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Tender ao que é mais Perfeito

Meditação para a Sexta Segunda-feira depois de Pentecostes. Tender ao que é mais Perfeito

Meditação para a Sexta Segunda-feira depois de Pentecostes

SUMARIO

Meditaremos um terceiro princípio da vida cristã, que é tender em todas as coisas à maior perfeição, e veremos:

1.° Quanto este princípio é fundado na razão;

2.° Quanto seria imprudente adotar na prática um princípio contrário.

— Tomaremos a resolução:

1.° De escolher sempre entre dois modos de fazer uma ação, o que nos parecer mais agradável a Deus;

2.º De nos conservarmos habitualmente dispostos a adotar em tudo o que for mais perfeito.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra de São Paulo:

“Procuro em cada ação o modo mais perfeito de o fazer” – Ad ea quae sunt priora extendens meipsum (Fl 3, 31)

Meditação para o Dia

Adoremos Nosso Senhor aconselhando-nos pelo Seu Apóstolo a aspirar sempre a uma virtude mais alta (1). Demos-Lhe graças por tão útil conselho; e supliquemos-Lhe, que no-lo faça bem compreender e por em prática.

PRIMEIRO PONTO

Razões de aspirar em tudo ao que é mais perfeito

1.º O mesmo Deus no-lo disse pelo Seu mandamento:

“Amareis ao Senhor vosso Deus de todo o vosso coração, de toda a vossa alma, e com todas as vossas forças” – AEmulamini charismata meliora  (1Cor 12, 31)

É evidente, que este mandamento só terá o seu pleno cumprimento na glória, pois sobre a terra a nossa fragilidade e as necessidades da vida não nos permitem ter o espírito e o coração unicamente ocupados de Deus e continuamente absortos nEle. Ora, para que nos impôs Deus um mandamento, que excede as nossas forças, senão para nos dizer: Nunca vos detenhais em um limite, como se tivésseis feito muito, mas aspirai incessantemente a fazer melhor: e depois de o terdes feito, repeti ainda convosco: Não é ainda muito bem; cumpre que o faça muito melhor? É neste sentido, que está escrito, que o justo aspira sempre a subir mais (2): tende incessantemente a justificar-se ainda, e diligência ter uma vida mais perfeita, dizendo entre si cada manhã:

«Quero hoje viver melhor do que vivi ontem»

E a cada ação:

«Quero fazer isto melhor do que fiz a ação que precedeu»

2.° Nós achamos na fragilidade humana uma nova razão deste princípio: com efeito, é tal a nossa fragilidade que, em matéria de virtude, ficamos sempre aquém do que nos propusemos; de onde se segue que, se não nos propusermos senão essa mediocridade de virtude, que é o estritamente necessário para a salvação, não a alcançaremos. Para conseguir o medíocre, devemos por a mira no mais perfeito: é esta para nós a condição da salvação.

3.° O costume de aspirar ao mais perfeito nos fará pensar nos Santos, nos verdadeiros modelos da vida perfeita, a que aspiramos; e vendo a diferença que há entre os Santos e nós, nos encheremos de uma salutar confusão e nos animaremos a imitá-los, dizendo conosco: São os meus antepassados, os meus Pais e irmãos (3); devo tornar-me digno de tão nobre parentesco: o que eles fizeram porque não o farei eu? (4) e deste modo se cumprirá a nosso respeito a palavra de Jó: Olhará para os homens, que valem mais que ele, e dirá: Pequei (5). Segui-nos nós estas regras de proceder, e aspiramos sempre a obrar melhor?

SEGUNDO PONTO

Quanto seria imprudente adotar na prática o princípio de nos contentarmos com o que é medíocre, sem por a mira no que é mais perfeito

Desgraçadamente não são poucos os cristãos que, cheios de uma presumida, segurança sobre o estado estacionário em que vivem, acham que fazem de sobejo pela salvação, e não tem o menor cuidado a este respeito. Para que ei de eu inquietar-me? dizem eles; não cometi pecados graves; não faço como certas pessoas, cuja vida escandalosa e desregrada provoca a indignação pública. É verdade que não sou fervoroso; mas o grande fervor não é necessário; não sou perfeito, mas a perfeição é própria dos frades e dos solitários; contento-me com o essencial da lei, e deixo aos outros esses piedosos e incessantes desvelos pelo progresso. — Nada mais perigoso para a salvação do que tais disposições. Neste deplorável estado, não se cuida em corrigir os defeitos, em praticar as virtudes; confessa-se, por costume, mas sem vir a ser melhor. Vive-se sem se pensar quase nunca seriamente, na salvação. Está-se entregue de todo a essa tibieza, que desagrada tanto a Deus, que começa já a desprezá-la (6), e a amaldiçoa (7). É esse servo apático e indolente, que imprime a todos os seus atos o selo da preguiça; esse mau filho que não receia desagradar a seu Pai, enquanto este não o expulsar da casa paterna, e que nada sabe fazer por amor. Ora, com tais disposições, não há motivo para esperar que se salve.

Examinemos se não estamos neste caso. Compreendemos nós bem que a perfeição não é só para os frades e solitários, mas que todos os cristãos estão sujeitos ao preceito: Sede perfeitos como também vosso Pai celestial é perfeito (8), isto é, que devem tender à perfeição e procurar sempre ter melhor vida?

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) Diliges Dominum Deum tuum ex toto corde tuo, et ex tota anima tua, et ex tota fortitudine tua (Dt 6, 5)

(2) Ascensiones in corde suo disposuit (Sl 83, 6)

(3) Filii sanctorum sumus (Tb 8, 5)

(4) Quod isti, cur non ego? (Santo Agostinho)

(5) Respiciet homines, et dicet: Peccavi (Jó 33, 27)

(6) Incipiam te evomere ex ore meo (Ap 3, 16)

(7) Maledictus qui facit opus Domini fraudulenter (Jr 48, 10)

(8) Estole… perfecti, sicut et Pater vester caelestis perfectus est (Mt 5, 18)

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo III, p. 258-261)