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Obrigação de Lhe falar e de O Ouvir

Meditação para a Sexta-feira da 2ª Semana depois da Páscoa. Obrigação de Lhe falar e de O Ouvir

Meditação para a Sexta-feira da 2ª Semana depois da Páscoa

SUMARIO

Meditaremos sobre o nosso terceiro dever para com Jesus Cristo, considerado como Bom Pastor, dever que consiste em ouvir a Sua voz (1); e veremos:

1.° Que este Bom Pastor nos fala;

2.° Que devemos ouvi-lO;

3.° Que devemos obedecer-Lhe e fazer o que Ele nos diz.

— Tomaremos depois a resolução:

1.º De nos conservarmos num habitual recolhimento de espírito, para ouvir a palavra interior de Jesus Cristo, evitando tudo o que distrai a alma;

2.° De nunca resistirmos às boas inspirações, e de obedecermos de pronto, generosamente e com amor, a quanto a Sua graça nos pedir.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra de Davi:

“Eu ouvirei o que o Senhor Deus me falar” – Oves vocem ejus audiunt (Jo 10, 3)

Meditação para o Dia

Recolhamo-nos dentro em nós aos pés de Jesus Cristo, o Bom Pastor, e adoremo-lO, louvemo-lO, e demos-Lhe graças (2).

PRIMEIRO PONTO

Jesus, o Bom Pastor, fala-nos

Este divino Pastor ama-nos muito para não nos elucidar com os Seus conselhos a respeito do que temos a fazer, nos consolar nas nossas dores, nos animar nos nossos desalentos, por cobro aos nossos extravios. É o que Ele faz, ora pelos ensinos orais ou pelas leituras pias, ora pelos bons exemplos que nos apresenta aos olhos; outras vezes pelos bons pensamentos que nos sugere, pelos toques secretos da Sua graça, pelas animações que nos põe no coração, e por todos os bons movimentos que suscita em nós. Nós tomamos algumas vezes estas santas palavras interiores como nossas próprias, agradecemo-las a nós mesmos, e o nosso orgulho delas se felicita. Perdão, Bom Pastor; apropriamo-nos o que Vos pertence, furtamo-Vos o que é Vosso; reconheço-O agora; tudo o que está sobrenaturalmente em nós provém de Vós só; de nós mesmos somente sabemos produzir o mal. A vós a honra de tudo o que é bom, a nós a vergonha e a confusão em tudo e sempre (3).

SEGUNDO PONTO

Devemos ouvir a voz de Jesus, o Bom Pastor

Que é ouvir a voz de Jesus dentro em nós? É conservar as faculdades dá alma num grande silêncio interior, atentas às menores inspirações, recolhidas consigo, prostradas de alguma sorte aos pés de Jesus como Maria, irmã de Marta, para O ouvir com religioso silêncio. Se o interior não está tranquilo e em paz, se o tumulto dos objetos exteriores nele penetra, o preocupa, agita e perturba, já não se ouvirá a voz de Jesus. Porquanto, para que havia de falar a quem o não ouve? Daí a distração que priva a alma de todas as graças; daí a condenação do mundo, que pensa em tudo exceto na sua salvação e no seu Deus; daí a necessidade do recolhimento de espírito, da vigilância sobre si mesmo, que abre o ouvido do coração à voz interior. Quando Jesus acha uma alma assim retirada em si, e atenta a ouvi-lO, fala-lhe, ilumina-a, converte-a, e santifica-a.

“Ouvirei, diz o profeta-rei, o que é que o Senhor fala dentro de mim” – Audiam quid loquatur in me Dominus Deus (Sl 34, 9)

“Falai, Senhor, diz o jovem Samuel, porque o vosso servo ouve” – Loquere, Domine, quia audit servus tuus (1Sm 2, 10)

“Bem-aventurada a alma que ouve assim dentro de si” – Beata anima quae Dominum in se loquentem audit (III Imitação 1, 1)

“Ditosos os ouvidos que não ouvem a voz que soa fora, mas ouvem dentro de si a voz da verdade” – Beatae plane aures quae non vocem foris sonantem, sed in intus auscultante veritatem docentem (III Imitação 1, 1)

É deste modo que ouvimos a voz do bom Pastor? Estamos atentos para não perder uma só das Suas palavras?

TERCEIRO PONTO

Devemos obedecer à voz do Bom Pastor

Quando o Bom Pastor somente acha na alma uma vontade frouxa, fraca, que não conhece senão ao que lhe apraz, que recua diante do sacrifício e deixa de lado o que a incomoda, cala-se, abandona-a à sua miséria, e ela perde-se. Este divino Pastor precisa de almas fortes e generosas, dispostas a fazer o que lhes pedir, por mais que lhes custe, almas a quem diga: Fazei, e elas fazem; ide, e elas vão; falai, e elas falam; calai-vos, e elas calam-se. Quando as acha assim; apodera-se delas, dirige-as, anima-as, e fá-las seguir apressuradas o caminho do céu. É desta sorte que se formam os Santos.

É desta sorte que obedecemos à graça? Que motivos de remorso quanto ao passado, e de resolução quanto ao futuro!

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) Audiam quid loquatur in me Dominus Deus (Sl 84, 9)

(2) Adoramus te, benedicimus te, gratias agimus tibi

(3) Domino Deo nostro justitia, nobis autem confusio faciei nostrae (Br 1, 15)

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo II, p. 299-301)