Meditação para a Quarta-feira da 2ª Semana depois da Páscoa
SUMARIO
Depois de termos visto nas nossas precedentes orações tudo o que faz por nós Jesus, como Bom Pastor, meditaremos agora sobre o que nós devemos fazer por Ele, como ovelhas do Seu aprisco. Devemos antes que tudo conhecê-lO: As minhas ovelhas me conhecem, diz Ele. Este conhecimento é-nos:
1.° Absolutamente necessário;
2.° Infinitamente útil. Dois pontos que farão o objeto da nossa meditação;
— Tomaremos depois a resolução:
1.° De estudarmos a vida de Jesus Cristo, lendo muitas vezes os Evangelhos, principalmente o de São João, historiador dos seus mais íntimos pensamentos, e as Epístolas de São Paulo, que nos descobrem os seus mais admiráveis segredos;
2.° De nos lembrarmos frequentes vezes nas nossas meditações da vida deste divino Salvador, e de Lhe rogarmos que se digne dar-se-nos a conhecer.
O nosso ramalhete espiritual será a palavra que o Bom Pastor disse das Suas ovelhas:
“As minhas ovelhas me conhecem” – Congnoscunt me meae (Jo 10, 14)
Meditação para o Dia
Adoremos Jesus Cristo como supremo Pastor, que nos importa extremamente conhecer bem; prostremo-nos a Seus pés, rogando-Lhe, como Santo Agostinho, que se digne dar-se-nos a conhecer, para que O amemos e sirvamos como devemos (1).
PRIMEIRO PONTO
Necessidade de conhecer bem Jesus Cristo
Conhecer Jesus Cristo, não é somente conhecer o Seu nome, a Sua origem e a Sua história, como se conhece o nome, a origem e a história dos homens ilustres da antiguidade; mas é conhecer o Seu espírito, o Seu coração, a Sua doutrina, as Suas virtudes, os Seus mistérios, a Sua vida tanto interior como exterior: conhecimento que, no sentir de São Paulo, é a primeira de todas as ciências, a única sumamente importante e necessária. Tudo parecia desprezível como o lodo aos olhos deste grande Apóstolo, em comparação da ciência eminente de Jesus Cristo (2), e caía de joelhos diante de Deus Pai, para Lhe pedir que desse esse conhecimento inapreciável a todos os seus queridos filhos de Éfeso. Com efeito, todas as demais ciências para nada podem importar à santidade da vida presente, nem à felicidade da vida futura; enquanto que conhecer Jesus Cristo é a chave do céu (3); é o caminho, da vida eterna (4); é a alma de todas as virtudes. Nunca se saberá o que é ser manso e humilde de coração, se não se estuda a fundo a mansidão e a humildade de Jesus; nunca se terá perfeita abnegação e verdadeiro desapego, se não se é formado segundo o modelo bem conhecido e meditado de Jesus pobre e privado de tudo; nunca se vencerão todas as resistências que o coração opõe ao desprezo e ao padecimento, se Jesus, conhecido e meditado, se não apresenta diante de nós para fazer calar todos os nossos murmúrios; nunca, principalmente, se amará a Jesus Cristo como se deve, se não se conhecer a fundo; porque só se ama o que se conhece que é amável, é à proporção que se conhece mais ou menos amável. Jesus Cristo, superficialmente conhecido, não será para nós senão como um desses personagens da antiguidade ou da fábula, cuja existência real ou imaginaria pode recrear a nossa curiosidade, mas não excitar o nosso amor.
Ajuizemos daqui quão necessário nos é estudar, para bem a conhecer, a vida interior e exterior de Jesus Cristo!
SEGUNDO PONTO
Utilidade do conhecimento de Jesus Cristo
Com o conhecimento de Jesus Cristo todas as virtudes entram na alma como de companhia. É impossível contemplar, quando se medita, essa caridade tão terna e compassiva, essa mansidão cheia de encantos, essa paciência que transluz no rosto, essa tão profunda humildade, unida a essa elevação de sentimentos, finalmente todo esse conjunto da pessoa do Salvador, sem se ficar cativado da beleza da virtude, sem a amar, sem a desejar, sem a querer, e sem tender para ela com todas as forças. É impossível principalmente considerar, quando se medita, todas as perfeições do Homem-Deus, o mistério da Sua glória, a infinita necessidade que tínhamos da Sua mediação, as imensas riquezas, da redenção, a sabedoria das Suas máximas, a santidade dos Seus exemplos e dos Seus atos, cada um dos quais é uma lição, os excessos de amor que revelam a sua Encarnação, a sua Paixão, a sua Morte, os seus Sacramentos, mormente o da Eucaristia, sem que o coração se abrase em amor. E se na prática da virtude aparecem algumas dificuldades, elas cabem diante desta simples reflexão:
“Tendo um Deus padecido tantas afrontas e dores, serei eu desculpável, se recusar padecer incomparavelmente menos? Se um Deus praticou esta virtude a tal ponto, seria admissível que eu não quisesse fazer outro tanto?”
Ditoso pois aquele que Vos conhecer, ó Jesus! Ainda que ignorasse tudo o mais; e desgraçado aquele que sabe tudo, se Vos não conhece! Ó Jesus, conheça-Vos eu cada vez mais, para Vos servir sempre melhor, para Vos amar sempre mais! (5)
Resoluções e ramalhete espiritual como acima
Referências:
(1) Domine, noverim te, ut amem te
(2) Existimo omnia detrimentum esse propter eminentem scientiam Jesu Christi Domini mei (Fl 3, 8)
(3) Haec est vita aeterna, ut cognoscant… quem misisti Jeusm Christum (Jo 16, 6)
(4) Ego sum via (Jo 16, 6)
(5) Noverim te, amem te
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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo II, p. 293-295)