste Mundo ninguém, que possa viver sem cruz; e que baldados são os esforços dos que confiam, que podem absolutamente escapar-se a ela; e, que sensatos são os que aceitam a sua cruz da mão do Senhor, e, que até o fim da vida a levam não só com paciência, mas até com gosto.

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Do segundo fruto da segunda palavra

Capítulo VI. Do segundo fruto da segunda palavra É outro fruto da mesma segunda palavra a o conhecimento do poder da graça de Deus, e da fraqueza da vontade humana, do qual poderemos aprender que nada há tão proveitoso como ter muita confiança no auxílio de Deus e desconfiar muito das próprias forças. Deseja saber qual é o poder da Sua divina graça? Põe os olhos no bom ladrão. Tinha ele sido um notável pecador, e neste malíssimo estado tinha permanecido até o suplício da Cruz, isto é, pouco menos do que até a morte; e, no perigo iminente de condenação eterna, não havia ao menos uma pessoa que o aconselhasse, ou o socorresse; pois, apesar de estar tão próximo do Salvador, contudo estava ouvindo os Pontífices e os Fariseus que afirmavam que Ele era um revolucionário, e um ambicioso, que pretendia assenhorear-se de um reino, que não era Seu; estava ouvindo ao outro ladrão, seu companheiro, os mesmos impropérios que ele dirigia a Cristo, não havia ninguém, que a favor de Cristo dissesse nenhuma palavra, e nem Ele mesmo refutava aquelas blasfêmias e injúrias, e, não obstante isto, quando aquele ladrão parecia de todo abandonado para a sua salvação, muito próximo das penas eternas, e o mais distante, que era possível, da eterna bem-aventurança, instantaneamente iluminado e convertido pela divina graça, confessa que Cristo é inocente, é Rei da vida futura, e, como pregador repreende o seu companheiro, exorta-o a penitência, e diante de todos se encomenda devota e humildemente a Cristo.

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Festa de Nossa Senhora do Bom Conselho

Ecce concipies in utero et paries filium, et vocabis nomen eius Iesum — “Eis que conceberás e darás à luz um filho, e pôr-lhe-ás o nome de Jesus” (Lc 1, 31)

Sumário. Eis como Maria, enquanto na sua casa está suplicando a Deus pela vinda do Redentor, vê um anjo que a saúda e lhe anuncia ser ela mesma destinada para Mãe do Salvador. A humilde Virgenzinha, julgando-se nimiamente indigna de tamanha honra, fica toda perturbada; mas afinal dá o consentimento, e naquele mesmo instante o Verbo divino se tornou seu Filho. Ó grande Mãe de Deus, vós, tão privilegiada e tão humilde, nós, tão pecadores e tão orgulhosos, obtende-nos a santa humildade.

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Do primeiro fruto da segunda palavra

Capítulo V. Do primeiro fruto da segunda palavra Da segunda palavra proferida na Cruz, podemos colher alguns frutos, e frutos excelentes. O primeiro é a consideração da imensa misericórdia, e liberalidade de Cristo; e quão agradável e proveitoso seja servi-lO. Cristo, macerado pelas dores, poderia não atender a súplica do ladrão, porém a Sua caridade antes quis esquecer-Se dos acerbíssimos tormentos, que estava sofrendo, do que deixar de prestar atenção àquele miserável pecador, que nEle confiava. O mesmo Senhor, nem uma só palavra proferiu aos insultos e injúrias dos sacerdotes e soldados, mas ao clamor daquele pobre penitente, que o confessava a sua caridade não pode ficar silenciosa. Às injúrias emudeceu ela, porque é sofredora; à confissão não, porque é benigna. Mas que diremos da liberalidade de Cristo? Os que servem os senhores deste Mundo, muitas vezes, não obstante, os muitos serviços que lhe prestam, pouco proveito tiram, pois não são poucos os que, todos os dias estamos vendo, voltarem para suas casas velhos e quase a pedir, depois de terem passado toda a sua vida nos palácios dos Príncipes. Cristo, Príncipe, verdadeiramente generoso e magnífico, nenhuns serviços recebeu deste ladrão senão algumas boas palavras e bons desejos de O servir, e eis aí como o remunerou.

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“Amém. Em verdade te digo: hoje estarás comigo no Paraíso”

Capítulo IV. "Em verdade te digo: hoje estarás comigo no paraíso"

Explica-se literalmente a segunda palavra de Cristo na Cruz

A segunda palavra ou sentença proferida por Cristo na Cruz, segundo, testifica São Lucas foi à magnifica promessa a um dos dois ladrões também com Ele crucificados:

"Amém. Hoje estarás comigo no Paraíso" (Lc 23, 39)

Foi a origem desta segunda palavra haverem sido dois ladrões condenados ao mesmo suplício da Cruz, e estar cada um pendente na sua, um à direita, outro à esquerda de Cristo, e agravar um deles os seus passados crimes, injuriando o Redentor, dizendo-Lhe, arguindo-o de nada poder:

"Se és Cristo livra-te dos tormentos, e a nós também"

Ora São Marcos e São Mateus dizem (Mt 27; Mc 15), que os ladrões, crucificados com Cristo lhe exprobravam o seu pouco poder, porém o que se deve entender, é, que aqueles Evangelistas empregaram o número plural por singular; o que é freqüente na Sagrada Escritura, como observou Santo Agostinho nos Livros da uniformidade dos Evangelistas (1): pois o Apóstolo escrevendo aos hebreus a respeito dos profetas, diz (Hb 11, 33-37): Açaimaram as bocas dos leões; foram apedrejados, foram serrados, e apesar disto, quem açaimou as bocas dos leões, foi só Daniel; só Jeremias foi apedrejado; e serrado só Isaías. A isto se deve acrescentar, que São Mateus e São Marcos não dizem tão claramente que ambos os ladrões insultaram Cristo, como São Lucas explicitamente escreve (Lc 23, 39): Um dos ladrões que com ele foram crucificados, lhe dirigia impropérios; acrescendo mais, que não há motivo nenhum para o mesmo ladrão ora O insultasse, ora O louvasse.

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Do segundo fruto da mesma palavra proferida por Cristo na Cruz

Capítulo III. Do segundo fruto da mesma palavra proferida por Cristo na Cruz O segundo fruto, e na verdade muito salutífero para quantos dele provarem, será aprendermos a perdoar facilmente as injúrias, e a fazermos assim de inimigos amigos. Para disto nos convencermos, deveria ser razão bastante o exemplo de Cristo e de Deus: pois se Cristo perdoou aos que O crucificaram, e pediu por eles, por que não há de fazê-lo o cristão? Se Deus, Criador, que podia, como Senhor e Juiz, castigar imediatamente os pecadores, espera que eles se arrependam, e os convida para a reconciliação, pronto a perdoar a quem Lhe ofendeu Sua Majestade; porque não há de perdoar a criatura? A isto se há de acrescentar que o perdão de uma injúria nunca fica sem grande prêmio. Na história da vida e morte de Santo Engelberto, Arcebispo de Colônia, se lê, que, tendo-o os seus inimigos assassinado numa jornada, e ele em seu coração dissesse: Meu Pai, perdoa-lhes, dele se revelara, que só por aquela sua rogativa, de que Deus sumamente se agradou, não só a sua alma foi imediatamente levada ao Céu pelos Anjos, mas até colocada entre os coros dos Mártires, recebeu a palma e coroa do martírio, e foi assinalada por muitos milagres (1).

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Festa de São Bento, Abade

Omnis qui reliquerit domum, vel fratres, aut sorores, aut patrem, aut matrem... propter nomen meum, centuplum accipiet, et vitam aeternam possidebit — “Todo aquele que deixar por amor de meu nome a casa, ou os irmãos, ou as irmãs, ou o pai, ou a mãe...receberá o cêntuplo, e possuirá a vida eterna” (Mt 19, 29)

Sumário. Ó, quão bem sabe Deus recompensar, nesta vida e na outra, os pequenos sacrifícios dos seus servos. Eis como São Bento, por haver deixado as comodidades da casa paterna, possui agora um reino imenso e eterno. Por haver deixado parentes e amigos, ei-lo feito Pai de uma família numerosa e gloriosa. Regozijemo-nos com o santo Patriarca, e para participarmos um dia de sua recompensa, correspondamos à nossa vocação. Vivamos sobretudo desapegados dos bens terrenos, e se o Senhor te chamar a deixar inteiramente o mundo, não hesites em fazê-lo, que nunca disso te arrependerás.

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Do primeiro fruto da primeira palavra proferida na Cruz

Capítulo II. Do primeiro fruto da primeira palavra proferida na Cruz Explicamos, qual seja a inteligência da primeira palavra, que Cristo proferiu na Cruz. Agora, meditando, faremos por colher daquela palavra alguns frutos, e estes preciosos, e de muita utilidade para nós e para todos. Primeiro que tudo desta primeira parte do sermão, que Cristo pregou na cadeira da Cruz, aprendemos que a Sua caridade é muito mais ardente, do que nós podemos conhecer, ou imaginar, e é por isto, que o Apóstolo escrevendo aos Efésios, lhe diz:

"E conhecer também a caridade de Cristo, que excede todo o entendimento" (Ef 3, 19)

Com esta passagem da sua epístola dá ao Apóstolo a conhecer, que nós pelo mistério da Cruz podemos saber que a grandeza da caridade de Cristo é tamanha, que excede todo o saber humano, por ser maior do que a força da nossa inteligência pode compreender, pois nós, quando sofremos alguma grande dor, ou dos olhos, ou dos dentes, ou da cabeça, ou de outra alguma parte, tanto dela nos deixamos dominar, que a mais nada damos atenção; e por isso nem recebemos amigos, que venham visitar-nos, nem outros indivíduos, que por diversos motivos nos queiram falar.

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