Parte V
Capítulo XIII
Considera o amor com o qual Jesus Cristo tanto sofreu neste mundo, principalmente no Jardim das Oliveiras e no Calvário. Esse amor tinha a nós em mira e nos impetrava do Pai eterno, por tantos sofrimentos e trabalhos, as boas resoluções e protestos que fizemos de coração e as graças necessárias para as nutrir, fortificar e realizar. Ó santas resoluções, quão preciosas sois, sendo o fruto da paixão de Nosso Senhor! Oh! Quanto minha alma Vos deve apreciar, pois que tanto custastes a Jesus! Ó Senhor de minha alma, Vós morrestes para me conceder a graça de fazê-Ias; dai-me, pois, a graça de antes morrer do que perdê-las! Pondera bem, Filotéia; é certo que o coração de nosso Jesus pregado na cruz estava considerando o teu, que Ele amava e para o qual impetrava por este Seu amor todos os bens que tens recebido e receberás no futuro. Sim, Filotéia, bem podemos dizer com Jeremias:
Senhor, antes de eu ter nascido olhavas para mim e me chamavas pelo nome
Não duvidemos; o bom Jesus, que nos regenerou na cruz, nos leva em Seu Coração, como uma mãe ao filho cm seu seio; a Bondade divina preparou-nos aí todos os meios gerais e particulares de nossa salvação, todos os atrativos e graças de que Ele se serve agora para conduzir nossa alma a perfeição: como uma mãe que prepara para seu filho tudo que sabe lhe poderá ser necessário depois do nascimento.
Ah! Meu Deus, devíamos gravar isso profundamente em nossa memória! É possível que eu tenha sido amado e amado tão ternamente de meu Salvador, que Ele tenha pensado em mim individualmente e em todas as pequenas ocasiões pelas quais Ele me quis atrair a Si? Na verdade, quanto devemos amar, apreciar e empregar utilmente tudo isso! Dulcíssimo pensamento: o Coração terníssimo de Jesus pensava em Filotéia, amava-a e lhe procurava mil meios de salvação, como se não houvesse no mundo outras almas em que Ele tivesse que pensar; o sol, iluminando um único lugar na terra, não seria mais claro que agora, quando a ilumina toda inteira. Ele me amou, diz São Paulo, e se entregou por mim; como se Ele nada tivesse feito para os outros homens. Eis aí, Filotéia, o que deves gravar em tua alma, para apreciar devidamente e nutrir a tua resolução, que foi tão estimada e preciosa ao Coração do Salvador.
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(SALES, São Francisco de. Filoteia ou a Introdução à Vida Devota. Editora Vozes, 8ª ed., 1958, p. 357-358)