Skip to content Skip to footer

Domingo

Domingo, Tesouros de Cornélio à Lápide

Ainda que todos os dias pertençam a Deus, Ele quis, contudo, reservar um dia para Si de maneira especial

Deus é o Criador e o Conservador dos dias: todos são seus. A cada dia, devemos tributar-Lhe o amor, o respeito, a adoração e a homenagem por tudo quando temos, por tudo o que fazemos e por tudo o que valemos; porque não somente todos os dias são de Deus, senão que Ele é nosso Deus a cada dia, e não há nenhum instante em que não estejamos sob sua dependência. Deus é tão grande e tão amável na segunda feira quanto nos demais dias da semana, como ainda no Domingo.

Entretanto, como estamos condenados ao trabalho[1] em expiação de nossos pecados, e este trabalho distrai nosso espírito, aplicando-lhe quase unicamente às coisas sensíveis, Deus elegeu, em cada semana, um dia especial que Ele reserva exclusivamente para Si, querendo que este dia especial seja dedicado tão somente ao culto que Lhe é devido. A cada dia, Ele teria o direito de exigir tal culto de todos os homens.

Porque o dia do Senhor entre os judeus era o sétimo

O dia que o Senhor havia reservado para Si entre o povo hebreu era o sábado, o sétimo dia da semana; e Ele escolheu este dia em memória do repouso que tomou depois de haver criado o céu e a terra em seis dias, tendo-o, segundo diz o Gênesis, abençoado e santificado: Requievi die septimo ab universo opere quod patrarat, et benedixit diei septimo, et sanctificavit illum (Gn 2, 2-3).

O preceito da santificação do sábado é o terceiro do Decálogo. Está concebido nos seguintes termos: Lembrai-vos de santificar o sábado: Memento ut diem sabbati sanctifices (Ex 20, 8).

O Primeiro Mandamento manda-nos tributar a Deus um culto interior, e o terceiro, um culto exterior. Assim é que o terceiro mandamento é uma continuação natural do primeiro; porque é impossível, se honramos a Deus interiormente mediante a , a esperança e a caridade, que não Lhe honremos também com um culto externo, e não Lhe manifestemos de um modo sensível nosso reconhecimento.

Porém, como seria difícil que aqueles que estão ocupados em seus negócios do mundo cumprissem devidamente com os deveres do culto externo, Deus quis lhes facilitar esta obrigação como que fixando um tempo para cumprir com ela, e retirando-lhes os obstáculos que pudessem se opor à exatidão deste dever (Catech. de Persév., 3° comm.).

Se Deus não houvesse fixado este tempo, prontamente o culto externo teria sido descuidado por completo, e até o culto interno teria desaparecido. Porém, não era bastante fixar o tempo; era preciso remover os obstáculos que viessem a impedir este culto externo; e Deus assim o fez, proibindo o trabalho. Era preciso, ademais, impedir que o homem caísse na ociosidade, mãe de todos os vícios; e Deus o fez, prescrevendo as obras mais apropriadas para honrá-Lo (Catech. de Persév., 3° comm.).

Deus quis que este repouso do sétimo dia fosse para nós como uma preparação da bem-aventurada eternidade que sua bondade nos destina; e, por conseguinte, Ele quis que este repouso fosse um repouso de louvor, de homenagem, de orações e de adoração. Por isso, proibindo qualquer trabalho servil e corporal, prescreve obras inteiramente espirituais e santas.

Esse dia pode ser alterado

Sob o ponto de vista da determinação do dia, este preceito cerimonial, pertencente à Lei Mosaica[2]; e, por conseguinte, foi ab-rogada com ela; porém, sob o ponto de vista da substância, isto é, o ponto de vista da obrigação de santificar certos dias e de reservar certo tempo para tributar a Deus um culto externo, é imutável e de direito natural e divino: obriga a todos os homens.

O preceito do sétimo dia tornou-se abolido no momento em que todas as cerimônias judaicas fossem rejeitadas, isto é, no momento da morte do Salvador. Aquelas cerimônias não eram, com efeito, senão a sombra da verdade. Deviam, portanto, acabar quando viesse aquela Luz, aquela Verdade que é Jesus Cristo. Assim fogem também as sombras da noite ao levantar-se o sol.

Eis aqui, então, o motivo pelo qual os Apóstolos substituíram o sábado dos Judeus pelo primeiro dos sete dias da semana, chamando-o “Dia do Senhor ” ou “Domingo”.

São Paulo fala deste dia em sua primeira Epístola aos Coríntios, dizendo: Ponha cada um de vós algo a parte, e deposite aquilo que lhe determine sua boa vontade para esmolas no primeiro dia da semana (1 Cor 16, 2).

São João fala do domingo no Apocalipse, dizendo que no dia do Senhor foi arrebatado em espírito (Ap 1, 10).

Por que os Apóstolos substituíram o sábado pelo Domingo

Existem muitas razões pelas quais os Apóstolos assumiram o dever de transferir a solenidade do sétimo dia para o primeiro dia da semana:

1.° Foi neste dia que a luz começou a brilhar no mundo;

2.° Foi neste dia que Nosso Senhor Jesus Cristo ressuscitou e fez passar a humanidade da vida das trevas e do pecado à gloriosa vida do Novo Adão; e

3.° Foi também neste dia que o mundo começou a ser criado; e foi também neste dia quando começou a ser regenerado pelo Espírito Santo, que desceu sobre os Apóstolos.

Assim é que a Igreja cristã, consagrando a Deus o Domingo, que corresponde simultaneamente ao primeiro dia da criação do mundo, e ao dia da ressurreição de Jesus Cristo, bem como à descida do Espírito Santo, reúne vários objetos, e todos igualmente próprios a excitar nossa piedade.

A observância fiel do Domingo:

1.° Honra a Deus Pai onipotente como Criador e Conservador de todas as coisas;

2.° Honra a Jesus Cristo, seu único Filho, como Salvador nosso que nos libertou da servidão do demônio e do pecado, e que depois dos trabalhos de sua vida mortal, entrou em seu Repouso eterno, por meio de sua Ressurreição, figurado pelo repouso de Deus depois da criação; e

3.° Honra ao Espírito Santo como Princípio da nova criação, mais maravilhosa que a primeira, pela qual fomos tirados do nada do pecado, e recebemos um ser novo e uma nova vida (Catech. de Persév.).

Que o Domingo seja nosso dia; que nos cumule de alegria; que seja para nós um dia de regozijo e de santificação, no qual possamos dizer com o Rei Profeta: Eis aqui o dia que o Senhor fez para nós, alegremo-nos e nele exultemos: Haec dies quam fecit Dominus, exultemos et laetemur in ea (Sl 117, 24).

É o dia da Adorável Trindade. O Pai aparece nele pela criação da luz; o Filho, por sua Ressurreição; o Espírito Santo, por sua descida sobre os Apóstolos. Ó dia santo, ó dia feliz, e três vezes feliz! Oxalá seja sempre verdadeiro o Domingo, seja verdadeiro o Dia do Senhor, pela fidelidade que empregamos em observá-lo, assim como já o é pela santidade de sua instituição!

Obrigação de santificar o Domingo

O preceito da santificação do Domingo é obrigatório sob a pena de pecado mortal. Deus fez dele um dever sagrado, e também a Igreja assim o fez. Lembrai- vos de santificar o Dia do Senhor, diz a Escritura.

Admoesta aos filhos de Israel, diz o Senhor a Moisés, e diz-lhes: Cuidai de guardar meu Sábado: Loquere filiis Israel, et dices ad eos: Videte ut sabbatum meum custodiatis (Ex 31, 13).

Aquele que o violar será castigado com a morte: Qui polluerit illud, morte morietur (Ex 31, 14).

O repouso do sábado está consagrado ao Senhor. Fazei, pois, hoje, tudo o que tenhais de fazer, e colhei o que tenha de ser colhido, e, tudo o que sobrar guardai-o para amanhã (Ex 16, 23).

Recolhei maná durante seis dias, pois o sétimo dia é o sábado do Senhor; pelo que não o encontrareis (Ex 16, 26). Assim, pois, até o maná deixava de cair no sábado.

Cada dia, caía o maná para vinte e quatro horas; porém, na sexta feira, caía o suficiente para dois dias, a fim de que os hebreus não tivessem que recolhê-lo no dia de sábado. Aqueles que, fora da sexta feira, recolhiam maná para dois dias, não o podiam conservar, pois, ao cabo de vinte e quatro horas, corrompia-se; porém, recolhido na sexta feira para aquele dia e para o sábado, conservava-se perfeitamente. Este milagre ocorreu sem interrupção durante quarenta anos no deserto, a fim de atestar a necessidade de santificar o sábado.

Veio o sétimo dia, diz a Escritura, e alguns do povo saíram para recolher o maná; porém, não encontraram nada (Ex 16, 27).

E o Senhor disse a Moisés: Até quando vos negareis a observar meus mandamentos e minha lei? (Ex 16, 28).

Vede que o Senhor vos determinou a observância do sábado, e vos concede no sexto dia o dobro de alimento; permaneça, então, cada qual em sua tenda, e que ninguém saia fora no sétimo dia (Ex 16, 29).

Lembra-te do dia de sábado para o santificares, diz o Senhor a seu povo. Durante seis dias da semana, trabalhareis e farás todas as tuas labutas; mas no sétimo dia, que é o dia do Senhor teu Deus, não deves fazer nenhum trabalho, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem teu criado, nem tua criada, nem teus animais de carga, nem o estrangeiro que habita dentro de teus muros (Ex 20, 8-10).

Trabalhareis durante seis dias, mas o sétimos dia é o sábado, dia de repouso consagrado ao Senhor. Se alguém em tal dia trabalhar, será réu de morte. Observem os filhos de Israel no sábado, e celebrem-no, doravante, suas gerações. É um pacto sempiterno entre Mim e os filhos de Israel (Ex 31, 15-17).

O Senhor ordena de novo a santificação do sábado: Trabalhareis durante seus dias; porém, o sétimo dia será para vós um dia santo. Aquele que trabalhe durante o sábado será réu de morte. Não acendereis tampouco o fogo em nenhuma de vossas casas no dia de sábado (Ex 35, 2-3).

No Livro do Levítico, o Senhor ordena também esta santificação. O sábado, diz, é o dia do repouso, e inclinareis vossas almas sob esta prática perpétua. Observai meus sábados, porque Eu sou o Senhor, vosso Deus (cf. Lv 19, 3).

Cuidai de santificar o dia de sábado, como o tem ordenado o Senhor vosso Deus, diz o Deuteronômio. Trabalhareis durante seis dias, e fareis todos os vossos trabalhos. Porém, o sétimo dia, é o dia de sábado, isto é, o descanso do Senhor vosso Deus. Não fareis nenhum gênero de trabalho, nem vós, nem vosso filho, nem vossa filha, nem vosso criado, nem vossa criada, nem o boi, nem o asno ou qualquer de vossos jumentos, nem o estrangeiro que se alberga sob vosso teto, a fim de que vosso criado e vossa criada descanse também como vós (Dt 5, 12-14).

Ouvi a Jeremias: Eis o que diz o Senhor: Cuidai de vossas almas, e não leveis cargas no dia de sábado, nem façais nenhum trabalho, santificai aquele dia, conforme ordenei a vossos pais (Jr 17, 21-22).

Todas estas recomendações feitas em outro tempo aos judeus com o motivo do sábado concernem aos cristãos relativamente à santificação do domingo.

Vantagens da santificação do Domingo

Este mandamento, tal como acontece aos outros, foi ditado absolutamente para nossa vantagem. Sem este dia de oração e de repouso, dizem os teólogos, nossa alma, inteiramente ocupada dos cuidados e dos negócios temporais, abandonaria ao esquecimento seu último fim; nosso amor, ao invés de purificar-se, degradar-se-ia, e prontamente chegaríamos a ser semelhantes aos pagãos.

Não é exatamente isto que se observa naqueles povos que deixam de santificar o Domingo? Nosso apego aos bens do mundo converte-se em um contínuo manancial de calamidades: a ambição, a avareza, a voluptuosidade etc. tornam-se as únicas regras daqueles que não pensam mais nada acerca da outra vida; e estas três paixões transtornam o mundo.

É indubitavelmente uma verdade incontestável que a santificação do domingo é tão necessária ao repouso da sociedade, como à salvação do homem.

Pobres artesãos, que funcionais durante toda a semana como máquinas em oficinas pouco saudáveis, que sofreis o peso do calor e do dia; sois do parecer que, com um dia a mais de trabalho, adquirireis um novo manancial e melhorareis a vossa posição? Quereis ser os mártires de um erro cruel?

1.° Primeiramente, o operário que trabalha aos Domingos, não trabalha na segunda, e eis aqui esta esperança falida;

2.° Em segundo lugar, ele gasta em devaneios parte do seu salário semanal; e

3.° Em terceiro lugar, desperdiça suas forças com excessos, fazendo-se, antes do tempo, incapaz de trabalhar, isto é, vai-se um jovem-velho a morrer no hospital, e sua mulher e seus filhos, cobertos de farrapos, ficam à mercê da caridade pública, até que a filantropia, cansa de encontrá-la em seu caminho, encerre-o em um depósito de mendicância.

Tal é a história contemporânea. Operários, desenganai-vos; o que vos faz alcançar o bem estar em vossa velhice é a boa conduta; e, sem Religião, não há boa conduta; porque, sem Religião, não tereis força para reprimir vossas paixões e resistir á torrente dos maus exemplos. Pois, não tereis jamais Religião sem instrução religiosa, e não tereis jamais instrução religiosa se não santificais o domingo (Catech. de Persév., 3° comm.).

O trabalho do Domingo jamais enriqueceu a ninguém. Ademais, todo homem necessita de descanso, pois um trabalho contínuo debilita prontamente as forças.

É útil o trabalho do Domingo aos agricultores? Não. Como castigo pela profanação do Domingo, as inundações, as secas, o granizo, o mofo e os insetos destroem, em um só momento, a esperança de uma abundante colheita.

E o mesmo rico, ganha algo com o trabalho que manda executar neste Dia? Não, porque o operário que trabalha no Domingo, não tem uma consciência delicada, e não temerá descuidar o trabalho, posto que não teme ofender a Deus.

A santificação do Domingo é uma questão de vida e de morte; de vida, se este Dia Santo é observado; de morte, se é profanado. O preceito da observação do Domingo é uma das bases da sociedade:

a) uma garantia para o rico; e

b) um benefício para o pobre.

No Domingo, reparam-se as forças do corpo por meio do repouso, e as da alma por meio da oração. No Domingo, pomo-nos as roupas de festa… é uma espécie de ressurreição.

Durante a semana, vivemos separados, não nos vemos; porém, no Domingo, nos reunimos todos em família no Lugar Santo, aos pés do Pai Celestial para receber Suas bênçãos. Neste Dia, é quando o Pastor reúne suas ovelhas e as instrui. Neste Dia, é quando os fieis rodeiam-No e escutam-No.

O que temos da fazer para santificar o Domingo

O Domingo é santo porque é o Dia do Senhor; porém, não é o Dia do Senhor senão quando tudo que se faça esteja diretamente relacionado com o Senhor. Assim, pois, as obras que se executem neste Dia Santo devem também ser santas.

Não basta que o Domingo seja Santo por si mesmo; é preciso que seja também santificado, isto é, empregado em boas obras, em obras espirituais, em praticar a fé, a esperança, a caridade, a oração e todas as virtudes.

Se Deus e a Igreja proibiram o trabalho no Domingo, foi:

1.° Para dar mais tempo para frequentar as igrejas;

2.° Para ocupar-se das orações e dos cantos religiosos;

3.° Para entrar em comunhão com os Santos;

4.° Para instruir-se na doutrina cristã;

5.° Para meditar a Lei de Deus;

6.° Para recordar os deveres de nosso estado;

7.° Para praticar as obras de misericórdia;

8.° Para ocupar-nos, em uma palavra, de tudo aquilo que concerne ao serviço de Deus, e em tudo o que pode fazer-nos adiantar na perfeição que o Senhor nos pede.

A primeira ação do Domingo, a mais importante e necessária para santificá- lo, é assistir à Missa. Todos os fiéis estão obrigados a ouvi-la, sob pena de pecado mortal, a não ser que graves razões os impeçam.

O Santo Sacrifício da Missa é o ato principal do Culto que devemos tributar a Deus. Temos de assistir a Ele com atenção, fé, respeito e fervor.

Porém, o cumprimento deste dever, do qual não podemos nos dispensar se queremos santificar o Domingo, não exclui as demais práticas de piedade. Ainda que não estejamos obrigados a assistir às Vésperas[3], sem embargo, é bom fazê-las, de maneira que não descuidemos delas. Aquele que se contenta em ouvir uma Missa e, muitas vezes, uma Missa rezada, ou aquele que foge da Missa paroquial não faz neste dia nenhuma obra boa, é um tíbio, um pobre cristão.

Para santificar o Domingo, temos de:

1.° Ouvir a Palavra de Deus;

2.° Receber os Sacramentos;

3.° Fazer leituras piedosas;

4.° Visitar o Santíssimo Sacramento;

5.° Instruir aos ignorantes;

6.° Instruir-se ou fazer-se instruir; e

7.° Visitar e consolar aos pobres e aos enfermos.

O que temos de evitar para não profanar o Domingo

Como não derramaríamos amargas lágrimas vendo o Dia do Senhor convertido em dia do demônio por parte de já grande multidão daqueles que se dizem cristãos? Este Dia Santo deve ser consagrado ao serviço de Deus e à salvação de nossa alma; e é o dia em que os maus cristãos ofendem mais ao Senhor, e no qual se dão à alma as mais cruéis e mortais feridas. Desgraçados de nós, as festas do Céu chegaram a ser, por um abuso sacrílego, as festas do inferno.

No Domingo, temos de evitar o trabalho. Já percebemos o quanto a isso nos proíbe o Senhor. Porém, está proibida toda classe de trabalho? Não. As obras dividem-se em três classes: Obras liberais, obras mistas ou comuns, e as obras servis.

1.° As obras liberais são aqueles que se praticam mais com o entendimento que com o corpo; e, por conseguinte, são comumente mais peculiares das pessoas livres. Assim, ler, escrever, desenhar, estudar, ensinar etc. são, dizem os teólogos, obas liberais permitidas no Domingo, ainda que se façam para ganhar dinheiro. Ainda que seja lícito pintar, não o é, sem embargo, moer cores, nem ocupar-se de certas pinturas mecânicas e grosseiras;

2.° As obras mistas ou comuns são aquelas que se praticam igualmente pelo espírito e pelo corpo, e são comuns aos trabalhadores e às pessoas livres; por exemplo, passear-se, casar, viajar etc.

3.° As obras servis são aquelas que se praticam mais com o corpo que com o entendimento. Chamam-se servis porque são ordinariamente próprias dos serventes, dos operários e dos empregados laborais. Eis aqui algumas: exercer um ofício qualquer, como de alvenaria, tecelão, como o cultivar a terra, costurar, tricotar etc.; tudo isto está proibido no Domingo, ainda quando não tivesse por objeto ganhar dinheiro, ainda quando se trabalhasse para os pobres.

Sem embargo, Deus é um Pai que exige obediência de seus filhos, mais em interesse deles mesmos do que no Seu próprio interesse. Por isso, dispensa-nos de sua Lei quando há uma causa suficiente.

Várias razões desculpam aqueles que se ocupam de obras servis aos Domingos e Dias de Festa:

1.° A dispensa do Soberano Pontífice em toda a Igreja; a do bispo em sua Diocese, e do pároco em sua paróquia;

2.° A piedade: por isto é lícito adornar os templos, os altares e as vias públicas com motivo de alguma Solenidade. Há, contudo, trabalhos que, ainda sendo piedosos, não estão permitidos aos Domingos, tais como fabricar imagens de Santos, Escapulários, Rosários, hóstias, flores para a Igreja, lavar as alfaias do altar etc.; e

3.° Enfim, a necessidade.

É preciso evitar os bailes, as reuniões de recreio que tem lugar nos dias de festa do Padroeiro, as tabernas, os jogos demasiadamente prolongados, as compras e a vendas.

Os profanadores do Domingo são castigados

Aquele que viole meu sábado, diz o Senhor, será castigado com a morte (Ex 3, 13).

A profanação do sábado é um dos crimes contra os quais o Senhor Se manifesta mais irritado, e não deixa de ameaçar, por meio de seus profetas, aos profanadores deste Santo Dia.

Consultado sobre o castigo que se haveria de impor a um homem que havia recolhido um pouco de lenha no dia de sábado, o Senhor ordenou que fosse apedrejado (Nm 15, 32-36)[4].


Referências:

[1] Os recentes desenvolvimentos da espiritualidade do trabalho aconselharia a atualizar essa expressão como “destinados ao trabalho” ou “vocacionados ao trabalho”, por causa das valiosas graças de santificação pessoal e familiar por meio do trabalho profissional ou de um ofício laboral (Nota do tradutor).

[2] Lei de Moisés (Nota do tradutor).

[3] Hora canônica do Liturgia das Horas.

[4] Eis o texto, segundo a tradução da Bíblia de Jerusalém: “Aquele, porém, que procede deliberadamente, quer seja nativo, quer estrangeiro, comete ultraje contra Iahweh. Tal indivíduo será exterminado do meio do seu povo: desprezou a palavra de Iahweh e violou o seu mandamento. Este indivíduo deverá ser eliminado, pois a sua culpa está nele mesmo. Enquanto os filhos de Israel estavam no deserto, um homem foi surpreendido apanhando lenha no dia de sábado. Aqueles que o surpreenderam recolhendo lenha trouxeram-no a Moisés, a Aarão e a toda a comunidade. Puseram-no sob guarda, pois não estava ainda determinado o que se devia fazer com ele. Iahweh disse a Moisés: “Tal homem deve ser morto. Toda a comunidade o apedrejará fora do acampa mento.” Toda a comunidade o levou para fora do acampamento e o apedrejou até que morreu, como Iahweh ordenara a Moisés.” Sugere-se, aqui, considerar o rigor deste texto citado à luz dos elevados ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo acerca do valor espiritual do sábado e da superioridade do mandamento do amor oblativo em todas as obras realizadas no dia do Senhor, as quais, longe de profaná-lo, santificam-no (Nota do tradutor).