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Defeitos e Virtudes das Conversações

Meditação para a Nona Terça-feira depois de Pentecostes. Defeitos e Virtudes das Conversações

Meditação para a Nona Terça-feira depois de Pentecostes

SUMARIO

Meditaremos:

1.° Sobre os defeitos que devemos evitar;

2.° Sobre as virtudes que devemos praticar nas conversações.

Tomaremos depois a resolução:

1.° De nos resguardarmos desses defeitos, e de santificarmos as nossas conversações com as virtudes opostas;

2.° De nos lembrarmos durante a conversação, que Deus está presente, que ouve todas as nossas palavras, e nos obrigará a dar conta delas.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra do Apóstolo:

“Sede santos em todas as vossas conversações” – In omni conversatione sancti sitis (1Pd 1, 15)

Meditação para o Dia

Adoremos Nosso Senhor Jesus Cristo conversando no mundo, e dignando-se permanecer e conversar com os homens (1). Oh! Quão santas eram as suas conversações! Quão distantes estavam de todas essas misérias que se encontram muitas vezes nas nossas! (2) Contemplemos e bendigamos este divino modelo.

PRIMEIRO PONTO

Defeitos que devemos evitar nas conversações

O primeiro defeito das conversações é a distração ou a irreflexão, que faz:

1.° Que nelas percamos um tempo considerável em dizer futilidades;

2.° Que, espraiando-nos em falar sem moderação, nos inabilitemos para a oração, meditação, e coisas sérias (3);

3.° Que nos entreguemos a um riso imoderado, a chocarrices e graçolas indignas de uma boca cristã, a disputas porfiadas; que profiramos palavras picantes e inconsideradas. Os lábios dos imprudentes, observam os nossos livros sagrados, dizem parvoíces; mas o homem prudente pesa as suas palavras (4); mais se devem esperar do homem precipitado no falar loucuras do que emenda (5);

4.° Que desagrademos ao próximo com o excessivo desejo de faltarmos, interrompendo os outros, e faltando sempre sem querer dar-lhes ouvidos, o que é prova de insensatez (6).

O segundo defeito das conversações é o hábito de criticar. Fazemos cair a conversação sobre ausentes, motejamos, escarnecemos uns dos outros, achamos que censurar em todos, principalmente nos que nos desagradam; a maledicência, a dobrez, a má fé adubam tudo o que se diz, fomentam a discórdia, resfriam a caridade. Exageramos os defeitos e deprimimos as virtudes, ora por inveja, para nos exaltarmos, ora por vingança, ira ou desprezo, diminuindo quanto possível o mérito daquele cuja vida regrada é para nós uma exprobação, e metendo a ridículo as boas obras das pessoas virtuosas, as máximas e práticas de piedade.

O terceiro defeito são os discursos anti-cristãos, em que elogiamos os gozos da vida; louvamos a felicidade dos que se enriquecem, se divertem, alcançam honras ou glória; queixamo-nos da pobreza, que o Evangelho canonisa, cobiçamos as riquezas, que o Evangelho reprova; professamos não tolerar a humilhação e contradição, buscar as nossas comodidades, satisfazer os nossos gostos; e como a boca fala o que sente o coração, fazemos dos regalos da mesa, dos divertimentos e prazeres do mundo, o assunto mais ordinário de nossas conversações. Ora que mais anti-cristão, mais oposto ao Evangelho que semelhante modo de falar? Não é como que uma apostasia do Cristianismo?

Entremos em nós mesmos; e vejamos se as nossas conversações não têm tido muitas vezes algum dos defeitos sobre que acabamos de meditar.

SEGUNDO PONTO

Virtudes que devemos praticar na conversação

1.º A caridade deve predominar nela (7); devemos ter um rosto sereno, maneiras afáveis, palavras cordiais (8); ser indulgentes, não tomar à má parte nem interpretar mal o que se diz; desculpar os outros, ainda à nossa custa, quanto o permite a prudência; não mostrar descontentamento com as grosserias ou fraquezas do próximo; aceitar com paciência os conselhos, repreensões, e mortificações, quaisquer que sejam; vigiar sobre as nossas palavras e maneiras, para que nada digamos ou façamos que desagrade; finalmente ser francos, lhanos com os outros, mostrar-lhes afeição, obsequiá-los, interessar-nos por tudo o que lhes respeita.

2.° A humildade deve juntar-se à caridade. Devemos olhar-nos como indignos de conversar com os homens, depois de termos merecido conversar somente com os demônios, e por conseguinte tratar toda a gente com deferência e respeito (9); ouvir os outros sem os interromper; sofrer com paciência que nos interrompam ou nos prestem pouca atenção; conformar-nos com o seu parecer, quando a consciência o permitir; não faltar de nós ou do que pode atrair a estima ou o louvor.

3.° O zelo pelo bem deve santificar a conversação; devemos consolar o próximo nas suas aflições, animá-lo nos seus desgostos, fortificá-lo nas suas fraquezas, confortá-lo nos seus desalentos, dar-lhe bons conselhos, e trazê-lo para Deus e para a virtude (10).

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) In terris visus est, cum hominibus conversatus est (Br 3, 38)

(2) Non habet amaritudinem conversatio illius, nec taedium convictus illus (Sb 8, 16)

(3) In ore fatuorum cor illorum (Ecl 21, 29)

(4) Labia imprudentium stulta narrabunt; verba autem prudentium state poderabuntur (ibid, 28)

(5) Vidisti hominem velocem ad loquendum? Stultitia magia speranda est quam illius correptio (Pr 29, 20)

(6) Stultus verba multiplicat (Ecl 10, 14)

(7) Charitate frateritatis invicem diligentes (Rm 12, 10)

(8) Quis sapiens et disciplinatus inter vos? Ostendat ex boda conversatione operationem suam in mansuetudine sapientiae (Zc 3, 13)

(9) Honore invicem praevenientes (Rm 12, 10)

(10) In omni conversatione sancti sitis (1Pd 1, 15)

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo VI, p. 48-51)