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Princípios da Vida Interior

Meditação para a Terça-feira da 3ª Semana depois da Páscoa. Princípios da Vida Interior

Meditação para a Terça-feira da 3ª Semana depois da Páscoa

SUMARIO

Continuaremos a estudar a vida interior de Jesus Cristo, e a consideraremos em seus dois princípios fundamentais, que são:

1.° O espírito de oração;

2.º O espírito de sacrifício.

— Tomaremos depois a resolução:

1.º De fazermos a nossa oração cada manhã antes de qualquer outra coisa;

2.º De fazermos de boa vontade os sacrifícios pequenos ou grandes, que a graça nos inspirar, ou que os acontecimentos nos pedirem.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra de São Paulo:

“Andai dignamente diante de Deus, agradando-lhe em tudo” – Ambuletis digne Deo, per omnia placentes (Col 1, 10)

Meditação para o Dia

Penetremos pelo pensamento com religioso respeito na santíssima alma de Jesus. Honremo-la como a fonte e o modelo da vida interior (1), como a suave luz, que alegra as vistas de Deus através do mundo (2), como oceano de graças, de cuja plenitude participamos.

PRIMEIRO PONTO

A Oração, primeiro princípio da Vida Interior de Jesus Cristo

A alma de Jesus Cristo, pela visão intuitiva de que gozava, não se limitava a estar sempre na presença de Deus; falava-Lhe pela oração e mantinha com Ele um santo comércio. Esta oração começou desde o primeiro momento da encarnação no êxtase, continuou durante toda a Sua vida, e continuará por toda a eternidade. Se durante a Sua vida mortal passava as noites em oração (3), se ia aos montes ou ao deserto entregar-Se a este santo exercício (4), era unicamente para pregar com o exemplo a todos os séculos a necessidade da oração. Porque, quanto a Ele, a Sua oração não conhecia interrupção; de dia e de noite, viveu um profundo abatimento de todo o Seu ser diante da infinita excelência do Ser divino, da Sua pequenez diante da imensidade de Deus, da Sua dependência diante da soberania de Deus, da Sua humildade diante da divina majestade. Eram em Seu coração adoração, louvores, que enlevavam toda a côrte celestial, contente de dar a Sua aprovação pelo Amém eterno; eram afetos ardentes, efusões de amor, a que Deus correspondia com um amor sempre novo. Nesta formosa oração, que abrangia e abrange ainda todos os interesses do globo terrestre, Jesus ouve, de um lado, a voz dos nossos crimes, que clamam ao céu, e abafa-a com a voz mais poderosa da Sua oração, que aplaca a ira de Deus; do outro, recebe a adoração e as rogativas de todo o povo cristão, reveste-as dos Seus méritos, e oferece-as assim divinizadas a seu Pai. Oh! Como é admirável a oração da santíssima alma de Jesus Cristo! Como nela conserva e aperfeiçoa incessantemente a vida interior e a união com Deus!

Ó oração, tesouro da alma, que reconcilias o céu com a terra, tu és um antegosto do paraíso! É esta a estimação, que fazemos dela?

SEGUNDO PONTO

O Espirito de Sacrifício, segundo princípio da Vida Interior em Jesus Cristo

Sem o espírito de sacrifício, a natureza que se busca a si, os objetos exteriores que nos recreiam, as afeições que nos atraem para a terra, os desejos que nos cativam, tudo tende a fazer-nos viver em uma eterna distração; a vida interior somente é possível com a condição do sacrifício. Jesus Cristo começou a sacrificar-Se, começando a viver; desde esse momento considerou-Se como uma vítima destinada ao sacrifício, e conservou-Se diante de seu Pai em uma disposição habitual de holocausto, feliz por obter pelo mesmo ato uma glória infinita para Deus, a salvação para o mundo, um exemplo para todos os séculos. Com este belo modelo, devemos renunciar ao nosso corpo e aos nossos sentidos, ao nosso espirito o coração, ainda mais que aos nossos bens exteriores, e fazer de todas estas coisas um completo sacrifício a Deus, sem nenhuma rapina no holocausto (5). Devemos somente usar deles com a mira em Deus e segundo Deus, e repetir muitas vezes conosco:

Tudo isto não me pertence; tudo isto é de Deus. Compete a Deus dispor disto como Lhe aprouver, assim como me compete achar bom tudo o que Ele quer, fazer sempre o que me parecer mais conforme com a Sua vontade, e conservar-me para com Ele em uma perpétua dependência, em um estado de sacrifício e de holocausto.

Não é senão deste modo que se forma e se aperfeiçoa na alma a vida interior. Permita Deus que compreendamos bem estas verdades.

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) In ipso vita erat (Jo 1, 4)

(2) Et lux in tenebris lucet (Jo 1, 5)

(3) Et de plenitudine ejus nos omnes accepimus (Jo 1, 4)

(4) Erat pernoctans in oratione Dei (Lc 5, 12)

(5) Odio habens rapinam in holocausto (Is 61, 8)

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo III, p. 26-29)