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Escola do Segundo Grau de Humildade

Meditação para a Quarta-feira da 3ª Semana depois da Epifania. Escola do Segundo Grau de Humildade

Meditação para a Quarta-feira da 3ª Semana depois da Epifania

SUMARIO

Meditaremos o segundo grau de humildade, que consiste em tratarmo-nos com desprezo e em reputarmos o último lugar sempre suficientemente bom para nós. Veremos:

1.° Que Nosso Senhor nos ensina esta verdade com o Seu exemplo;

2.° Que a só razão no-la persuade.

– Tomaremos depois a resolução:

1.° De deixarmos em tudo o primeiro lugar aos outros, e de tomarmos o último para nós;

2.º No governo da vida como no exercício das virtudes, de evitarmos o mais possível atrair a atenção, e de desejarmos que não pensem em nós.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra do Evangelho:

“Tomai o último lugar” – Recumbe in novissimo loco (Lc 14, 10)

Meditação para o Dia

Adoremos o Verbo Encarnado, descido do seio de Seu Pai e da morada de Sua glória, para vir habitar uma terra, onde é desconhecido, onde oculta o Seu ser debaixo do véu da mais abatida natureza humana, e onde se trata como o mais ínfimo dos homens, e toma em tudo o último lugar para si (1). Tributemos-Lhe os nossos respeitos neste estado; demos-Lhe graças por este ensino; e entreguemos-Lhe o nosso coração para que Lhe infunda as mesmas disposições.

PRIMEIRO PONTO

Jesus no berço ensina-nos a tratarmo-nos com desprezo, e a reputar o último lugar sempre suficientemente bom para nós

O Verbo de Deus, querendo fazer-Se homem, podia não nascer de uma mulher, mas aparecer de repente homem feito, tal qual nasceu Adão; preferiu passar pelo estado de infância, como mais ínfimo (2). Querendo nascer de uma mulher, podia escolher uma ilustre princesa; preferiu uma pobre jornaleira, que ganhava o seu sustento trabalhando. Querendo nascer na Judeia, podia nascer em Jerusalém; escolheu uma pequena povoação. Nesta povoação, escolheu o lugar mais abjecto, uma estrebaria; o tempo e a hora mais desagradáveis, o inverno e a meia noite. Depois de ter assim entrado no mundo, veste-Se da libré da pobreza; faz-Se circuncidar como escravo e pecador; na Apresentação, faz-Se resgatar pela oferta dos pobres. Quando Herodes O persegue, escolhe o modo mais vergonhoso de se subtrair a ele, que é a fuga. Na casa de Nazaré, toma o último lugar, que é obedecer a Maria e a José. Mais tarde, nas margens do Jordão, recebe o batismo como pecador. No deserto, deixa-Se transportar pelo demônio. Entre os Seus discípulos, é como que o Seu servo (3), e lava-lhes os pés, não excluindo os de Judas. Depois de tais exemplos, quem não gostará de estar abaixo dos outros, de passar por uma pessoa sem importância, ou de ínfima condição? Quem ambicionará o primeiro lugar, a preeminência e superioridade? Quem aspirara ao louvor e à estima? Quem ousará falar de si, e não aceitará voluntariamente as advertências e exprobrações? Que objeto do exame, e que reforma a efetuar nos nossos sentimentos, nas nossas palavras e ações!

SEGUNDO PONTO

A razão diz-nos que nos tratemos com desprezo e reputemos o último lugar sempre suficientemente bom para nós

1.º Este segundo grau de humildade é a rigorosa consequência do primeiro; porque, se sentimos que somos desprezíveis, é uma incoerência querermos ser honrados, e não nos tratarmos com desprezo. A justiça exige que se dê a cada um o que lhe é devido: ao nada e ao pecado a aversão e o desprezo. Deus somente viverá em nós, enquanto fizermos justiça a nós mesmos, segundo a verdade do que somos (4), isto é, enquanto abafarmos em nós todo o desejo das honras e das dignidades, das riquezas e dos louvores, e enquanto, zombando desse desejo como de uma loucura de que estamos feridos, aceitarmos de boa vontade os desprezos e os opróbrios, como coisas que nos são devidas.

2.° Tratarmo-nos com desprezo, é o meio de viver bem com Deus, com o próximo e conosco:

I. Com Deus: porque é assemelharmo-nos a Jesus Cristo; é conservarmo-nos na verdade que atrai sempre o amor e as graças de Deus;

II. Com o próximo: porque então já não há melindres, disputas sobre a preeminência; haverá entre todos uma encantadora reciprocidade de bons ofícios, de respeitos e atenções;

III. Conosco: porque então defenderemos a nossa humildade e tranquilidade, essas duas fontes da felicidade; defenderemos a nossa inocência, e não poderemos cair: pois as grandes quedas dão-se dos lugares altos, e todo aquele que está prostrado não cai (5).

Roguemos a Deus a graça de bem compreendermos e de pormos em prática tão importantes verdades.

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) Humiliavit semetipsum (Fl 2, 8)

(2) Semetipsum exinanivit (Fl 7)

(3) Non venit ministrari, sed monistrare (Mt 20, 28)

(4) Vivit Dominus in veritate, et in judicio, et in justitia (Jr 4, 2)

(5) Humilitas casum nescit

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo I, p. 233-235)

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