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Maria, cheia de Graças para nos salvar

Meditação para o dia 03 de Maio. Maria, cheia de Graças para nos salvar

Meditação para o dia 03 de Maio

Inegavelmente foi a alma de Maria a mais bela que Deus criou. Depois da Encarnação do Verbo foi esta a obra mais formosa e mais digna de si, feita pelo Onipotente neste mundo. Uma maravilha enfim que só é excedida pelo próprio Criador, como diz Nicolau monge. Por isso não desceu a graça em Maria, gota a gota como nos outros santos. Desceu ao contrário tal como, “a chuva sobre o velo” (Sl 71, 6). Semelhante à lã do velo sorveu a Virgem com alegria toda a grande chuva da graça, sem perder uma só gota.

Era-lhe, pois lícito exclamar:

“Na plenitude dos santos está minha morada” (Eclo 24, 16)

Isto significa, conforme a explicação de São Boaventura:

“Possui em sua plenitude o que só em parte possuem os outros santos”

E São Vicente Ferreri, referindo-se particularmente à santidade de Maria, antes de seu nascimento, diz que excedeu a de todos os anjos e santos.

A graça que adornou a Santíssima Virgem sobrepujou não só a de cada um em particular, mas a de todos os santos reunidos, como prova o doutíssimo padre Francisco Pepe, jesuíta, em sua bela obra das Grandezas de Jesus e de Maria. Nela afirma que essa tão gloriosa opinião para nossa Rainha é hoje em dia comum e certa entre os teólogos modernos, como Cartagena, Suarez, Spinelli, Recupito, Guerra e outros. Todos examinaram a questão ex professo, coisa que não haviam feito os doutores antigos. Conta Pepe que a Mãe de Deus agradeceu a Suarez, por meio do padre Guttierez, o haver defendido com tanto valor essa probabilíssima sentença. Em seu Devoto de Maria atesta Segneri que essa proposição é sustentada pela comum opinião da escola de Salamanca. Ora, se esta é comum e certa, muito provável é também esta outra sentença: Maria, desde o primeiro instante de sua Conceição Imaculada, recebeu uma graça superior à de todos os anjos e santos juntos. Suarez defende-a com energia, sendo nisso acompanhado por Spinelli, Recupito e Colombière.

Maria foi fiel à divina graça

Dizem muitos e graves teólogos que uma alma virtuosa produz um ato de virtude, em intensidade igual ao hábito que possui, cada vez que corresponde às graças atuais que de Deus recebe. Adquire assim, vez por vez, um novo e duplo merecimento que é igual à totalidade de todos os méritos adquiridos até então. Esse aumento, dizem eles, foi concedido aos anjos durante o tempo de sua provação. Ora, se os anjos possuíam semelhante graça, quem ousará sonegá-la à Divina Mãe, enquanto viveu na terra, principalmente no mencionado tempo de sua existência no seio materno, no qual foi certamente mais fiel que os anjos, em corresponder à graça? Durante ele duplicou a cada momento aquela graça sublime que possuía desde o começo. Pois, correspondendo-lhe com todas as forças e perfeitamente, duplicava, por conseguinte seus méritos a cada ato que fazia, em todo instante. Só por aí podemos avaliar que tesouros de graça, de merecimentos e de santidade trouxe Maria ao mundo, quando nasceu.

Alegremo-nos, portanto, com a nossa Mãe querida, que nasce tão santa, tão cara a Deus, e cheia de graça. E alegremo-nos não só por ela, mas também por nós. Pois veio ao mundo enriquecida de graça, tanto para a glória como para o bem nosso. Adverte Santo Tomás, que de três modos foi cheia de graça a Santíssima Virgem. Na alma, porque desde o princípio sua bela alma foi inteiramente de Deus. No corpo, pois que de sua puríssima carne mereceu revestir o Verbo Eterno. Finalmente o foi em nosso comum benefício, para que todos os homens pudessem participar da sua graça. Alguns santos ajuntam o Doutor Angélico, possuem tanta graça que não só lhes basta a eles, como é suficiente para salvar a muitos, ainda que não a todos os homens. Só a Jesus e a Maria foi dada tão abundante graça que seria suficiente para salvar a todo o gênero humano. Por isso São João diz de Jesus Cristo:

“Nós todos temos Recebido de sua plenitude” ( Jo 1,16)

De Maria afirmam também a mesma verdade. Santo Tomás de Vilanova, por exemplo, escreve:

“Ela é cheia de graça e de sua plenitude recebem todos”

E assim — afirma Pacciuchelli — não há quem não participe da graça de Maria. Quem existiu jamais no mundo, pergunta ele, a quem Maria não tenha sido tão benigna, ou não haja dispensado alguma misericórdia? É preciso notar, porém, que recebemos a graça de Jesus Cristo, como de seu autor, e de Maria como medianeira, de Jesus como Salvador, de Maria, como advogada, de Jesus, como fonte, de Maria, como canal.

Eis o motivo por que São Bernardo diz que Deus constituiu Maria qual aqueduto das misericórdias, que quer dispensar aos homens. Encheu-a de graça, para que de sua plenitude cada um recebesse sua parte. À vista disso o Santo exorta-nos a considerarmos com que amor quer o Senhor que honremos essa grande Virgem, na qual colocou todos os tesouros de sua riqueza. Fê-lo assim, a fim de que quanto temos de esperança, de graça e de salvação, tudo agradeçamos à ossa amantíssima Rainha. Pois tudo nos provém de suas mãos e pela sua intercessão. Infeliz da alma que, descuidando-se de se recomendar a Maria, se fecha assim este canal de graças! Holofernes, quando quis apoderar-se da cidade de Betúlia, procurou cortar-lhe os aquedutos. E isto faz também o demônio quando quer tomar posse de uma alma: fá-la abandonar a devoção a Maria Santíssima. Fechado este canal, perderá facilmente a luz, o temor de Deus, e enfim a salvação eterna.

Leia-se o seguinte exemplo, no qual se verá quanto seja grande a piedade do Coração de Maria, é a ruína que chama sobre si quem, abandonando a devoção a esta Rainha do céu, se fecha este canal.

EXEMPLO

Viviam em Madri dois rapazes que levavam uma vida bem desregrada. Um deles sonhou certa noite que via seu amigo agarrado por uns homens negros e atirado num mar tempestuoso. O mesmo lhe queriam fazer a ele. Mas o moço no seu desespero recorreu a Maria, prometeu entrar para um convento, e os malvados o largaram então. Viu o infeliz como o Salvador, cheio de cólera, estava assentado sobre um trono e como a Santíssima Virgem lhe implorava a misericórdia. Encontrando-se com o amigo, contou-lhe depois o sonho que tivera. Mas o amigo se riu do sonho e dele fez pouco caso. Entretanto, pouco tempo depois, tombava apunhalado por uns assassinos. Vendo o outro como se ia realizando o sonho, foi confessar-se, renovou o propósito de ingressar numa Ordem e vendeu por isso seus haveres. Em vez de dar aos pobres o lucro apurado, como tal prometera, esbanjou-o com más companhias e nos vícios. Em consequência do que adoeceu seriamente e de novo teve outro sonho no qual viu o inferno aberto, que o esperava, e o Juiz condenando-o ao suplício. Novamente recorreu a Nossa Senhora e ela outra vez o atendeu. Sarou de fato, mas recaiu em vícios ainda mais vergonhosos. Partiu para Lima, no Perú, e aí adoeceu, vindo parar num hospital. Deus tomou a compadecer-se do infeliz, que se confessou com um padre jesuíta, chamado Francisco Perlino. Fez solene promessa de mudar de vida, mas não guardou a palavra. Indo certa vez o referido sacerdote visitar uma Santa Casa, muito distante de Lima, nela encontrou o nosso infeliz rapaz, deitado no chão. E dele ouviu estas horríveis palavras: Desgraçado de mim! Para meu maior sofrimento vem agora justamente esse padre, que vai ser testemunha do meu castigo. De Lima vim para cá, levando sempre uma vida infame, a qual me atirou na mais horrenda miséria e me leva já para o inferno!

Com estas palavras expirou, sem que tivesse o padre tempo de o assistir.

ORAÇÃO

Ó santa celeste Senhora, vós que sois a Mãe destinada ao meu Redentor, e a grande medianeira dos míseros pecadores tende piedade de mim. Eis aqui aos vossos pés outro ingrato, que a vós recorre e implora compaixão. É certo que eu, por minhas ingratidões para com Deus e para convosco, mereceria ser abandonado por Deus e por vós. Mas eu ouço dizer, e assim creio, que vós não recusais ajudar quem com confiança a vós se recomenda. Assim o creio por saber quanto é grande a vossa misericórdia, ó criatura, a mais sublime do mundo, já que acima de vós não há senão Deus, e diante de vós são mui pequenos os grandes céus; ó santa dos santos, ó Maria, abismo de graça e cheia de graça, socorrei um miserável, que a perdeu por sua culpa. Sei que sois tão cara a Deus, que ele nada vos nega. Sei também que gostais de empregar vossa grandeza em aliviar os miseráveis pecadores. Eia, pois, mostrai quanto é grande o crédito que tendes junto a Deus, e impetrai-me uma luz, uma chama divina tão poderosa, que de pecador me mude cm santo. Desprendei-me de todo afeto terreno para que eu me abrase todo no divino amor. Fazei-o, Senhora, que bem podeis fazê-lo. Fazei-o pelo amor daquele Deus que vos fez tao grande, tão cheia de poder e de piedade. Assim espero. Amém.

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(BRANDÃO, Monsenhor Ascânio. Um Mês com Nossa Senhora ou Mês de Maria, segundo Santo Afonso Maria de Ligório. Edições Paulinas 1ª ed., 1949, p. 34-39)