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Jesus Cristo por amor nosso fez-se maldição afim de subtrair-nos à eterna maldição que mereceríamos

Capítulo XL

Deus Filium suum mittens in similitudinem carnis peccat, et de peccato damnavit pecca, tum in carne – “Deus enviou o seu próprio Filho revestido de carne semelhante à carne do pecado, e por causa do pecado condenou o pecado na carne” (Rm 8, 3)

Deus detesta soberanamente o pecado; onde quer que o divise, pune-o sem misericórdia; exigem-no sua justiça e santidade. Jesus Cristo, encarregado como estava por seu Pai celeste de remir-nos, revestiu-se de carne semelhante à carne do pecado que nós trazemos; e, bem que do pecado ele só tivesse a aparência, Deus não obstante votou-o à maldição: Factus pro nobis maledictum. Sim, nosso divino Salvador querendo subtrair-nos à maldição eterna que mereceríamos, consentia em ser ele mesmo votado à maldição, permitindo ser suspenso na cruz, como um culpado e malfeitor de todos execrado. Que amor! Ó meu Jesus! Meu doce Jesus! Vós que por vossa morte me livrastes da servidão do pecado original e dos pecados que depois do batismo cometi; mudai, eu vos suplico, mudai essas desgraçadas cadeias, que por tanto tempo me retiveram sob o império e escravidão de Lúcifer, em cadeias de ouro que a vós estreitamente unido me tenham pelos laços do vosso santo amor. Fazei, eu vos conjuro, fazei brilhar em mim o poder de vossa graça, tornando-me de miserável pecador que sou, um santo.

Por causa dos meus pecados é que Jesus se fez maldição; é artigo de fé. Que ideia devo portanto fazer eu de um mal que só por este preço um Deus pode destruir? É que este é o maior e mais horrendo de todos os males. Oh! Quanto eu devo temê-lo! Com que cuidado evita-lo! que vigilância para ele não estabelecer seu reino em minha alma! Ai! Tempo houve em que este maldito pecado me tinha sob as suas leis; mas pela graça do batismo libertei-me de sua vergonhosa escravidão; minha alma foi lavada no sangue de Jesus, e este bom Mestre tornou-a pura e bela a seus olhos. Ó Deus meu! Não permitais que eu tenha ainda a desgraça de a manchar com novos pecados; por quem sois, tal não permitais. A vossa graça me restituíste, não permitais que eu seja tão desgraçado que segunda vez a perca. Que seria de mim sem ela! Ai! Não posso consentir em passar toda a eternidade no inferno sem poder amar-vos, não, Deus meu, em tal não posso consentir; é preciso que eu vos ame e no inferno não se vos ama!

No inferno!… Longe do meu Deus!… Longe dos amigos do meu Deus!… Longe de Jesus Cristo e da santa Virgem!… Longe dessas belas almas que eu conheci e amei cá na terra!… Oh! Que desgraça! Senhor, Senhor, afastai para longe de mim. No inferno! Ó Jesus! E no entanto é bem verdade que de há muito eu deveria lá estar a arder! E no entanto é bem verdade que de há muito eu merecera lá ser esmagado debaixo do peso de vossa maldição eterna! Mas pela vossa misericórdia e pelo gloria de vossa tão dolorosa morte espero arder eternamente nas chamas do vosso amor e ser para sempre vosso.

Desde já não quero que meu coração outra coisa ame senão só a vós, a vós, ó Deus meu! A vós eu amarei por vós mesmo; aos meus amigos, amá-lo-eis em vós: aos meus inimigos, amá-lo-eis por causa de vós. Ah! Reinai em toda a minha alma; fazei que ela só a vós obedeça, só a vós busque, só por vós suspire. Sai do meu coração, afeições terrenas que não lordes em Deus e por Deus; a vós, chama do divino amor, vinde a mim; vinde e tomai posse do meu coração; vinde e abrasai-me. Eu vos amo, ó meu Jesus! Amo-vos, ó digno de infinito amor! Ó vós que sois o único que me amais verdadeiramente! Ninguém conheço que me ame mais que vós; em reconhecimento me dou e me consagro todo, todo, a vós, meu tesouro e meu tudo. Assim seja.

RESOLUÇÕES PRÁTICAS

Da Castidade

Seja-me permitido, meu caro Teótimo, entre¬ter-te hoje com a mais bela e mais mimosa de todas as virtudes, com essa virtude que torna o homem semelhante ao mesmo Deus; com essa virtude em comparação da qual nada são todas as riquezas, nada todos os tesouros e dignidades; quero dizer a castidade. É virtude tão bela, que até seus mesmos inimigos não podem conter-se que a não admirem. Nosso Senhor sempre a prezou muitíssimo, e quanto mais pura e casta é uma alma, tanto ele mais se compraz em cumula-la de seus mais assinalados favores. Mas quanto mais preciosa é esta virtude, tanto mais difícil é de conservar. A carne e o demônio reúnem seus esforços para vo-la fazerem perder, e desta luta terrível não é fácil o sair-se vencedor. Não obstante, meu caro Teótimo, confiança em Deus; ele bem conhece a nossa fraqueza e o lodo de que somos formados, e não deixa seus filhos ao abandono no meio do perigo. A Jesus e Maria pede incessantemente a virtude da castidade, pois só do céu pode descer dom de tão grande valor, e demais sê fiel ao que vou dizer-te, afim de não caíres no poder de teus inimigos.

1. Foge das Ocasiões

Porque nos combates da carne a vitória é dos mais medrosos, isto é, dos que fogem das ocasiões. Se te expões a elas, cairás. Quantos desgraçados, dizia São Jerônimo já moribundo, caíram no lodo da impureza por causa da presunção com que se julgavam seguros da vitória! Por mais experiência que tu tenhas dá tua fidelidade passada, está sempre de pé atrás e nunca te julgues em segurança para o futuro.

2. Vela sobre todos os Sentidos

Nunca deixes aos teus olhos deterem-se sobre objetos perigosos; nunca pronuncies uma só palavra que ferir possa um ouvido casto, etc., etc.

3. Foge da Ociosidade

O Espírito Santo ensina- nos que ela conduz a grande numero dos pecados; e ela é que foi a causa de todos os crimes dos habitantes de Sodoma e Gomorra, ela faz ainda todos os dias uma aluvião de vitimas. Foge pois da ociosidade e faz que o demônio te ache sempre ocupado. Não esqueças que muitos, depois de no trabalho haverem sido santos, na ociosidade perderam-se miseravelmente; e que, por um demônio que tenta uma pessoa que trabalha, há cem que assaltam a quem está ocioso. Torno-te a repetir, foge da ociosidade.

4. Mortifica-te

A mortificação é o sal que conserva todas as virtudes, mas a castidade sobre tudo, a qual sem ela não pode viver por muito tempo. Evita todos os excessos no beber e comer: porque boa mesa, abundância de iguarias, delicadeza de vinhos, são os maiores inimigos da castidade. Vinho puro ou nunca o temes, ou que seja em diminutíssima quantidade e muito raras vezes: porque quem com excesso toma vinho será certamente entregue ás tumultuosas paixões dos sentidos e só a muito custo poderá conservar a castidade.

5. Sê humilde

A humildade é a guarda da castidade, o orgulho é indicio de queda próxima. Sim, meu caro Teótimo, Deus muitas vezes pune os orgulhosos permitindo que eles caiam na torpeza de alguma impureza. Nunca por nunca tenhas muito boa opinião de ti mesmo, de teus talentos, de teus méritos com temor de atrair sobre ti a cólera de Deus; tem sempre presente a teu espírito esta lição de São Bernardo:

“Só pela humildade se pode obter e conservar a castidade”

6. Ora muito

No meio dos combates da carne contra o espírito, só Deus é que pode sustentar a nossa fraqueza e dar-nos a vitória. Assim pois, mal comeces a sentir os primeiros ataques do inimigo, apressa-te a recorrer a Jesus e dize-lhe:

“Meu bom Mestre, vinde depressa em meu socorro, ou eu pereço”

Fazei o sinal da cruz sobre o coração dizendo:

“Meu Deus, morrer antes que consentir neste mau pensamento, neste mau desejo!”

Dirige-te particularmente a Maria: pronuncia com respeito o seu santo nome; reza a Ave-Maria, aperta contra o coração alguma de suas imagens, ou escapulário se o tens, e repete incessantemente enquanto durar a tentação:

“Minha doce e terna Mãe, eu vos suplico, não abandoneis vosso pobre filho. Ó Maria! Ó Maria! Vinde em meu socorro!”

Depois da tentação, dize:

“Ó Jesus e Maria! Doces objetos do meu amor, benditos sejais para sempre por me haverdes livrado desta tentação, e não me terdes abandonado à minha fraqueza. Não permitais jamais que eu caia na desgraça de ver-me separado de vós pelo pecado. Ó Jesus e Maria, amo-vos e amar-vos-ei sempre”

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(Pinnard, Abade Dom. As Chamas do Amor de Jesus ou provas do ardente amor que Jesus nos tem testemunhado na obra da nossa redenção. Traduzido pelo Rev. Padre Silva, 1923, p. 279-283)