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O que se deve evitar para Conservar a Castidade

Meditação para a Vigésima Terceira Sexta-feira depois de Pentecostes. O que se deve evitar para Conservar a Castidade

Meditação para a Vigésima Terceira Sexta-feira depois de Pentecostes

SUMARIO

Depois de nos termos excitado com duas meditações a amar a castidade, meditaremos sobre o que devemos evitar para adquirir ou conservar esta virtude. Devemos evitar:

1.° A vida ociosa e sensual;

2.° As companhias e relações perigosas.

— Tomaremos depois a resolução:

1.° De estarmos sempre ocupados em coisas úteis, sem perder o tempo a pensar e sonhar em coisas vãs, e de adotarmos um regímen de vida contrário à vida sensual;

2.° De nos abstermos das relações sociais, que expõem a perigo e enervam o coração.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra de São Paulo:

“Temos o tesouro da castidade em um vaso de barro” – Habemus thesaurum istum in vasis factilibus (2Cor 4, 7)

Meditação para o Dia

Adoremos Jesus Cristo debaixo deste belo título, que lhe dá a Igreja nas suas ladainhas:

“Jesus, amigo da castidade” – Jesu, amator castitatis

É Ele que veio trazer à terra esta virtude, até então pouco apreciada; é Ele que nos deu a conhecer a sua excelência, e que, pela sua graça, inspira aos seus escolhidos a coragem de a abraçar. Unamo-nos a todas as almas castas que há no céu e na terra, para Lhe tributar todo o nosso respeito e veneração.

PRIMEIRO PONTO

Para ser Castos devemos evitar a vida Ociosa e Sensual

A nossa natureza é tão propensa ao mal em consequência da nossa corrupção original, que não podemos evitá-lo senão à força de não pensar nele; e o único meio de não pensar nele, é entregar-nos a ocupações que dele nos distraiam (1). Daí, estas palavras de Santo Agostinho:

“Ache-vos o demônio sempre ocupados e nada poderá contra vós” – Diabolus te semper inveniat occupatum, et nihil poterit

A vida sensual não é menos oposta à castidade do que a vida ociosa. Nada corrompe tanto o coração como a delicadeza efeminada, que busca sempre lisonjear os sentidos. A carne é uma escrava, que somente se subjuga privando-a de toda a delicadeza, tratando-a com rigor (2), e quanto mais severos, mortificados e penitentes somos para conosco, tanto mais fácil nos é conservar-nos castos.

“O demônio, diz Santo Antão, nada teme tanto como as vigílias, os jejuns e a pobreza voluntária” – Pertimescit Satanas piorum vigilias, jejunia voluntariam paupertatem (In Vit. S. An.)

Ai, pois, daqueles que fazem do seu corpo um ídolo, para o qual alcançam gozos, lisonjeando o sentido do tato com a brandura da sua cama e a finura de seus vestidos; o sentido do olfato, com os perfumes e as águas de cheiro, que os santos chamam incentivos da luxúria (3); o sentido do ouvido, com cantigas profanas e lascivas; o sentido da vista, com a leitura dos romances, peças de teatro e outros escritos pouco honestos; com o sentido da vista, olhando para as estátuas e gravuras pouco decentes, para as feições, talhe e adorno das pessoas do belo sexo, em oposição com o exemplo de Jó, que dizia:

“Fiz concerto com os meus olhos de não cogitar nem ainda em uma virgem” – Pepigi faedus cum oculis meis, ut ne cogitarem quidem de virgine (Jó 31, 1)

O sentido do gosto, buscando as comidas saborosas, que Santo Ambrósio denomina o alimento da luxuria (4); que São Jerônimo chama o triunfo da lascívia (5); que Santo Efrém declara inimigo da castidade (6); e que Santo Isidoro de Sevilha denomina o fomento dos vícios (7).

SEGUNDO PONTO

Para ser Castos, devemos Abster-nos das Companhias e Relações Perigosas

A solidão é o asilo da castidade, e Jesus Cristo para lá atrai de ordinário as almas castas. Ao contrário, o mundo é um foco de corrupção; os seus espetáculos, as suas assembleias e os seus longos serões insinuam por todos os sentidos o veneno da impureza. Tudo o que ali se vê, tudo o que ali se ouve, tudo o que ali se faz, enerva o coração, corrompe-o: e até mesmo as pessoas mais santas sofrem a sua influência pestilente (8). Se queremos, pois, conservar-nos castos, fujamos dessas assembleias e companhias quanto possível.

Façamos ainda mais: evitemos conversar só por só com pessoas de outro sexo (9); o demônio intromete-se então na conversação, e induz a sair das raias da modéstia pela razão que ninguém nos vê.

Abstenhamo-nos de rir, de gracejar, de afetar amabilidades com as mulheres (10); e adornem as nossas relações uma santa gravidade, uma doce modéstia nas palavras e maneiras, um recato nas vistas e nos gestos isento de toda a familiaridade. Desprezar estas regras, que os santos nos dão, e que eles mesmos foram os primeiros a observar, não se julgando capazes de conservar a sua virtude sem estas precauções, seria uma temeridade que nos perderia, como tem perdido tantos outros.

Entremos dentro em nós: reconhecemos a necessidade destas regras e estamos dispostos a conformar-nos com elas?

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) Diabolus te semper inveniat occupatum, et nihil poterit

(2) Qui delicate nutrit servum suum, mox sentiet eum contumacem (Hier., Ep. 23)

(3) Ad libidines et voluptates impellunt ac penerosos mores effeminant (São Clemente de Alexandria)

(4) Cibi diliciarum atque luxuriae

(5) Ubi saturitas, ibi libido dominatur (Hier., Ep. 33)

(6) Difficile inter epulas servatur castitas, dapibus te epulis inimica (Santo Efrém, de Cast.)

(7) Abundantia ciborum, fomenta vitiorum

(8) Inter tantas illecebras voluptatum, etiam ferrea menis libido domat (Hier., Ep. 33)

(9) Nunquam solus cum sola

(10) Cum muliere sermo rarus, brevis et austerus

 

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo V, p. 174-177)

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