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Expectação do Parto da Santíssima Virgem

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Desejos de Maria ver nascido o Redentor do mundo

Maria Santíssima, inflamada na mais alta caridade desde o primeiro instante da sua conceição, desejava ardentemente a vinda do Messias para a redenção do gênero humano, porém depois que teve ventura e glória inefável de conceber em seu castíssimo ventre o mesmo Redentor divino, quem pode explicar quais foram os transportes do seu coração? Com que veemência desejava ver já nascido o Verbo encarnado para que Deus fosse glorificado, e os homens livres da tirania do demônio e do pecado, em que há tanto tempo gemiam! Suspirava sem cessar por este ditoso momento; era ele o objeto dos seus votos e ânsias. Nós temos muitas vezes a ventura de receber em nossos corações, pela sagrada comunhão, aquele mesmo Deus que Maria concebeu em suas entranhas virginais; mas por ventura preparamo-nos como ela para a sua vinda, pela prática das virtudes, ardor da caridade, e pureza de vida? Ah! Envergonhemo-nos da nossa tibieza e aprendamos da Virgem Santíssima a excitar em nós vivos afetos e fervorosos desejos de nos unirmos com Jesus, e aproveitar os saudáveis efeitos da Sua presença.

Desejos de gozar a presença de seu divino Filho

A Virgem Maria desejava ver também nascido o seu dulcíssimo Menino para se espelhar na sua exterior beleza, que sabia ser mais aprazível do que todas as formosuras angélicas e humanas; desejava ouvir as palavras daquela boca, onde estava nadando a graça, e ver correr igualmente na terra aquela fonte de sabedoria, que nas alturas eternamente mana; desejava enfim começar o ofício de Mãe, que de Deus recebera, e o de escrava a que ela se dedicara, e servirão Senhor naqueles ministérios. Ponderemos que honroso ofício é servir a Cristo, e que loucura é a nossa não o desejando com grande ânsia, aplicando-nos a Ele com pouco fervor, e deixando-o sem nenhuma causa. Supliquemos à Virgem Santíssima que nos obtenha zelo e diligência no serviço de Deus, pois que servi-lOé reinar.

Ardor destes desejos

Sendo tão fortes os motivos da Expectação da Senhora, quão finas, ardentes e contínuas seriam as suas ânsias? Oh! Como excederam elas incomparavelmente os desejos, suspiros e clamores de todos os patriarcas, profetas e justos, que até ali tinha havido com alguma luz do mistério da Encarnação do Verbo e do parto da Virgem! Os desejos do amoroso Coração de Maria, subiam tanto mais alto quanto, e ainda mais do que a seta sacudida de um braço robusto vence a de uma pobre criancinha. Imitemos o exemplo de Maria desejando fervorosamente a Cristo nascido e formado no nosso espírito e no do nosso próximo, e concebamos altos propósitos de honrar, servir e glorificar a este Senhor.

ORAÇÃO

Dulcíssima Virgem, Mãe de Jesus, divina Maria, que fervorosos sentimentos não foram os do vosso santíssimo coração nos nove meses em que tivestes encerrado no sacratíssimo ventre o Verbo Encarnado! Com que transportes de amor não desejáveis vê-lO nascido e reclinado em vossos braços! É assim que haviam de ser os meus desejos de possuir o amabilíssimo Jesus! Mas ai! Quão diferente é do vosso o meu coração! Por quem sois, Virgem piedosa, comunicai-me esses fervorosos desejos, acendei-os e radicai-os em minha alma. Olhai para a minha miséria e movei-vos à piedade; auxiliai-me e valei-me. Confesso que com minhas culpas tenho fechado a porta às luzes e inspirações do céu e aos socorros que me tendes obtido; porém a compaixão que tendes dos miseráveis e o poder que o Senhor vos concedeu, excedem muito o número e gravidade de meus delitos. Seja, pois, glória vossa mudar o meu coração, despojá-lo dos afetos terrenos, e inflamai-o todo em ardores celestes. Assim vo-lo rogo e o espero da bondade do vosso maternal coração, ó Virgem Maria.

Agora se faz o Ato após a Meditação

EXEMPLO

Conversão de um condenado à morte

Vivia em Paris no princípio do século 17 um digníssimo sacerdote, chamado Bernardo, o qual, descendente de uma nobre família, desprezou as comodidades do século e todas as vaidades do mundo, para abraçar com amor a pobreza de Jesus Cristo.

Julgando dever à poderosíssima intercessão da Santíssima Virgem a sua conversão e vocação para o estado eclesiástico, tinha para com esta divina Mãe os sentimentos da mais profunda gratidão e amor; e, desejando propagar a sua devoção, mandou imprimir em todas as línguas a oração de São Bernardo: Lembrai-vos ó piíssima Virgem Maria etc., distribuindo-a por toda a parte e obtendo por meio dela, uma infinidade de graças. Excetuando as sextas-feiras, que o bom padre reservava para visitar o hospital da Caridade, todos os dias da semana passava-os ele nas prisões de Paris. Num desses dias em que, como de costume, se dirigia para o Petit Chatelet, encontrou dois religiosos de uma ordem muito austera e, correndo para o mais novo dos dois, abraçou-o ternamente, dizendo-lhe:

“Querido irmão, regozijai-vos, porque devereis a vossa salvação eterna à Santíssima Virgem”

O religioso, que o não conhecia, tomou-o por louco, mas o companheiro disse-lhe:

“Este homem é um santo padre, chamado Bernardo; deveis alegrar-vos muito com o que vos disse, porque o não diria sem razão”

Passaram-se muitos anos e um dia o bom padre, sabendo que na prisão do Petit Chatelet se achava um homem condenado à morte e que não queria sequer ouvir falar em confissão, foi procurá-lo e, profundamente comovido, o abraçou, exortando a que se convertesse, pedindo-lh’o instantemente, chegando por fim até a ameaçá-lo com cólera divina. Tudo foi inútil. Em vista desta obstinação disse-lhe que ao menos recitasse com ele uma pequena oração à Santíssima Virgem, e, como visse que, apesar das suas instâncias o obstinado pecador nem sequer descerrava os lábios, o Padre Bernardo, animado do mais santo zelo pela salvação dessa alma, pegou num dos exemplares da oração Lembrai-vos ó piíssima Virgem Maria, que sempre trazia consigo, meteu-lh’o pela boca dentro e exclamando:

“Visto que a não queres recitar, hás de engoli-la!”

O criminoso que não podia defender-se, pelas cadeias que lhe prendiam as mãos e os pés, para se livrar da importunidade do santo homem, prometeu que obedeceria. Ouvindo isto, o Padre Bernardo abraçou o e exclamou em vivo transporte de alegria:

— Querido filho, será à Santíssima Virgem que deverás a tua salvação

— Assim o creio, meu padre, respondeu o criminoso com voz já entrecortada de soluços, há já muitos anos que vós mesmo m’o profetizastes! Prouvera a Deus que eu nunca tivesse esquecido as vossas palavras!

— Então eu já alguma vez te falei sem ser hoje? perguntou admirado o sacerdote.

— Eu sou aquele religioso que há anos encontrastes sobre o Petit-Pont a quem dissestes as mesmas palavras que ainda há pouco vos ouvi.

— E como chegaste ao miserável estado em que te encontro? perguntou o sacerdote.

— Concedei-me alguns momentos de atenção e sabe-lo-eis:

— A minha entrada para o convento não foi por vocação para o estado religioso. Tentara casar com uma menina de uma família muito nobre e, como os pais não consentissem e a casassem algum tempo depois com um fidalgo meu vizinho, despeitado abandonei à sociedade e entrei para à religião.

Ali vivia tranquilamente durante alguns anos entre religiosos exemplaríssimos, quando vi um dia na igreja do meu convento, a poucos passos de mim, o meu rival. A sua presença perturbou me por tal forma que na própria casa de Deus acariciei os mais violentos desejos de vingança, resolvendo pô-los em prática, logo que se oferecesse ocasião. Neste comenos o meu rival reconhecendo-me, cometeu a imprudência de me seguir à sacristia.

Às delicadas expressões que me dirigiu, respondi com a maior frieza e, como o visse aproximar para me abraçar, aproximando-me também, segredei-lhe ao ouvido:

—Se realmente tens o mérito que em ti supuseram para te preferirem a mim, prova-o hoje à meia noite, aparecendo junto do muro da cerca deste convento.

O meu adversário aceitou o repto, e no lugar e hora indicados batemo-nos em duelo, caindo ele mortalmente ferido! Ao vê-lo por terra fugi, temendo ser surpreendido, e fui reunir-me a uma quadrilha de salteadores que vagueava por uma floresta próxima. Vivi, assim alguns anos, até que o céu cansado dos meus crimes, permitiu que caísse nas mãos da justiça humana, que me condenou à morte, tão justamente merecida!”

Neste ponto da narrativa os soluços e as lágrimas do preso recomeçaram com tal violência, que o sacerdote comovido disse-lhe:

“Consola-te, filho, porque a Santíssima Virgem que te alcançou de Deus a graça do arrependimento, te obterá também a santa perseverança e a salvação eterna. Prepara-te para fazeres uma boa confissão que eu voltarei daqui a momentos”

Não foi porem necessário, porque o pobre réu, que nesse momento meditava na multidão inúmera dos seus pecados e na infinita misericórdia de Deus, expirou de dor e arrependimento.

Bendita mil vezes a divina Maria que nem aos maiores criminosos deixa de prestar valiosíssimo auxílio.

OUTRO EXEMPLO

Ação de graças à Santíssima Virgem por uma extraordinária conversão

Sr. Diretor da Arquiconfraria do Santíssimo Coração de Maria

Permita-me que lhe relate mais uma graça obtida por intercessão da Santíssima Virgem em seguida a uma peregrinação que fiz a Lourdes, com o fim de obter a conversão de meu querido pai, um pobre velho de 80 anos.

Era ele um pintor distinto e homem de nobres sentimentos; tinha, porém, a infelicidade de não observar os preceitos da religião.

Havia mais de 25 anos que eu pedia à Santíssima Virgem a sua conversão.

Em fevereiro de 1887 meu pai enfermou gravemente e os médicos declararam a moléstia incurável. Era ela uma decomposição no sangue e portanto só havia a esperar um desenlace fatal! O infeliz sofria horrivelmente, vendo-se impossibilitado de andar, e minha mãe tentava em vão, à força de afetuosos cuidados, tornar-lhe a doença suportável.

No mês de junho, vendo-o completamente desanimado, resolvi ir a Lourdes e, apesar da oposição de minha família, consultei o meu diretor espiritual e, obtida a sua aprovação, parti para lá a 16 de agosto.

Só Deus sabe quanto sofri até chegar ao termo de tão desejada viagem! Mas nada me deteve, arrostei tudo com a esperança de obter a conversão de meu pai. Orei, pedi as orações dos outros, mandei dizer missas, entrei como enfermeiro da gruta e do hospício, esforçando-me em adquirir muitos merecimentos para ele.

Durante a minha permanência em Lourdes, escrevia todos os dias a minha família, contando-lhe tudo que via; procissões magnificas, numerosos milagres etc.

Meu pai, já tocado da divina graça, comovia-se com a leitura, das minhas cartas e chorou, quando minha piedosa mãe lhe disse, qual o fim da minha peregrinação a Lourdes.

Dispunha-me eu a partir para junto de meu pai, quando alguém de minha família me escreveu, dizendo-me que prevenisse o meu diretor, porque o enfermo manifestava desejos de se confessar, e que em seu nome pedia que me perguntassem o segredo de tantos milagres.

“Orar e pedir com viva fé — eis o segredo — respondi eu

Quando regressei, meu pai tinha piorado e já não podia levantar-se do leito. No mesmo dia da minha chegada, preveni o meu diretor que veio imediatamente visitá-lo. Confessou-o, e, ajudado pelo pároco da nossa freguesia, ministrou-lhe todos sacramentos. Meu pai, em quem se patenteava o mais sincero arrependimento dos seus pecados, recebeu os sacramentos com um profundo recolhimento, que comoveu todos que o rodeavam. Depois, dirigindo-se ao seu confessor, agradeceu-lhe todo o bem que lhe tinha feito, dizendo-lhe:

“Agora sou feliz; a tranquilidade da alma não me deixa sentir os sofrimentos do corpo”

Despediu-se dele, pedindo-lhe que o abençoasse, e momentos depois do sacerdote se retirar, principiou a agonia, que foi lenta.

No dia seguinte próximo da noite exalou suavemente o último suspiro, e a sua alma, purificada pelo arrependimento, elevou-se até ao trono da Altíssimo!

Peço-lhe Sr. Diretor que entoe à Santíssima Virgem a Magnificat em ação de graças pela sua maternal proteção, e o De Profundis, pela alma de meu pai, que dela felizmente tão bem se soube aproveitar.

LIÇÃO
Sobre o fervor da Comunhão

O mesmo Deus que se uniu tão intimamente com Maria pela Encarnação, deseja unir-se convosco pela comunhão. Mas como é pequeno o desejo que tendes de O receber!

Não deis ouvidos aos pretextos que a indolência e falsa humildade vos sugerem para vos desviar da sagrada Mesa.

Não pretexteis o temor e respeito: devem eles andar subordinados ao amor, e servir unicamente para o tornar mais vivo.

Retirar-vos da comunhão com aparências de respeito, é privar a Jesus da satisfação que quisera ter de habitar convosco.

Ele vos declara esta satisfação, dizendo- vos: Deleito-me em estar entre os filhos dos homens.

Dizeis que, como as vossas culpas são muito frequentes, não podeis chegar amiudadas vezes ao Santo dos Santos; mas por mais frágil que seja uma alma, se faz todas as diligências por se emendar, Jesus Cristo sempre vem a ela com satisfação.

Dizeis que vos abstendes da comunhão, porque não vos conheceis digno; deveis antes dizer: Quero trabalhar por me fazer digno de comungar, para participar das graças que Jesus Cristo concede às almas pias, na sagrada comunhão.

Queixai-vos da fragilidade e moléstias da vossa alma; aproveitai-vos, pois, do remédio eficaz, que vos oferece o Pão da vida.

Seria excelente que tivésseis para comungar uma santidade perfeita, mas pretender que ela seja necessária, é pedir por disposição para comungar o que deve ser fruto da comunhão.

Chegai à sagrada mesa com sincera confissão, da vossa indignidade, e sobre tudo com pureza de consciência e desejo de vos santificar, e será boa a vossa comunhão.

Lembrai-vos de que uma comunhão bem feita nunca deixa de produzir algum fruto.

Uma alma, a quem tarda o gozar da presença de Jesus Cristo no céu, deleita- se com gozar dEle na terra por meio da comunhão o mais amiúdo que pode.

Máxima Espiritual

“Devemos receber por amor, a quem por amor se dá a nos” – São Francisco de Sales

Jaculatória

Virgo fidelis, ora pro nobis

Virgem fiel, rogai por nós.

Agora se faz as Encomendações e outras Orações


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(SILVA, Pe. Martinho António Pereira da. Flores a Maria ou Mês de Maio consagrado à Santíssima Virgem Mãe de Deus. Tipografia Lusitana, Braga, 1895, 7.ª ed., p. 177-189)