O tempo é pouquíssima coisa considerado em si mesmo
O tempo é uma sombra, um vapor, um vaidade, um nada... O tempo é uma cena de teatro na qual se contam as fábulas desta vida: os homens são os atores: entram e saem; e o lugar do teatro é a Terra. Uma geração passa, e sucede-lhe outra, diz o Eclesiástico:
Generatio praeterit, et generatio advenit (Eclo 1, 4). Há duas portas para esta encenação: a
porta do nascimento e a
porta da morte. Cada ator desempenha um papel. Depois que um rei representa deixa muito prontamente suas vestes de púrpura, e o mesmo acontece aos demais. Esta comédia acaba logo em seguida. Deus quer que não termine senão em horrível tragédia. Ó palácios, propriedades de recreação, cidades, casas, terra, ouro e prata, dizei-me: quantos donos tivestes? Quantos outros tereis? Dizei-me: onde está Salomão, tão sábio? Sansão, tão forte? Absalão, tão formoso? Cícero, tão eloquente? Aristóteles, tão entendido? Alexandre, tão grande conquistador? E César Augusto, monarca tão poderoso? Onde estão hoje todos aqueles amigos, aquela abundância de coisas, aqueles homens considerados como oráculos, aqueles exércitos fortes e numerosos, aquela multidão de nobres, de cavaleiros, de príncipes e de homens ilustres? Em um abrir e fechar de olhos, tudo desapareceu! Ó, pasto de vermes! Ó, gota de orvalho! Ó, vaidade! Ó, nada!