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Como Cristo rezou a primeira Missa ou a Última Ceia do Senhor

Como Cristo rezou a primeira Missa ou a Última Ceia do Senhor, do Pe. James L. Meagher, D.D.

Os Ritos e Cerimônias, o Ritual e Liturgia, as formas do Culto Divino que Cristo observou quando transformou a Páscoa Judaica na Missa

As Origens da Missa e suas Cerimônias prefiguradas no Culto Patriarcal, no Antigo Testamento, na Religião Hebraica, no Tabernáculo de Moisés e no Templo contemporâneo de Cristo

Pe. James L. Meagher, D.D. (Doutor em Teologia)

Índice

Advertência sobre a presente Tradução
Prefácio

Primeira Parte: Como a Missa estava prefigurada no Templo

Capítulo I. Os Sinais, Símbolos e Cerimônias da Missa no Templo
Capítulo II. Como os Mistérios da Missa se Descortinavam no Templo
Capítulo III. O Pão, o Vinho, a Água, o Óleo e o Incenso, no Templo

Segunda Parte: Como a Missa estava prefigurada na Antiga Páscoa

Capítulo IV. A História da Páscoa dos Hebreus
Capítulo V. O Talmude sobre a Última Ceia ou Páscoa Judaica
Capítulo VI. A Festa dos Ázimos na Páscoa Judaica

Terceira Parte: Como a Missa estava prefigurada no Cenáculo

Capítulo VII. História de Melquisedec, de Sião e do Cenáculo
Capítulo VIII. Os Serviços Sinagogais no Cenáculo
Capítulo IX. Os Paramentos que Cristo e os Apóstolos usaram no Cenáculo

Quarta Parte: Como Cristo e os Apóstolos rezaram a Primeira Missa

Capítulo X. Como Cristo e os Apóstolos se prepararam para a Primeira Missa
Capítulo XI. As Cerimônias e Orações da Primeira Missa até o fim do Prefácio
Capítulo XII. As Orações e Cerimônias do Cânon da Primeira Missa

Advertência sobre a presente Tradução

A pedido do EDITOR, eis uma brevíssima apresentação da obra, seguida de declaração sobre o espírito que guiou a presente tradução.

Este livro sobre “A Primeira Missa de Cristo”, do Pe. Meagher, depois de uma acolhida glacial da imprensa católica logo de sua publicação em 1907, aliás reiterada ainda em 1940 (“Um composto deplorável de lendas, conjecturas e digressões.” — Catholic World, 85:252, N.Y. 1907, apud Walter Romig, The Guide to Catholic Literature, vol. I: 1888-1940, Detroit: Catholic Library Association, 1940, p. 778.) — mas terão sido plenamente compreendidos seu gênero literário e sua finalidade e destinatários?… — teve, na esteira do Concílio Vaticano II (1965) e da reforma litúrgica subsequente, um surpreendente incremento de popularidade entre o chamado “movimento tradicionalista” dos mais variados matizes, o que lhe valeu reedições em inglês (a primeira delas pela TAN Books, 1978), tradução recentíssima em italiano (Come Cristo ha celebrato la Prima Missa, Effedieffe, 2015. Cf. a longa e elogiosa recensão de Lorenzo deVita, L’Ultima Cena del Signore. Le origini della Messa, in Effedieffe.com, 22 fev. 2017. No link completo se lê: “Una gemma dimenticata” [Uma pérola olvidada].), bem como menção honrosa em bibliografias recomendadas de autores e instituições de prestígio, sendo tida como obra de referência, com vários parágrafos seus inseridos no corpo do texto, em livros de iniciação à liturgia católica visando o grande público também em nosso país (Tesouro da Tradição: Guia da Missa Tridentina, Campinas/Brasília: Ecclesiae, 2015).

Deixo à sagacidade do leitor a solução deste enigma literário instigante, cuja leitura encerra grandes surpresas; o que me parece é que, nestes nossos tempos… proféticos, não estamos longe do cap. VIII do livro de Ezequiel.

Quanto à presente versão, novamente a pedido do EDITOR protesto desde já que, nesta tradução que agora entrego em suas mãos, dando-lhe plena liberdade para aprimorá-la sob sua responsabilidade como melhor lhe aprouver, eu próprio limitei-me a verter escrupulosamente, segundo as regras da arte tradutória, aquilo que em 1908 escreveu o AUTOR (Pe. James Luke Meagher (1848-1920), How Christ Said the First Mass, or, The Lord’s Last Supper. The Rites and Ceremonies, the Ritual and Liturgy, the Forms of Divine Worship Christ observed, when He changed the Passover into the Mass, 2.a ed., N. York: Christian Press Association Publishing Company, 1908, 439 pp., cf. “archive.org/details/howchristsaidfirQQmeag”), como me foi encomendado. Ademais, não quisera incorrer em censura semelhante àquela movida por São Jerônimo, celeste Padroeiro dos Tradutores, a Rufino, que como o Santo também havia traduzido Orígenes:

“Quem te deu licença para cortares muitas passagens da tradução? Haviam-te pedido que traduzisses o grego para o latim, não que o corrigisses; que apresentasses os pareceres de um outro, não que redigisses os teus próprios.” (São Jerônimo, Apologia contra os livros de Rufino, S. Paulo: Paulus, 2013, p. 98)

São Paulo, 26 de dezembro de 2017, Festa de Santo Estêvão, Protomártir.
O Tradutor.

Prefácio

As pessoas do mundo olham com maravilha para a Missa e muitas vezes indagam:

“Qual o sentido dessa forma de culto divino? De onde vieram essas cerimônias? Por que se acendem velas durante o dia? Por que os sacerdotes vestem aqueles hábitos tão diferentes? Por que não celebram o serviço religioso numa língua que o povo consiga entender?”

O católico algumas vezes diz de si para si:

“A Missa veio da Última Ceia. Mas Cristo ou os apóstolos rezaram Missa igual ao padre ou bispo de nosso tempo? Cristo naquela noite seguiu algum cerimonial litúrgico? Se seguiu, onde se encontra? Desde os primórdios a Igreja usou o Ordinário da Missa, mas não conhecemos sua origem.”

Muitas perguntas surgem na cabeça das pessoas, sem que encontrem qualquer resposta. Uma opinião comum mantém que Cristo rezou a primeira Missa na Última Ceia segundo uma forma breve de bênção e de oração, depois consagrou o pão e o vinho, distribuiu a Comunhão aos apóstolos e pregou o sermão que está no Evangelho de João. Quando os apóstolos rezavam Missa, eles recitavam alguns salmos, liam as Escrituras, pregavam um sermão, consagravam o pão e o vinho, recitavam o Pai-Nosso e então distribuíam a Comunhão. Na era apostólica, os santos adicionaram outras orações e cerimônias. Posteriormente, os Papas e concílios desenvolveram ainda mais os ritos, compuseram novas preces, e ao longo da idade média a Missa cresceu e se expandiu até se tornar a liturgia e o cerimonial elaborados de nossos dias.

Mas essas opiniões estão erradas. Desde o princípio a Missa foi rezada conforme um longo Ritual litúrgico e com cerimônias que diferem pouco das de nosso tempo. Nenhuma adição substancial foi feita depois da idade apostólica – o que os primeiros Papas fizeram foi de pouca monta: revisões e correções. Foram feitos poucos acréscimos ao Ordinário da Missa transmitido, como que de mão em mão, desde os dias de Pedro, fundador de nosso Rito latino.

Nenhuma cerimônia pagã jamais fez parte da Missa. Por intermédio dos varões santos do Antigo Testamento, o próprio Deus revelou as formas, ritos e cerimônias do culto divino, e todos estes foram combinados e recapitulados na Última Ceia. Mas o que foi essa Ceia? Os quatro Evangelhos mencionam o festim, mas não esmiúçam a questão. A Bíblia, os autores hebreus e as histórias daquele tempo nos informam de que, na noite em que foi traído, o Senhor celebrou com os Seus apóstolos a festa chamada pelos hebreus de “péssach” (em inglês: “Passovef”, passagem adiante), mencionada cento e dezessete vezes na Sagrada Escritura como a “paschah”, a páscoa, os ázimos, a festa do pão sem fermento, etc. Todo judeu desde a juventude celebrava essa festa toda páscoa; mesmo os pagãos podiam ter aprendido sua história e significados, e os autores dos Evangelhos não julgaram apropriado encher seus escritos com os detalhes do festim. Mencionam somente as palavras, atos e incidentes da Última Ceia que não pertenciam propriamente à páscoa hebraica.

Em torno do cordeiro que prefigurava a Crucificação e do pão e vinho que eram proféticos da Missa, desde tempos imemoriais o Espírito Santo, por intermédio dos profetas, reunira uma longa série de cerimônias e grande número de objetos que recordavam a história do povo de Deus. A Consagração do pão e do vinho transformou essas formas, emblemas, tipos e sacramentais rodeados de sombras, contidos na religião hebreia, tornando-os na substância que haviam prefigurado tão admiravelmente. Os apóstolos, por isso, não viram nada de inusitado ou de estranho quando Cristo transformou a antiga páscoa na Missa.

Começaremos pela religião dos patriarcas, descreveremos o tabernáculo, o Templo judeu, seu cerimonial, narraremos a história da páscoa israelita, da festa dos ázimos e mostraremos como a Missa estava prefigurada na religião dos hebreus. Passaremos então para o cenáculo onde o Senhor celebrou a páscoa, descreveremos os serviços de culto sinagogais que eles exerceram antes da Ceia e os paramentos litúrgicos de que se revestiram naquela noite e forneceremos tradução do cerimonial ou liturgia da primeira Missa. Essa função religiosa pascal da Última Ceia foi a base das liturgias da Missa.

Mostraremos que as cerimônias que hoje se veem na Missa vieram dos ritos hebraicos que Deus instituiu por meio de Moisés e dos grandes homens do Antigo Testamento. Citaremos muitos escritores judeus e acatólicos, que não serão suspeitos de favorecer a Igreja. Não temos como citar isso tudo sem encher de notas este trabalho. Muitas traduções dos Talmudes mostrarão que o cordeiro, como tipo de Cristo, era sacrificado, durante essas longas eras de espera, pelos pecados dos oferentes, por seus amigos, pelos doentes, pelos ausentes e pelos mortos, assim como hoje Ele é oferecido em sacrifício na Missa.

Não foi possível encontrar obra em língua alguma que tratasse de maneira completa da Última Ceia, e o autor teve de se fiar em seus próprios recursos no que diz respeito à matéria e à forma. Um assunto tão vasto estava cercado de muitas dificuldades, porque é árduo de apresentar ao leitor com exatidão pormenores, descrições e cenas de um mundo que desapareceu faz dois mil anos.

O autor estudou os escritores judeus de tempos antigos e modernos, esteve presente durante os ritos da sinagoga em diferentes cidades do mundo, consultou doutos rabinos, pesquisou em bibliotecas, leu as vidas de Cristo de autores famosos, viveu por semanas em Jerusalém, conversou com judeus palestinenses, esteve presente enquanto celebravam a páscoa em Sião, e os resultados de suas investigações são expostos ao público. Esperamos que este livro esclareça muitas questões que o laicado levanta, acerca da origem da Missa e de suas cerimônias. Não sustentamos que todas as afirmações sejam absolutamente exatas, mas seu conjunto é aproximadamente a mais correta reprodução da primeira Missa de que somos capazes. “Homens de pouca estatura” talvez encontrem algumas coisas que criticar, teriam escrito de maneira diferente, mas esperamos que nossos humildes esforços atraiam corações humanos sinceros, aproximando-os no amor ao seu Salvador, quando virem como Ele instituiu o grande Sacrifício cristão.