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O Levantar da Cama

Meditação para o Sétima Sábado depois de Pentecostes. O Levantar da Cama

Meditação para o Sétimo Sábado depois de Pentecostes

SUMARIO

Trataremos das ações particulares, que nos prescreve a nossa regra de vida. Começaremos pela ação de levantar da cama, que é a primeira do dia, e veremos:

1.° A importância de a fazer bem;

2.º A maneira de a fazer bem.

— Tomaremos depois a resolução:

1.° De nos erguermos da cama sempre na hora determinada e de pronto;

2.° De acompanhar esta ação com modéstia, com espírito de piedade, e principalmente com a preparação do objeto da nossa oração.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra de São João Crisóstomo.

“Dai ao Senhor as primícias do vosso dia; ele será todo daquele que o ocupar primeiro” – Domino primitias diei tuœ; erit enim tota illius qui prior occupaverit (São João Clímaco, gr. 26, num. 103)

Meditação para o Dia

Adoremos Nosso Senhor Jesus Cristo sujeitando-Se a todas as fraquezas do homem: dormiu, acordou, levantou-Se da cama, vestiu-Se como nós; mas fez estas ações com admiráveis disposições, despertando Seu sono com o mesmo amor que, no dia encarnação, o fez sair do repouso, que gozava no seio de Seu Pai, para vir à terra trabalhar pela nossa salvação. Bendigamo-lO por nos ensinar com exemplo a começar santamente o dia.

PRIMEIRO PONTO

Importância de fazer cristãmente a ação de levantar da cama

Dai a Deus as primícias do vosso dia, diz S. João Clímaco: porque ele será todo daquele que o ocupar primeiro. Se, apenas acordamos, nos entregarmos a Deus de todo o nosso coração, não nos será difícil conservar-nos com esta disposição todo o dia. Sejam para Deus o nosso primeiro pensamento, as nossas primeiras palavras, a nossa primeira ação, os nossos primeiros sentimentos. O nosso primeiro pensamento, representando-no-lO ao nosso lado, que vigiou sobre nós durante a noite e nos oferece a Sua assistência para todo o dia; as nossas primeiras palavras, pronunciando os nomes de Jesus, Maria e José; a nossa primeira ação, fazendo o sinal da cruz; os nossos primeiros sentimentos, tributando-Lhe toda a nossa adoração, o nosso amor e reconhecimento, e oferecendo-Lhe todo o nosso dia com a intenção de não viver um só instante senão para Ele em Jesus Cristo (1). A alma que estiver nestas santas disposições terá grande facilidade em se conservar nelas. Se ao contrário começamos o dia na dissipação, no esquecimento de Deus, na busca das nossas comodidades, no amor dos nossos caprichos e das nossas fantasias, na ociosidade, na relaxação, ser-nos-á tanto mais difícil mudar estas más disposições, que não pensaremos todo o dia no nosso deplorável estado, nem no dever de nos emendarmos. E porque, pois, recusaríamos nós a Deus as primícias do dia, que sabemos que Lhe agradam? Seria uma injustiça, pois que esses primeiros momentos Lhe pertencem (2); seria uma ingratidão depois do benefício da nossa conservação durante a noite; seria uma cegueira, porque esta primeira ação dependem todas as outras, e interessamos muito em fazê-la bem. Temos nós até ao presente refletido seriamente sobre a importância de fazer bom esta ação?

SEGUNDO PONTO

Maneira de fazer santamente a ação de levantar da cama

Três virtudes devem santificar esta primeira ação do dia: a obediência, a modéstia e a devoção.

A obediência quer, que nos levantemos da cama na hora determinada na nossa regra de vida, sem nada conceder à preguiça nem ao devaneio, e que empreguemos o menor tempo possível em vestir-nos: porque empregar nesta ação mais tempo do que o estritamente necessário, é desperdiçá-lo.

A modéstia quer, por seu lado, que evitemos o mais possível toda a nudez, todo o esmero no traje, todo o demasiado apuro no adorno e asseio do corpo, assim como todo o desalinho, propondo-nos por modelo o perfeito decoro, que guardavam nesta ação Jesus, Maria e José.

Finalmente, a devoção deve encher o nosso interior de pios e santos pensamentos:

“Gravareis as minhas palavras no vosso coração, diz Deus ao seu povo, e as meditareis ao levantardes” – Meditaberis in eis… dormiens atque consurgens (Dt 6, 7)

É a ocasião de dizer ao Senhor:

«Graças vos dou, meu Deus, por me terdes conservado durante esta noite; por me terdes concedido este dia para obrar a minha salvação; por me terdes dado estas vestes para me cobrir, quando muitos outros apenas possuem andrajos. Estas vestes, meu Deus, ao passo que excita o meu reconhecimento, me enche de confusão: recorda-me, que o pecado me pôs abaixo dos animais, que não precisam de se vestir; estas vestes são o triste indício da minha inocência perdida; são despojos de animais. Que humilhação para o homem, ser obrigado a recorrer a isto! Ó Jesus! Sede meu vestido, como diz o Apóstolo (3), isto é, fazei que eu tenha em tudo os Vossos sentimentos, o Vosso modo de pensar, de falar e de obrar, e que Vos imite tão bem, que pareça que a Vossa sagrada pessoa cobre a minha. Neste intuito, Senhor, vou dispôr-me a fazer bem a minha oração»

Então lembramo-nos do objeto da nossa meditação, e nele nos ocupamos até ao momento de a começar. É deste modo que costumamos obrar ao levantarmo-nos da cama?

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) Viventes Deo in Christo Jesu (Rm 6, 11)

(2) Primitiae Domini sunt (Nm 31, 29)

(3) Induimini Dominum Jesum Christum (Rm 13, 14)

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo III, p. 294-297)