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Apresentação da Santíssima Virgem

Compre o livro Flores a Maria!

Maria dá-se a Deus Prontamente

Tudo é mistério na vida da Santíssima Virgem; suas menores ações são cheias de instruções saudáveis, e nos oferecem os mais excelentes modelos de virtude. Viu-se jamais um espetáculo tão edificativo e admirável? Uma menina de três anos vai apresentar-se a Deus no templo, consagrar-se ao serviço dos altares. A fraqueza da idade, a ternura de seus pais, as obrigações que vai contrair, a vida austera e laboriosa que vai abraçar, nada a desanima, nada a suspende quando trata de se dar a Deus. Um santo ardor a conduz ao templo, o amor divino, que a inflama, lhe faz vencer todas as dificuldades que poderiam retardar este sacrifício.

Ó Maria, Virgem sábia e prudentíssima, quanto a vossa prontidão em vos dardes ao Senhor condena a nossa pusilanimidade e funestas dilações, quando tratamos de cumprir o que Deus exige de nós! Alcançai-nos a graça de que necessitamos, para vencer todos os obstáculos que nos impedem de sermos dEle sem reserva.

Maria dá-se a Deus Inteiramente

A consagração, que Maria fez a Deus, foi inteira e perfeita. Consagrando-se ao Senhor, consagrou tudo; renunciou tudo sem reserva alguma. Renunciou os seus bens, as suas esperanças, a sua vontade. Quereria ela naquele momento ter mil corações, todos teria oferecido a Deus com alegria. Tinha um só: mas com que afetos, com que transportes, com que fervor lh’o não ofereceu! Que exemplo para nós! Não é por ventura injuriar a Deus oferecer-Lhe, como fazemos muitas vezes, um coração repartido entre Ele e as criaturas? Não é isto fazermos mal a nós mesmos, visto que tudo o que não é para Deus, é perdido para a eternidade?

Maria dá-se a Deus Irrevogavelmente

Nunca se viram na Santíssima Virgem essas inconstâncias, vicissitudes e mudanças, que nos são tão ordinárias. Seguindo o caminho da perfeição, nunca olhou para trás, caminhou sempre a largos passos, e cada dia se tornou mais fervorosa, fiel e exata na observância da lei de Deus, mais abrasada no fogo do santo amor. Quanto não estamos longe de imitar a constância de Maria. E contudo desta constância depende todo o adiantamento na virtude. A nossa vida é uma série continua de promessas e de infidelidades, de resoluções e de fraqueza em executá-las. Parece que não prometemos a Deus, senão para faltarmos à nossa palavra, e no mesmo dia, talvez na mesma hora, tornamos a cair nas mesmas culpas que acabamos de detestar. Envergonhemo-nos desta inconstância e infidelidade tantas vezes repetida, e protestemos a Deus ser hoje o dia, em que nos consagremos a Ele irrevogavelmente.

ORAÇÃO

Santíssima Virgem, divina Maria, que vos apresentastes no templo para vos consagrardes ao Senhor desde a infância; permita que também eu me consagre a Vós com o sincero desejo de me dedicar ao vosso serviço. Sim, Virgem Santíssima, reconhecendo-vos por meu asilo, refúgio e esperança abaixo de Deus, eu me ofereço a vós desde este momento e para sempre. Escolho-vos por minha protetora e mãe e nas vossas mãos entrego a minha sorte! Consagro-vos sem reserva o meu espírito, coração, vontade, ações, bens, saúde, liberdade e vida, tudo o que sou e tudo o que tenho no mundo. Desejo que de tudo sejais depositaria, e que reineis absolutamente em meu coração depois de Jesus, vosso adorável Filho.

Agora se faz o Ato após a Meditação

EXEMPLO

Uma cura milagrosa na filha de Ceylão

No hospital de Ceylão dera entrada uma criança de 12 anos que, tendo sido esmagada por uma carroça, ficou com um braço em deplorável estado. A inflamação era tal que o facultativo temendo que se desenvolvesse a gangrena declarou que era precisa a amputação.

O rapaz ouvindo isto, ficou aterrado, mas passados alguns momentos, como cedendo a uma inspiração, exclamou com um tom de voz em que se revelava a mais plena confiança:

“Não consinto que me cortem o braço. Quero que me levem à igreja de Nossa Senhora de Lourdes, porque tenho a certeza de que ficarei curado!”

Efetivamente, a alguma distância de Colombo, há um santuário dedicado a Nossa Senhora de Lourdes, e era ali que o pobre pequeno queria ir buscar o remédio para o braço condenado.

A irmã de Caridade que tratava do enfermo, sentindo-se comovida pela fé desta criança, foi buscar-lhe algumas gotas de água de Lourdes que tinha cuidadosamente reservado para ocasiões como esta, em que uma plena confiança invocasse Aquela que disse: Eu sou a Imaculada Conceição!

O moço recebeu alegremente a água da fonte milagrosa que brotara à voz de Maria Imaculada; bebeu confiadamente algumas gotas que lhe produziram o efeito de um narcótico, e, passados momentos, adormeceu; repetindo: — Que não deixava cortar o braço, porque a Santíssima Virgem lh’o havia de curar!

No dia seguinte, pela manhã, voltou o médico e aproximou-se do leito do enfermo, aonde o esperava uma grande surpresa! O braço já não estava inchado, e a inflamação havia desaparecido completamente! O doutor, homem de excelente caráter e de uma extrema dedicação pelos doentes, tinha a infelicidade de não acreditar na intervenção d’Aquela que tão justamente é chamada — Saúde dos Enfermos — porque era protestante, contudo ficou estupefato olhando e analisando aquele braço que confundia toda a sua ciência. Depois, voltando-se para as pessoas que o rodeavam admiradas do prodígio, disse aludindo à recusa que a criança tinha feito:

“O pequeno salvou o braço!”

Efetivamente salvou-o com a fé vivíssima à qual nem o divino Mestre pode resistir!

Que Maria é verdadeiramente a Mãe de Misericórdia mostrou-o Ela mais uma vez intercedendo junto de seu divino Filho, por essa criança que inteira e confiadamente se entregara à sua maternal proteção.

OUTRO EXEMPLO

Grande triunfo da graça

Quantas almas justas que hoje gozam a bem-aventurança eterna, devem a sua felicidade à perseverança na devoção para com a Santíssima Virgem. Eis aqui um exemplo muito próprio para nos inspirar a maior fidelidade nas nossas boas resoluções.

Em 1603 um homem que se entregava à toda a espécie de vícios, entrou um dia na igreja de São Lourenço, em Valhadolid, e ajoelhando-se em um momento de fervor em frente de uma imagem da Virgem, orou, e, indignado pela recordação de tantos crimes com que tinha manchado a sua vida, soltou imprecações contra si próprio exclamando:

“Oh! Mãe Santíssima, prometo-vos não tornar a cometer tais pecados, e se eu faltar a minha promessa quero ser punido pela justiça e morrer nas mãos de um carrasco!”

Infelizmente, passado algum tempo, o desgraçado esqueceu completamente a solene promessa que fizera à Rainha do Céu, e continuou a cair nas mesmas culpas.

Tempo depois, cometeu-se um assassinato, e o homem de quem falamos foi acusado como autor. As aparências eram tanto contra ele, que, apesar da sua completa inocência, o juiz, convencido de que era ele realmente o verdadeiro assassino, o condenou à morte. Foi chamado um padre para o dispor a bem morrer, e este, depois de lhe ouvir a confissão, convencido da sua inocência, aconselhou-o a que apelasse da sentença, e pedisse a acareação das testemunhas, para fazer reconhecer o erro do primeiro julgamento, garantindo-lhe que, feito isto, seria salvo.

“Não padre, respondeu-lhe o condenado, não farei coisa alguma para salvar a vida, porque conheço que é Deus que se serve dos homens para me castigar como mereço. Os juízes enganaram-se, é verdade, mas Deus é que não pode enganar-se, e eu sei bem que tenho merecido mil vezes a morte pelos meus horríveis pecados, e principalmente pela indignidade com que faltei à promessa solene que fiz à Santíssima Virgem! Por isso, prefiro morrer, para satisfazer com a minha vida à justiça divina. Se agora escapasse da morte, as minhas perversas inclinações, os meus hábitos viciosos arrastar-me-iam a novos crimes! Não, não quero ofender mais a Nosso Senhor, prefiro a morte!”

E persistindo nesta generosa resolução, morreu sinceramente contrito dos seus pecados e satisfeito, por poder reparar com esta heroica perseverança, as suas antigas infidelidades!

Quem não admirara neste exemplo os secretos e altíssimos juízos de Deus, e os recursos da sua divina Providência!

LIÇÃO
Sobre a necessidade da alma se dar logo a Deus

Quanto se enganam aqueles que não reputam a mocidade como quadra de virtudes cristãs! Maria e os santos tem experimentado, quão proveitoso é ao homem ter levado desde os primeiros anos o jugo do Senhor. Acaso será tratar a Deus como Deus, destinar-Lhe tão somente os miseráveis restos de uma vida, que nos foi dada unicamente para se gastar no seu serviço?

Que sacrifício fazemos a Deus, esperando para O servir, que desfaleçam as forças e faltem os recursos do mundo?

Dizem muitos que hão de dar-se a Deus em idade mais madura; e chegarão a essa idade? E chegando a ela, reformar-se-ão tão facilmente como pensam?

A experiência mostra que a madureza da idade faz o homem mais instruído, mas nem sempre mais virtuoso.

Senhor, Senhor, abri-nos a porta, diziam as virgens loucas: porém, como chegaram tarde, debalde bateram.

Feliz o que desde tenra idade se dispõe a aparecer ante o soberano Juiz, que lhe há de tomar conta de todas as idades!

O que não dá a Deus o princípio da vida, deve temer que em castigo Ele faça que em breve lhe veja o fim.

Máxima Espiritual

“Que louvor pode ter quem, tendo consumido o corpo nos prazeres, só o empregar nos ócios da devoção, quando já esteja inábil pelo frio da velhice?” – (Santo Ambrósio)

Jaculatória

Mater divinae gratiae, ora pro nobis

Mãe da divina graça, rogai por nós

Agora se faz as Encomendações e outras Orações


Voltar para o Índice de Flores a Maria, do Pe. Martinho Pereira

(SILVA, Pe. Martinho António Pereira da. Flores a Maria ou Mês de Maio consagrado à Santíssima Virgem Mãe de Deus. Tipografia Lusitana, Braga, 1895, 7.ª ed., p. 88-96)