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Da Ação Presente e do Dia Presente

Meditação para a Sétima Segunda-feira depois de Pentecostes. Da Ação Presente e do Dia Presente

Meditação para a Sétima Segunda-feira depois de Pentecostes

SUMARIO

Meditaremos sobre dois outros meios de fazer bem as nossas ações. O primeiro é não pensar, quando se obra, senão na ação que se faz; o segundo é não nos preocuparmos senão do dia presente.

— Tomaremos depois a resolução:

1.° De concentrar sobre a ação, que nos ocupa, toda a nossa inteligência e aplicação para fazer o melhor possível;

2.° De nos propormos cada dia viver santamente até à noite.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra de um antigo:

“Quem pensa em muitas coisas ao mesmo tempo não faz tão bem cada uma delas” – Pluribus intentus minor est ad singula sensus

Meditação para o Dia

Adoremos Nosso Senhor ensinando-nos diversos meios de fazer bem as nossas ações. Este bom Pai não se esquece de nada que possa ser-nos útil. Ama-nos: quer que nos tornemos dignos do Seu amor; e para isto ensina-nos os meios de Lhe agradar. Demos-Lhe graças por tanta bondade.

PRIMEIRO PONTO

Não pensar, quando se obra, senão na ação que se faz

Um dos maiores obstáculos à perfeição das nossas ações ordinárias é, quando fazemos uma coisa, pensar em outra, de sorte que o nosso espírito distraído não se aplica como convém ao que tem a fazer. Inquietamo-nos, perturbamo-nos; uma coisa estorva outra, e assim nada se faz como se deveria e se poderia fazer. O remedeio a este mal é aplicarmo-nos de todo e unicamente ao que fazemos, como se nada mais tivéssemos a fazer. Cada coisa tem seu tempo, diz o Espírito Santo (1).

“Não andemos inquietos pelo que havemos de fazer mais tarde: porque a cada dia, a cada hora, a cada momento basta a sua ocupação e aflição” – Nolite sollicit esse in crastinum… Sufficit diel malitia sua (Mt 6, 34)

Durante a oração, não pensemos nos negócios nem nos cuidados do nosso estado. Quando estivermos entregues aos nossos negócios, pensemos só neles (2). Para que tornar a ocupar-nos do passado? É coisa consumada; não podemos mudá-lo. Para que antecipar o futuro? Ignoramos qual será; não sabemos sequer se o veremos. É um grande mal distrair assim a atenção do que fazemos para a prestar ao que havemos de fazer mais tarde, muitas vezes até meios e sonhos, que nunca se realizarão. É matar o presente com o futuro, a realidade com fantasmas; é o meio de nunca fazer bem coisa alguma. A prudência diz-nos, ao contrário, que adiemos o pensamento das coisas futuras para o tempo, em que tivermos de as fazer, e que não receemos lembrar-nos mais tarde da boa ideia que ocorrer na ação presente. Deus, amigo da ordem, abençoará o adiamento do pensamento inoportuno, e fará voltar a seu tempo com proveito o que tivermos deixado de lado para Lhe agradar. Tiraremos daí lucro em vez de prejuízo.

“A ciência, diz São Basílio, de que nos desprendemos para com a virtude, adquire-se melhor depois pela virtude”

Entremos aqui em nós mesmos. Que orações, que ações viciadas por não se ter seguido estas regras!

SEGUNDO PONTO

Não nos preocuparmos senão do dia presente

Somos tão fracos, que talvez nos faltasse o ânimo, encarando com um lance de olhos cinquenta ou sessenta anos que tivéssemos de passar em um completo recato, em uma contínua atenção sobre nós mesmos, na privação das comodidades da vida, na renúncia da nossa vontade e dos nossos desejos; ao contrário, nos animaremos facilmente se, em vez de encarar todas estas coisas juntas, as virmos separadamente, e dissermos: Não se trata aqui de calcular longos anos: de que me serviria isso, ignorando se estarei vivo amanhã? Trata-se unicamente do dia presente. Se amanhã estiver vivo, verei o que tenho a fazer. Ora daqui até esta tarde, poderia achar muito penoso viver, incomodar-me, mortificar-me? Um dia passa tão depressa! Um dia comparado com a eternidade nada é; e quão insensato eu seria se não o empregasse santamente! Fortalecidos com este pensamento, metemos mãos à obra, e passamos santamente o dia. No dia seguinte, continuamos, cuidando só do dia presente. Com este inocente ardil, tudo na virtude se nos torna fácil, e atingimos a perfeição. Proponhamo-nos empregar bem este meio.

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) Omnia tempus hab ent (Ecl 3, 1)

(2) Age quod agis

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo III, p. 280-282)