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Sobre a Vaidade

Meditação para a Décima Quarta Quinta-feira depois de Pentecostes. Sobre a Vaidade

Meditação para a Décima Quarta Quinta-feira depois de Pentecostes

SUMARIO

Meditaremos sobre outro vício oposto à humildade, que é a vaidade; e veremos:

1.° O que é a vaidade;

2.° Como se vem a ser vaidoso.

— Tomaremos depois a resolução:

1.° De nunca falarmos de nós, nem de tudo o que tenderia a granjear-nos a estima e o louvor;

2.° De termos só em vista Deus, o seu agrado, ou à sua glória, em todas as nossas obras, pensamentos, e palavras.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra do Apóstolo a Timóteo:

“A Deus só honra e glória” – Soli Deo honor et gloria (1Tm 1, 17)

Meditação para o Dia

Adoremos Nosso Senhor repreendendo os escribas e fariseus por fazerem todas as suas obras para serem vistos e honrados dos homens (1). Exorta o povo e os seus discípulos a não os imitar, para que não suceda ver na outra vida as suas melhores obras sem recompensa (2). Admiremos a aversão que mostra à vaidade e vanglória, e demos-Lhe graças pelo desejo que tem de no-las fazer evitar.

PRIMEIRO PONTO

O que é a Vaidade?

A vaidade não é, como a soberba, um desejo desordenado da própria excelência; é um desejo desordenado das honras e dos louvores, ainda quando sabemos que os não merecemos. É tão grande a nossa miséria que, para os conseguir, chegamos até a mentir à nossa própria consciência. Queremos empregos, de que nos sentimos completamente indignos, e procuramos todos os meios de os obter, de ser vistos, louvados e aplaudidos. Praticamos para isto as maiores baixezas, fazendo alardo de tudo: alardo dos nossos vestidos, que queremos ricos e bem feitos; alardo do nosso adorno, a ponto de o olharmos como coisa grave, de lhe sacrificarmos muito tempo e dinheiro, de nos entristecermos e irritarmos, se a moda, o gosto, o capricho não são plenamente satisfeitos; alardo da mobília, que queremos esplendida; alardo da mesa, que queremos bem servida; alardo da nossa linguagem, procurando mostrar-nos espirituosos, distinguirmos por um modo de falar não vulgar; alardo dos nossos talentos, buscando mais a nossa glória que a de Deus; alardo do nosso porte e andar, em que se revelam a afetação e o desejo de ser gabado; alardo das nossas relações sociais: gostamos de ter trato com os grandes e ricos, envergonhamo-nos de o ter com os pequenos e pobres; alardo da nossa virtude: ocupamo-nos mais em diligenciar que nos julguem virtuosos, do que em se-lo na realidade; frequentamos a igreja, mas sem ali orarmos; os sacramentos, mas sem nos emendarmos; alardo, finalmente, da nossa mesma humildade; dizemos que somos um miserável e pecador, que não temos governo de vida, nem habilidade, nem talento, mas sentiríamos muito, que acreditassem o que fizemos; queremos somente insinuar que somos humildes, esperando que não nos tomarão pelo que somos; e na realidade, por falsos que sejam os louvores que nos dão, gostamos de os ouvir, importando-nos menos com o que somos em verdade e diante de Deus, do que com o que somos na aparência e na opinião do mundo. Ai! Estamos nós neste caso? Sondemos bem a nossa consciência.

SEGUNDO PONTO

Como se vem a ser Vaidoso

Tornamo-nos vaidoso:

1.° Por tudo o que acabamos de dizer;

2.° Louvando-nos a nós mesmo: falamos de nós e de tudo o que prevemos, que há de ser-nos proveitoso; divulgamos as nossas boas qualidades e obras, as mais das vezes exagerando-as e mentindo;

3.° Falando da nossa condição, do nosso nascimento, da nossa fortuna, das nossas dignidades: realçamos as menores circunstâncias que podem obter-nos a estima e o louvor;

4.° Elogiando os outros para que nos elogiem também;

5.° Encaminhando a conversação para as obras que julgamos ter feito com perfeição, e em que nos não falam: usamos de rodeios e finura para arrancar alguns louvores; rogamos aos que nos ouvem, que nos digam em que erramos; mostramo-nos descontentes com o que fizemos e até censuramos o que reputamos melhor, a fim de forçar os outros a falar em nosso favor;

6.° Confessando os nossos defeitos, quando não podemos encobri-los para que outros no-los não lancem em rosto; e exageramo-los, para que ao menos digam, que somos humildes.

Que nos diz a nossa consciência a respeito de tudo isto?

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) Omnia opera sua faciunt ut videantur ab hominibus (Mt 23, 5)

(2) Alioquin mercedem non habebitis apud Patrem vesrum (Mt 6, 1)

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo VI, p. 162-165)