Qualidades, que deve ter a nossa Consagração
Para que a nossa consagração à Mãe de Deus, possa ser agradável para ela e proveitosa para nós, deve ser sincera, isto é, não consistir somente em palavras e vãs protestações de fidelidade e de amor, mas partir de um coração profundamente cheio de respeito, de veneração e de ternura para com esta admirável Mãe. Deve ser perfeita e inteira, isto é, devemos oferecer e consagrar à glória de Maria o nosso espírito, o nosso corpo, todas as nossas faculdades, tudo o que possuímos, tudo o que somos, desejando depender dela em todas as coisas, como de Soberana Senhora e cara Mãe. Enfim, esta consagração deve ser irrevogável, uma vez que nos consagremos a Maria, devemos considerar-nos como não pertencendo já a nós mesmos, mas só como filhos, servos, súditos, escravos desta augusta Rainha, que deve reinar para sempre em nossos corações.
Ó Maria! Que ventura não é pertencer-vos, ser todo vosso, não viver senão para Jesus e para vós!
A quanto nos obriga
Consideremos a quanto nos obriga a nossa consagração a Maria. Na qualidade de filhos e servos da Rainha do céu, devemos honrá-la, servi-la todos os dias de nossa vida com profundíssimo respeito, com todos os sentimentos de veneração devidos à Mãe de Deus; devemos amá-la como nossa Mãe, com toda a ternura de que os nossos corações são capazes; invocá-la todos os dias com inteira confiança, publicar por toda a parte as suas grandezas, ganhar-lhe servos fiéis, dilatar o seu culto quanto em nós couber, enfim trabalhar por seguir os seus passos, imitar seus exemplos e as eminentes virtudes, que a fizeram a mais santa de todas as criaturas. Tais são os deveres, que deve impor-nos a consagração de nós mesmos à Santíssima Virgem. Estamos resolvidos a cumpri-los fielmente?
Vantagens que nos concede
Consideremos agora as vantagens que estão ligadas a esta consagração. A devoção à Mãe de Deus traz consigo tantas bênçãos que a eternidade toda não será assaz longa para reconhecermos os benefícios que dela provém. Os pobres encontram nesta devoção riqueza para aliviar sua indigência, os enfermos remédios para seus males, os ignorantes ciência, os fracos força, os aflitos consolação, os que gemem nos trabalhos descanso, os que vivem inquietos paz, os pecadores graça, os justos santificação, as almas do Purgatório o suspirado livramento. Não há condição alguma que não participe de suas liberalidades: não há nação, não há reino, não há país que não experimente a sua proteção; toda a terra está cheia de suas misericórdias. O coração de Maria, depois do de Jesus, é o mais puro, o mais terno, o mais compassivo de todos os corações, tem só por si mais amor e perfeição, do que todos os anjos e santos; e tem para conosco incomparavelmente maior ternura e compaixão do que todos os bem-aventurados. Deste coração misericordioso, como de um manancial inexaurível, dimana para todas as criaturas uma multidão quase infinita de bens. Ora, se esta divina Mãe se interessa tão vivamente por todos os homens, que não fará ela em favor dos que a amam, dos que, para a honrar e servir, lhe consagram todos os afetos do seu coração?
ORAÇÃO
Ó Mãe do divino amor, sabeis que Jesus não contente de Se ter feito nosso advogado para com Seu eterno Pai, vos estabeleceu nossa mediadora perante Ele, e deu tanta eficácia às vossas súplicas que nada lhes é recusado. A vós, pois, recorro, ó esperança dos miseráveis; é tal a minha confiança em vós, que muito mais espero da vossa proteção e misericórdia, do que de todas as minhas obras, por mais santas que elas fossem. Aquele que é por vós protegido, não pode perder-se; o céu e ar terra o sabem. Por isso, embora se esqueçam de mim todas as criaturas, me desampare todo o universo, contanto que de mim vos não esqueçais, que eu não seja por vós abandonado, tenho tudo quanto desejo. Ó Maria, em vós confio; nesta esperança desejo morrer, repetindo com o coração e com a boca: Jesus é minha esperança; e depois de Jesus sois vós, ó Virgem Maria!
Agora se faz o Ato após a Meditação
EXEMPLO
Maria protege sempre os que a amam
A seguinte narrativa, confirma esta verdade.
— Junto às margens do Mediterrâneo, num porto muito secundário do meio dia de França, dois jovens de 18 a 20 anos, passavam as férias com sua mãe, no meio das distrações suaves e atraentes da família.
Discípulos dos jesuítas, faziam honra aos mestres pela sua invencível fidelidade ao serviço de Deus, e a todos os deveres de culto que fielmente consagravam à Santíssima Virgem.
Muitas vezes eram vistos de joelhos, sem ostentação nem temor, diante da imagem da Virgem Imaculada, padroeira daquele porto, e aos domingos dirigiam-se para a igreja aonde assistiam devotamente à missa, aproximando-se da mesa santa, com o mais profundo respeito e fervor.
Um dia foram eles convidados, para uma soirée de casamento, convite que não aceitaram, declarando sem hesitar, que nunca entrariam num baile, porque assim o tinham prometido à Santíssima Virgem.
Nessa mesma tarde, o tempo estava magnífico e o mar perfeitamente tranquilo. Os dois irmãos passeavam na praia, gozando a frescura da brisa e admirando o soberbo panorama, que aquele lugar lhes oferecia.
— Que linda tarde! — disse o mais velho, vamos nos dar um passeio pelo mar?
— É já! — respondeu José.
Obtida a licença de sua mãe, embarcaram alegremente.
O bote bem escolhido, afastou-se da praia sulcando as águas altivo e rápido como uma flecha. Os rapazes remavam sempre, confiando talvez em que, sendo filhos e netos de marinheiros, o mar os acolheria como aliado conhecido e hospitaleiro. Mas não sucedeu assim. Passados momentos o horizonte tornou-se negro, ameaçador, e o vento, soprando com violência, excitou uma medonha tempestade.
Os dois rapazes reconhecendo o perigo em que se achavam, invocaram Maria e beijando o escapulário que traziam ao pescoço, principiaram a luta contra as vagas que se erguiam ameaçadoras, remando a toda a força para a praia.
Mas ah! Decorridos apenas alguns instantes, o barco voltou-se, e os desgraçados desaparecendo no medonho turbilhão das águas, foram ao fundo do abismo!
A pobre mãe, vendo aproximar-se a tempestade, correu desvairada à praia, pedindo aos mais intrépidos marinheiros que lhe salvassem os filhos! Mas em vão a desgraçada corria de um para o outro lado, oferecendo a todos avultadas quantias; ninguém tinha coragem de se arriscar a uma morte inevitável, arrostando as vagas furiosas.
A família dos infelizes e numerosos habitantes da povoação contemplavam aterrados o mar em fúria, e com o auxílio do binóculo procuraram descobrir no fundo do horizonte, através das enormes montanhas de água, a frágil barquinha perdida!
Afinal convenceram-se de que sossobrara, e que os dois infelizes tinham perecido!
Às 6 horas da tarde acalmou a tempestade; então, a instâncias da família, alguns marinheiros lançaram os barcos ao mar e fizeram-se ao largo, para descobrir ao menos alguns vestígios da catástrofe.
Por muito tempo procuraram sem resultado, até que, depois de muitos esforços, descobriram os dois corpos perto da costa, à flor das ondas, retidos pelo escapulário, que sobrenadando parecia sustê-los pela sua misteriosa influência.
Eram recolhidos nas barcas, sem darem o mais leve sinal de vida, o pulso deixara de bater. Os marinheiros comovidos remaram para a praia e entregaram à família os supostos cadáveres. A mãe ao fixá-los exclamou, como que impelida pela, mais viva fé:
— Ó! Virgem Mãe! Já que permitistes que estes homens encontrassem meus, filhos, salvai-lhes a vida que tão cara me é. Eu creio firmemente que ainda vivem!
E não se enganava a pobre mãe confiando tanto em Maria!
Depois de muitos cuidados, os dois rapazes deram sinal de vida e os assistentes, ao vê-los recuperar os sentidos e readquirir nova vida, como sob a influência de um poder sobrenatural, exclamaram:
— Oh! Foi certamente a Santíssima Virgem que os salvou para os recompensar do fervor com que sempre a serviam!
No dia seguinte, completamente restabelecidos, mandaram celebrar uma missa em ação de graças à qual assistiu uma numerosa multidão.
Quem não há de ser amigo dedicado de Maria, se ela protege desta forma os que a ela se dedicam!
OUTRO EXEMPLO
Tomás de Kempis e a sua devoção à Santíssima Virgem
O venerável Tomás de Kempis, piedoso autor do famoso livro a Imitação de Cristo, manifestou desde a mais tenra infância, uma particular devoção pela Santíssima Virgem. Cumpria com o maior fervor todas as devoções que se tinha imposto para com esta divina Mãe, porém, um dia principiou a faltar a elas, e o seu fervor foi desaparecendo insensivelmente, até que as abandonou de todo. Foi então que um sonho misterioso lhe fez conhecer a gravidade da sua falta.
Sonhou que estava na sala aonde habitualmente dava as suas lições, quando viu a Rainha do céu descer entre nuvens, com o rosto inundado de brilho sobrenatural e o vestido de uma alvura deslumbrante! Passeava Ela em volta do recinto e parava junto de cada um dos religiosos, a quem falava com bondade, dando-lhe as mais evidentes provas da sua maternal ternura.
À vista disto, Tomás, lançando sobre a Santíssima Virgem olhares que manifestavam a sua ardente veneração e amor, esperava impaciente que a Senhora se aproximasse dele, e dizia para si:
— Confesso que sou indigníssimo destes testemunhos de afeto da Mãe do meu Deus, ouso contudo esperar que m’os dispensará também!…
Enganou-se, porém, na sua esperança, porque Maria aproximando-se-lhe, fixou-o severamente, e, longe de lhe testemunhar a sua ternura, repreendeu-lhe a culpável negligência, a sua covarde docilidade às sugestões do demônio.
— Onde estão os teus piedosos exercícios? lhe perguntou a Santíssima Virgem. Como desapareceu o fervor das tuas orações, a terna devoção com que recitavas o meu rosário e dizias outrora o meu ofício?
E tiveste a presunção de esperar que te testemunhasse o meu amor? Vai, retira-te de mim, e não esperes que te perdoe, sem que sinceramente te arrependas e emendes!
E dizendo isto a Santíssima Virgem elevou-se de novo entre nuvens, deixando Tomás de Kempis na maior consternação!
Quando despertou, recordou-se comovido do sonho que tivera, e sondando bem a consciência, reconhecendo humildemente a sua culpa, foi prostrar-se ante uma imagem de Maria, e implorando perdão, prometeu-lhe corrigir-se e nunca mais se tornar culpado de frieza e esquecimento para com esta divina Mãe! Tomás foi fiel ao cumprimento desta promessa, porque retomando as suas antigas devoções, cumpriu-as com ardente e constante fervor até ao fim da vida, não as omitindo nem um só dia.
Feliz repreensão que trouxe de novo ao bom caminho esta alma que principiava a desviar-se e a deter-se talvez à borda do precipício!
Sirva este exemplo de estímulo a nunca deixarmos as práticas de devoção que temos para com a Santíssima Virgem, e a corrigir-nos de tamanha falta, se por desgraça nela temos caído, e continuamos tíbios para com esta misericordiosa Mãe.
Que belo, este dia, o último deste mês bendito, para renovarmos o nosso fervor propósitos à Santíssima Virgem, consagrando-nos a ela franca e incondicionalmente!
LIÇÃO
Sobre o zelo pelos interesses da Glória de Maria Santíssima
Maria é vossa Mãe e com benefícios contínuos vos dá evidentes provas do seu amor maternal.
Vós sois seu filho, e, se como tal a desejais obsequiar, esmerai-vos muito em promover a sua honra e glória.
Imitai o cuidado que ela tem por vós, defendendo com zelo os seus interesses, e aproveitando as ocasiões de promover a sua glória.
Empenhai-vos de ora em diante por aumentar, quanto puderdes, o número dos seus servos.
Quando se oferecer ocasião, inspirai a vossos parentes, amigos e conhecidos os exercícios de devoção em honra da Senhora.
Sejam eles o vosso mais agradável recreio.
Se com palavras não podeis alentar nos corações frouxos o amor que é devido à Mãe celeste, ao menos procurai consegui-lo com o exemplo.
Pedi a Deus que derrame as suas graças nos corações de todos os homens, para que, chegando todos a conhecer e amar ao divino. Jesus, aprendam também a conhecer e amar a sua divina Mãe.
E será possível que os homens deixem de amar aquela Senhora, que desde toda a eternidade foi o objeto das complacências de Deus e que ama a seus filhos com amor mais extremoso?!
Máxima Espiritual
“É sinal de predestinação ser devoto da Mãe de Deus” – Santo Afonso Maria de Ligório
Jaculatória
Regina sine labe originali concepta; Regina sacratissimi Rosarii, ora pro nobis
Rainha concebida sem mácula do pecado original; Rainha do Sacratíssimo Rosário,
Agora se faz as Encomendações e outras Orações
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(SILVA, Pe. Martinho António Pereira da. Flores a Maria ou Mês de Maio consagrado à Santíssima Virgem Mãe de Deus. Tipografia Lusitana, Braga, 1895, 7.ª ed., p. 401-411)