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A Humildade, remédio para as nossas misérias e chave das Graças

Meditação para a Duodécima Terça-feira depois de Pentecostes. Décima Quarta razão de sermos Humildes: A Humildade, remédio para as nossas misérias e chave das Graças

Meditação para a Duodécima Terça-feira depois de Pentecostes

Décima Quarta razão de sermos Humildes

SUMARIO

Meditaremos sobre uma décima quarta razão de sermos humildes; e é, que a humildade é:

1.º O remédio para todas as nossas misérias;

2.° A chave de todas as graças.

— Tomaremos depois a resolução:

1.° De tirarmos das nossas misérias motivo para crescermos todos os dias em humildade, humilhando- nos profundamente diante de Deus;

2.° De recitarmos as nossas orações com um sentimento íntimo de nossa baixeza e indignidade para falar a Deus.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra da Imitação:

“A mais útil de todas as ciências é o desprezo próprio” – Utilissima lectio sui ipsius… despectio (I Imitação 2, 4)

Meditação para o Dia

Adoremos Nosso Senhor que Se aniquilou a Si mesmo, tomando a natureza de servo (1). Admiremos e louvemos este divino Salvador neste estado. Quanto mais Se humilha por amor de nós, tanto mais O devemos amar.

PRIMEIRO PONTO

A Humildade é o remédio para todas as nossas Misérias

Todos nós temos paixões que domar, e não sabemos como consegui-lo; tentações que vencer, e não sabemos como livrar-nos delas; orações e exercícios espirituais que fazer, e muitas vezes o espírito distraído ou frouxo, e não sabemos como haver-nos. Ora a humildade remedeia tudo isto. Ataca todas as nossas paixões ao mesmo tempo, enfraquece-as sem luta, doma-as, tirando-lhe o seu alimento principal, que é o amor-próprio. Inspirada pela humildade, a alma, envergonhada de si mesma, considera as suas paixões como lepras hediondas; humilha-se profundamente e clama a vós, Senhor, do profundo do abismo (2).

“Compadecei-vos de mim, que sou tão miserável e digna de desprezo”

E neste estado de humilhação não há paixão que resista, nem tentação que não ceda. A alma tentada volta-se para Deus, e confunde-se. Mas é principalmente quando se não pode orar, nas frouxidões e distrações, que a humildade é um remédio excelente. Então a alma humilha-se diante de Deus, envergonhada de se ter esquecido do respeito que Lhe é devido; envergonhada de não saber pedir a Deus a esmola espiritual, de que precisa: e prossegue a sua oração no ponto em que a interrompeu. Se a frouxidão ou a distração volta, humilha-se de novo, e recomeça a orar, sem turbação; e faz assim toda a sua oração, a melhor por certo que possa fazer; por que a melhor oração é aquela, de onde se sai mais humilde. Ó! Quão excelente remédio é, pois, a humildade para todas as nossas misérias!

SEGUNDO PONTO

A Humildade é a chave de todas as Graças

O Espírito Santo disse-o: Deus dá a sua graça aos humildes (3), a razão disto é porque:

1.° Todas as graças dependem da oração, e a oração do humilde é sempre atendida (4). O publicano só sabe dizer uma palavra de humildade, e esta palavra obtém-lhe a sua justificação; enquanto que a oração do soberbo é sempre rejeitada de Deus.

2.° Assim como a fonte de toda a graça celestial se fecha para o soberbo, assim também se abre para o humilde. Quanto mais humilde é uma alma, tanto mais Deus a exalta e a enche de graças.

“Humilhemo-nos diante dEle e esperemos com confiança as Suas consolações” – Humiliemus illi animas nostras… Expectemus humites consolationem ejus (Jd 8, 16)

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) Semetipsum exinanivit, formam servi accipiens (Fl 2, 7)

(2) De profundis clamavi (Sl 129, 1)

(3) Deus… humilibus dat gratiam (Zc 4, 6)

(4) Oratio humiliantis se nubes penetrabit,… et non discedet donec Altissimus aspiciat (Ecl 35, 21)

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo VI, p. 112-114)