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Como os Mistério Celestes da Missa se descerravam no Templo

Sumário. Como o cerimonial do dia da expiação prefigurava Cristo entrando no Céu. Os Talmudes, sua história, divisões e assuntos. Um decreto pontifício salvou da destruição os Talmudes. Tradições judaicas e ideias peculiares. O sumo sacerdote separado sete dias de sua esposa prenunciava um clero celibatário. Três arcas, três coroas. Como se preparava o sumo sacerdote. Origem da água benta. Como eram tiradas “sortes” para escolher os sacerdotes. Velas acesas, incenso queimado. Os aposentos do Templo. A corte suprema fazia o sumo sacerdote jurar que não tinha traído a fé. Imagem do batismo. Avareza dos sacerdotes. A segunda “sorte”. Moisés no monte Nebo e os sepulcros dos patriarcas no Hebron. Cerimônias que davam início às funções religiosas ao amanhecer. A ablução do sumo sacerdote. Suas vestes e quanto custavam. O pontífice com seu sacerdote assistente e doze ministros. Nomes das pessoas que faziam os utensílios de ouro para o Templo. Como começavam os cinco serviços religiosos. Como o novilho era imolado depois da confissão dos pecados postos sobre ele. Nomes das famílias avaras denunciados nas orações do Templo. O bode para Jehová e o para Azazel, tirados por sortes. A fita escarlate ficava branca por milagre, mas deixou de fazê-lo depois da morte de Cristo. Um leigo abatia todos os animais neste dia, e um pagão conduzia à morte o bode expiatório, pois o leigo pagão Pilatos condenou Cristo. Descrição do cerimonial. O turíbulo e o incenso iguais aos utilizados hoje nas igrejas. O sumo sacerdote certa vez ficou impuro. Como ele punha incenso no turíbulo. Como ele penetrava atrás dos dois véus. O cerimonial no Santo dos Santos. Como ele aspergia o sangue. Sentidos místicos prefigurando Cristo no Céu. Como ele queimava o incenso sobre o altar no Santo como figura típica da Missa. O bode para o Pai Eterno. O bode expiatório carregado com os pecados de Israel, na plataforma elevada, a prefigurar Cristo diante de Pilatos. Como o bode expiatório era conduzido ao campo fora da cidade por um pagão, em meio aos brados e imprecações de grandes multidões, assim como elas escarneceram de Cristo. Como ele era precipitado do alto rochedo Tsuk e morto. Como o pagão regressava. Os serviços litúrgicos matutinos, imagem de uma Missa solene pontifical. A leitura da Lei, imagem da leitura da Epístola e do Evangelho. A troca de paramentos. O dia da expiação explicado por São Paulo. A visão que João teve da liturgia e dos serviços religiosos da Igreja celeste. O trono eterno. Como a Missa celebrada aqui na terra é oferecida no Céu. Os quatro evangelistas. O livro selado. O Cordeiro de Deus. As imensas multidões adorando a Deus no Paraíso, etc.

SEM deixar as glórias supernas que tinha junto do Pai e do Espírito Santo antes de o mundo existir, o Filho Eterno se fez homem, padeceu a morte para redimir-nos, e então, com nossa natureza unida à divindade, retornou ao mundo espiritual sem ser visto, onde oferece para sempre os sacrifícios de nossos altares.

Dia após dia, a cada Missa ele regressa desses domínios eternos, ilimitados, inextensos e intemporais, esconde seu corpo, alma e divindade debaixo das formas do pão e do vinho, é sacrificado em oblação eucarística, na Comunhão alimenta nossas almas e em seguida entra novamente no seu santuário eterno. Assim, toda Missa é como uma renovação da Encarnação e um ingresso no Paraíso. A Comunhão é uma imagem do Deus que se fez homem na Pessoa do Divino Filho unido a cada alma que o recebe, e as festas da Encarnação e da Natividade de Cristo se intercalam com as festas da Eucaristia em todas as liturgias da Igreja.

Todo ano os hebreus celebravam um rito sacratíssimo e misteriosíssimo do Templo, prefigurando a morte de Cristo e seu ingresso no Céu quando de sua Ascensão e depois de cada Missa. Deus mesmo disse a Moisés como instituir as cerimônias desse dia da expiação, tão aclamado nos escritos judeus. Contudo, apenas trinta e quatro versículos são tudo o que temos no Antigo Testamento acerca desse grande dia (Lv 16). O mundo antigo desapareceu, o sacerdócio cessou séculos atrás e não resta pedra sobre pedra do Templo. Felizmente, porém, uma obra quase nunca vista por olhos cristãos traz detalhes bem pormenorizados desta que é a mais impressionante de todas as cerimônias do Templo no tempo de Cristo.

Parte do tratado Yoma (“dia da expiação”) do Talmude babilónico é preenchida por descrições dos ritos e cerimónias daquele dia. Primeiramente veremos a origem dessa notável produção do povo judeu, que eles só veneram menos do que o Antigo Testamento. Em seguida, traremos à vista dos nossos leitores particularidades extraídas aqui e ali dessa obra, ao mesmo tempo que daremos explicações do texto à medida que avançamos. É a primeira vez, pensamos nós, que esta obra foi mostrada aos leitores cristãos desta forma. Porque o Talmude tem sido considerado um produto vil da mente judaica, escrito para enganar, e talvez o preconceito tenha obstado ao seu estudo. Apresentemos primeiro a origem e a história do Talmude.

No ano 3428 depois da criação de Adão, 128 desde a fundação de Roma, 626 antes de Cristo, reinava, na Babilônia, Nabucodonosor II (“Nebo protege os marcos”). Nebo vem de nibach (“ensinar”, “profetizar”). Por causa da idolatria deles, Deus permitiu que os exércitos desse monarca capturassem Jerusalém, destruíssem o Templo de Salomão, arrastassem os hebreus como escravos e os dispersassem pelas campinas da Babilônia.

Ali eles começaram a estudar melhor sua religião. Juntamente com a Torá (“a Lei escrita”, nos cinco livros de Moisés), alegaram eles que também fora transmitido o Talmude (“os ensinamentos”); que essas tradições tinham a mesma antiguidade da Sagrada Escritura; que elas tinham sido igualmente reveladas a Moisés junto com a lei, e que são as explicações e o complemento da palavra escrita e do cerimonial do Templo.

O Novo Testamento menciona essas tradições treze vezes (Mt 15, 2.3; Mc 8, 3.5.8.9.13; At 6,14; Gl 1,14; Col 2,8; 2Ts 2,14; 1Pd 18). Os escribas e fariseus tinham-nas levado ao excesso que Cristo reprovou. Nos seus fundamentos, essas tradições do Talmude estão corretas. Muitas tradições nos são legadas dos tempos apostólicos, sempre existiram, não vieram de nenhum Papa ou conselho, e se encontram por toda parte. Tais ensinamentos ou usos universais nos dão uma ideia das tradições judaicas talmúdicas quando despidas de seus exageros, extravagantes ou distorcidos (Geikie, Life of Christ, ii, 193, etc).

No Ano do Senhor 70, rebelaram-se os judeus contra os romanos. Vespasiano marchou do norte para invadir a Judeia. Eleito imperador pelo Exército, seu filho Tito tornou-se o comandante, tomou Jerusalém, destruiu o Templo e arrastou cativos os judeus até Roma, onde trabalharam construindo o Coliseu. Poucos anos depois, os judeus se rebelaram novamente, e Adriano capturou a cidade sagrada, deixou-a em ruínas e proibiu qualquer judeu de entrar na cidade sagrada sob pena de morte, salvo uma vez por ano para celebrar a páscoa judaica.

No terreno de um velho cemitério, Herodes Agripa fundara Tiberíades, aninhada às margens do Lago da Galileia. Os príncipes dos judeus fizeram dali sua capital religiosa, onde fundaram um próspero colégio a que os judeus abastados de todas as nações mandavam seus filhos para serem educados, especialmente se estivessem destinados a tornar-se rabinos ou pregadores da sinagoga.

Ninguém que não fosse judeu era aceito; os gentios estavam, acreditavam eles, condenados ao inferno por não conhecerem a Torá ou lei escrita e o Talmude ou Lei tradicional, que eram só para o judeu. Conta-nos São Jerônimo que não conseguiu encontrar um único judeu em Jerusalém que ousasse ensinar-lhe o hebraico, e desceu até Tiberíades, onde ele diz que “seu professor temia pela própria vida como um novo Nicodemos”.

No século II depois de Cristo, o célebre Judá Hanassi, herdeiro de família rica e honrado como patriarca, presidiu a esse colégio. Começou a redigir as tradições no ano 150 depois de Cristo (Zanolini, De Fide Jud., Cap. 1.), as quais eles alegavam poder rastrear até Josafá (2Rs 8,16;2-24; 3Rs 4,3; Ecl 18,15), arquivista de Davi, e que eles sustentam que Deus comunicara a Moisés juntamente com a palavra escrita.

Esses escritos de Judá Hanassi formam a Mishná (“estudo”), a primeira parte do Talmude. Os sucessores dele na escola de Tiberíades escreveram a parte chamada Guemará (“explicação” ou “comentário”, acerca das tradições referidas em cada Mishná). Mais tarde, doutos sábios judeus adicionaram novas explicações, e foram acrescentadas opiniões das diversas escolas de pensamento que floresceram antes da destruição do Templo, sob a égide de Tito. Em épocas posteriores, ainda outras opiniões foram incorporadas, até que, começando a obra a ficar de difícil manuseio, um decreto do sinédrio proibiu quaisquer novas adições. Isso é o que é chamado hoje de Talmude de Jerusalém.

No ano 490 a.C., o grande rei persa emitiu o decreto de que os judeus podiam retornar e reconstruir a cidade e o Templo deles. Mas muitos hebreus envolvidos no comércio permaneceram na Babilônia, e no tempo de Cristo numerosas colônias hebraicas vicejavam ali. Também estas tinham suas tradições oriundas, segundo acreditavam eles, de Moisés. Também eles começaram a pô-las por escrito, da mesma forma que os doutos rabinos de Tiberíades. Os seus labores chegaram até nós com o nome de Talmude babilônico.

Os Talmudes, produtos peculiaríssimos de uma época em que Cristo vivia entre nós, projetam uma luz intensa sobre o Antigo Testamento, os costumes dos hebreus, o cerimonial do Templo e as orações públicas e privadas, e mostram o judeu daquela época em sua crença e prática religiosa.

Vivendo na Palestina antes do cativeiro babilónico, o hebreu mantinha-se separado de todas as nações, porque era da raça escolhida, da qual havia de nascer o Messias. De mente brilhantíssima, gloriando-se de ser filho de Abraão, ele mantinha em segredo dos pagãos a sua religião, e era quase impossível penetrar o sigilo de sua crença e prática. O modo correto de pensar e de viver religiosamente, a fé e a moral, eram só para o judeu. Todos os gentios estavam condenados ao inferno, por causa de sua ignorância da Lei ou Torá e do Talmude, e eles não queriam saber de instruir os gentios, porque a Lei era para os judeus — era esta a ideia predominante do escriba e do fariseu contemporâneos de Cristo.

Suspeitas mútuas provocaram as perseguições da idade média, o judeu foi proscrito em todos os países cristãos, a inteligência dos hebreus tornou-se agudíssima por causa da adversidade e da pobreza. Em meio a todas as suas penúrias, no entanto, eles se aferravam até a morte à sua religião — há nisto talvez uma Providência, porque eles mostram que o Antigo Testamento é verdadeiro.

Na idade média, todos os livros judaicos foram condenados a ser destruídos, ordenou-se que o Talmude fosse queimado; mas eles salvaram algumas cópias. Um judeu versado na literatura talmúdica se converteu à Igreja Católica, e, explicando ele ao Papa o conteúdo desta obra, o Pontífice proibiu que continuassem a destruir esse produto da antiguidade.

Esse decreto salvou o Talmude da destruição total.

O Talmude divide-se em seis seções: “sementes”, “festividades”, “mulheres”, “jurisprudência”, “santidade” e “pureza”, somando sessenta “tratados”, cada qual tratando de diversas questões — ambos os Talmudes compondo sessenta volumes in-quarto (Edersheim, Life of Christ, I, 47, 103, 104, 175).

Esses Talmudes te mostram a mente judaica antes e depois do tempo de Cristo. Há pouca coisa neles que seja de condenar, como alegam muitos que nunca os viram, exceto que o Talmude de Jerusalém contém alguns ataques escandalosos contra o caráter de Cristo. Mas o Talmude babilónico mal alude a Ele.

Tu percorres página após página de fastidiosos resíduos de discussões, disputas de sábios eruditos e suas opiniões sobre o que a Torá (“a Lei”) quer dizer, que te fazem lembrar dos pontos disputados da teologia moral. A parte mais antiga, chamada Mishná, a mais pura e a melhor, é rica em informações, porque remonta talvez a antes do cativeiro babilônico, quando Israel tinha como condutores os profetas guiados pelo Espírito Santo.

A Guemará, vindo depois do cativeiro, mostra mentes absolutamente sem fé, destituídas de uma única centelha de sobrenatural. Tudo se estriba na Torá (“a Lei”), que é como eles chamam os livros de Moisés — os cinco primeiros livros da Bíblia. Os profetas são raramente citados; as belíssimas funções litúrgicas do Templo são explicadas, mas eles nunca olham para o que está além e subjacente a elas, para ver o Cristo que elas prefiguravam.

Eles esperavam por dois Cristos — um que devia nascer da família de Davi e que havia de instaurar um reinado de incomparáveis esplendores, calcar aos pés seus inimigos e transpor rios de sangue até chegar ao seu trono em Jerusalém, onde faria dos judeus os governantes de toda a terra. Tomando de empréstimo essas ideias do judeu, Maomé e seus sucessores difundiram seu império pela espada. O outro Cristo ou Messias, que devia nascer da tribo de José, havia de ser um Cristo padecente que ia vir e morrer; por que razão, eles não explicam.

A Bíblia e o Talmude, ambos escritos por hebreus, diferem em alto grau, de maneira impressionante: uma é o fruto de varões inspirados, por meio dos quais Deus falou ao mundo; o outro foi escrito por homens de uma nação desterrada, espiritualmente morta, absolutamente despojada de toda centelha de fé sobrenatural. Uma palpita com vida, e a cada página tu vês, no original, o Redentor predito, a face do Espírito Santo; o outro, os Talmudes, mostram o coração de uma raça punida pela idolatria mediante o cativeiro babilônico, e, pelo crime de matarem seu Messias, dispersados pelos romanos por toda a terra, cumprindo estas palavras:

“Não queremos que este homem reine sobre nós” (Lc 19,14), “O seu sangue esteja sobre nós e sobre nossos filhos” (Mt 27,25)

Nem sempre nos damos conta do que é uma tradição oriental. Para nós, uma tradição é uma história, mais ou menos verdadeira, cambiante de uma geração a outra, vaga, ou exagerada, baseada na verdade, mas desenvolvida pelo decurso do tempo.

Mas uma tradição entre os judeus era uma verdade religiosa que remontava aos seus ancestrais, era contada e repetida nas sinagogas, no Templo, nas festas, nas casas das famílias diante da lareira, sendo transmitida exatamente, palavra por palavra, tal como a tinham ouvido. Se não fosse relatada tal como fora transmitida, com quase as mesmíssimas palavras, se uma palavra lhe fosse adicionada ou omitida, era uma grita no grupo todo, e o relator era execrado e expulso. Era dessa maneira que os patriarcas ensinavam aos seus filhos a história da criação, da queda do homem, e as crenças religiosas dos dias antigos. Dessa maneira eles afirmam que a religião e a história foram transmitidas, como que de mão em mão, até que Moisés as escreveu no Gênesis.

Adão morreu no ano 930, quando Matusalém tinha noventa e quatro anos. Este último viveu até que Sem, também chamado Melquisedec, estivesse na casa dos cinquenta anos. Sem, ou Melquisedec, morreu em Sião quando Isaac tinha trinta e três anos, e este viveu até os 180 anos — 2.288 anos depois da criação de Adão, e pouco tempo antes do nascimento de Amrão, pai de Moisés. Destarte, a história foi transmitida desde Adão e os patriarcas até Moisés, o grande Legislador, Fundador da nacionalidade hebreia e redator dos cinco primeiros livros da Bíblia (De Religione Hebraeorum, n. 68.).

De igual maneira, alegam eles, os ensinamentos chamados por eles de “as tradições” dos judeus foram transmitidos até serem escritos no Talmude. Nas escolas da Babilônia e da Judeia os estudiosos só acolhiam o que era ensinado, não se permitia qualquer desvio, nem uma palavra era alterada. De sua cátedra alta como um púlpito, o douto rabi transmitia os dizeres de seus ancestrais, as tradições dos anciãos, consideradas tão sagradas quanto a palavra escrita, por vezes mais até do que esta, e os pupilos aprendiam-nas de cor e tinham por elas a mesma estima que pelo fôlego de suas narinas.
Vivendo na Babilônia desde os dias do cativeiro, os hebreus não foram inquietados ali pela vida de Cristo, seus ensinamentos, a tragédia que foi sua morte e a pregação dos apóstolos. O Talmude contém pouca coisa referente ao Cristianismo. Nele encontramos as regulamentações e os costumes hebraicos da páscoa tal como era celebrada nos dias dos reis judeus.

Vamos descrever o culto celebrado no Templo no dia da expiação, visto querermos apresentar ao leitor os pormenores exatos de como se rendia culto a Deus na época de Cristo, porque o cerimonial do Templo foi introduzido na sinagoga e foi seguido por Cristo na noite da Última Ceia, e porque a expiação do pecado é o fundamento mesmo de todas as ofertas sacrificais do Antigo Testamento, as quais se cumpriram na Última Ceia e continuam hoje na Missa.

O sumo sacerdote do Templo, no seu cerimonial, e o celebrante hoje ao rezar Missa refletem a Ele, o Sumo Sacerdote da eternidade, que veio a este mundo, ofereceu como sacrifício a sua vida e sofrimentos, e então fez sua passagem de volta para o seu santuário celeste. Daí que, ao subir os degraus do altar dando início à Missa, o celebrante recite estas profundas palavras da liturgia da Igreja:

“Afastai de nós, vos rogamos, Senhor, nossos pecados, para que, com mente pura, nos tornemos dignos de entrar no Santo dos Santos. Por Cristo nosso Senhor. Amém.” (Missal Romano)

Para vincular toda oferenda sacrifical a Cristo e ao Espírito Santo que ardia no seu íntimo, em cumprimento das ordens de Deus todos os sacrifícios eram consumidos ou assados sobre o altar com um fogo que tinha descido do céu (Lv 9,24). Mas Nadab e Abiú, filhos de Aarão, sacrificaram com um fogo estranho, que não era típico do Espírito Santo nem se referia ao Redentor predito. Por esse pecado tremendo, fulminou-os Deus, matando os dois (Lv 10,2). Então o Eterno prescreveu o cerimonial que os hebreus haviam de seguir todo ano, no dia da expiação (Lv 16,16).

A Bíblia não entra nos detalhes daquela sagrada, santíssima e impressionante como nenhuma outra cerimônia do Templo. Mas temos diante de nós o tratado Yoma (“dia da expiação”), do Talmude babilônico. Examinaremos o volume inteiro, faremos uma busca em meio ao lixo, à cata do puro e imaculado ouro dos tempos antes de Cristo, e apresentaremos aos leitores esses interessantes pormenores. Conforme prosseguirmos, daremos explicações dos textos hebreus, para que o leitor entenda melhor como Cristo e a Missa estavam prenunciados (As palavras do Antigo Testamento no Talmude não são exatamente iguais às que se acham nas traduções utilizadas pelos cristãos, mas o sentido é o mesmo. Não há duas pessoas que empreguem os mesmos termos ao traduzirem de outra língua).

O sumo sacerdote, representando Cristo para a nação hebraica, executava sozinho todas as cerimônias deste dia solene, que sempre caía no décimo dia de tishri. Com temor e tremor, ele trazia consigo os pecados de Israel ao penetrar o véu, adentrando o recinto de paredes douradas, o Santo dos Santos, imagem do céu, onde a Shekiná, o Espírito Santo, habitava como uma nuvem durante o dia e um fogo durante a noite, no tabernáculo e no primeiro Templo. Antes do cerimonial deste dia, o sacerdote e o povo, e até o santuário mesmo, estavam impuros, e sem esse cerimonial os serviços de culto do ano seguinte não poderiam ser exercidos. A Lei determinava grande número de particularidades (Lv 16), mas citaremos as descrições mais detalhadas do Talmude (Geikie, Life of Christ, I, 95).

“Sete dias antes do dia da expiação, o sumo sacerdote sai de casa, para não acontecer de a esposa dele o contaminar, e se instala no gabinete dos palhedrin, chamado em grego paraderon (‘câmara do senhor’), perto da porta de Nicanor. Um outro sacerdote, geralmente o segan, seu substituto, é escolhido e instruído a assumir seu posto em caso de ele contrair impureza (Lv 8,34). De seu próprio bolso ele tem de comprar todos os animais para o sacrifício” (Talmude babilónico, tratado Yoma (“dia da expiação”), cap. 1: Mishná e Guemarás)

Desse modo ele prefigurava o Cristo sem pecado, a expiar pelas iniquidades do mundo, e prenunciava o clero celibatário, a entrar em nosso santuário para celebrar Missa.

“Por que ele era separado por seis dias antes da solenidade? Quando Deus entregou a Lei no Sinai, chamou Moisés a subir a montanha. ‘E a glória do Senhor pousou sobre o Sinai, cobrindo-o com uma nuvem por seis dias, e no sétimo dia ele o chamou do meio da nuvem’ (Ex 24,16). Durante todos esses seis dias de preparação, eles aspergiam o sumo sacerdote com as cinzas de todas as vacas vermelhas imoladas.”

Esses animais, sacrificados fora dos muros da cidade, eram conduzidos pela ponte que se estendia sobre o Cedron, erigida de seu próprio bolso pelo sumo sacerdote. Por sobre esta mesma ponte eles arrastaram Cristo na noite em que foi preso. As vacas vermelhas prefiguravam Cristo, vermelho de seu próprio sangue, oferecido em sacrifício pelo gênero humano. O sumo sacerdote era aspergido com água misturada às cinzas delas, para tipificar que o pontífice estava, em espírito, tipicamente aspergido com o sangue do Redentor, para purificá-lo do pecado. a fim de oferecer sacrifício e entrar no santuário sagrado. A aspersão do sumo sacerdote prenunciava a nossa água benta.

“Aarão ficou sete dias separado, intervalo durante o qual Moisés instruiu-o a respeito dos serviços deste dia. Durante esses dias, dois homens do beit din (‘o tribunal de justiça’) ensinavam-lhe (ao sumo sacerdote) a cerimônia, como foi escrito: ‘tal como presentemente se fez, para se cumprir o rito deste sacrifício’ (Lv 8,34). Moisés subiu para dentro da nuvem e foi santificado dentro da nuvem, a fim de poder receber a Torá (‘a Lei’) para Israel em estado de santidade” (Talmude, tratado Yoma (“dia da expiação”), p. 4)

“Isso aconteceu no dia seguinte à entrega dos Dez Mandamentos, que foi o primeiro do jejum de Moisés ao longo dos quarenta dias seguintes (Ibidem). O sumo sacerdote, no dia da expiação, não tem a placa de ouro gravada com as palavras: ‘Santidade para Jehová’ sobre a fronte”, porque ele representava nosso Sumo Sacerdote, Cristo, “o qual foi o mesmo que levou os nossos pecados em seu corpo sobre o madeiro” (1Pd 2,24)

“O gabinete onde ele se instalava foi chamado primeiramente de ‘câmara dos senhores’, mas depois que os sumos sacerdotes compravam com dinheiro a posição deles, após a ocupação romana da Palestina, passou a ser chamado de ‘mansão dos palhedrin (funcionários)’.”

Todas as casas, gabinetes, etc., continham fixado no batente da porta um estojo de couro em que estava escrita em pergaminho a oração da manhã e da noite: “Ouve, ó Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás ao Senhor teu Deus com todo o teu coração, e com toda a tua alma, e com todas as tuas forças”, etc. “E escrevê-las-ás no limiar, e nas portas da tua casa” (Dt 6,4-9).Terão dado origem às pias de água benta de nossas igrejas e casas, a fim de que, tocando a água e nos benzendo, nos recordemos de nosso batismo e redenção por Cristo?

“Nenhum aposento do Templo tinha essas mezuzás, salvo o gabinete dos palhedrin, porque durante sete dias era morada do sumo sacerdote, e salvo a porta de Nicanor, através da qual o povo entrava no Templo.

“Primeiro ele se revestia das oito vestes cultuais que Deus prescreveu a Aarão e seus filhos, e ia com a bacia de ouro e virava- a sobre os sacrifícios que eram queimados sobre o altar, para fazê-los queimar melhor. Todo dia ele aspergia o sangue das vítimas, queimava o incenso no Santo, preparava as lâmpadas do candelabro de sete ramos, e ele toma para seu próprio uso parte das primícias oferendadas, que ele come. Primeiro ele queima o incenso, depois prepara as lâmpadas, e sacrifica o cordeiro de manhã e de tarde. (O incenso prefigurava as orações de Cristo dirigidas ao Pai antes de ele ser sacrificado.)

“Eles lançavam sortes para escolher os sacerdotes que o auxiliariam. A primeira sorte era para escolher os sacerdotes que limpariam as cinzas do grande altar, chamado Ariel (‘leão de Deus’); a segunda, para os que deviam imolar a vítima, aspergir o sangue, limpar as cinzas sobre o altar do incenso no Santo, preparar as lâmpadas e trazer para cima os membros dos sacrifícios. A terceira sorte era para escolher aquele dentre os nove sacerdotes que havia de queimar o incenso no Santo

O incenso era o primeiro a ser queimado, e é por essa razão que as velas se acendem primeiro e que o celebrante da Missa primeiro incensa o altar, no início da Missa.

“E Aarão queimará incenso de suave fragrância sobre ele pela manhã. Quando preparar as lâmpadas, queimá-lo-á” (Ex 30,7.8.etc)

Seguem-se então as ordens de assinalar as córnuas do grande altar com o sangue das vítimas traçando uma cruz, que mais adiante descreveremos.

“Havia quatro câmaras no edifício calorífero, quais pequenos aposentos com abertura para um grande salão, duas das quais pertenciam ao santuário (o átrio dos sacerdotes, em cujo meio ficava o grande altar dos holocaustos), e duas eram profanas; pequenas portinholas separavam das profanas as sagradas. A que ficava a sudoeste destinava-se aos cordeiros votados ao sacrifício. A sudeste era para os pães da apresentação (pão da proposição, em nossa Bíblia). Na que ficava a nordeste os macabeus — os asmoneus — tinham escondido as pedras do altar profanado pelos gregos. A noroeste era usada como passagem para a casa de banhos. Aquela câmara a nordeste era o lugar onde se guardava a madeira, e os sacerdotes com defeitos físicos examinavam a madeira ali presente, já que madeira bolorenta era imprópria para o altar. A câmara noroeste era o lugar para os leprosos curados que vinham ao Templo para ser aspergidos. O vinho e o azeite para as oferendas de libação eram ali conservados, e ela era chamada de câmara do azeite.

“O altar ficava no meio do átrio e possuía, de extensão, trinta e duas varas, dez varas defronte à porta do Templo, vinte varas de largura, onze varas para o norte e onze varas para o sul, de maneira que o altar ficava defronte ao Templo e seus muros.”

Esse altar ficava no topo do monte Moriá, onde Abraão fizera oblação de seu filho Isaac, que carregou a lenha do sacrifício montanha acima prefigurando Cristo a carregar sua própria cruz. No presente, a mesquita de Omar, chamada “Domo da Rocha”, cobre o cimo rochoso de Moriá, erguendo-se cerca de 4,60 metros acima do piso desse edifício octogonal, revestido em seu interior de belas louças de barro lustradas, predominantemente das cores branca e azul, e ornado com passagens do Corão. A rocha hoje é cercada por uma grade de ferro. Na parte sudeste da rocha há um buraco redondo, com aproximadamente 60 centímetros de diâmetro, através do qual o sangue das vítimas escoava e era transportado por canos subterrâneos, que corriam debaixo da cidade até ao Cedron (“vale escuro”, “túrbido”), assim chamado por causa do sangue. A grande rocha, irregular como a cumeeira de uma montanha, jamais aplainada, mostra arvoredos ali onde escorria o sangue e está tingida pela passagem do tempo. Aos olhos maometanos este lugar santo é o mais importante depois de Meca, por causa de Abraão, do qual descenderam os árabes através de Ismael. Sob a rocha há uma espécie de caverna, e ali mostraram eles santuários, nos quais disseram ao autor que Abraão, Cristo e Maomé rezaram.

“Durante esses seis dias, os anciãos do beit din (juízes e doutos advogados da corte suprema) instruem o sumo sacerdote, leem para ele do Levítico 16 e lhe dizem: ‘Meu senhor sumo sacerdote, dize-o em voz alta, para o caso de o teres esquecido ou de o não teres estudado.’ Na manhã que antecede o dia da expiação, ele vai até a porta oriental, e os touros, os carneiros e os cordeiros são postos diante dele, para que vá se familiarizando com o serviço. Durante todos os sete dias ele está livre para comer e beber, mas na véspera do dia da expiação não se permite que ele coma muito.

“Os anciãos do beit din deixavam-no aos cuidados dos anciãos do sacerdócio, que o acolhiam na casa de Abtinas e faziam-no jurar: ‘Meu senhor sumo sacerdote, somos os representantes do beit din, e és nosso representante e representante do beit din, nós te conjuramos por Aquele que estabeleceu sua morada nesta casa, que não hás de alterar uma só coisa das que te dissemos’. ”

“Eles faziam-no prestar juramento de que não era saduceu, porque os saduceus não acreditavam na vida futura. Ele dizia adeus chorando, e eles choravam: ele, por ter dado azo a suspeitas de ser infiel; eles, senão que suspeitassem de um homem inocente. Ele lia diariamente as Escrituras, os livros de Jó, Esdras, Crônicas e Daniel.

“Ele ocupava ali dois gabinetes, um ao norte, outro ao sul: o Palhedrin, onde dormia, e o Abtinas, que lhe servia de escritório. Tomava em mãos um punhado de incenso, de maneira que não deixasse escorrer nada, e treinava com o turíbulo, com os cutelos sacrificais, tomava os cinco banhos rituais prescritos por lei e dez vezes lavava as mãos e os pés na bacia de bronze para abluções” (Ex 30,18)

Essas lustrações eram sombras do batismo. Na noite anterior ao grande dia, ele não dormia, porque na noite de sua paixão Jesus não dormiu.

“Os príncipes dos sacerdotes cantavam para ele o Salmo 136 e conversavam entre si e com ele a noite toda. Perto da meia-noite, limpavam das cinzas o grande altar, começando ao cantar do galo (em hebraico, geber), enquanto os átrios e o Templo ficavam cheios de israelitas, porque ninguém dormia na cidade Santa naquela noite.

“Beseleel (‘sob a proteção de Deus’) fez três arcas: a do meio era de madeira, com nove palmos de altura; a de dentro era de ouro, com oito palmos de altura; a de fora era de ouro, com dez palmos de altura e um palmo e um pouquinho a mais em cima, para escondê-la. O ouro no topo tinha um palmo de espessura, para parecer uma pequena coroa sobre o topo da arca debaixo do propiciatório.

“Havia três coroas, uma do altar, uma da arca e uma da mesa da proposição para o pão e o vinho. A do altar, chamada ‘coroa do sacerdócio’, Aarão recebeu; a da mesa, chamada ‘coroa da realeza”, Davi recebeu; a da arca, chamada ‘coroa do saber’, ainda está por ser conferida ao Messias.” (Prenunciava esta a coroa de espinhos em Jesus).

Segue-se então uma longa descrição do modo como Deus lhes falava por meio do urim e tumim, com suas doze pedras preciosas, cada qual trazendo o nome de uma das doze tribos de Israel, que brilhavam de maneira que eles lessem os oráculos de Deus e assim escrevessem a resposta dele.

“No urim e tumim havia somente os nomes das tribos, os nomes de Abraham, Itz’hak e Jacob, bem como as palavras shibtei Jeshurun (‘as tribos de Israel’). Nós aprendemos que um sacerdote sobre o qual não repousa a Shekiná, e que não é inspirado pelo Espírito Santo, não necessita de ser consultado. O Espírito Santo capacitava-o a discernir as letras.

“Cinco coisas faltavam no segundo Templo. Quais eram? A arca, o propiciatório, os querubins, o fogo celeste, a Shekiná, ‘o Espírito Santo’, e o urim e tumim.”

“Antigamente, todo aquele que quisesse limpar o altar das cinzas o fazia. Quando havia muitos sacerdotes, eles corriam pela escadaria que levava até o topo do altar. O primeiro que chegasse a quatro varas de distância do altar conquistava o direito de limpá-lo. Um dos dois que subiam correndo a escadaria empurrou seu companheiro, que caiu e quebrou a perna. Noutra ocasião um deles matou um sacerdote a punhaladas. O beit din fez uma reforma, no sentido de que o altar devia ser limpo por sorteio — tiravam-se quatro sortes. Se um leigo viesse a aspergir o sangue, queimar o incenso e fazer a oferta de libação da água e do vinho, seria morto (Yoma, cap. xi, 33).

“A segunda sorte visava escalar treze sacerdotes para imolar a vítima (Yoma, cap. xi, 35), aspergir seu sangue, limpar das cinzas o altar de ouro no Santo, preparar as lâmpadas, subir até o grande altar com os membros da vítima, a cabeça, a perna traseira direita, as duas pernas dianteiras, a cauda, a perna traseira esquerda, a traqueia, dois flancos, as vísceras, a fina flor de farinha, as coisas em frigideiras; e a terceira sorte era para selecionar os sacerdotes que nunca tinham oferendado no Santo, e a quarta sorte era para escolher os sacerdotes que subiriam com os membros do animal, da escadaria até o altar. Os sacrifícios cotidianos eram ofertados por nove, dez, onze e doze sacerdotes, conforme a festa. O carneiro era oferecido em sacrifício por onze sacerdotes; a carne, por cinco; as vísceras, a fina flor de farinha e o vinho, por dois.”

Os serviços de culto começavam quando o sol iluminava o sepulcro de Abraão. Quando Sara morreu, aos 127 anos de idade, Abraão comprou de Efron, o heteu, a dupla caverna do Hebron mediante persuasão e conversa, tal como hoje em dia os árabes regateiam contigo na elaboração de um contrato. É um espécime de contrato verbal oriental, que mostra como o povo dessas terras mudou pouco, em milhares de anos (Gn 23).

Uma boa estrada para carroças sai do sul de Jerusalém rumo a Hebron, a uns trinta quilômetros de distância, serpeando através de Belém e rumo ao sul pelas fontes de Salomão. Na orla da montanha, rodeados por antigos reservatórios e por outros indícios de antiguidade extrema, no meio da cidade de Hebron erguem-se os muros de uma mesquita, outrora igreja cristã. Muçulmanos fanáticos enchem as ruas, fazendo carranca para ti. Tua vida mal está a salvo daqueles que guardam com ciosa cautela o lugar onde estão sepultados os patriarcas e suas mulheres. O Príncipe de Gales, mais tarde Eduardo VII, junto de seu séquito, de posse do sinete do sultão, teve permissão de entrar nas partes superiores do edifício, onde seis cenotáfios revestidos de seda cobrem os lugares onde, lá embaixo, na “caverna dupla”, repousam os restos mortais dos pais das raças árabe e hebreia.

Nas paredes da igreja de cima, uma tabuleta de bronze em grego te avisa de que ali embaixo está o sepulcro de “Abraão, o Amigo de Deus”. Há alguns anos, o edifício foi restaurado sob a direção de um arquiteto italiano, Farenti, que certo dia desceu os degraus de pedra seguindo o guardião, embora chutado e repelido persistiu, e conta-nos que avistou, no piso da caverna, os seis sarcófagos de mármore dos patriarcas, de Abraão, Isaac, Jacó e suas esposas.

“Deitavam-se sortes, para escolher os sacerdotes que ministrariam no Templo, ou no crepúsculo da véspera, ou ao alvorecer. Antes do raiar do dia, o Superintendente dizia (Yoma, cap. III, 40-41):

“‘Sai e vê se chegou a hora de imolar o sacrifício.’

“Eles subiam a torre do Templo, que fica na extremidade sudeste da área do Templo, e o primeiro que avistasse a luz dizia: “‘Barekh, faz-se luz. O oriente clareia.’

“‘Até Hebron? O oriente clareia todo até Hebron?’

“‘Sim. Barekh al birkei, a luz despontou.’

“Então cada um ia para seu trabalho. Por que essa cerimônia? Porque os patriarcas Abraão, Isaac, Jacó, José e esposas foram sepultados em Hebron. Abraão dava início ao Minkhá (orações da manhã) quando os muros começavam a projetar sombras escuras, conforme as palavras: ‘Abraão levantou-se bem de manhãzinha’ .”

Quando o disco solar despontava acima do longínquo Nebo, donde Moisés avistou a Terra Prometida e onde morreu e foi sepultado, e as sombras do monte se estendiam, pela manhã, através das águas espelhadas do Mar Morto, um grupo de sacerdotes, estacionados na torre no monte das Oliveiras, soava suas trombetas de prata. Os sacerdotes estacionados na torre do Templo acompanhavam o tom e davam três toques de trombeta, o primeiro lembrando-lhes as profecias acerca da vinda do Messias e seu reino; o segundo, a providência de Deus sobre o mundo; e o último, o Juízo universal. Todo o povo, na cidade sonolenta, se levantava, cada judeu punha seus filactérios, ficava de pé ao lado da cama e recitava seu “Shemá” e orações da manhã. Mas, neste grande dia da expiação, toda a judiaria se reunia no Templo ou, caso vivesse em terras distantes, ia à sinagoga.

O pontífice levantava-se do seu leito ao som da trombeta, vestia-se e ia banhar-se, a exprimir exteriormente a inocência batismal que seria exigida do celebrante que entra no santuário sagrado de nossas igrejas, para sacrificar o Cordeiro de Deus.

“Desvestindo-se ele descia e mergulhava na água da grande bacia que ocupava de um lado ao outro a beit ha-Parvá, havendo uma tela de bisso interposta entre ele e o povo. Cinco vezes o sumo sacerdote se banhava, e dez vezes lavava as mãos e os pés. A cada vez que mergulhava n’água, ele dizia:

“Rogo-te seja a tua vontade, ó Deus, Senhor meu, que me faças entrar e sair em paz, que me faças voltar ao meu lugar em paz e me salves deste e de semelhantes perigos neste mundo e no mundo futuro.”

O perigo que ele temia era o de morrer dentro do Santo dos Santos, tal como Deus fulminara os dois filhos malvados de Aarão, matando-os (Lv 10,2).

“O sumo sacerdote ministra vestindo oito paramentos; um sacerdote comum, vestindo quatro: calção de linho, sotaina, cíngulo e mitra; para o sumo sacerdote adicionam-se o peitoral, o efó, uma casaca com tsitsiot [“fímbrias”], e a fita de ouro na testa com as palavras ‘Consagrado a Jehová’ (Ex 28,36). O urim e o tumim (“saber e virtude”) eram consultados somente quando ele estava paramentado desta forma, mas não se faziam consultas para um homem comum, apenas para a nação, para o rei, para o presidente do beit din (o juiz supremo da suprema corte) e para um funcionário público.

“Os paramentos deviam ser feitos, segundo a Bíblia, de linho trançado seis vezes. Onde se prescreve linho retorcido, deve-se trançá-lo oito vezes. O material da sotaina do sumo sacerdote era trançado doze vezes; o do véu, vinte e quatro vezes; o do peitoral e do efó, vinte e oito (Ex 39,28). Eles faziam na orla inferior da veste bordados em forma de romãs com fios azuis, púrpuras e vermelhos entrelaçados. “E tu farás o racional do juízo, com trabalhos bordados de cores diversas, trabalhado como o efó, de ouro, violeta, púrpura e escarlate duas vezes tingido, e linho fino retorcido” (Ex 28,15). Quatro vezes cada sêxtuplo são vinte e quatro, mais o fio de ouro quatro vezes dá vinte e oito.

“A limpeza está próxima da santidade” — era regra no Templo. O banho frequente de corpo inteiro, a lavagem das mãos e a dos pés que se exigiam antes das cerimônias do Templo e o banho tomado antes da páscoa hebraica prenunciavam o batismo cristão. Porque sem este sacramento não se pode receber a Eucaristia. Quando João Batista veio às margens do Jordão em Gálgala, ali onde os hebreus atravessaram para tomar posse da Terra Prometida, pregando a penitência e batizando ele seguia os ensinamentos do Templo. Seguindo os costumes dos banhos judaicos, o maometano se lava na frente da mesquita antes de entrar na casa para ele tão santa.

Pela manhã, enquanto enormes multidões preenchem os átrios do Templo, e 1.000 sacerdotes e levitas preparam-se para as funções, o sumo sacerdote, uma vez mais, toma um banho, fazendo a oração que citamos. Enquanto o sumo sacerdote sacrifica o cordeiro matinal costumeiro, os sacerdotes e os levitas entoam a liturgia do Templo, os salmos, cânticos e orações. Circundado por doze sacerdotes, tendo à sua mão direita o segan, pronto para substitui-lo caso ele contraísse impureza, e, à sua direita e esquerda, os chefes da “classe” de sacerdotes que estavam a servir na semana, tal como o sacerdote assistente, o diácono e o subdiácono da Missa, com doze outros sacerdotes ao seu redor ele oficiava a cerimônia.

“Pela manhã, ele vestia-se com paramentos de linho de Pelúsio que valiam $ 180; ao entardecer, de linho indiano que custavam não menos de $ 100; eram por vezes ainda mais suntuosos, e eram custeados pelo tesouro do Templo. Mas ele podia usar vestes mais caras ainda, compradas com seus próprios fundos (Yoma, cap. III, 47).

“Depois de encerrado o serviço de culto da assembleia, se o sumo sacerdote tinha um paramento de linho feito por sua mãe às custas dela própria, podia vesti-lo e exercer o serviço para algum particular, mas não para a assembleia, e para remover do Santo dos Santos as colheres para o incenso puro e o incenso mesmo, mas depois de desvesti-lo ele deve doá-lo para a assembleia.

“A mãe do rabi Ismael ben Fabi (ele era riquíssimo, vestia-se na última moda, adornado com rendas de ouro e joias. Apoderava-se de propriedades de viúvas e órfãos. Ele foi um dos juízes do sinédrio, opositor ferrenho de Cristo e, juntamente com os outros, condenou-o à morte), que era o sumo sacerdote, fez para ele um paramento de linho que valia $ 9.000. Ele costumava vesti-lo, oficiar o serviço de culto para particulares e doá-lo mentalmente para a assembleia, mas trazia-o de volta para casa. A mãe do rabi Eliezer ben Harsum fez para ele um paramento que valia 20.000 minas. (Parece difícil de acreditar nisso, porque se o paramento anterior custava $ 9.000, ou seja, 100 minas, quanto tinha custado este? Mas citamos as assertivas tais como as encontramos no Talmude, no tratado Yoma). Os sacerdotes, seus confrades, não deixavam que ele o vestisse, já que neste paramento ele parecia estar nu, de tão delicada era a sua textura.”

Se os sacerdotes do Templo de Jehová se paramentavam com vestes de culto tão esplêndidas e suntuosas quando sacrificavam animais para prenunciar a Vítima da cruz, quão formosos e impecáveis não deviam ser os nossos paramentos quando imolamos na Missa o verdadeiro Cordeiro de Deus!

“O sumo sacerdote Ben Katin fez doze torneiras para a bacia das abluções, que só tinha duas. Fez também um mecanismo que descia a bacia para dentro do poço à vontade, para que sua água não ficasse imprópria por ter sido conservada de um dia para o outro. O rei Monobas fez de ouro todas as alças dos utensílios utilizados no dia da expiação. Helena, sua mãe, fez o candelabro de ouro sobre a porta do Templo. Fez, igualmente, uma tabuleta de ouro, na qual estava inscrita a seção sobre a mulher que é apartada” (Nm 5,12)

Essa rainha Helena, convertida ao judaísmo, seguia meticulosamente seus princípios, fez o voto de nazireato três vezes e praticou-o por vinte e um anos. Os sepulcros da família dela, chamados de “os Sepulcros dos Reis”, são exibidos hoje no norte de Jerusalém. São amplérrimos, tratando-se de aposentos escavados na pedra bruta a norte do que já foi uma funda pedreira. Os degraus que descem até ali foram talhados de modo que a água da chuva é transportada para dentro de cisternas sob a rocha ao sul. A entrada para os sepulcros era fechada por uma pedra chata e redonda, como a pedra que cerrou a entrada do sepulcro de Cristo.

“O sumo sacerdote se banhava. Ao sair, ele se enxugava com uma esponja, eram-lhe trazidos os seus paramentos de tecido de ouro, que ele vestia, e então lavava uma vez mais as mãos e os pés. Traziam-lhe o sacrifício cotidiano, o cordeiro imolado de manhã e de tarde, às nove da manhã e às três da tarde. Ele degolava o cordeiro, e outro sacerdote terminava o sacrifício na presença dele.

“Ele recolhia o sangue, aspergia-o sobre as córnuas do grande altar. Entrava no Santo e ali queimava o incenso, preparava as sete lâmpadas do candelabro de ouro, e ao sair ele fazia o oferecimento da cabeça e dos membros do cordeiro, das coisas nas frigideiras e do pão e vinho.

“Neste dia havia cinco serviços cultuais: o sacrifício matutino diário, com paramentos de tecido de ouro; o serviço daquele dia, com paramentos de linho; o carneiro dele e o carneiro do povo, com
paramentos de tecido de ouro; a colher e o turíbulo, com paramentos de linho; e as oferendas cotidianas, com tecido de ouro. Entre um e outro serviço ele precisava trocar de paramentos, e mergulhar fundo na fonte, lavando as mãos e os pés antes e depois do banho, conforme as palavras do Senhor a Moisés referentes a seu irmão Aarão (Lv 16,23.24,etc. Ver tratado Yoma, p. 45, para os detalhes, etc).

“Ele fazia uma incisão na garganta da vítima seguinte. De que extensão? Diz Ula: da maior parte da traqueia-artéria e da goela. Abyi dispôs em ordem os serviços, em conformidade com uma tradição que ele tinha, e esta concorda com a de Abu Saul. O primeiro grande arranjo de lenha precede o segundo arranjo de lenha na extremidade sudoeste do altar, como será explicado no tratado Tamid. Isso precedia as duas medidas de lenha, e estas precediam a remoção das cinzas do altar de dentro, e esta precedia a preparação das cinco lâmpadas. Esta precedia a aspersão do sangue do sacrifício matutino cotidiano, e isto precedia a preparação das duas lâmpadas, e esta precedia a queima do incenso, a qual vinha antes da combustão dos membros, o que vinha antes da oferenda de farinha, e esta vinha antes das coisas assadas na frigideira. Isto precedia a oferenda de libações (o pão e vinho), e esta precedia os sacrifícios adicionais para o shabat ou festividade, e estes vinham antes das colheradas de incenso puro. Da palavra hashlamin (‘sacrifícios pacíficos’) pode-se inferir que estes completam o serviço deste dia.”

Agora eles conduzem o novilho para o átrio dos sacerdotes fazendo face ao corpo dele de norte a sul, e quando ele fica de pé a norte do grande altar eles viram o rosto do animal para o ocidente. Porque assim Cristo, na cruz, voltou a sua face, desviando-o da cidade que o matou, para olhar para as nações ocidentais que, mais tarde, acolheriam o seu Evangelho. O sumo sacerdote ficava de pé defronte ao oriente, com o rosto voltado para o ocidente. Ele impunha suas duas mãos, com as palmas viradas para baixo e os polegares formando uma cruz, sobre a cabeça da vítima entre os chifres.

“Sobre este sacrifício pelo pecado ele confessava os pecados pelos quais esta vítima pelo pecado tinha sido trazida; sobre o sacrifício pela transgressão, os pecados correspondentes a esta; e sobre uma oferta queimada, os pecados de impedir que os pobres se reúnam, de se esquecer dos pobres e de não deixar sobras” (Lv 19,9.10)

“Ele punha suas duas mãos sobre ele e confessava seus pecados com as palavras seguintes:

‘Suplico-Te, ó Jehová, eu cometi iniquidades, transgredi e pequei diante de Ti, eu e minha casa. Suplico-Te, ó Jehová, perdoa, eu imploro, as iniquidades, as transgressões e os pecados que cometi, que transgredi diante de Ti, eu e minha casa, como está escrito na Lei de Moisés teu servo: «Neste dia se fará a vossa expiação e a purificação de todos os vossos pecados, para que sejais purificados de todos os vossos pecados».’” (Lv 16,30; Yoma VI, 9)

Com grande clamor a assembleia toda responde:

“Bendito seja o nome da glória do Seu reino para sempre.”

A ganância por dinheiro os possuía. Famílias tinham monopólios dos encargos do Templo, que lhes traziam vultosas rendas, e não contavam de jeito nenhum os segredos de seus ofícios.

“E a memória dos seguintes foi mencionada com censura: os da casa de Garmo, eles se recusavam a ensinar a arte de fazer os pães da apresentação (o pão da proposição, que prefigurava a hóstia ou pão do altar); os da casa de Abtinas, que não queriam ensinar a arte de preparar o incenso; Hogros ben Levi, que conhecia um bocado de música, na qual não se dispunha a instruir os outros. Ben Kamstar não queria ensinar a arte de escrever.

“A casa de Garmo era perita em fazer os pães da apresentação. Os sábios mandaram buscar trabalhadores de Alexandria, e estes conseguiam assá-lo bem, mas não conseguiam tirá-lo do forno, porque quebrava. Eles esquentavam o forno desde fora, enquanto a casa de Garmo aquecia-o desde dentro. Os pães da apresentação dos padeiros alexandrinos costumavam ficar mofados, e os daquela família nunca ficavam assim. Então a beit Garmo teve de ser convidada a retomar seu posto. Os sábios perguntaram-lhes: ‘Por que não quereis saber de instruir os outros?’ ‘Nossa família conhece por tradição que este Templo cairá um dia, e então, se o tivermos ensinado a uma pessoa imprópria, esta poderá servi-lo aos ídolos’.” “A casa de Abtinas era perita na preparação do incenso, e seus membros se recusavam a ensinar como faziam. Os sábios mandaram buscar trabalhadores de Alexandria, e estes conseguiam preparar o incenso, mas não conseguiam fazê-lo de um jeito que o fumo subisse. Rabi Ismael disse: ‘Certa vez, estando eu na estrada, encontrei um dos netos deles e lhe disse: «Os vossos ancestrais quiseram aumentar sua própria glória, e diminuir a do Senhor.»’ Rabi Ismael ben Luga disse: ‘Eu e um dos netos deles saímos para os campos, para recolher capim, e ele chorou, dizendo: «Vejo as ervas que costumávamos pôr no incenso para fazê-lo fumegar.» «Mostra para mim.» «Fizemos um juramento de não mostrar isso a ninguém.»’ Rabi Johanan ben Nuri encontrou um ancião da família de Abtinas com um pergaminho, no qual havia uma lista com o nome das especiarias usadas para o incenso. Eu disse: «Mostra para mim.» «Enquanto nossa família vivia, não mostraram isso a homem nenhum. Mas agora que morreram todos, e que o Templo não existe mais, posso entregá-la a ti, mas toma cuidado com ela»” (Yoma, cap. III, 53-55)

“Agora o sumo sacerdote vai até a frente do altar, e um sacerdote apresenta-lhe o estojo de ouro dentro do qual estão as ‘sortes’, numa das quais está escrito: ‘Para Jehová’, e na outra: ‘Para Azazel’ (Azazel significa “onipotente Elof, o Pai Eterno; pois Cristo, prefigurado pelo bode expiatório, ofereceu-se a si mesmo na cruz a seu Pai, com os pecados da humanidade sobre si). O segan está à sua direita, e o chefe da família de sacerdotes servindo naquela semana, à sua esquerda. Se a de Jehová for tirada pela mão direita dele, o segan lhe diz: ‘Meu senhor sumo sacerdote, levanta a tua mão direita’. Se a de Jehová for tirada pela mão esquerda dele, o chefe da família diz: ‘Meu senhor sumo sacerdote, levanta a tua mão esquerda’. Ele punha as sortes sobre os dois bodes, dizendo: ‘Para Jehová, um sacrifício pelo pecado’; ‘Para Azazel, o bode expiatório’. A assembleia toda respondia com voz forte: ‘Bendito seja o nome da glória do Seu Reino para sempre’.

“O segan andava sempre à mão direita do pontífice ou aí permanecia, para que, se este se tornasse inapto para o serviço, ele assumisse o seu posto. Ele rasgava em duas a fita de pano escarlate, atava metade ao pescoço — e uma lingueta de lã escarlate à cabeça — do bode que devia ser mandado embora, o bode expiatório, e punha-o defronte à porta através da qual devia ser conduzido; e o que ia ser sacrificado, defronte ao lugar de sua imolação.”

Antigamente, a fita de lã escarlate ficava branca, como sinal de que Deus tinha perdoado os pecados deles; a lâmpada ocidental ardia sempre, e aconteciam milagres notáveis, mostrando que os sacrifícios deles eram aceitos.

“Ensinaram os rabis: Quarenta anos antes de o Templo ser destruído, a sorte nunca saía na mão direita, a fita de lã não ficava branca, o lume ocidental não ardia, as portas do Templo se abriam sozinhas, até o tempo em que o rabi Johanan ben Zaki increpou-os, dizendo: ‘Templo, Templo, por que nos alarmas? Nós sabemos que estás destinado a ser destruído. Pois de ti profetizou Zacarias ben Ido: «Abre tuas portas, ó Líbano, e deixa que o fogo devore teus cedros».’” (Zc 2, 1; Yoma, IX, 43-39-59. Ver Josefo, Guerr. jud., L. VI, cap. X, n. 3; Antiguid. jud., III, vi, 7; Edersheim, Life of Christ, II, 610)

Esses prodígios sucederam no instante em que Cristo morreu. Então rasgou-se o véu de cima abaixo, o terremoto abalou as duas colunas que sustentavam o véu e rachou as paredes, mortos ressuscitaram e entraram na cidade e no Templo. Deus mostrou que as cerimônias tinham cumprido sua missão de apontar para o Redentor, e que ele já não aceitaria mais as funções da nação deicida. Um outro sacrifício, a Última Ceia — a Missa, realizando todos aqueles, fora instituída na noite anterior, no cenáculo, conforme estava predito:

“Não encontro nenhum prazer em vós, diz o Senhor dos exércitos, e não aceitarei oferenda de vossas mãos. Pois, desde o nascente até onde o sol se põe, o meu nome é grande entre os gentios, e em todo lugar há sacrifício e se oferece ao meu nome uma oblação pura. Pois o meu nome é grande entre os gentios, diz o Senhor dos exércitos.” (Ml 1, 10-11)

“Seis vezes o sumo sacerdote pronunciava o nome Jehová, durante o dia da expiação, três vezes na primeira confissão e três vezes na segunda confissão, e uma sétima vez depois de ter deitado sortes. Ele ia até o touro pela segunda vez, impondo-lhe as mãos e proferindo a confissão com as mesmas palavras citadas na primeira confissão. E todo o Israel respondia tal como anteriormente.”

Começavam então os preparativos para os sacrifícios. Um leigo imolava os animais, pois os leigos romanos crucificaram Cristo entregue pelos sacerdotes.

“Todos os dias ele juntava o incenso raspando-o com uma colher de prata e esvaziava-o numa travessa de ouro, mas neste dia ele usava travessas de ouro. Ele recolhia os carvões em brasa do altar do fogo perpétuo, enchendo uma travessa que continha 3 qab, e despejava-os numa que continha 3 qab. Todos os dias ele enchia uma que continha 1 seah — 6 qab, mas neste dia ele enchia uma de 3 qab. Todos os dias, era uma travessa pesada de ouro amarelo, mas neste dia era uma leve, feita de ouro vermelho, com alça comprida.

“Ele costumava oferecer todos os dias metade de um mina, cinquenta denários em peso de incenso, metade pela manhã e metade de tarde, mas neste dia ele adicionava um punhado extra. No dia a dia, era finamente triturado, mas neste dia era finíssimo (Lv 16,12). No dia a dia, os sacerdotes subiam pela escadaria leste do altar e desciam pela oeste, mas neste dia o sumo sacerdote subia e descia pelo meio. Todo dia o sumo sacerdote lavava as mãos na bacia das abluções, mas neste dia com o jarro dourado, o cyanthus. Todo dia havia quatro fogos no altar, mas neste dia havia cinco.

“Quando o touro era imolado, ele recebia seu sangue numa bacia de ouro e entregava-o a um sacerdote que estava de pé na quarta fileira de degraus de mármore, para ser misturado. Ele tomava o turíbulo, subia até o topo do altar, limpava as brasas de ambas as mãos. Enchendo o turíbulo de brasas incandescentes, ele descia novamente e punha o turíbulo sobre a quarta fileira de pedras no adro.”

Embora haja quinhentos sacerdotes e quinhentos levitas, revestidos dos paramentos do Templo, de pé no átrio dos sacerdotes e diante da porta de Nicanor, ao passo que milhares de pessoas se aglomeram no Templo, o sumo sacerdote sozinho tem de exercer a função religiosa no Santo; não pode haver ninguém com ele, a fim de prefigurar que os apóstolos fugiram, quando Jesus sofreu sozinho sua Paixão, na expiação que ele fez, quando abriu para a humanidade o Santo dos Santos do Céu.

“Eles trouxeram-lhe o turíbulo e a colher de ouro; ele pegou duas mancheias de incenso e encheu a colher. Segurou o turíbulo com a mão direita e a colher com a esquerda.”

Ele está prestes a entrar naquele lugar santíssimo da terra, imagem daquele céu fechado pelo pecado de Adão. Que o celebrante da Missa aprenda a inocência batismal, a pureza de alma e a vida sem pecado exigidas para entrar no santuário, a fim de oferecer orações e de sacrificar o Cordeiro de Deus, com o seguinte:

“Aconteceu certa vez, no dia da expiação, que o sumo sacerdote conversou em praça pública com um árabe cuja saliva espirrou nos paramentos do sumo sacerdote. Ele ficou impuro; esse sumo sacerdote era o rabi Israel, filho de Qim’hith. Então seu irmão Jeshohab entrou e assumiu o seu lugar, de modo que a mãe dele viu dois filhos seus como sumos sacerdotes no mesmo dia. Num outro dia, o sumo sacerdote falava com um nobre gentio, deu-se o mesmo, e então seu irmão José assumiu o seu lugar (Yoma, IV, 69-70).

“Ele dobrava seus três dedos do meio sobre a palma da mão e, com o dedo mínimo e o polegar, removia o incenso que se encontrava do lado de fora dos três, um dos serviços mais difíceis no Templo. Ele segurava o cabo da colher com a ponta dos dedos e ia subindo pelo cabo com os seus polegares, conseguindo assim não derramar o incenso puro até que o cabo se achasse perto de suas axilas e o topo da colher estivesse acima das palmas de suas mãos. Ele virava então a colher, esvaziando assim em suas mãos o incenso puro, formava uma pilha de incenso puro dentro do turíbulo e o espalhava em cima dos carvões em brasa.

“Ele atravessa andando o Templo, segurando na mão direita o turíbulo pendurado nas correntes, até chegar ao local entre os dois véus que separam do lugar santo o Santo dos Santos — de uma vara de largura.”

Eles não sabiam se o véu do Templo de Salomão ficava do lado de dentro ou do lado de fora da parede que dividia o Santo, do Santo dos Santos, por isso, no segundo Templo, eles puseram dois véus, um no interior, outro no exterior da parede divisória; o espaço entre os dois véus sendo chamado debir.

“O que ficava do lado exterior era levantado e voltava-se para a parede sul, e o interno para a norte. Ele caminhava entre eles até chegar à parede norte, onde virava o rosto para o sul, andava de volta tendo o véu à sua mão esquerda e chegava até a arca, que estava à sua direita dentro do Santo dos Santos. Ali chegando, ele punha o turíbulo entre as varas e amontoava o incenso em cima das brasas, de modo que todo o recinto fosse preenchido pelo fumo do incenso. Ele saía do mesmo jeito que tinha vindo, andando para trás com o rosto voltado para o Santo dos Santos, e recitava uma breve oração no Santo, mas sem alongá-la, para não alarmar os israelitas com sua demora, senão pensariam que ele tinha sido morto por Deus” (Yoma, IV, 73).

Uma corda era amarrada a ele, a fim de que se Deus o fulminasse, pudessem puxar para fora o seu corpo morto, porque ninguém podia entrar jamais naquele aposento de paredes de ouro, com sua tênue luz religiosa, onde outrora Deus, Shekiná, o Espírito Santo, habitou sozinho, a exprimir de maneira visível que não havia nenhum membro do gênero humano no céu.

“A arca, com a taça de maná (Ex 16,33), o frasco de óleo para ungir os sacerdotes e os reis, o bastão de Aarão com suas amêndoas e botões, e a caixa que os filisteus enviaram como presente ao Deus de Israel com os vasos de ouro, não estavam no Santo dos Santos” (Dt 28; Ecl 35)

Durante o reinado de Salomão, Israel violou a aliança que seus pais fizeram com Deus, pela qual haviam concordado em adorar somente a Ele, e prestaram culto aos ídolos das mulheres do rei Salomão no monte do Escândalo, onde ele construiu templos para elas. No tempo dos profetas, eles adoraram ídolos no próprio Templo de Jehová (Ez 6). Deus guiou o profeta Jeremias, e este tomou a arca da aliança junto com seus grandes querubins alados, o propiciatório de Deus, e escondeu-os numa caverna no monte Nebo, onde Moisés morreu e foi sepultado. Nunca conseguiram achar o lugar, e ali estão ainda, onde permanecerão até que Israel volte para o Messias que seus pais mataram (2Mc 2) quando gritaram: “Crucifica-o”. O Templo magnífico que Herodes passou quarenta e seis anos construindo não estava totalmente terminado quando Cristo adorou ao Pai Eterno em seus átrios sagrados. Seu Santo dos Santos estava vazio. A Shekiná não habitava ali. A nação tinha caído do estado de graça sobrenatural dos dias de Moisés e dos profetas. Escribas, fariseus, rabinos e o infiel sacerdócio saduceu os tinham enganado. Mas eles viviam na esperança do Messias que estava predito visitaria esse Templo (Ml 3,1).

“Quando a arca foi levada, havia ali uma pedra do tempo dos primeiros profetas, a shetiá (‘fundação’), três dedos acima do chão. Ali em cima ele colocava o turíbulo. Ao sair, ele tomava do sangue, com quem o tinha misturado, voltava e parava, ali onde parara dentro do Santo dos Santos, e aspergia de sua posição uma vez para cima e sete vezes para baixo, mantendo aberta a palma da mão, contando uma para cima e uma para baixo (Lv 16,14), uma e duas, uma e três, uma e quatro, uma e cinco, uma e seis, uma e sete.

“Fazendo uma profunda reverência, ele se afastava para trás e punha a bacia sobre o suporte de ouro no Templo. Eles traziam-lhe o bode. Depois de imolado, ele recebia seu sangue numa bacia, ia para o lugar anterior, parando onde tinha parado, e aspergia uma vez para cima e sete vezes para baixo, mantendo aberta a palma da mão e contando uma, uma e duas, etc. Ele saía e punha a bacia sobre o segundo suporte que havia no Templo. Pegava o sangue do touro e depunha o sangue do bode. Ele aspergia o sangue do primeiro, no véu que ficava defronte à arca do lado de fora, uma vez para cima e sete vezes para baixo, assim contando ele erguia a bacia cheia de sangue do bode e depunha a que continha o sangue do touro, aspergia aquele, no véu defronte à arca do lado de fora, uma vez para cima e sete vezes para baixo. Ele esvaziava no sangue do bode o sangue do touro, misturando-os, e transferia o conteúdo para dentro da bacia vazia” (Yoma, IX, 76, 77, 79, 81)

No sentido místico, aquele que aspergia de cima para baixo prenunciava o Filho de Deus na sua única Personalidade descendo do céu e se fazendo homem, as sete aspersões mostravam-no repleto dos sete dons do Espírito Santo (Is 2, 1.2.3), derramando o seu sangue sobre a terra e mostrando-o ao seu Pai Eterno no santuário excelso do céu. A mistura do sangue do touro com o do bode tipificava a dupla natureza dele na única Pessoa do Divino Filho, Deus e homem unidos. A arca mencionada era a arca chamada Aron, dentro da qual se conservavam os rolos da Lei, assim no Templo como na sinagoga. O sangue era aspergido na direção da arca, prenunciando que a sinagoga mais tarde mataria Cristo.

“Quando ele aspergia em direção do véu, ele aspergia não em cima deste, mas defronte a este, de modo que o sangue caísse no chão. Rabi Eliezer ben José disse: ‘Eu vi o véu em Roma com as marcas do sangue do touro e do bode do dia da expiação’. Depois ele entrava no Santo, pelo qual tinha passado todas as vezes que entrara no Santo dos Santos.

“Ele saía então até o altar que se encontra diante do Senhor, que é o altar de ouro, e começava a limpá-lo de cima para baixo. Por onde ele começa? Da ponta ou córnua nordeste para a noroeste, para a sudoeste e para a sudeste, naquele ponto em que ele começa a limpeza do altar exterior é onde ele termina de limpar o altar interior. Em todo lugar ele aspergia de baixo para cima, exceto no ponto onde ele estava, em que ele aspergia de cima para baixo.

“Ele aspergia sobre a clareira do altar onde se via o ouro, sete vezes; o que sobrava do sangue ele derramava na base ocidental do altar externo, e o que restava do sangue do altar externo ele derramava na base sul. Os dois tipos de sangue mesclavam-se na vala e escoavam para a torrente do Cedron.

“Verifica-se com respeito a todos os ritos do dia da expiação, cuja ordem é prescrita pela Bíblia e declarada nas mishnás acima, que se forem praticados na ordem errada, nada se fez; mas quanto às cerimônias praticadas com paramentos brancos do lado de fora, isto é, as sortes, o esvaziamento do sangue remanescente ou as confissões, é verdade que se ele as fez fora de ordem, são válidas. ‘E esta será para vós uma ordenação perpétua, de rezar pelos filhos de Israel e por todos os seus pecados, uma vez por ano.’ (Lv 16,34; Yoma, IV, 82-84)

“Os dois bodes para o dia da expiação devem ser iguais em cor, tamanho e preço, e ambos comprados ao mesmo tempo. Se um deles morrer antes de serem lançadas sortes, compra-se outro para compor o par; se depois das sortes morrer um, compra-se outro par, e as sortes são tiradas novamente, o que pertence ao primeiro par sendo deixado pastando até contrair nódoa, e então é vendido, e o dinheiro se torna em donativo, porque não se abate um animal designado a expiar pela congregação” (Yoma, VI, 87)

Os dois bodes ficam agora diante do altar, à vista daquela vasta assembleia de hebreus de todas as nações. O sumo sacerdote aproxima-se do bode expiatório, estende as mãos sobre sua cabeça entre os chifres e confessa os seus pecados e os pecados de todo o povo, usando as palavras que citamos por ocasião do novilho, concluindo com:

“Pois naquele dia fará ele expiação por vós, para que fiqueis limpos de todos os vossos pecados diante de Jehová” (Yoma, VI, 9)

“E os sacerdotes e o povo que estavam nos átrios dianteiros, ao ouvirem o nome de Deus, ou seja, Jehová, sendo pronunciado pela boca do sumo sacerdote, tinham por hábito ajoelhar-se, prostrar-se, deitar de rosto no chão e dizer: ‘Bendito seja o nome da glória de Seu Reino para todo o sempre’.

“Eles entregavam o bode expiatório ao homem pagão que devia ser o seu condutor. Qualquer um estava apto a executar esta função. Aos israelitas, porém, não lhes era permitido fazê-lo. Uma passarela elevada tinha sido construída para o bode, porque os judeus alexandrinos e babilônicos tinham o hábito de puxá-lo pelos pelos, dizendo: “Toma os pecados. Toma e vai” (Yoma, XL, 94)

Ali plantado sobre o alto estrado estava o bode expiatório, com os pecados de Israel sobre si, a prefigurar Cristo entregue ao pagão Pilatos, quando Jesus ficou de pé sobre o alto estrado do pretório: o verdadeiro Bode Expiatório, entregue à morte com os pecados da humanidade sobre si, pelos sacerdotes do Templo ao bradarem: “Crucifica-o”.

“Mesmo que o condutor fique impuro, pode entrar no Templo e levar o bode”, para prenunciar que Pilatos não foi tão culpado da morte de Cristo quanto os membros da corte suprema que sentenciaram à cruz o Salvador.

“Com brados e imprecações, as vastas multidões seguiam o bode, levado pelo condutor pagão através da porta Susan, cruzando a ponte arqueada construída sobre o Cedron pelo sumo sacerdote.”

Era a mesmíssima ponte através da qual conduziram Cristo na noite em que foi preso. Mais tarde, a multidão seguiu-O descendo pela Via Dolorosa, saindo pela porta e subindo a colina do Calvário, naquela fatídica Sexta-Feira da Crucificação.

“Alguns dos homens proeminentes de Jerusalém soíam acompanhar o bode até a primeira das dez barracas supridas com refrescos para o condutor. Havia dez barracas entre Jerusalém e Tsuk (“o rochedo”), seu destino, uma distância de noventa ris (dezenove quilômetros). A cada barraca, eles diziam ao condutor: ‘Está aqui a comida e aqui a água.’ E as pessoas da barraca acompanhavam-no de barraca em barraca, exceto até à última delas, pois até o rochedo eles não iam, mas ficavam à distância, observando o que ele, o condutor, fazia com o bode.”

Os judeus não pregaram Cristo na cruz, mas ficaram observando enquanto os romanos crucificavam-nO. O condutor prefigurava Pilatos e os soldados romanos, enquanto a multidão observando o bode à distância profetizava os príncipes dos judeus, o sumo sacerdote e os levitas ao redor do Calvário, sem poderem juntar-se às fileiras romanas, enquanto o Filho de Deus era sacrificado.

“O condutor dividia a lã escarlate que estava amarrada entre os chifres dele”, pois eles dividiram as vestes púrpura que o Senhor usava entre eles. “Uma metade ele amarrava ao rochedo, e a segunda metade, entre os chifres do bode”, como Davi predisse de Cristo: “Eles repartem os meus vestidos entre si” (Sl 21,19)

“Ele empurrava-o para trás até cair lá embaixo. Ele ia rolando e caindo, não tendo chegado ainda à metade da montanha quando já estava todo destroçado.” (Yoma, VI, 92)

Ensanguentado, lacerado, mutilado, esmagado nas rochas lá embaixo jaz a vítima sem pecado, com os pecados de Israel sobre si, imagem impressionante do corpo ensanguentado de Cristo morto com os pecados de toda a humanidade sobre Ele.

“O condutor voltava para a última barraca, sob a qual ficava sentado até escurecer”, imagem de Pilatos em seu palácio, depois que a sua sentença de morte contra o Cristo tinha sido executada. Antes da morte de Cristo, todo ano a fita escarlate, sobre o rochedo e no Templo, ficava branca em seguida à morte do bode, e mensageiros ligeiros voltavam correndo à cidade, para contar ao povo a notícia alvissareira. Mas depois da Crucificação a fita não mudou mais. Os autores judeus tentam variadas maneiras de explicar o motivo.

“Outrora a lingueta de lã escarlate era amarrada à porta do vestíbulo do Templo, do lado de fora, para que todos pudessem vê-la. Quando ficava branca, todos se rejubilavam. Quando não ficava branca, todos perdiam o ânimo e se envergonhavam. Aí então, isso foi mudado, de forma que passou a ser amarrada à porta do vestíbulo, mas do lado de dentro. Mesmo então, eles ainda iam verificá-la. Isso foi reformulado, pois, de modo que metade devia ser amarrada ao rochedo, a outra metade aos chifres. Eles tinham ainda outro sinal. Uma lingueta de lã costumava ser amarrada à porta do Templo, e, quando o bode chegava ao deserto, a lã ficava branca por milagre, como está dito: ‘Ainda que os teus pecados sejam como escarlate, tornar-se-ão brancos como a neve, e ainda que sejam vermelhos como púrpura ou carmesim, ficarão brancos como a lã’ (Is 1, 18; Yoma, VI, 95-97)

Assim que os corredores traziam ao Templo a notícia de que o bode tinha sido morto, eles davam início aos serviços religiosos matutinos, a imagem de uma Missa solene pontifical que descrevemos numa obra anterior (A Tragédia do Calvário, capítulo VIII). O sumo sacerdote reveste-se de seus magníficos paramentos. Seu segan, como sacerdote assistente, fica de pé à sua direita, seus doze sacerdotes, imagem dos doze filhos de Jacó, pais das doze tribos hebreias, alinham-se, seis de cada lado do pontífice, assim como durante as cerimônias da manhã e da tarde de cada dia. Era este o número de sacerdotes assistentes em todas as cerimônias do Templo, e foi por essa razão que Cristo escolheu apóstolos em número de doze.

Quinhentos sacerdotes paramentados e igual número de levitas tomavam parte nas funções. Primeiro o sacerdote escolhido por “sortes”, servido por dois sacerdotes, tal como o diácono e o subdiácono da Missa solene, entravam no Santo e incensavam o altar de ouro, assim como nós agora incensamos o altar, no começo da Missa. Então o cordeiro é sacrificado, seu sangue jogado nas córnuas do altar em forma de cruz e sua carne posta para queimar no fogo perpétuo que arde sobre o grande altar dos holocaustos.

Diante da entrada do Santo ficava uma arca ornamental, chamada Aron, dentro da qual repousavam os cinco primeiros livros do Antigo Testamento. Com o cerimonial que citaremos quando formos descrever a sinagoga, os rolos santos são retirados dali em meio a orações, cantos e hinos.

“O sumo sacerdote vinha fazer a leitura. Se ele desejasse ler usando paramentos de bisso branco ou de linho, assim fazia, do contrário, lia usando uma estola branca que pertencia a ele próprio. O hazan (“servidor” ou “funcionário” da assembleia) tira da arca os rolos da Lei e apresenta-os ao presidente da assembleia, entrega-os ao segan, e este último apresenta-os ao sumo sacerdote” (Yoma, cap. XII, 98)

Esta cerimônia, com pouquíssimas modificações, se vê quando o Evangelho é cantado em Missa solene. Quando o bispo pontifica, porém, é cuidadosamente observada. O coroinha ou um clérigo entrega o Missal ao subdiácono, que lê aí a Epístola, após o que o entrega ao diácono, que o depõe sobre o altar tal como eram postos os rolos na arca, e se ajoelha em oração. Ele toma-o em mãos e, ajoelhando-se, apresenta-o ao celebrante, que lhe dá a bênção. O livro é transportado pelo diácono, indo o clero à sua frente até chegarem ao local onde o Evangelho é cantado. Os judeus, nas suas sinagogas de hoje em dia, transportam os rolos da Lei com as mesmas cerimônias.

“O sumo sacerdote se levanta e recebe de pé os rolos. Ele lê a seção: (O celebrante na Missa solene, de pé diante do altar, toca no Missal que está nas mãos do diácono ajoelhado.) ‘Depois da morte dos dois filhos de Aarão, quando eles foram mortos por oferecerem fogo estranho’, etc. (Lv 16), e a seção: ‘No décimo dia deste sétimo mês será o dia da expiação’, etc (Lv 16, 29.30.31.32). Aí então, ele enrola juntos os rolos, e mantém-nos sobre os joelhos, e diz: ‘Mais do que vos li está escrito aqui’.

“A seção ‘No décimo dia’, etc., ele lê de cor e, com essa ocasião, pronuncia as oito bênçãos, a saber: sobre a Lei, sobre o culto, sobre as ações de graças, a expiação da iniquidade, o Templo por si mesmo, Israel por si mesmos, Jerusalém por si mesma, os sacerdotes por si mesmos e o restante das orações. Quem vê o sumo sacerdote lendo não testemunha a combustão do novilho e do bode, não porque não fosse permitido, mas porque se interpunha uma grande distância, e as duas coisas eram feitas ao mesmo tempo.”

O Templo, com seus grandes pórticos, seus átrios a céu aberto, seus saguões, compartimentos e aposentos, cobria uma área de mais de 90 metros quadrados. Talvez tenha sido o mais vasto edifício religioso jamais construído, e ficava tão apinhado de gente que nem todos conseguiam ver todos os serviços do culto.

“Se ele fazia a leitura vestindo trajes de linho, ele lavava as mãos e os pés, despia-se e descia para banhar-se, saía e se secava com uma esponja. Paramentos de tecido de ouro eram-lhe trazidos, ele os vestia, lavava as mãos e os pés; ele saía e executava os ritos sobre o carneiro dele, sobre o carneiro do povo e os sete cordeiros sem defeito com um ano de idade. Eram ofertados junto com o sacrifício cotidiano da manhã, ao passo que o novilho para a oferta queimada e o bode utilizado fora do Templo eram ofertados com o sacrifício cotidiano da tarde” (Yoma, XII, 102)

“Ele lavava as mãos e os pés, despia-se, descia para banhar- se, subia e se secava. Paramentos brancos eram-lhe trazidos, ele os vestia, lavava as mãos e os pés e entrava para buscar a colher e o turíbulo. Lavava de novo as mãos e os pés, despia-se, descia para banhar-se, saía e se secava. Paramentos de tecido de ouro eram-lhe trazidos, ele os vestia, lavava as mãos e os pés e entrava para queimar o incenso da tarde e para preparar as lâmpadas. Aí então ele lavava as mãos e os pés, desvestia seus paramentos, vestia suas próprias roupas, que lhe tinham sido trazidas, e era acompanhado até sua casa. Ele costumava observar o dia como feriado junto dos amigos, depois que ele saía incólume do Santo dos Santos.

“Sabemos pela tradição que o sumo sacerdote se banhava cinco vezes e que dez vezes ele lavava as mãos e os pés. Quando o condutor do bode expiatório voltava, caso encontrasse o sumo sacerdote na rua, dizia a ele: ‘Meu senhor sumo sacerdote, nós nos desincumbimos dos encargos d’Aquele que dá vida a todos os viventes. Que Aquele que dá vida a todos os viventes te dê uma vida longa, boa, ordeira e pacífica’.”

O que significava todo esse complexo cerimonial do destruído Templo de Jehová? Apontava para o futuro, para a expiação pela Cruz, para a entrada, no céu dos céus, do Cristo Bode Expiatório carregando sobre si os pecados do mundo, primeiro depois de seu sacrifício da Última Ceia e da cruz, e sua entrada novamente depois de toda Missa.

Este mundo, e tudo nele, repercute os espíritos que não se veem e a morada de gozo acima dos céus, onde o Eterno habita em sua glória. Quando o sacerdote reza Missa ou quando pontifica o bispo, como sumo sacerdote da Igreja mais jovem e mais perfeita, rodeado de seus ministros, paramentado de púrpura, de ouro e de linho fino, oferecendo em sacrifício não vítimas cruentas, mas o “Cordeiro de Deus imolado desde as fundações do mundo” (Ap 13,8), nós olhamos para além do véu desse cerimonial magnífico e formamos uma imagem daquele santuário celeste, que se nos mostra dessa maneira nas formas visíveis. São Paulo alude magistralmente ao dia da expiação, mostrando que suas cerimônias prefiguravam Cristo para o judeu e agora o comemoram para os cristãos.

“Pois foi construído o primeiro tabernáculo, no qual estavam o candelabro, a mesa e os pães da proposição, o qual se chama o Santo. E por detrás do segundo véu, o tabernáculo que se chama o Santo dos Santos. Continha o turíbulo de ouro, e a arca da aliança, coberta de ouro por todas as partes, na qual estavam a urna de ouro que continha o maná, o bastão de Aarão que tinha florescido e as tábuas do Testamento. E sobre a arca estavam os querubins (“os retidos com firmeza” ou “firmemente aderidos”) da glória, cobrindo com a sua sombra o propiciatório, sobre o que, não há necessidade de falar agora particularizadamente.

“Ora, estando estas coisas assim dispostas, no primeiro tabernáculo o sacerdote entrava de fato a todo instante, oficiando as funções dos sacrifícios. No segundo, porém, entrava uma vez por ano só o sumo sacerdote, não sem sangue, que ele oferecia em reparação da ignorância dele próprio e do povo; o Espírito Santo significava, com isso, que o caminho para adentrar o santuário ainda não se tinha franqueado, enquanto o primeiro tabernáculo permanecia ainda de pé, o que é figura do tempo então presente, quando se oferecem dons e sacrifícios que não logram tornar perfeito segundo a consciência o oferente do culto, cujo ministério toca somente a comidas, e bebidas, e diversas abluções, e justificações da carne impostas a eles até o tempo da correção.

“Mas uma vez Cristo presente, sumo sacerdote dos bens vindouros, através de um tabernáculo mais grandioso e mais perfeito, não feito com as mãos, isto é, não desta criação, e não com sangue de bodes e de bezerros, mas com o seu próprio sangue entrou uma vez por todas no santuário, tendo obtido uma eterna redenção.

“Porque se o sangue de bodes, e de touros, e as cinzas duma novilha, sendo aspergidos, santificam os que estão impuros, purificando a sua carne, quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito Santo se ofereceu a si mesmo sem mácula a Deus, não purificará a nossa consciência das obras mortas para servir ao Deus vivo?

“E por isso ele é o Mediador do Novo Testamento, para que por meio de sua morte, para redenção daquelas transgressões que havia sob o Antigo Testamento, os que foram chamados recebam a promessa da herança eterna. Porque, onde há testamento (ou seja, um instrumento que distribui propriedade depois da morte), é necessário que intervenha a morte do testador. Porque o testamento só produz o seu efeito em caso de morte, não tendo força enquanto vive o testador. Por isso nem mesmo o primeiro testamento foi consagrado sem sangue.

“Pois assim que todos os preceitos da Lei foram lidos por Moisés a todo o povo, ele tomou o sangue dos bezerros e dos bodes, com água, e com lã tinta de escarlate, e com hissopo, e aspergiu o livro mesmo e todo o povo, dizendo: ‘Este é o sangue do Testamento que Deus ordenou para vós.’ O tabernáculo também, e todos os vasos do ministério, de igual maneira ele aspergiu com sangue. E quase todas as coisas, segundo a Lei, se purificam com sangue, e sem efusão de sangue não há remissão.

“É, pois, necessário que as figuras das coisas celestiais fossem purificadas com essas coisas, mas que as coisas celestiais mesmas o fossem por meio de uma vítima melhor do que estas. Porque Jesus não entrou em Santuários feitos por mão de homem, figuras do verdadeiro, mas entrou no mesmo céu, para se apresentar agora em presença de Deus por nós.” (Hb 9)

Olhemos para além do cerimonial do Templo e da Missa, para aquele santuário celestial onde Deus reina em glória, em meio aos milhões de santos adquiridos com seu sangue. O presbitério das igrejas, copiado do Santo dos Santos do Templo, agora já não tem véu algum. O grande véu que cerrava o Santo dos Santos foi rasgado de cima abaixo, no instante em que Cristo morreu, para significar como ele, com sua morte, abriu o céu. O sumo sacerdote judaico, naquele dia no Santo dos Santos, estendendo as mãos pingando sangue, com os braços e o corpo formando uma cruz, prefigurava nosso Sumo Sacerdote Jesus no Santo dos Santos celeste, estendendo suas ensanguentadas mãos trespassadas diante do trono de seu Pai Eterno, oferecendo ali as Missas rezadas por todos os seus ministros na terra.

Pois o agente vincula aquele que o envia para agir em seu nome. Os ministros vinculam os governos que os enviam como representantes seus. Na ordenação, o sacerdote recebe o poder de agir em nome de Cristo no negócio da salvação das almas e do oferecimento do sacrifício. De pé diante do altar, sentando-se no confessionário, administrando os sacramentos, Cristo opera junto com o sacerdote e por intermédio deste. O sacerdote pode ser douto ou inculto, bom ou ruim, refinado ou bruto, simples ou elegante, mas a Missa e os sacramentos são os mesmos, porque, por meio dele, é o Pontífice da humanidade quem faz todas essas coisas, tal como se Ele próprio exercesse visivelmente a função religiosa (S. Agostinho, Tract VI in John).

Vejamos agora nosso Sumo Sacerdote no céu e a Liturgia daquela Igreja celestial, de que a do Templo era, e a nossa é, a imagem. João, nascido da família de Aarão, sacerdote do Templo e o mais amado dos doze, tão bem quisto que deitou a cabeça sobre o peito de Jesus, João foi salvo do martírio por milagre, e exilado para Patmos pelo cruel imperador Domiciano. Ao passar por ali o navio a vapor, tu vês aquela ilha rochosa, sombria, árida, deserta, erguendo-se do mar Egeu. Narra-nos ele ter visto o Santuário celeste que serviu de molde aos edifícios do Templo e da Igreja.

Em imagens e formas sensíveis, o último dos apóstolos contemplou a visão, mas muito aquém da realidade do mundo espiritual:

“O olho não viu, nem o ouvido ouviu, nem jamais passou pelo coração do homem tudo o que Deus preparou para aqueles que o amam” (1Cor 2,9)

Ninguém, enquanto vive aqui na terra, é capaz de ver as três Pessoas de Deus, os anjos ou as almas desencarnadas dos homens. Pois, assim como é por meio da luz que vemos as coisas materiais, assim também a luz da glória, que jorra de Deus Filho na visão beatífica, mostra-nos o mundo dos espíritos somente após a morte. Sob as formas visíveis que atuavam sobre seus sentidos, o Apóstolo amado viu os céus abertos.

No excelso trono celeste estava o Pai Eterno, diante d’Ele erguia-se o altar, sob o qual estavam as almas dos mártires. Ali estavam os quatro evangelistas, na forma dos animais vistos por Ezequiel (Ez 1). Os vinte e quatro anciãos, os grandes homens de ambos os Testamentos, estavam sentados em tronos de glória. Por causa dos poderes superiores que ela tem sobre as demais dioceses, desde os tempos apostólicos a diocese de Roma constituiu seu presbitério de vinte e quatro sacerdotes, atualmente o Colégio dos Cardeais, enquanto as outras dioceses tinham somente doze membros do senado. Ali estava a mulher vestida de sol, coroada com doze estrelas — os apóstolos — enquanto os exércitos celestes cantavam a Liturgia celestial. Ali estava posta a mesa do Senhor, o grande Banquete Eucarístico para o qual todas as nações foram convidadas. O Filho do homem e Filho de Deus, como Sumo Sacerdote da humanidade, o Cordeiro de Deus, “o Anjo”, estava de pé diante do altar celestial, oferecendo ao seu Pai Eterno as Missas rezadas pelos seus ministros na terra.

Por essas razões, em todas as Missas o sacerdote, com suas mãos fechadas repousando sobre a extremidade do altar, reza que Cristo ofereça a Oblação sobre o altar celestial, diante do trono de seu Pai Eterno, em meio às miríades de anjos e de santos daquela celestial Jerusalém, dizendo:

“Suplicantes Vos rogamos, Deus onipotente, mandeis que estas ofertas sejam levadas pelas mãos do vosso santo Anjo para o vosso sublime altar, à presença da vossa divina Majestade, a fim de que todos nós, que, comungando deste altar, recebermos o sacrossanto Corpo † e Sangue † do vosso Filho, sejamos cumulados de todas as bênçãos e graças celestes. Pelo mesmo Cristo Senhor nosso. Amém.”

“Eu estava no Espírito, no dia do Senhor, e ouvi por detrás de mim uma grande voz. E voltei-me para ver a voz do que falava comigo; e voltando, vi sete candeeiros de ouro; e no meio dos sete candeeiros de ouro, alguém que se parecia com o Filho do homem, vestido de uma roupa talar, e cingido pelos peitos com uma cinta de ouro (Ap 1,10-14).

“Depois destas coisas olhei, e eis uma porta aberta no céu. E eis um trono que estava posto no céu, e alguém assentado sobre o trono. E aquele que estava assentado era no aspecto semelhante a uma pedra de jaspe e de sardônio; havia um arco-íris em volta do trono, que se assemelhava à cor de esmeralda (Ap 4).

“E em circunferência do trono havia vinte e quatro tronos, e sobre os tronos vinte e quatro anciãos assentados, vestidos de roupas brancas, e nas suas cabeças coroas de ouro. E do trono saíam relâmpagos, e vozes, e trovões. E sete lâmpadas ardiam diante do trono, que são os sete Espíritos de Deus. E na frente do trono havia um como mar de vidro semelhante ao cristal, e no meio do trono, e ao redor do trono, quatro animais cheios de olhos por diante e por detrás. E o primeiro animal era semelhante a um leão, e o segundo animal semelhante a um novilho, e o terceiro animal tinha o rosto como de homem, e o quarto animal era semelhante a uma águia voando.

“E os quatro animais tinham cada um seis asas, e em volta e por dentro estão cheios de olhos. E não repousavam nem de dia nem de noite, dizendo: ‘Santo, Santo, Senhor Deus Onipotente, que era, e que é, e que há de vir.’ E quando aqueles animais davam glória, e honra, e bênção ao que estava assentado no trono, que vive pelos séculos dos séculos, os vinte e quatro anciãos prostravam-se diante do que estava assentado no trono, e adoravam ao que vive pelos séculos dos séculos, e lançavam as suas coroas diante do trono, dizendo: ‘Digno és, ó Senhor nosso Deus, de receber a glória, e a honra, e o poder, porque criaste todas as coisas, e por tua vontade elas eram e foram criadas.’”

Na mão direita do Pai Eterno estava um livro escrito por dentro e por fora, selado com sete selos — a inteira revelação que o Espírito Santo entregou ao homem contida na Bíblia da qual Cristo é a chave. Ele refulge de cada página de ambos os Testamentos. Removei-o, e ninguém consegue entender a Bíblia.

“Eu olhei, e eis que no meio do trono e dos quatro animais estava um Cordeiro em pé, como imolado, o qual tinha sete chifres e sete olhos, que são os sete espíritos de Deus enviados por toda a terra. E ele veio, e recebeu o livro da mão direita d’Aquele que estava assentado no trono. E tendo ele aberto o livro, os quatro animais e os vinte e quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro, tendo cada um harpas, e redomas de ouro cheias de fragrâncias, que são as orações dos santos. E cantavam um cântico novo, dizendo: ‘Digno és, Senhor, de receber o livro e de abrir seus selos, porque foste morto e nos remiste para Deus com o teu sangue, de toda tribo, e língua, e povo, e nação, e nos fizeste para o nosso Deus reino e sacerdotes, e reinaremos sobre a terra.’

“E olhei e ouvi a voz de muitos anjos ao redor do trono, e dos animais, e dos anciãos, e era o seu número milhares de milhares, os quais diziam em alta voz: ‘É digno, o Cordeiro que foi morto, de receber o poder, e a divindade, e a sabedoria, e a fortaleza, e a honra, e a bênção.’ E a toda criatura que há no céu e na terra, e debaixo da terra, e às que há no mar, e a todas as coisas que ali há, a todas ouvi dizer: ‘Àquele que está assentado no trono, e ao Cordeiro, bênção, e honra, e glória, e poder, pelos séculos dos séculos.’ E os quatro animais diziam: Amém. E os vinte e quatro anciãos prostraram-se com o rosto em terra, e adoraram Àquele que vive pelos séculos dos séculos.”

“Depois disto vi uma grande multidão que homem nenhum é capaz de contar, de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas, que estavam em pé diante do trono e à vista do Cordeiro, vestidos de roupas brancas, e com palmas nas suas mãos. E clamavam em voz alta, dizendo: ‘A salvação ao nosso Deus e ao Cordeiro.’ E todos os anjos estavam de pé em volta do trono, e dos anciãos, e dos quatro animais, e se prostraram ante o trono sobre os seus rostos, e adoraram a Deus, dizendo: ‘Amém. A bênção, e a glória, e a sabedoria, e a ação de graças, e a honra, e o poder, e a fortaleza ao nosso Deus, pelos séculos dos séculos. Amém.’ Estes são os que vieram de grande tribulação, e lavaram os seus vestidos e os embranqueceram no sangue do Cordeiro. Por isso estão diante do trono de Deus, e servem a Ele de dia e de noite no seu Templo, e o que está assentado no trono habitará sobre eles. Não terão mais fome nem sede, nem cairá sobre eles o sol, nem calor algum. Porque o Cordeiro, que está no meio do trono, os governará, e os conduzirá às fontes das águas da vida, e Deus enxugará todas as lágrimas de seus olhos.”

“E, quando ele abriu o quinto selo, vi debaixo do altar as almas dos que tinham sido mortos por causa da palavra de Deus, e pelo testemunho que tinham dado. E clamavam em alta voz, dizendo: ‘Até quando, ó Senhor, santo e verdadeiro, dilatarás o fazer-nos justiça e vingar o nosso sangue dos que habitam sobre a terra?’ E estolas brancas foram dadas a cada um deles, e lhes foi dito que repousassem ainda um pouco de tempo, até que o número de seus conservos e irmãos, que haviam de ser mortos assim como eles, se completasse.” (Ap 6,9.11)

“E apareceu um grande portento no céu, uma mulher vestida de sol, e a lua debaixo de seus pés, e sobre a sua cabeça uma coroa de doze estrelas. E olhei, e eis que um Cordeiro estava de pé sobre o monte Sião, e com ele cento e quarenta e quatro mil que tinham o nome dele e o nome de seu Pai escritos nas suas testas. E ouvi uma voz do céu, como a voz de muitas águas, e como a voz dum grande trovão, e a voz que ouvi era como de tocadores de harpa que tocavam as suas harpas. E eles cantavam como que um cântico novo diante do trono, e diante dos quatro animais, e dos anciãos. E vi um como mar de vidro misturado com fogo, e os que venceram a besta e a sua imagem e o número do seu nome, estando de pé sobre o mar de vidro, tendo as harpas de Deus, e cantando o cântico de Moisés, e o cântico do Cordeiro, dizendo: ‘Grandes e admiráveis são as tuas obras, ó Senhor Deus Onipotente, justos e verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei dos séculos. Quem não dará ouvidos a Ti, ó Senhor, e não glorificará o teu nome? Pois só tu és misericordioso, pois todas as nações virão e se prostrarão em adoração na tua presença, porque os teus juízos estão manifestos.”

“Eu ouvi uma como voz de muitas multidões no céu, que diziam: ‘Aleluia. A salvação, e a glória, e o poder ao nosso Deus. Porque verdadeiros e justos são os seus juízos, que julgou a grande meretriz, a qual corrompeu a terra com as suas fornicações, e que vingou o sangue de seus servos das mãos dela.’ E outra vez disseram: ‘Aleluia.’

“E os vinte e quatro anciãos e os quatro animais prostraram- se e adoraram a Deus, que estava assentado sobre o trono, dizendo: ‘Amém, Aleluia.’ E saiu do trono uma voz, dizendo: ‘Louvai ao nosso Deus, vós todos os seus servos e os que a Ele temeis, pequeninos e grandes.’ E ouvi uma como voz de muitas águas, e como a voz de grandes trovões, dizendo: ‘Aleluia. Pois reinou o Senhor nosso Deus, o Onipotente. Alegremo-nos, e exultemos, e demos glória a Ele, porque chegaram as bodas do Cordeiro, e sua esposa está preparada. E a ela foi dado que se vista de linho fino, resplandecente e branco. Pois este linho fino são as justificações dos santos’.” (Ap 19,4)

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