SE a nossa vontade se puser do lado de Deus, nunca poderemos desanimar, porque o lado que escolhemos, está sempre vitorioso e nunca é ludibriado. Em Deus está a conservação, no mal a ruína. A realidade das coisas encontra-se sempre do lado de Deus.
O mal é, necessariamente, instável, porque vai contra a natureza das coisas segundo foram criadas. Todas as leis da natureza humana nos impulsionam para o nosso destino específico tanto de santidade como de saúde. Se cuidarmos, devidamente, do nosso corpo, obedecendo às regras da saúde, seremos saudáveis; se violarmos essas leis, a nossa revolta trará a doença, e poucos tomariam o devido cuidado consigo, se a violação das leis da saúde não trouxesse algum castigo, como aviso.Neste e em muitos outros campos, nós somos livres de infringir as leis que Deus estabeleceu, mas não somos livres de escapar ao castigo que a infração das leis provoca. Saltar de uma janela não destrói a lei da gravidade mas pode destruir a nossa vida. A natureza está sempre do lado de Deus; ela pode atraiçoar os nossos desejos, mas nunca as Suas ordens. E isto é tão verdadeiro na esfera moral como na esfera física.
Quando os homens pecam, não é preciso a intervenção de Deus para serem punidos; a nossa natureza está feita de tal maneira que não podemos opor-nos a Ele, sem estarmos em oposição conosco. Se violarmos a lei da temperança, sentiremos a seguir uma dor de cabeça. Deus não nos mandou essa dor de cabeça por um ato especial; fez-nos já de maneira tal que das nossas ações más resultassem efeitos maus. O poeta Thompson descreve como até as coisas se revoltam contra nós, quando não as usamos segundo a vontade de Deus. Ele chama às criaturas «servos»:
«Tentei todos os Seus servos, mas encontrei a minha própria traição na sua constância, sendo a Ele sempre fiéis e para comigo volúveis: eis a lealdade traiçoeira, a fraude leal»
Quando Pedro negou a Nosso Senhor, o galo cantou e fê-lo sofrer grande dor. Toda a capoeira se revoltou contra Pedro, porque a Natureza pertence a Deus.
Quando rejeitamos a lei moral, sofremos, não porque intentássemos o mal, mas porque desafiamos uma força mais forte que nós: a realidade das coisas. Ao pecar, produzimos um efeito que não intentávamos; isto, porém, nunca acontece como resultado de ações boas. Se usar um lápis para escrever, não se estragará; se com ele tentar abrir uma lata, parti-lo-ei. É que usei o lápis para um fim contrário ao seu e por isso inutilizei-o.
Se viver a vida conforme ao seu destino supremo, que é a obtenção da Verdade e do Amor, aperfeiçoá-la-ei. Se a viver segundo os meus impulsos animais, darei cabo de mim certamente, como daria cabo duma navalha de barba, usando-a para talhar pedra.
O mal é sempre uma mutilação de nós mesmos. Se viver como devo viver, torno-me um homem; se viver segundo os ditames dos meus caprichos, torno-me bruto e um bruto infeliz. Esse não é um resultado que tivesse alguma vez entrado nos meus planos, mas é no entanto inevitável. O homem que gosta de beber de mais, não quer arruinar a saúde, mas, na realidade, arruína-a. O homem que come de mais, não conta com a indigestão, mas tem-na. O homem que gosta de roubar, não pretende a cadeia, mas é lá que vai ter.
Quando um viajante não atende às placas de viação que lhe mostram o caminho que deve tomar, pode, mesmo assim, alcançar a sua meta, desde que reconheça o seu erro ao fim de cada atalho por onde erradamente enveredou. A desordem é um mestre severo, certamente lento, mas seguro. Os Espanhóis têm este provérbio:
«Quem cospe no Céu, cospe na própria cara»
Pode triunfar o mal por algum tempo. Pode ganhar a primeira batalha, mas perde os despojos e a recompensa.
Para conduzir através do mundo as estrepitosas águias de Roma em triunfo militar, César abriu estradas; por esses caminhos, porém, Pedro e Paulo levaram o Evangelho. Também o fim deste mesmo século há de ver cientistas e filósofos andarem a apanhar, do cesto dos papéis velhos das universidades, todas as Verdades sagradas e divinas que os séculos dezoito e dezenove deitaram fora.
Porque no bem está a vida, no mal, a morte.
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(SHEEN, Dom Fulton. Rumo à Felicidade – WAY TO HAPPINESS. Tradução de Dr. A. J. Alves das Neves, pároco de São Pedro da Cova. Livraria Figueirinhas, Porto, 1956, p. 131-133)