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Capítulos de As Sete Palavras de Cristo na Cruz

Capítulos de As Sete Palavras de Cristo na Cruz

Confira todos os capítulos do livro As Sete Palavras de Cristo na Cruz, de São Roberto Belarmino!

Do terceiro fruto da quarta palavra

Capítulo 16: Do terceiro fruto da quarta palavra Quando o Senhor na Cruz disse bradando: Meu Pai, porque me abandonaste, não o disse por ignorar a razão por que seu Pai o abandonou. Como poderia, pois ignorá-lo Àquele, que tudo sabe? E nesta conformidade respondeu o Apóstolo Pedro ao Senhor, quando este lhe perguntou se ele O amava:

"Senhor, tu bem sabes, bem conheces que te amo" (Jo 21)

E o Apóstolo Paulo falando de Cristo, diz (Col 2): "Em que se acham todos os tesouros da sabedoria e da ciência", por isso não fez aquela pergunta, para saber; mas a fim de nos exortar a perguntarmos, para das respostas ficarmos sabendo muitas coisas que nos são úteis, e mesmo necessárias. Mas porque abandonou Deus seu Filho na Sua tribulação e no sofrimento das dores atrocíssimas? Ocorrem-me cinco motivos que vou expor, para dar, aos sábios ocasião de fazerem melhores e mais úteis indagações.

Do segundo fruto da quarta palavra

Capítulo 15: Do segundo fruto da quarta palavra Outro fruto, e muito precioso, se pode colher da consideração do silêncio de Cristo nas três horas que decorreram da sexta até a nona. Que fez então o teu Senhor, dize-me, minha alma, naquelas três horas? Estava o universo envolvido em horror e trevas e o teu Deus não descansava deitado em brando leito, mas estava pendente da Cruz, nu, cheio de dores e sem consolação nenhuma. Tu, Senhor, que és o único que sabes os horríveis tormentos que padeceste, ensina os teus servozinhos a avaliarem quanto Te devem e a que, ao menos com piedosas lagrimas de Ti se compadeçam, e saibam algumas vezes privar-se neste desterro por amor de Ti de tudo quanto for regalo, se assim for da Tua vontade. Eu, filho, em toda a minha vida mortal, que toda foi trabalho e mortificação, nunca sofri tormentos maiores do que naquelas três horas; nem também sofri nunca de melhor vontade do que naquele espaço de tempo. Então, pelo cansaço do corpo cada vez mais se me rasgavam as chagas e se aumentava a violência das dores. Então por falta do calor do Sol, o frio subindo de intensidade, agravava o meu sofrimento por estar de toda parte desagasalhado. Então as trevas, que me tiravam a vista do Céu e da Terra, e de todos os objetos da criação, obrigavam-me de certo modo a não pensar senão nos meus tormentos. Assim aquelas três horas consideradas por este lado, pareciam-me três anos; porém o desejo em que meu peito ardia da honra de meu Pai, de cumprir a Sua vontade e da salvação das vossas almas, era tal, que quanto mais as dores se exasperavam, mais aquele desejo crescia, fazendo com que aquelas três horas me parecesse três minutos pelo grande gosto com que eu sofria.

Do primeiro fruto da quarta palavra

Capítulo 14: Do primeiro fruto da quarta palavra Explicamos brevemente o que, quanto à Historia, diz respeito à quarta palavra. Agora a primeira consideração, que se nos oferece, para da árvore da cruz colhermos alguns frutos, é a de ter Cristo querido esgotar o cálice da Paixão completamente todo até a última gota. Tinha de estar na Cruz três horas, da 6ª até à 9ª, nela esteve três horas inteiras completas e mais que completas; pois foi crucificado antes da 6ª e expirou depois da 9ª, como se prova com o seguinte argumento: O eclipse começou à hora 6ª, como dizem três Evangelistas, São Mateus, São Marcos, e São Lucas; e expressamente São Marcos:

"E chegada a hora de Sexta, se cobriu toda a Terra de trevas até a hora de Nona" (Mc 15)

E três das sete palavras do Senhor, proferidas na cruz, foram-no antes de começarem as trevas, e antes da hora sexta; e as quatro últimas, depois das trevas e por isso mesmo depois da hora 9ª. São Marcos, porém, ainda com mais clareza explica tudo, dizendo:

"Era a hora de Terça, quando o crucificaram"

E depois acrescenta:

"E chegada a hora de Sexta converteu-se o dia em trevas"

“Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste”

Capítulo 13: "Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste"

Explica-se literalmente a quarta palavra

Expusemos no livro antecedente as três primeiras palavras, que Nosso Senhor pronunciou da cadeira da Cruz perto da hora sexta pouco depois de crucificado. Neste exporemos as quatro, que depois das trevas e silêncio de três horas o mesmo Senhor, e da mesma cadeira, próximo a morrer, pronunciou bradando. Parece-me, porém necessário dizer antes, que trevas foram aquelas de que foram produzidas, e para que fim; trevas que separam as primeiras três palavras das quatro últimas; pois diz São Mateus (27, 46):

"Desde à sexta hora toda a terra se cobriu de trevas até à hora nona, e perto desta, Jesus clamou: Eli Eli lammá sabactáni: isto é — meu Deus, meu Deus, porque me desamparaste"

Que aquelas trevas foram causadas pela falta da luz solar, declara-o expressamente São Lucas (23, 45): E o Sol escureceu-se, diz ele. Tem, porém de desatar-se nesta passagem três nós de dificuldades, pois os eclipses do Sol acontecem na Lua nova, quando ela se mete de permeio entre ele e a Terra, mas isto não pode acontecer na ocasião da morte de Cristo, por não haver então conjunção da Lua com o Sol, como sucede na Lua nova, a Lua estava então oposta ao Sol, como sucede na Lua cheia, pois era então a Páscoa dos Judeus, que segundo a Lei começava no dia 14 do primeiro mês. Além disto, ainda quando houvesse conjunção da Lua com o Sol durante a Paixão de Cristo, não podiam as trevas durar três horas, isto é, desde a sexta até a nona; pois não pode um eclipse do Sol durar tanto tempo, principalmente sendo total, que obscureça toda a sua luz, é esta obscuridade se possa chamar trevas; pois a Lua tem mais celeridade de movimento que o Sol, e por isso não lhe pode interceptar toda a luz senão por curtíssimo espaço, porque começando a retirar-se logo, deixa ao Sol alumiar a Terra com o seu costumado fulgor.

Do quarto fruto da terceira palavra

Capítulo 12: Do quarto fruto da terceira palavra O encargo e jugo, imposto por Deus a São João de tomar a seu cuidado a Virgem Mãe, foi certamente encargo suave e jugo leve. Quem, pois não conviveria da mais boa vontade com aquela Mãe, que em seu ventre trouxe nove meses o Verbo Encarnado, e, que com Ele conviveu trinta anos inteiros com a maior dedicação e afeto? Quem não terá inveja ao Predileto do Senhor, que na falta do Filho de Deus mereceu a companhia da Mãe de Deus? Mas, se não me engano, também podemos nós com os nossos rogos alcançar da benignidade do Verbo, por amor de nós encarnado, e do extremoso amor de quem pelo mesmo motivo Se sujeitou ao tormento da cruz, que Ele também nos diga: Eis aí vossa Mãe; e à sua Mãe diga: Eis aí os teus filhos.

Do terceiro fruto da terceira palavra

Capítulo 11: Do terceiro fruto da terceira palavra Em terceiro lugar aprendemos da cadeira da Cruz, e das palavras por Cristo dirigidas a sua Mãe e ao discípulo, quais são as obrigações dos bons pais para com seus filhos, e os deveres dos bons filhos para com seus pais. Comecemos por aquelas. Devem os bons pais amar seus filhos; de modo, porém, que este amor não se oponha ao amor de Deus: e é por isto, que o Senhor diz no Evangelho:

"Quem ama seu filho ou filha mais do que a mim, não é digno de mim" (Mt 10)

Isto cumpriu com todo o rigor possível a Bem-aventurada Virgem; pois estava junto da Cruz, sofrendo a maior dor com a maior constância. Aquela dor era a prova do sumo amor a seu Filho, pendente da Cruz; aquela constância asseverava a sua muito submissa obediência a Deus: doía-se de que seu Filho inocente, que afetuosissimamente amava, fosse atormentado de cruelíssimas dores; mas nem por isso a elas obstaria por palavras ou por obras, ainda que pudesse, porque sabia que Ele padecia aqueles martírios por determinação e presciência de Deus Pai (At 2).

Do segundo fruto da terceira palavra

Capítulo X. Do segundo fruto da terceira palavra O segundo fruto desta terceira palavra colhe-se do mistério das três mulheres, que estavam junto da Cruz do Senhor; pois Maria Madalena representa os penitentes e os que começam a sê-lo; Maria de Cléofas os proficientes; Maria, Mãe de Cristo e Virgem, os perfeitos; e com ela podemos também reunir São João, virgem, e que dentro em pouco tempo havia de ser perfeito, se ainda não o era. São aqueles os únicos que se acham junto da Cruz do Senhor; porque os que vivem em pecado e não tratam de fazer penitência, afastam-se da Cruz que é a escada do Céu. Além disto todos os que estão junto da Cruz, tem motivo para lá estarem; pois precisam do auxílio do Crucificado, os penitentes ou incipientes estão em guerra aberta com os vícios e apetites desordenados, e muito precisam do auxílio de Cristo, nosso General, para se animarem a combater, vendo-o a lutar contra o Dragão, e não querendo descer da Cruz, sem dele obter completo triunfo, assim o diz o Apóstolo na sua Epístola aos Colossenses:

"Despojou os Principados e Potestades, e os trouxe confiadamente publicamente deles em si mesmo, e pouco antes Encravando na Cruz a cédula do decreto, que havia contra nós" (Col 2)

Do primeiro fruto da terceira palavra

Capítulo IX. Do primeiro fruto da terceira palavra Desta terceira palavra muitos frutos pode colher, quem atentamente a ponderar. O primeiro será o conhecimento do infinito desejo, que Cristo teve de padecer, para nos salvar, a fim de que a redenção fosse pleníssima e copiosíssima. Enquanto os outros homens providenciam, que na sua morte, e principalmente na morte violenta, desonrosa e infamante, lhes não assistam os seus parentes, para que não tenham de sentir dobrado sofrimento e tristeza, por eles estarem presentes; Cristo, não satisfeito com o próprio sofrimento atrocíssimo, cheio de dores e de desonra, quis além disso que Sua mesma Mãe, e Seu amado discípulo assistissem, e em pé permanecessem junto da Cruz, para que a dor da compaixão de pessoas que Lhe eram caras Lhe duplicasse o Seu sofrimento.

“Eis aí a tua mãe, eis aí o teu filho”

Capítulo VIII. "Eis aí a tua mãe, eis aí o teu filho" Explica-se literalmente a terceira palavra de Cristo na Cruz

A última sentença das três, que particularmente dizem respeito à caridade do próximo, foi aquela:

"Eis aí a tua mãe, eis aí o teu filho"

Antes, porém de tratarmos dela, temos de explicar as palavras do Evangelista, que as precedem. Diz São João (Jo 19):

"Estava junto da cruz de Jesus sua Mãe, Maria mulher de Cléofas, e Maria Madalena: e vendo Jesus sua mãe, que estava em pé, e o seu discípulo predileto, diz para sua Mãe: Eis aí o teu filho, e depois diz para o discípulo: Eis aí tua Mãe; — e desde aquela hora o discípulo a tomou naquela conta"

Das três mulheres, que em grupo estavam junto da cruz do Senhor, duas são conhecidíssimas, Maria, sua Mãe, e Maria Madalena. A respeito de quem fosse Maria, mulher de Cléofas, não há certeza: geralmente, porém se diz que era irmã germana da Bem-aventurada Virgem, Mãe de Deus, filha de Ana, sua Mãe, que, dizem, também tivera uma terceira filha, chamada Maria Salomé, porém esta opinião não se pode admitir de modo nenhum, porque nem é crível, que três irmãs tivessem o mesmo nome, e tem fundamento o juízo de eruditos e pios, que dizem, que Santa Ana nenhuma filha mais tivera além da Virgem Maria, nem nos Evangelhos se faz menção de alguma Maria Salomé.

Do terceiro fruto da segunda palavra

Capítulo VII. Do terceiro fruto da segunda palavra Um terceiro fruto se poderá colher da mesma palavra do Senhor, advertindo-se, que três foram os Crucificados, no mesmo lugar e na mesma hora; um inocente, Cristo, outro penitente, o bom ladrão; o terceiro obstinado, o mau ladrão: ou, se antes quiserem assim, que foram três os crucificados ao mesmo tempo; Cristo, sempre e excelentemente santo; um ladrão, sempre e excessivamente mau; outro ladrão mau numa época da sua vida, e santo na outra. Disto podemos entender, que não há neste Mundo ninguém, que possa viver sem cruz; e que baldados são os esforços dos que confiam, que podem absolutamente escapar-se a ela; e, que sensatos são os que aceitam a sua cruz da mão do Senhor, e, que até o fim da vida a levam não só com paciência, mas até com gosto.