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Da Imaculada Conceição

Resumo histórico.

Pelos fins do século VII apareceram alguns hinos, e, a partir do século VIII, celebravam-se em vários conventos do Oriente festas em louvor da Imaculada Conceição. Em 1166 o imperador Manuel Comneno declarou a festa como feriado nacional. Do Oriente veio ela para o sul da Itália, donde passou para a Normandia. Mais tarde tornaram-se os franciscanos inconfundíveis beneméritos da propagação e popularização da festa. Veio depois o período das discussões teologais nas escolas. Nelas ficaram bem assentadas e esclarecidas as noções e as provas. Pôde assim Pio IX declarar dogma de fé e doutrina que ensina ter sido a Mãe de Deus concebida sem mancha, por um especial privilégio divino. Dava-se isto aos 8 de dezembro de 1854, pela Bula Ineffabilis. Pio IX, ao declarar Santo Afonso doutor da Igreja, afirmou “que nos escritos do Santo encontrara, belamente exposto e irrefutavelmente provado”, o que definira como Chefe da Cristandade (Nota do tradutor).

Quanto convinha às três Pessoas divinas preservar Maria da culpa original

Incalculável foi a ruína que o maldito pecado causou a Adão e a todo o gênero humano. Perdendo então miseravelmente a graça de Deus, com ela perdeu também todos os outros bens que no começo o enriqueciam. Sobre si e seus descendentes ao lado da cólera divina, atraiu uma multidão de males. Dessa comum desventura quis Deus, entretanto, eximir a Virgem bendita. Destinara-a para ser a Mãe do segundo Adão, Jesus Cristo, o qual devia reparar o infortúnio causado pelo primeiro. Ora, vejamos quanto convinha às Três Pessoas preservar Maria da culpa primitiva. E isso por ser ela Filha de Deus Pai, Mãe de Deus Filho e Esposa de Deus Espírito Santo.

I. Convinha ao Pai Eterno isentar da culpa original a Maria

É Maria afilha primogênita do Pai Eterno

Declara-o ela própria com as palavras do Eclesiástico:

“Eu saí da boca do Altíssimo, a primogênita antes de todas as criaturas” (24,5).

Os sagrados intérpretes e os Santos Padres aplicam-lhe esse texto, e a própria Igreja dele se serve na festa da Imaculada Conceição.

Com efeito, é Maria a primogênita de Deus por ter sido predestinada juntamente com o Filho nos decretos divinos, antes de todas as criaturas. Assim o ensina a escola dos escotistas. Ou então é a primogênita, depois da previsão do pecado, como quer a escola dos Tomistas. São acordes, porém, uns e outros em chamá-la primogênita do Senhor. Sendo assim, era sumamente conveniente que Maria sequer um instante fosse escrava de Lúcifer, mas pertencesse sempre e unicamente a seu Criador.

Tal se deu em realidade, conforme as palavras da Virgem:

“O Senhor me possuiu no princípio de seus caminhos” (Pr 8, 22).

Com razão, pois, lhe dá Dionísio, Arcebispo de Alexandria, o título de única e exclusiva Filha da vida, diferente das outras mulheres, que, nascendo em pecado, são filhas da morte. Criá-la em graça bem convinha, portanto, ao Pai Eterno.

A missão de reparadora do mundo perdido e de medianeira entre Deus e os homens apresenta o segundo motivo para a preservação da Virgem Maria

Assim a chamam os Santos Padres, especialmente São João Damasceno, que diz: Ó Virgem bendita, nascestes para servir à salvação de toda a terra. Por isso, na opinião de São Bernardo, foi a arca de Noé uma figura de Maria. Naquela foram livres os homens do dilúvio, tal como por Maria somos salvos do naufrágio do pecado. Há somente a seguinte diferença: por meio de Maria foi todo o gênero humano libertado. Daí o chamar-lhe o Pseudo-Atanásio “nova Eva, mãe dos vivos”. Nova Eva porque a primeira foi mãe da morte, mas a Virgem Santíssima é Mãe da vida. São Teófano, Bispo de Niceia, diz à Senhora a mesma saudação: Eu vos saúdo, porque tirastes o luto no qual Eva nos amortalhou. São Basílio nela saúda a reconciliadora dos homens com Deus; Santo Efrém, a pacificadora do mundo universo.

Ora é inconveniente que o intermediário da paz seja inimigo do ofendido, ou, pior ainda, que seja cúmplice do mesmo delito. Para aplacar um juiz, não se lhe pode mandar um seu inimigo, observa Gregório Magno. Este, em vez de o aplacar, mais o irritaria. Entretanto, Maria tinha de ser medianeira de paz entre Deus e os homens. Logo, absolutamente não podia aparecer como pecadora e inimiga de Deus, mas só como sua amiga toda imaculada. Mais um motivo reclamou que Deus preservasse Maria da culpa original.

Sua missão de vencedora da serpente infernal

Seduzindo esta a nossos primeiros pais, trouxera a morte a todos os homens. O Senhor por isso lhe predisserá: Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a descendência dela (Gn 3,15). Ora, Maria devia ser a mulher forte, posta no mundo para vencer a Lúcifer. Não convinha certamente, então, que a princípio houvesse sido subjugada e escravizada por ele. Era, pelo contrário, mais razoável que permanecesse livre sempre de toda mácula e de toda suj eição ao inimigo. Esse espírito mau buscou, sem dúvida, infeccionar a alma puríssima da Virgem, como infeccionado já havia com seu veneno a todo o gênero humano. Mas, louvado seja Deus!, o Senhor a preveniu com tanta graça, que ficou livre de toda mancha do pecado. E dessa maneira pôde a Senhora abater e confundir a soberba do inimigo como declara Santo Agostinho, ou quem quer que seja o autor do Comentário do Gênesis.

Sobretudo um motivo levou o Eterno Pai a tornar ilesa do pecado de Adão a esta sua Filha. Ei-lo:

A eleição dessa Virgem para Mãe de seu Filho unigênito

Assim fala São Bernardo à Senhora: Antes de toda criatura fostes destinada na mente de Deus para Mãe do Homem-Deus. Se não por outro motivo, pois ao menos pela honra de seu Filho que é Deus, era necessário que o Pai Eterno a criasse pura de toda mancha. Escreve Santo Tomás: Devem ser santas e limpas todas as coisas destinadas para Deus. Por isso Davi, ao traçar o plano do templo de Jerusalém com a magnificência digna do Senhor, exclamou: Não se prepara a morada para algum homem, mas para Deus (1Cr 29,1). Ora, o soberano Criador havia destinado Maria para Mãe de seu próprio Filho. Não devia, então, lhe adornar a alma com todas as mais belas prendas, tornando-a digna habitação de um Deus? Afirma o Beato Dionísio Cartuxo: O divino artífice do universo queria preparar para seu Filho uma digna habitação, e por isso ornou a Maria com as mais encantadoras graças. Dessa verdade assegura-nos a própria Igreja. Na oração depois da Salve-Rainha, atesta que Deus preparou o corpo e a alma da Santíssima Virgem, para serem na terra digna habitação de seu Unigênito.

Como é sabido, a primeira glória para os filhos é nascer de pais nobres.

“A glória dos filhos (são) os seus pais” (Pr 17,6).

Por isso, na sociedade menos mortifica passar por pobre e pouco formado, do que ser tido por vil de nascença. Pois com sua indústria pode o pobre enriquecer, e o ignorante fazer-se douto com seus estudos. Mas quem nasce vil, dificilmente pode nobilitar-se, ainda que o consiga, está exposto a ver que lhe atirem em rosto a baixeza de sua origem. Deus, entretanto, podia dar a seu Filho uma Mãe nobilíssima e ilibada da culpa original. Como então admitir que lhe tenha dado uma manchada pelo pecado? Como dar a Lúcifer o ensejo de exprobrar ao Filho de Deus a vergonha de ter nascido de uma Mãe que outrora fora escrava sua e inimiga de Deus? Não; o Senhor não lho permitiu. Proveu à honra de seu Filho, fazendo com que Maria fosse sempre imaculada. Assim a fez digna Mãe de tal Filho, como testemunha a Igreja Oriental.

Dom algum jamais concedido a alguma criatura, do qual não fosse enriquecida também a Virgem. É este um axioma comum entre os teólogos. Para confirmá-lo eis as palavras de São Bernardo: O que a poucos mortais foi concedido, não ficou sonegado à excelsa Virgem; nem sombra de dúvida pode haver nisso. São Tomás de Vilanova assim depõe: Nenhuma graça foi concedida aos santos, sem que Maria a possuísse desde o começo em sua plenitude. Há, porém, entre a Mãe de Deus e os servos de Deus uma infinita distância, segundo a célebre sentença de São João Damasceno. Logo, à sua Mãe terá Deus conferido privilégios de graças, em todo sentido maiores de quantos outorgou a seus servos. Forçosamente assim teremos de concluir com Santo Tomás. Isto suposto, pergunta Santo Anselmo – o grande defensor da Imaculada Conceição: – Faltaria poder à Sabedoria divina para preparar a seu Filho uma morada pura e para preservá-la da mancha do gênero humano? Pois, continua o Santo, Deus, que pôde eximir os anjos do céu da ruína de tantos outros, não teria podido preservar a Mãe de seu Filho, a Rainha dos anjos, da queda comum aos homens? E acrescento eu: Deus, que pôde conceder a Eva a graça do vir ao mundo imaculada, não teria podido concedê-la também a Maria?

Ah! certamente que sim! Deus podia fazê-lo, e assim o fez. Diz, por isso, Santo Anselmo: A Virgem, a quem Deus resolveu dar seu Filho Único, tinha de brilhar numa pureza que ofuscasse a de todos os anjos e de todos os homens, e que fosse a maior imaginável possível, abaixo de Deus. Por todos os motivos, era isso conveniente. São João Damasceno exprime o mesmo pensamento com mais clareza:

“O Senhor a conservou tão pura no corpo e na alma, como realmente convinha àquela que iria conceber a Deus em seu seio. Pois santo como ele é, procura morar só entre os santos. Portanto, o Eterno Pai podia dizer a esta filha: Como o lírio entre os espinhos, és tu, minha amiga, entre as filhas (Ct 2,2): Pois, enquanto as outras foram manchadas pelo pecado, tu foste sempre imaculada e cheia de graça”.

II. Convinha a Deus Filho preservar da culpa a Maria, como sua Mãe

Podia o Filho criar para si uma Mãe ilibada

Nenhum outro filho pode escolher sua Mãe. Mas se a algum deles fosse dada tal escolha, qual seria aquele que, podendo ter por Mãe uma rainha, a quisesse escrava? Ou, podendo tê-la nobre, a quisesse vil? Ou, podendo tê-la amiga, a quisesse inimiga de Deus? Ora, o Filho de Deus, e ele tão somente, pode escolher-se mãe a seu agrado. Por conseguinte, deve-se ter por certo que a escolheu tal qual convinha a um Deus. Mas a um Deus puríssimo convinha uma Mãe isenta de toda culpa. Fê-la, por isso, imaculada, escreve S. Bernardino de Sena. E aqui quadra uma passagem de São Paulo: Pois convinha que houvesse para nós um pontífice tal, santo, inocente, impoluto, segregado dos pecadores (Hb 7,26). Um douto autor faz observar que, segundo o Apóstolo, foi conveniente que nosso Redentor fosse separado tanto do pecado como até dos pecadores. Também S. Tomás o afirma com as palavras: Aquele que veio para tirar o pecado devia ser segregado dos pecadores, quanto à culpa que pesava sobre Adão. Mas como poderia Jesus Cristo dizer-se separado dos pecadores, se pecadora lhe fosse a Mãe?

Diz Santo Ambrósio: Cristo procurou-se, não aqui na terra, mas no céu, um vaso de eleição no qual baixou ao mundo, e fez do seio da Virgem um templo sagrado. Em seguida, faz o Santo alusão às palavras de São Paulo: O primeiro homem, formado da terra, é terreno: o segundo, vindo do céu, é celeste (1Cor 15,47). De vaso celeste chama Ambrósio a Divina Mãe. Não que Maria não fosse terrena por natureza, como sonhariam alguns hereges, mas porque ela é celeste pela graça, e excede os anjos do céu em santidade e pureza. Assim convinha ao Rei da glória, que havia de habitar em seu seio conforme a Santa Brígida o revelou São João Batista. O mesmo dizem as palavras de Deus Pai à referida Santa:

“Maria foi ao mesmo tempo um vaso puro e manchado. Puro, porque era formosíssima; manchado, porque nascida de pecadores. Não obstante, foi concebida sem pecado”.

As últimas palavras não devem ser entendidas como se Cristo Senhor fosse capaz de contrair culpa. Significam apenas que não devia passar pelo opróbio de nascer de uma criatura manchada pelo pecado e escrava do demônio.

A honra do Filho reclamava-lhe por Mãe uma criatura imaculada

Diz o Espírito Santo: A glória do homem provém da honra de seu pai, e o desdouro do filho é um pai sem honra (Eclo 3,13). É por isso, observa o Pseudo-Agostinho, que Jesus preservou o corpo de Maria da corrupção depois da morte. Pois ser-lhe-ia desonroso corromperem-se as carnes virginais de que ele se havia revestido. Para o Senhor seria um opróbrio, portanto, nascer de uma mãe, cujo corpo fosse entregue à podridão. Ora, quanto mais o seria, então, se esta mãe tivesse a alma corrompida pela podridão do pecado? Note-se, além disso, que a carne de Jesus é a mesma que a de Maria. E de tal modo o é, que, segundo o sobredito autor, até depois da ressurreição ela ficou sendo a mesma que tomara de Maria. Sobre isso observa Arnoldo de Chartres:

“Uma é a carne de Jesus e de Maria. Na minha opinião, não dividem eles por isso entre si a grandeza, mas possuem a mesma glória”.

Estabelecida esta verdade, qual seria a consequência, se Maria tivesse sido concebida em pecado? Para o Filho, embora não pudesse contrair a nódoa do pecado, daí resultaria sempre uma tal ou qual mancha. Pois não havia assumido uma carne outrora corrompida pela culpa, vaso de corrupção, sujeita a Lúcifer?

A dignidade do Filho exigia uma Mãe nos esplendores de consumada santidade

Maria não só foi Mãe, senão também digna Mãe do Salvador. Tal a proclama o coro uníssono nos Santos Padres. Diz-lhe Egberto, abade de Schoenau: no teu seio virginal escolheu o Rei dos reis sua primeira habitação; só tu foste achada digna por ele. E Santo Tomás de Vilanova: Antes de conceber o Verbo Divino, foste digna de ser Mãe de Jesus Cristo. A própria Igreja atesta que a Virgem mereceu ser Mãe de Deus. Isso explicando, diz Santo Tomás: Não pôde Maria merecer propriamente a Encarnação do Verbo, mas com o socorro da graça mereceu tão grande perfeição, que se tornou digna Mãe de um Deus. Também assim pensa o Pseudo-Agostinho: Por causa da sua singular santidade, e por mercê de Deus, mereceu a Virgem ser julgada singularmente digna de conceber o Altíssimo.

Acima de toda dúvida está, portanto, que Maria foi digna Mãe de Deus. Que excelência, que perfeição, não devia, por conseguinte, ser a sua? pergunta São Tomás de Vilanova. Quando Deus eleva alguém a uma alta dignidade, também O torna apto para exercê-la, ensina o Doutor Angélico. Tendo eleito Maria por Mãe, certamente por sua graça a tornou digna de tão sublime honra. E daí o Santo deduz que jamais cometeu Maria pecado atual, nem venial sequer Digna não teria sido, ao contrário, como Mãe de Jesus Cristo, porquanto a ignomínia da mãe passaria para o Filho, descendente de uma pecadora.

Cometesse Maria um só pecado venial, que enfim não priva a alma da divina graça, e já não seria digna Mãe de Deus. E quanto menos o seria então, se sobre ela pesasse a culpa original? Com semelhante culpa tornar-se-ia inimiga de Deus e escrava do demônio. Levou esta reflexão Santo Agostinho a pronunciar aquela célebre sentença: Nem se deve tocar na palavra pecado, em se tratando de Maria; e isso por respeito àquele de quem mereceu ser a Mãe, o qual a preservou de todo pecado por sua graça.

Com São Pedro Damião e São Paulo devemos, pois, ter por certo que O Verbo Encarnado escolheu para si mesmo uma Mãe digna, da qual se não tivesse que envergonhar. Despresivelmente, os judeus chamavam a Jesus de Filho de Maria, isto é, filho de uma mulher pobre.

“Não é sua mãe essa que é chamada Maria?” (Mt 13,55).

Não o atingiu esse desprezo, a ele que vinha dar ao mundo exemplos de humildade e paciência. Mas ser-lhe-ia certamente um grande opróbrio, se tivesse de ouvir dos demônios: Não é sua mãe essa que é pecadora? Que nascesse Jesus de uma mãe disforme e mutilada no corpo, ou possessa do demônio, seria igualmente inadmissível. Quanto mais, por conseguinte, o será o nascer ele de uma mulher, cuja alma por algum tempo houvesse sido deformada e possessa por Lúcifer?

É Deus a própria Sabedoria. Oh! como soube fabricar a casa em que havia de habitar na terra, e como conseguiu fazê-la realmente digna de si mesmo!

“O Altíssimo santificou seu tabernáculo; Deus está no meio dele” (Sl 45,5).

O Senhor, diz Davi, santificou seu tabernáculo desde o raiar da manhã, isto é, desde o princípio de sua vida, para o tornar digno de si. Pois não convinha a um Deus tão santo outra habitação, que não uma santa.

“A santidade convém à vossa casa, Senhor” (Sl 42,6).

Protesta o Senhor que nunca há de entrar ou habitar na alma maligna, ou no corpo sujeito ao pecado (Sb 1,14). Como supor então que houvesse determinado morar na alma e no corpo de Maria, sem antecipadamente santificá-los e preservá-los de toda mancha do pecado? Pois Santo Tomás acentua que o Verbo Eterno habitou não só na alma, como também no seio de Maria. Canta a Santa Igreja: Senhor, não tivestes horror de habitar no seio da Virgem. Com efeito, a Deus repugnaria habitar no seio de uma Inês, de uma Gertrudes, de uma Santa Teresa. Embora santas, foram enfim essas virgens maculadas pelo pecado original. Não o horrorizou entretanto fazer-se homem no seio de Maria, porque esta Virgem predileta foi sempre ilibada de culpa e jamais possuída pela serpente inimiga. Por isso, escreve o Pseudo-Agostinho: O Filho de Deus não edificou para sua habitação outra mais digna do que Maria, que nunca foi escravizada pelos inimigos, nunca esteve despojada de seus ornamentos. Quem jamais ouviu dizer, pergunta São Cirilo de Alexandria, que um arquiteto, erguendo-se uma casa de moradia, consentisse que um seu inimigo a possuísse inteiramente e habitasse?

Convinha ao Legislador do IV mandamento preservar sua Mãe da Mancha original

O Senhor nos deu o preceito de honrar os nossos pais. Ele próprio não quis deixar de observá-lo ao fazer-se homem, nota São Metódio, e por isso cumulou sua Mãe de todas as graças e honras. Portanto, conforme o Pseudo-Agostinho, deve-se certamente crer que Jesus preservou da corrupção o corpo de Maria, depois da morte, como acima o dissemos. Ora, quanto menos então teria Jesus Cristo atendido à honra de sua Mãe, se a não houvesse preservado da culpa de Adão? Certamente pecaria o filho que, podendo preservar a mãe da culpa original, não o fizesse logo, observa o agostiniano Tomás de Estrasburgo. Mas – continua ele – o que para nós seria pecado, não seria certamente decoroso ao Filho de Deus. Podendo fazer sua Mãe imaculada, tê-lo-ia deixado de fazer? Não; é isso impossível, diz Gerson.

Além do mais, é sabido que o Salvador veio ao mundo mais para remir a Maria, de que a todos os outros homens, escreve São Bernardino de Sena. Dois, porém, são os modos de remir, na opinião de Suárez Consiste o primeiro em levantar o decaído e o segundo, em preservá-lo da queda. É fora de dúvida que este último é o mais nobre, observa Santo Antonino. Por ele se previne ao dano e à nódoa que resultam da queda. Quanto a Maria, devemos crer, por conseguinte, que foi remida por este modo mais nobre, e modo mais conveniente à Mãe de Deus como reafirma um escritor sob nome de São Boaventura. Diz sobre isto com muita elegância o Cardeal Cusano: Os outros tiveram um Redentor que os livrou do pecado já contraído; porém a Santíssima Virgem teve um Redentor que, em sendo seu Filho, a livrou de contrair o pecado.

Em conclusão a este ponto recordo as palavras de Hugo de São Vítor: Se o Cordeiro foi sempre imaculado, sempre ilibada deve também ter sido a Mãe, porque é pelo fruto que se conhece a árvore. E por isso assim a saúda: Ó digna Mãe de um digno Filho! Maria era de fato digna Mãe de tal Filho e só Jesus era digno Filho de tal Mãe. Acrescenta depois: Ó formosa Mãe do belo Filho, ó excelsa Mãe do Altíssimo! – Digamos-lhe, pois, com o assim chamado Santo Ildefonso: Alimentai com vosso leite, ó Mãe, o vosso Criador; alimentai aquele que vos fez, e tão pura e tão perfeita vos criou, que merecestes que de vós ele próprio tomasse o ser humano.

Se conveio ao Pai preservar Maria do pecado, porque lhe era Filha, e ao Filho porque lhe era Mãe, está visto que o mesmo se há de dizer do Espírito Santo, de quem era Virgem Esposa.

III. Sendo-lhe Maria Esposa, convinha ao Espírito Santo preservá-la da mancha original

A Esposa do Espírito Santo convinha uma formosura ilibada

Foi Maria a única que, no dizer do Pseudo-Agostinho, mereceu ser chamada Mãe e Esposa de Deus. Com efeito, assevera Eádmero, o Espírito Santo veio corporalmente a Maria, enriqueceu-a de graça sobre todas as criaturas e nela repousou, fazendo-a sua Esposa, Rainha do céu e da terra. Veio corporalmente a Maria, diz ele, quanto ao efeito; pois veio formar de seu corpo imaculado o imaculado corpo de Jesus. Assim lhe predisse o arcanjo: O Espírito Santo descerá sobre ti (Lc 1,35). Chama-se por isso Maria templo do Senhor, sacrário do Espírito Santo, porque por virtude dele se tornou Mãe do Verbo Encarnado, observa Santo Tomás.

Suponhamos que um excelente pintor tivesse que desposar uma noiva, formosa ou feia, conforme os traços que lhe desse. Que diligência não empregaria, então, para torná-la a mais bela possível! Quem poderá, pois, dizer que outro tenha sido o modo de agir do Espírito Santo, relativamente a Maria? Podendo criar uma Esposa toda formosa, qual lhe convinha, tê-lo-ia deixado de fazer? Não; tal como lhe convinha a fez, como atesta o próprio Senhor, celebrando os louvores de Maria: És toda formosa, minha amiga, em ti não há mancha original (Ct 4,7).

Na asserção dos santos Ildefonso e Tomás essas palavras se entendem da Virgem, conforme refere Cornélio a Lápide. São Bernardino de Sena e São Lourenço Justiniano afirmam que se devem entender justamente da Imaculada Conceição de Maria. De onde a palavra de Raimundo Jordão: Virgem bendita, és formosíssima em todo sentido; em ti não há mancha alguma de qualquer pecado, leve ou grave ou original. Idêntico é o pensamento do Espírito Santo, chamando sua Esposa de “jardim fechado e fonte selada” (Ct 4,12). O Pseudo-Jerônimo escreve: É Maria esse jardim fechado, essa fonte selada; jamais os inimigos nela entraram para ofendê-la, e sempre permaneceu ilesa, santa na alma e no corpo. Do mesmo modo saúda-a Egberto: És um jardim fechado no qual mãos de pecadores nunca penetraram para lhe roubar as flores.

À Esposa do Espírito Santo convinha uma santidade sem par

Sabemos que, acima de todos os santos e anjos, o Divino Esposo amou a Maria, como acentua Suárez com São Lourenço Justiniano e outros. Desde o princípio amou-a, exaltando-a em santidade sobre todas as criaturas, insinua Davi com as palavras: Seus alicerces estão sobre as montanhas santas; o Senhor ama as portas de Sião mais do que a todas as tendas de Jacó… e o mesmo Altíssimo a fundou (Sl 86,5). Tais expressões significam que Maria foi santa desde o momento de sua conceição. É o que parecem dizer ainda outras palavras do Espírito Santo, nos Provérbios: Muitas filhas ajuntaram riquezas; tu excedeste a todas (31,9). Se, pois, a todas excedeu em riquezas da graça, possuiu também, por conseguinte, a j ustiça original, como a possuíram Adão e os anj os. De mais a mais, nos Cânticos nós lemos: Estão comigo um sem-número de virgens, mas uma só é a minha pomba, a minha perfeita (no hebraico: minha imaculada); ela é a única para sua mãe (6,7). Todas as almas justas são filhas da graça divina. No meio delas, porém, foi Maria a pomba sem fel, a perfeita sem mancha de origem, a única em graça concebida.

Achou-a por isso o anjo logo cheia de graça, mesmo antes de ser Mãe de Deus, e saudou-a nestes termos: Ave, cheia de graça! Sobre o texto diz o Pseudo-Jerônimo: Aos outros santos a graça é dada em parte, contudo a Maria foi dada em sua plenitude. De modo que, observa S. Tomás, a graça santificou não só a alma, senão também a carne de Maria, a fim de que com ela revestisse depois o Verbo Eterno. Tudo isso nos leva a reconhecer, com Pedro de Celes, que Maria desde sua conceição foi cumulada com as riquezas da graça pelo Espírito Santo. Daí a palavra de Nicolau, monge: O Espírito raptou para si a eleita de Deus e a escolhida entre todas. Quer assim exprimir o autor a rapidez com a qual o Espírito Santo se antecipou e desposou a Virgem, antes que Lúcifer a possuísse.

Ainda uma consideração para concluir este discurso, no qual mais do que nos outros me tenho demorado. Motiva-o a circunstância de nossa pequena Congregação ter por principal protetora a Santíssima Virgem Maria, precisamente sob este título de Imaculada Conceição. Quero declarar concisamente quais os motivos que me convenceram, e me parece que devem convencer a todos, da verdade desta sentença, tão pia e de tamanha glória para a Mãe de Deus.

Certeza da Imaculada Conceição

Advertência.

Muitos doutores sustentam que Maria foi isenta de contrair até o débito do pecado. Assim falam Galatino, o Cardeal Cusano, de Ponte, Salazar, Catarino, Viva, Novarino, de Lugo e outros. Essa opinião é muito bem fundada. Apoiando- se na sentença de S. Paulo: “Todos pecaram em Adão”, Gonet, Habert e outros sustentam com fundamento que na vontade de Adão, como chefe do gênero humano, foram incluídas as vontades de todos os homens. Se isso é provavelmente verdade, também o é que Maria não tenha contraído o débito do pecado original. Pois tendo-a Deus com sua graça singularmente distinguido do comum dos homens, devemos crer piamente que a vontade de Maria não foi incluída na de Adão. Essa opinião é provável apenas, mas eu adoto como sendo mais gloriosa para minha Senhora.

(Santo Afonso escreveu o presente livro em 1750, portanto 104 anos antes da promulgação do dogma da Imaculada Conceição. Com este seu trabalho, e com outros escritos ascéticos, contribuiu muitíssimo para mais este triunfo de Nossa Senhora – Nota do tradutor).

Tenho por certa, entretanto, a sentença de que Maria não contraiu o pecado de Adão. Igualmente por tal, e quase por dogma de fé, têm-na o Cardeal Everardo, Duvállio, Reinaldo e Lossada, Viva e outros muitos. Não tomo em conta as revelações feitas a S. Brígida e aprovadas pelo Cardeal Turrecremata e por quatro Sumos Pontífices. Comparem-se por exemplo vários trechos do Livro VI. Mas tenho de apresentar impreterivelmente:

O unânime testemunho dos Santos Padres, quanto a esse privilégio de Maria

Santo Ambrósio faz a natureza humana dizer ao Verbo Eterno, no momento de sua Encarnação:

Toma-me, ó Filho de Deus, não de uma Sara, mas de Maria que é uma virgem intacta, virgem isenta, pela graça, de toda mancha do pecado.

Orígenes assim fala sobre Maria: Não está contaminada pelo envenenado hálito da serpente. De imaculada, de livre de todo e mínimo labéu, a chama Santo Efrém. Escreve o Pseudo-Agostinho sobre o texto da saudação angélica: Maria estava – e note-se – completamente livre da cólera da primeira sentença, e possuía a graça toda da bênção. Esta nuvem – são palavras do Pseudo-Jerônimo – nunca foi escura, mas sempre resplandecente.

Vulgato Cipriano (Arnoldo de Chartres) observa:

“A justiça não admitia que aquele vaso de eleição fosse atingido pela mácula comum. Ao contrário de todos os homens, com eles compartilhou da mesma natureza, mas não da mesma culpa”.

Eis as palavras de Santo Anfilóquio: Aquele que formou a primeira virgem sem defeito, formou também a segunda sem mancha e sem culpa. No VI Concílio Ecumênico de Constantinopla (680-81) falou São Sofrônio:

O Filho de Deus baixou ao ventre de Maria guardado intacto por casta virgindade, e a virgem estava isenta de todo contágio no corpo e na alma.

Escreve Vulgato Ildefonso (Pascásio Radberto): É fora de dúvida que a Virgem não foi atingida pela culpa original. São João Damasceno é de opinião que de Maria, como de um limo puríssimo, o Verbo Eterno se escolheu a forma humana. Que o corpo da Virgem não herdou a mancha de Adão, embora dele tenha sua origem, nos garante Nicolau, monge. Por sua vez São Bruno de Segni anuncia: É Maria terra abençoada por Deus e por isso isenta de todo contágio de pecado. É incrível que o Filho de Deus haja querido nascer de uma Virgem, se ela de algum modo houvesse sido maculada pela culpa original, diz São Bernardino de Sena. As palavras de São Lourenço Justiniano testemunham que Deus abençoou a Maria desde o momento de sua conceição. – Sobre o texto onde se afirma que Maria achou graça diante do Senhor, o Abade de Celes tece a seguinte saudação:

Ó dulcíssima Senhora, Deus se agradou extraordinariamente de vós e fostes preservada do pecado original.

De semelhante modo fala um grande número de teólogos.

Finalmente, dois motivos nos certificam da verdade dessa pia sentença.

O primeiro é o consenso universal dos fiéis sobre esse ponto

Atesta o padre Egídio da Apresentação que todas as Ordens religiosas são partidárias da nossa doutrina. Na Ordem de São Domingos, diz um autor moderno, embora 92 escritores defendam a opinião contrária, 136 defendem a nossa. O sentimento comum dos católicos é favorável a essa doutrina. Sobretudo deve convencer-nos a Bula Solicitudo omnium Ecclesiarum, de 1661, escrita por Alexandre VII. Nela se diz: A devoção à Virgem Imaculada cresceu e espalhou- se e, depois que as escolas apoiaram essa pia doutrina, a partilham agora quase todos os católicos. Realmente as Academias de Sorbona, de Alcalá, de Salamanca, de Coimbra, de Colônia, de Mogúncia, de Nápoles e muitas outras a defendem com ardor. Nelas o bacharelado laureado compromete-se sob juramento a defender a Imaculada Conceição. De fato, este argumento do consenso comum dos fiéis, empregado pelo doutor Petávio, não nos pode deixar de convencer, anota o sábio bispo Torni. Em verdade, este mesmo consenso dos fiéis já nos certifica da santificação de Maria no seio materno e da sua Assunção ao céu, em corpo e alma. Mas por que não nos certificaria ele igualmente de sua Imaculada Conceição? O outro motivo, mais forte que o primeiro, para nos convencer do glorioso privilégio de Maria Imaculada, é:

A introdução da festa de Nossa Senhora da Conceição pela Igreja universal

Nesse particular vejo, com efeito, que a Igreja celebra o primeiro instante da criação e da união da alma de Maria com o seu corpo. Conclui-se isso da citada Bula de Alexandre VII. Aí ele declara que a Igreja celebra a Conceição de Maria, no sentido que lhe dá a pia sentença, segundo a qual foi ela concebida sem a culpa original. De outro lado sei que a Igreja não pode festejar o que não é santo, conforme a decisão de São Leão, Papa, de Eusébio, e de muitos outros teólogos como o Pseudo-Agostinho, São Bernardo e Santo Tomás. Este último serve-se justamente desse argumento, em prova da santificação de Maria antes de seu nascimento. A Igreja – diz ele – celebra a festa da Natividade de Maria. Ora, festejando ela tão somente o que é santo, diga-se que Maria já foi, por conseguinte, santificada no seio materno. No pensamento do Santo Doutor é certa a santificação da Virgem por lhe celebrar a Igreja essa data. Por que então não poderemos ter por certo que Maria foi preservada do pecado original, desde o primeiro instante de sua Conceição, já que é notório que, nesse mesmo sentido, a mesma Igreja estabeleceu uma festa própria?

Tem o Senhor se dignado confirmar esse grande privilégio de Maria, dispensando cada dia no reino de Nápoles inumeráveis e prodigiosas graças, por meio das estampas da Imaculada Conceição. Eu poderia referir muitos para os quais os padres de nossa Congregação deram ensejo.

Exemplo

Numa das casas de nossa Congregação no reino de Nápoles, aconteceu ir uma vez certa mulher dizer a um dos nossos padres que seu marido não se confessava havia muitos anos. A pobre não sabia mais que meios empregar para levá-lo ao cumprimento de seus deveres religiosos, pois que a maltratava quando lhe falava em confissão. Aconselhou o padre que desse ao marido uma estampa de Maria Imaculada. À noite ela pediu de novo ao rebelde que se confessasse. Foi em vão; como de costume ele fez-se de surdo. Deu-lhe então a esposa a referida estampa. E eis que apenas a recebeu, o marido disse logo: Então quando queres que me confesse? Estou pronto.

– A mulher pôs-se a chorar de alegria, vendo aquela mudança tão súbita. Na manhã seguinte, foi com efeito à nossa igreja. O padre perguntou-lhe há quanto tempo não se confessava.

– Há vinte e oito anos, respondeu ele.

– E como, tornou o padre, se resolveu a vir hoje?

– Meu pai, tornou ele, eu estava obstinado; mas ontem à noite minha mulher deu-me uma imagem de Nossa Senhora, e logo senti mudar-se-me o coração. E isso de tal sorte que esta noite os momentos me pareciam mil anos, tanto desejava que amanhecesse para vir confessar-me.

– Confessou-se efetivamente com muita compunção, mudou de vida, e continuou por muitos anos a confessar-se a miúdo com o mesmo padre.

Num lugar da diocese de Salerno, durante uma missão que aí demos, havia certo homem que nutria grande inimizade contra um outro que o tinha ofendido. Um padre exortou-o ao perdão, porém ele respondeu:

– Meu padre, já que me vistes assistir às prédicas

– Não.

– E sabeis por quê? É que já me vejo condenado; mas não me importa: quero vingar-me.

– O padre empregou todos os meios para dissuadi-lo, porém, vendo que eram baldadas suas palavras: Tomai, disse-lhe, esta estampa da Senhora da Conceição. A princípio o homem respondeu: E para que serve ela? Mas assim que a tomou, como se nunca se tivesse negado a perdoar, disse ao missionário: Padre, não quereis mais alguma coisa além do perdão? Estou pronto a concedê-lo.

– Com efeito marcaram a reconciliação para a manhã seguinte. No outro dia, entretanto, o homem mudou de opinião, e j á nada mais queria fazer. Ofereceu-lhe o padre outra imagem, que ele recusou no começo, mas afinal, à força de instâncias, recebeu. E, ó maravilha! apenas segurou essa segunda imagem, disse imediatamente:

– Ora, vamos! acabemos logo com esta briga! Onde está o meu inimigo? – Perdoou logo, com efeito, confessando-se em seguida.

Oração

Ó minha Senhora, minha Imaculada, alegro-me convosco por ver-vos enriquecida de tanta pureza. Agradeço e proponho agradecer sempre a nosso comum Criador por ter-vos ele preservado de toda mancha de culpa. Disso tenho plena convicção e, para defender este vosso tão grande e singular privilégio da Imaculada Conceição, juro dar até a minha vida. Estou pronto a fazê-lo, se preciso for. Desejaria que o mundo universo vos reconhecesse e confessasse como aquela formosa aurora, sempre adornada da divina luz; como aquela arca eleita de salvação, livre do comum naufrágio do pecado; como aquela perfeita e imaculada pomba, qual vos declarou vosso divino Esposo; como aquele jardim fechado, que foi as delícias de Deus; como aquela fonte selada, na qual o inimigo jamais pôde entrar para turvá-la; como aquele cândido lírio, finalmente, que, brotando entre os espinhos dos filhos de Adão, enquanto todos nascem manchados da culpa e inimigos de Deus, vós nascestes pura e imaculada, amiga de vosso Criador.

Consenti, pois, que ainda vos louve, como vos louvou vosso próprio Deus: Toda sois formosa e em vós não há mancha. Ó pomba puríssima, toda cândida, toda bela, sempre amiga de Deus! Dulcíssima, amabilíssima, imaculada Maria, vós que sois tão bela aos olhos do Senhor, não recuseis olhar com vossos piedosíssimos olhos as chagas tão asquerosas de minha alma. Olhai-me, compadecei-vos de mim, e curai-me. Ó belo ímã dos corações, atraí para vós também este meu miserável coração. Tende piedade de mim, que não só nasci em pecado, mas ainda depois do batismo manchei minha alma com novas culpas, ó Senhora, que desde o primeiro instante de vossa vida aparecestes bela e pura aos olhos de Deus. Que graça vos poderá negar o Deus que vos escolheu para sua Filha, sua Mãe e sua Esposa, e por essa razão vos preservou de toda mancha? Virgem Imaculada, a vós compete salvar-me, dir-vos-ei com São Filipe Néri. Fazei que me lembre de vós; e não vos esqueçais de mim. Parece tardar mil anos o momento de ir contemplar vossa beleza no Paraíso, para melhor louvar-vos e amar-vos, minha Mãe, minha Rainha, minha Amada, belíssima, dulcíssima, puríssima, imaculada Maria. Amém.

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