Meditação para a Quarta Segunda-feira depois de Pentecostes
SUMARIO
Meditaremos sobre as o ocupações da alma durante a Missa, e veremos, quão conveniente é, que se ocupe em pensar:
1.º Na Paixão e morte de Jesus Cristo;
2.° Nos fins do sacrifício;
3.° No amor, que nos mostram neste mistério Deus Pai e Jesus Cristo seu Filho.
— Tomaremos depois a resolução:
1.° De não assistirmos mais à Missa por hábito, sem um fim determinado, que fixe a mobilidade do nosso espírito;
2.° De nela nos ocuparmos nestas três considerações, que acabamos de indicar.
O nosso ramalhete espiritual será a palavra do Concílio de Trento:
“Ali se imola de um modo incruento o mesmo Jesus Cristo que no altar da cruz, Se imolou de um modo cruento” – Idem ille Christus incruente immolatur qui in ara crucis seipsum cruente obtulit
Meditação para o Dia
Honremos a Santíssima Virgem no Calvário como o modelo mais perfeito do espírito, que deve animar-nos durante o Santo Sacrifício. Ocupada toda em pensar no que se passa à sua vista, na glória de Deus e na salvação do mundo, pelas quais oferece a adorável vítima, no amor do Pai que entrega à morte Seu Filho inocente e no amor do Filho que Se entrega a Si mesmo, ela oferece-se e imola-se mentalmente para ser com o seu amado Filho uma só e mesma vítima. Admiremos tão sublimes ocupações, e adoremos o Espírito Santo, que as produziu.
PRIMEIRO PONTO
Quão conveniente é que nos ocupemos, durante a Missa, em pensar na Paixão e Morte de Jesus Cristo
Com efeito, que mais conveniente que pensar no que se tem diante dos olhos? Ora no altar tudo nos fala da Paixão e da morte do Salvador: a cruz domina o tabernáculo, e vê-se sobre todas as vestiduras sagradas; a estola representa a corda com que ataram Jesus à cruz; o cingulo, os açoites que Lhe deram; o manipulo, o cordel com que Lhe ataram as mãos; a ida e volta do Sacerdote de um lado para o outro do altar recordam os diversos tribunais, onde O obrigaram a comparecer. A própria Missa é uma viva e real representação do sacrifício do Calvário: é a mesma vítima, o mesmo sacerdote. Verdade é, que aqui Jesus Cristo serve-Se de um homem para tornar visível o Seu sacerdócio invisível; mas na realidade é sempre Jesus Cristo que consagra, Jesus Cristo que Se imola, Jesus Cristo que ora. Não é dizermos que, durante a Missa, devemos meditar na Sua Paixão e morte, com os mesmos pios sentimentos, que nos teriam penetrado, se tivéssemos assistido, entre Maria e João, à sua agonia no Calvário; que, por conseguinte, devemos sacrificar-nos em corpo o alma, ao grande Deus vivo, para sermos com Jesus Cristo uma só vítima?
SEGUNDO PONTO
Quão conveniente é que nos ocupemos, durante a Missa, em pensar nos Fins do Sacrifício
Estes fins, como já o meditamos em outra parte, são:
1.° Tributar a Deus o culto de latria pela suma estima das Suas grandezas, pelo respeito de Sua augusta majestade e submissão ao Seu supremo domínio;
2.° Agradecer-Lhe os Seus inumeráveis benefícios;
3.° Reparar a ofensa do pecado, e ter um vivo desejo de destruir o seu reino sobre a terra;
4.° Pedir a Deus todos os socorros, todas as graças, de que o mundo inteiro necessita e de que nós mesmos necessitamos.
Ora que mais conveniente do que ocupar-nos então em tão santas coisas? Não o fazer, seria:
1.° Faltar ao fim do sacrifício;
2.° Privar a nossa alma dos mais excedentes recursos da piedade, pois que não podemos pensar em coisa melhor, mais gloriosa para Deus, mais útil para nós;
3.° Tornar ininteligíveis para nós as orações litúrgicas, porque estes fins são como a chave, que abre o sentido delas.
TERCEIRO PONTO
Quão conveniente é que nos ocupemos, durante a Missa, em pensar no Amor que nos mostram neste Mistério Deus Pai e Jesus Cristo Seu Filho
Deus Pai, no momento do sacrifício, abre-nos o Seu seio para nos dar o Seu Filho, nosso medianeiro, nosso alimento, nossa consolação, nosso tudo; e Deus Filho, aceitando esta missão, dá-se a nós sem reserva, oferece-Se e imola-Se por nós, permanece conosco para nos acompanhar e consolar no nosso desterro, para suprir a nossa devoção e todos os nossos deveres para com Seu Pai, para ser o modelo de toda a virtude e santidade, a vida da nossa alma, a força da nossa fraqueza; enfim gasta-se todo em nosso uso (1). Ora, à vista de tanto amor, que Deus ali nos liberaliza, que mais conveniente do que ocupar-nos em pensar nesse amor, do que procurar retribuir a esse Pai tao bom, a esse Filho tão generoso, amor com amor, e imitar os espíritos bem-aventurados, abismados em um êxtase eterno de amor diante do amor eterno de Deus? (2).
Ocupamo-nos durante a missa em alguns d’estes pensamentos, segundo as inspirações da graça?
Resoluções e ramalhete espiritual como acima
Referências:
(1) Totus in usus nostros expensus
(2) Tanquam si in ipsis caelis collocati, inter caelestes virtutes medii staremus (São João Crisóstomos, de Sacerd., lib, m., cap. II)
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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo III, p. 213-216)