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Vida Interior de Nosso Senhor

158 vida interior de nosso senhor monsenhor hamon

Meditação para a Segunda-feira da 3ª Semana depois da Páscoa

SUMARIO

Como depois das nossas meditações da semana passada, devemos conhecer e imitar Jesus Cristo, estudaremos a Sua vida interior, que o olho humano não viu e que por isso não exige menos as nossas meditações. O autor da Imitação ensina-nos em poucas palavras o que é a vida interior. Consiste, diz ele, em conservarmos o nosso coração:

1.º Recolhido em Deus;

2.º Desprendido de qualquer outra afeição (1).

Veremos como a santíssima alma de Jesus satisfez estas duas condições.

—Tomaremos a resolução:

1.º De nos entregarmos de todo o coração à vida contemplativa e de união com Deus;

2.º De reprimirmos a desordem dos sentidos e da imaginação, que é o princípio da vida dissipada.

O nosso ramalhete espiritual será estas duas palavras, que resumem os dois pontos da nossa meditação: Deus só.

Meditação para o Dia

Adoremos a santíssima alma de Nosso Senhor toda recolhida em Deus; adorá-lO, amá-lO, louvá-lO, fazer em todas as coisas a Sua vontade, e rogar-Lhe pelo gênero humano delinquente, era toda a Sua vida. Nesta santíssima alma não há leviandade, nem distração; Deus só era tudo para ela. Tributemos-Lhe neste sublime estado a nossa adoração e amor.

PRIMEIRO PONTO

A santíssima alma de Jesus conservasse sempre recolhida em Deus

Era um admirável espetáculo aos olhos de Deus e dos Seus anjos o interior de Jesus, sempre recolhido na divindade, que habitava substancialmente nEle.

Eu não estou só, dizia Ele muitas vezes; mas eu e mm Pai que me enviou (2); eu estou no Pai, e o Pai está em mim. As palavras que vos digo, não as digo de mim mesmo; mas o Pai que está em mim, esse é o que faz as obras (3); é ele que me prescreveu pelo seu mandamento o que eu devo dizer e o que devo fazer (4); nada faço de mim mesmo, mas como o Pai me ensinou (5); meu Pai até agora não cessa de obrar, e eu obro também incessantemente (6)

Não havia até os menores atos do seu entendimento, até os menores juízos, que não procedessem dessa sagrada união (7). Assim se conservava esta santíssima alma continuamente unida a Deus por todos os seus pensamentos e afetos, não tendo em vista senão Deus em todas as coisas, sem que nada pudesse distraí-la desta santa união, as revoluções deste mundo, que ela via muito abaixo de si, e que ela dominava da região mais alta, em que habitava, do seio de Deus em que vivia toda inteira.

Comparemo-nos com este belo modelo; ai! Como os desvarios da nossa imaginação, as divagações do nosso espírito, as afeições do nosso coração, a dissipação dos nossos sentidos, nos arremessam para longe desta vida recolhida em Deus! Nós pensamos em todas as ninharias deste mundo, em todos os fantasmas que nos vem à cabeça; e esquecemos Deus, que nunca nos esquece, Deus em quem estamos e que está em nós. Humilhemo-nos, e envergonhemo-nos de semelhante esquecimento.

SEGUNDO PONTO

A santíssima alma do Salvador vivia em um perfeito desapego de tudo o que não é Deus

Esta alma admirável vendo, de um lado, as infinitas perfeições de Deus, e, do outro, o nada da criatura, não descobria fora de Deus coisa alguma, que pudesse cativar ou interessar o coração. O gozo ou as privações, a honra ou a obscuridade, o louvor ou o vitupério, tudo Lhe era indiferente; só Deus era tudo para ela (8). Não havia nela afeição seja ao que for; não havia desejos, nem vontade própria: Não vivo por dizia ela, mas pelo Pai (8); não busco o minha vontade, mas a sua (9); a minha comida é fazer eu a sua vontade (10); só ele está comigo e não me deixou só: porque eu sempre faço o que é do seu agrado (11); de sorte que Nosso Senhor, em toda a Sua vida, não diz uma palavra, não faz uma ação, que não seja dirigida pela divindade, que estava nEle. Havia sim na Sua sagrada pessoa uma vontade humana e uma vontade divina; mas unia-se amorosamente à outra por um ato distinto e criado, a vontade humana abismava-se no amor da vontade divina de tal modo que, de duas causas distintas resultava um mesmo efeito igualmente querido, sem busca de si nem das criaturas.

É assim, que somos de Deus sem restrição? Que matéria para nos examinarmos e entrarmos em nós mesmos!

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) Ambulare cum Deo Intus, nec aliqua affectione tenere foris, status est interior hominis (II Imitação 6, 4)

(2) Solus non sum, sed ego et qui misit me, Pater (Jo 8, 16)

(3) Pater in me manens ipse fecit opera (Jo 14, 10)

(4) Ipse mihi mandatum dedit quid dicam et loquar (Jo 12, 49)

(5) A meipso facio nihil (Jo 8, 28)

(6) Pater meus usque modo operatur et ego operor (Jo 5, 17)

(7) Si judico ego, judicium meum verum est, quia solus non sum: sed ego et qui misit me, Pater (Jo 8, 16)

(8) Deus meus et omnia

(9) Ego vivo proter Patrem (Jo 6, 58)

(10) Non quaero voluntatem meam, sed voluntatem ejus qui misit me (Jo 5, 30)

(11) Meus cibus est, ut faciam voluntatem ejus (Jo 4, 34)

(12) Quae placita sunt ei facio semper (Jo 8, 29). Veruntamen non sicut ego volo, sed sicut tu (Mt 26, 39)

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo III, p. 23-26)