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A Caridade é sempre Benévola

Meditação para a Vigésima Segunda Quinta-feira depois de Pentecostes. A Caridade é sempre Benévola

Meditação para a Vigésima Segunda Quinta-feira depois de Pentecostes

SUMARIO

Meditaremos sobre outro caractere da caridade, que é a benevolência, e veremos:

1.° Em que consiste esta benevolência;

2.° As razões que nos obrigam a ser benévolos.

— Tomaremos depois a resolução:

1.° De procurarmos fazer a felicidade de todos os que nos cercam, e agradar sempre ao próximo;

2.° De nos abnegarmos a nós mesmos a ponto de nos alegrarmos com os que estão alegres, e de entristecermo-nos com os que estão tristes.

O nosso ramalhete espiritual serà a palavra do Apóstolo:

“Cada um procure agradar ao seu próximo no que é bom” – Unusquisque… proximo suo placeat in bonum (Rm 15, 2)

Meditação para o Dia

Adoremos Nosso Senhor Jesus Cristo ensinando-nos pelo seu Apóstolo a amarmo-nos reciprocamente como irmãos cheios de benevolência e de atenções uns para com os outros (1Cor 13, 4ss). Agradeçamos-Lhe um ensino tão cheio de amor, e proponhamo-nos de aproveitar-nos bem dele.

PRIMEIRO PONTO

Em que consiste a Benevolência Cristã

Esta benevolência, como a só palavra o indica, consiste em querer toda a sorte de bem ao próximo, em alcançar-lhe efetivamente todo o bem ao nosso alcance, e em fazer deste modo, quanto possível, a felicidade de todos os que nos cercam. São Paulo, na sua primeira Epístola aos coríntios, descreve admiravelmente os caracteres desta benévola caridade.

“A caridade, diz ele, é paciente e benigna, cheia de reserva e circunspecção a fim de nunca ofender ninguém, nunca falar com desagrado, nem repreender com aspereza, nem mandar com império” – Charitas patiens est, benigna est

Longe de ser invejosa, deseja aos outros toda a felicidade possível, e não se alegra tanto dos seus sucessos como das suas próprias preeminências (1). Longe de ofender alguém por capricho e mau gênio, obra sempre com prudência e moderação (2). Longe de ser soberba, é cheia de deferência e de atenções para com os outros (3). É tão pouco ambiciosa e tão pouco desvelada pelos seus próprios interesses, que busca só os dos outros (4). Qualquer que seja o motivo de descontentamento, que lhe deem, não se irrita, não suspeita mal (5). Alegra-se de ver os seus irmãos progredir na virtude, assim como se entristece de ver os outros entregues ao vício (6). Tolera tudo, e crê a respeito do próximo todo o bem que se pode crer, e conforme-se com os sentimentos de outrem (7). Sempre disposta a julgar favoravelmente os seus irmãos, não desespera da conversão de nenhum pecador (8). Finalmente, longe de incomodar os outros, sofre com paciência todas as tribulações, sem se queixar, nem mostrar sequer o seu desgosto (9).

Examinemos se possuímos estes caracteres de benevolência cristã.

SEGUNDO PONTO

Razões que nos obrigam a ser Benévolos

1.º O próximo é um filho de Deus. Ora suponhamos que um grande monarca nos confiou o seu filho, herdeiro de seu trono, conjurando-nos que lhe prodigalizássemos todos os nossos cuidados e serviços, e prometendo-nos recompensar-nos generosamente, até dando-nos um trono; com que zelo, com que benevolência não trataríamos o seu filho? Ora um filho de Deus é muito diferente do de um monarca; as recompensas do céu são muito diversas de todas as da terra, e muito preferíveis a todas as honras.

2.° O próximo é um membro vivo de Jesus Cristo, um outro Jesus Cristo, de tal sorte que Nosso Senhor reputa feito a si o que se faz ao mais pequeno dentre os seus. Ora, que benevolência não é devida a este admirável Salvador?

3.° Devemos amar o próximo como Jesus Cristo nos amou (10). Ora, que benevolência não foi a de Jesus Cristo para conosco?

4.° Devemos fazer aos outros o que quiséramos que nos fizessem a nós. Ora, os nossos corações precisam de benevolência. Ainda que tivéssemos tudo o que desejamos, seríamos desditosos, se estivéssemos rodeados de corações sem benevolência, assim como, ao contrário, ainda que carecêssemos de muitas coisas, seríamos consolados por corações benévolos, cheios de delicadas atenções.

5.° Finalmente, se somos benévolos para com os outros, estes o serão para conosco; a nossa benevolência nos atrairá o seu coração, e a divina caridade embelezará a nossa existência,

Examinemos a nossa consciência: somos nós benévolos para com o próximo? Folgamos de o obsequiar todas as vezes que podemos?

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) Non aemulatur

(2) Non agit perperam

(3) Non inflatur

(4) Non est ambitiosa, non quaerit quae sua sunt

(5) Non irritatur, non cogitat malum

(6) Non gaudet super iniquitate, congaudet autem veritati

(7) Omnia suffert, omnia credit

(8) Omnia sperat

(9) Omnia sustinet

(10) Diligatis invicem, sicut dilexi vos (Jo 13, 34; 15, 12)

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo V, p. 148-151)