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Meios de ter a Paz: a Humildade e a Renúncia à Vida Sensual

Meditação para a Sexta-feira da Pascoela. Meios de ter a Paz: a Humildade e a Renúncia à Vida Sensual

Meditação para a Sexta-feira da Pascoela

SUMARIO

Depois de havermos meditado sobre os obstáculos à paz interior, meditaremos agora sobre dois meios de estabelecer essa paz em nós, a saber:

1.º De opormos aos pensamentos de amor-próprio, que nos perturbam, humildes sentimentos a respeito de nós mesmos;

2.° De renunciarmos a todos os regalos da vida sensual, que preocupam e induzem a buscar-nos a nós mesmos.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra de Deus a Isaías:

“Derivarei sobre a alma humilde e fiel um como rio de paz” – Ecce ego declinabo super eam quasi fluviam paueis (Is 66, 12)

Meditação para o Dia

Adoremos Jesus Cristo canonizando os homens de paz, a fim de nos convidar todos a entrar nesta bem-aventurada disposição (1). Tributemos-Lhe neste intuito o nosso reconhecimento e amor; e reguemos-Lhe que nos permita alcançar essa paz pelo duplo meio da humildade e da renúncia à vida sensual.

PRIMEIRO PONTO

A Humildade, meio de alcançar a Paz Interior

A alma verdadeiramente humilde está por este fato sempre tranquila. Os louvores espantam-a em vez de a elevar, porque se julga indigna deles; os vitupérios alegram-a em vez de a entristecer, porque gosta que pensem dela o que ela mesmo pensa. A calúnia não a perturba, porque julga que, se lhe exprobam sem razão certas faltas, há outras que lhe poderiam exprobar com razão, e que, tendo recebido outrora elogios que não merecia, é justo que sofra hoje exprobações que ela não merece. Os bens e a prosperidade não a ensoberbecem; recebe-os com modéstia, porque se julga indigna deles; a adversidade e os males não a desanimam; recebe-os com agrado, crendo que os merece. A preferência que dão aos outros não a aflige, considera-se sempre como muito elevada, enquanto houver algum lugar abaixo dela; e estivesse ela no último, julgar-se-ia ainda muito favorecida por lhe permitirem ocupá-lo. Poderão os maus vomitar contra ela todo o seu veneno; longe de se irritar contra a sua malícia, louva-os pelo seu discernimento e junta-se sinceramente a eles para desenganar os que a estimam mais do que ela julga merecer; e deste modo, seja o que for o que lhe façam, que digam ou pensem dela, goza sempre de um perfeito descanso na convicção íntima do seu nada, e de uma contínua serenidade; tão verdadeira é a palavra de Jesus Cristo:

“Aprendei de mim, que sou manso e humildo de coração, e achareis descanso para as vossas almas” (Mt 6, 29)

Assim como a palavra da Imitação:

“Quanto mais humilde se é, mais pacifico se está” – Quanto quis in se fuerit humilior… tanto… erit… peccatior (Imitação 4, 2)

Oh! Quão diversamente sucede com aquele que não é humilde de coração! Está sempre perturbado e triste. Uma preferência concedida a outro desconsola-o, a reputação de outrem aviva-lhe a inveja; uma falta de atenção abate-o, uma leve afronta confunde-o, um desprezo imaginário desconcerta-o, o só receio de ser menos estimado dilacera-lhe o coração; e a inquietação do que dizem ou pensam dele faz-lhe perder o acordo; os mesmos elogios e as honras não prejudicam menos a sua paz; sente primeiro uma falsa alegria que o estonteia, depois, passados alguns instantes; um inexplicável descontentamento e remorsos. Consultemos a nossa consciência, e decidamos se tudo isto não é verdadeiro.

SEGUNDO PONTO

A renúncia à Vida Sensual:
outro meio de alcançar a Paz Interior

Sucede com a vida sensual e com a paz interior o mesmo que com seus inimigos face a face, um dos quais se fortalece com o que enfraquece o outro, porque:

1.° Quanto mais se concede, aos sentidos, mais eles exigem e fatigam a alma com infindas exigências:

“O olho não se farta de ver, nem o ouvido de escutar” – Non saturatur oculus visu, nec auris auditu impletur (Eclo 1, 8)

Nunca a curiosidade, a gula, a moleza, dizem: Basta; e à proporção que lhe concedem, tornam-se melindrosos e difíceis de contentar; e quanto mais lhe concedem mais querem. Nada é bastantemente bom para eles; nada lhes agrada; a menor contrariedade exaspera-os; tudo perturba e entristece a alma sensual.

2.° Os gozos sensuais atraem a alma, distraem-a e a inabilitam para as coisas de Deus, principalmente para a paz interior, enquanto que o homem, que renunciou a eles, fica tranquilo em seu interior como em uma cidadela inexpugnável, desprezando os gritos dos sentidos que chamam o gozo e formando assim na sua alma um temperamento firme e vigoroso, como se torna com a fadiga e o trabalho o corpo mais sadio e forte.

Entremos aqui dentro em nós, e consideremos quanto nos distrai o amor do gozo.

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) Beati pacifici (Mt 5, 9)

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo II, p. 276-279)