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Tag: cruz

Do segundo fruto da sexta palavra

Capítulo 26: Do segundo fruto da sexta palavra Pode colher-se outro fruto da segunda explicação da palavra de Cristo: "Tudo está consumado", pois dissemos com São João Crisóstomo que se concluiu com a morte de Cristo a sua trabalhosa peregrinação que não pode negar-se que foi excessivamente custosa, mas que também foi recompensada pelo pouco tempo da sua duração e pela glória e honra que dela lhe resultou. Foi de trinta e três anos: que é, porém o trabalho de trinta e três anos comparado com o descanso da eternidade. Sofreu o Senhor fome, sede, muitas dores e injúrias sem número, pancadas, ferimentos e até a morte, mas agora bebe torrentes de prazer, de prazer interminável. Humilhou-Se, é verdade, tornado o opróbrio dos homens, rebotalho da plebe (Sl 21) por pouco tempo. Deus, porém exaltou-O, e deu-Lhe um nome como não há outro; pois ao nome de Jesus dobrasse todo o joelho no Céu, na Terra, e no inferno (Fl 2).

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Do quarto fruto da quinta palavra

Capítulo 23: Do quarto fruto da quinta palavra Resta ainda um fruto, e docíssimo, para colher da palavra: Tenho sede. Santo Agostinho, explanando o Salmo 68, diz, relativamente a esta palavra, que ela mostrara não só o desejo de bebida corporal, mas também o ardente desejo de Cristo pela conversão e salvação dos Seus inimigos, nós, porém, pela ocasião que nos oferece a explanação de Santo Agostinho, podemos subir mais alto e dizer que a sede de Cristo era a sede da glória de Deus e da salvação dos homens; e que a nossa deve ser da glória de Deus, da honra de Cristo, da nossa salvação e da salvação do nosso próximo. Que Cristo teve sede da glória de seu Pai e da salvação das almas, não pode duvidar-se, pois isto o diz, clamando, todas as Suas obras, todas as Suas pregações, todos os martírios que sofreu, todos os Seus milagres. Devemos pensar de preferência a tudo, para não sermos ingratos a tamanho benefício, sobre o modo porque possamos de tal sorte inflamar-nos, que tenhamos verdadeira sede da honra de Deus, que amou os homens até sacrificar por eles o seu Unigênito (Jo 3); e termo-lO, juntamente e do mesmo modo da glória de Cristo, que nos amou e Se entregou a Si, mesmo por nós, oferenda e hóstia a Deus em perfume de suavidade (Ef 5), e para também nos compadecermos dos nossos irmãos de sorte que tenhamos ardentíssima sede da sua salvação.

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Do terceiro fruto da quinta palavra

Capítulo 22: Do terceiro fruto da quinta palavra O terceiro fruto que pode colher-se da quinta palavra é a imitação da paciência do Filho de Deus; pois não obstante, que na quarta tenha sobressaído a humildade com a paciência; com tudo na quinta parece ter brilhado, como em lugar próprio, no seu maior esplendor, e só a paciência de Cristo. Na verdade a paciência não só é uma das grandes virtudes, mas até muito mais necessária que as outras: a respeito dela diz São Cipriano (1):

«Não acho entre os outros caminhos que levam à sabedoria do Céu, algum, que seja ou mais útil para a vida, ou mais espaçoso para a glória, do que a paciência, a qual deve com todo o empenho fazer por conseguir, quem quiser firmar-se bem nos preceitos do Senhor por obséquio de temor e de devoção»

Antes, porém de dizermos alguma coisa da necessidade da paciência, é preciso distinguir a verdadeira da falsa. A verdadeira é a que nos manda sofrer o mal do prejuízo, para não nos vermos obrigados a cometer atos culpáveis (2). Tal foi à paciência dos mártires, que antes quiseram sujeitar-se aos tormentos dos algozes do que negar a fé de Cristo; e preferiam perder tudo quanto tinham a prestar culto aos falsos deuses. A falsa paciência é a que nos leva a sofrermos todos os males, para obedecermos às leis do apetite, e a perdermos os bens sempiternos, para conservarmos os temporais. Tal é a paciência dos mártires do diabo, que suportam facilmente a fome, a sede, o frio, o calor, a perda da boa reputação, e, o que mais admira, a do Reino do Céu, para acumularem riquezas, satisfazerem a luxúria, e subirem a cargos honoríficos.

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Do segundo fruto da quinta palavra

Capítulo 21: Do segundo fruto da quinta palavra Ocorre-me outra consideração, e não de pequena utilidade, quando medito na sede de Cristo crucificado. Parece-me, pois que o Senhor disse: Tenho sede, no mesmo sentido em que disse à samaritana: Dá-me de beber; porque pouco depois, explicando o mistério do que lhe dissera, acrescentou:

"Se conhecesses o dom de Deus, e quem é que te pede, que lhe dês de beber, talvez tu lhe pedisses, que te desse água viva"

Como poderá, porém ter sede, quem é fonte de água viva? Não falava Cristo de si, quando no Evangelho: Se alguém tem sede, venha a mim e beba? (Jo 7) e não é Ele mesmo aquela pedra, de que fala o Apóstolo aos Coríntios (1Cor 10): Bebiam da pedra, que os seguia, e a pedra era Cristo? Não é Ele aquele mesmo que diz aos Judeus por Jeremias (Jer 2): Abandonaram-me, sendo eu a fonte d’água viva; e para si cavarem cisternas, cisternas rotas, que não podem conter a água. Parece-me, pois que estou vendo Cristo na Cruz, como numa elevada atalaia, vendo todo o mundo cheio de gente sequiosa, e desfalecida pela sede, e que o mesmo Senhor, compadecido, quando sofria a Sua sede corporal, daquela sede geral do gênero humano, gritara: Tenho sede, isto é, estou sem dúvida sequioso, porque se esgotou já o humor do meu corpo: esta sede, porém breve terminará, mas a minha maior sede é de que os homens conheçam pela fé que eu sou a verdadeira fonte de água viva, e de que venham a mim e bebam, e não tornem a ter mais sede.

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Do primeiro fruto da quinta palavra

Capítulo 20: Do primeiro fruto da quinta palavra O Antigo Testamento explica-se a maior parte das vezes pelo Novo, porém neste mistério da sede do Senhor as palavras do Salmo 68 podem ter-se como comentário do Evangelho; pois nele não se diz claramente, se os que ofereceram vinagre ao Senhor, na Sua sede, o fizeram por obséquio, se para mais O atormentarem; isto é, se por amor, se por ódio. Nós com São Cirilo tomamos a má parte aquele oferecimento do vinagre: são, porém, tão claras as palavras do Salmo, que não carecem de explicação; e delas colheremos o fruto de aprendermos de Cristo a termos a sede que devemos ter: a sede da salvação. As palavras do profeta são as seguintes:

"Esperei por quem tomasse parte na minha tristeza; e ninguém a tomou; esperei que alguém me consolasse; e ninguém me deu consolação, na minha fome deram-me fel, e vinagre na minha sede"

Por isso os que a Cristo, Senhor Nosso, deram pouco antes de ser crucificado, vinho misturado com fel, e os que depois de crucificado, Lhe ofereceram vinagre, eram daqueles de quem Ele se queixa, dizendo: Esperei por quem tomasse parte, etc.

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“Tenho sede”

Capítulo 19: "Tenho sede"

Explica-se literalmente a quinta palavra

Segue-se a quinta palavra mencionada por São João, e para inteligência da qual é preciso acrescentar as outras, pelas quais se exprime o Evangelista, assim os antecedentes como as consequentes. Diz São João:

"Depois sabendo Jesus, que tudo estava comprido, disse, para se cumprir uma palavra, que ainda restava da Escritura — Tenho sede — Tinha-se ali posto um vaso, cheio vinagre, e eles, molhando nele uma esponja, que depois pulverizaram com hissopo, chegaram-lhe à boca" (Jo 19)

Estas palavras querem dizer o seguinte: Nosso Senhor quis cumprir tudo o que da Sua vida e morte tinham antecipadamente sabido e predito os profetas inspirados pelo Espírito Santo; e porque estando cumprido tudo o mais só restava, estando sequioso, beber o vinagre, segundo o versículo do Salmo 68: Tendo eu sede, deram-me a beber vinagre, disse claramente, Tenho sede; e os que ali estavam, chegaram-Lhe à boca uma esponja ensopada em vinagre, e posta numa cana. Nosso Senhor disse: Tenho sede, para se cumprir a Escritura.

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Do quinto fruto da quarta palavra

Capítulo 18: Do quinto fruto da quarta palavra Nas primeiras palavras nos recomendou Cristo, nosso Mestre, três excelentes virtudes: caridade com os nossos inimigos, compaixão com os infelizes, e acatamento a nossos pais. Nas quatro seguintes nos recomenda quatro não mais excelentes que aquelas, mas não menos necessárias para nosso bem: a humildade, a paciência, a perseverança , a obediência. A humildade que propriamente se pode dizer virtude de Cristo, pois nenhuma ideia dela nos dão os escritos dos sábios deste mundo, não só Ele a praticou em todo o decurso da Sua vida; mas, além disto, se declarou por termos, nada equívocos, mestre desta virtude, dizendo:

"Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração" (Mt 11)

Nunca tão declaradamente, porém nos recomendou esta virtude, e juntamente a da paciência, que dela é inseparável, como, quando disse:

"Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?"

Pois com esta expressão nos mostra o Senhor, que por permissão de Deus toda a Sua glória e primazia se tinha obscurecido na presença dos homens, o que também queriam dizer aquelas trevas, nem o Senhor pôde, sem a mais rendida humildade e paciência sujeitar-Se aquele abatimento.

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Do quarto fruto da quarta palavra

Capítulo 17: Do quarto fruto da quarta palavra Pode adicionar-se aos frutos antecedentes um quarto fruto, nascido não tanto da quarta palavra, quanto da circunstância da ocasião em que ela foi proferida; quero dizer, das horrendas trevas, que sem muito intervalo a antecederam, pois são elas muito apropriadas para esclarecerem os Hebreus e para conservarem os Cristãos na verdadeira fé se quiserem prestar séria atenção à força do raciocínio que vamos propor, deduzido daquelas mesmas trevas. Esta demonstração pode coligir-se sem dificuldade nenhuma de quatro verdades. A primeira é que estando Cristo na Cruz, o Sol se obscureceu completamente todo, de modo que no Céu se viram as estrelas, como se vêem de noite. Esta verdade resulta do dito de cinco testemunhas, merecedoras de todo o crédito, de diversas nacionalidades, e, que escreveram em diversos tempos e lugares, e por isso não podiam escrever coisas que entre si tivessem combinado, para as fazerem passar por fatos.

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Do terceiro fruto da quarta palavra

Capítulo 16: Do terceiro fruto da quarta palavra Quando o Senhor na Cruz disse bradando: Meu Pai, porque me abandonaste, não o disse por ignorar a razão por que seu Pai o abandonou. Como poderia, pois ignorá-lo Àquele, que tudo sabe? E nesta conformidade respondeu o Apóstolo Pedro ao Senhor, quando este lhe perguntou se ele O amava:

"Senhor, tu bem sabes, bem conheces que te amo" (Jo 21)

E o Apóstolo Paulo falando de Cristo, diz (Col 2): "Em que se acham todos os tesouros da sabedoria e da ciência", por isso não fez aquela pergunta, para saber; mas a fim de nos exortar a perguntarmos, para das respostas ficarmos sabendo muitas coisas que nos são úteis, e mesmo necessárias. Mas porque abandonou Deus seu Filho na Sua tribulação e no sofrimento das dores atrocíssimas? Ocorrem-me cinco motivos que vou expor, para dar, aos sábios ocasião de fazerem melhores e mais úteis indagações.

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Do segundo fruto da quarta palavra

Capítulo 15: Do segundo fruto da quarta palavra Outro fruto, e muito precioso, se pode colher da consideração do silêncio de Cristo nas três horas que decorreram da sexta até a nona. Que fez então o teu Senhor, dize-me, minha alma, naquelas três horas? Estava o universo envolvido em horror e trevas e o teu Deus não descansava deitado em brando leito, mas estava pendente da Cruz, nu, cheio de dores e sem consolação nenhuma. Tu, Senhor, que és o único que sabes os horríveis tormentos que padeceste, ensina os teus servozinhos a avaliarem quanto Te devem e a que, ao menos com piedosas lagrimas de Ti se compadeçam, e saibam algumas vezes privar-se neste desterro por amor de Ti de tudo quanto for regalo, se assim for da Tua vontade. Eu, filho, em toda a minha vida mortal, que toda foi trabalho e mortificação, nunca sofri tormentos maiores do que naquelas três horas; nem também sofri nunca de melhor vontade do que naquele espaço de tempo. Então, pelo cansaço do corpo cada vez mais se me rasgavam as chagas e se aumentava a violência das dores. Então por falta do calor do Sol, o frio subindo de intensidade, agravava o meu sofrimento por estar de toda parte desagasalhado. Então as trevas, que me tiravam a vista do Céu e da Terra, e de todos os objetos da criação, obrigavam-me de certo modo a não pensar senão nos meus tormentos. Assim aquelas três horas consideradas por este lado, pareciam-me três anos; porém o desejo em que meu peito ardia da honra de meu Pai, de cumprir a Sua vontade e da salvação das vossas almas, era tal, que quanto mais as dores se exasperavam, mais aquele desejo crescia, fazendo com que aquelas três horas me parecesse três minutos pelo grande gosto com que eu sofria.

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