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A Imaculada Conceição da Santíssima Virgem

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Graça concedida a Maria na sua Conceição

O favor mais precioso que a Santíssima Virgem recebeu da liberalidade divina foi o de ser concebida pura e sem mancha. Por um privilégio só a Ela concedido, Deus a preservou do pecado original, de que todos nascemos culpados. A qualidade de Mãe de Deus, para a qual Maria se achava destinada, exigia esta gloriosa prerrogativa. Aquela que devia dar ao mundo o Deus de toda a santidade; aquela a quem Deus tinha escolhido para ser objeto de Suas complacências; aquela que devia esmagar a cabeça da serpente infernal, poderia ser acaso, ainda por um só instante, escrava do demônio, inimiga de Deus, filha de perdição e da ira? Não! Isso repugnava inteiramente à sabedoria e santidade de Deus. Por esta razão Maria foi pura, santa, imaculada desde o primeiro instante de sua existência. Sua alma, formosa foi cheia então de bênçãos e graças; e enriquecida de todas as virtudes; e seu coração, destinado para ser o santuário da Divindade, nunca foi manchado pelo hálito impuro do pecado. Regozijemo-nos com a Igreja por este favor concedido a Maria; protestemos-lhe venerar e defender até à morte este privilégio admirável, que hoje se acha definido pela autoridade infalível da Igreja como irrefragável dogma de fé.

Quanto ela estimou esta graça

A Santíssima Virgem era Mãe de Deus, Rainha dos homens e dos anjos, Soberana do universo; mas a qualidade de Imaculada lhe parecia mais preciosa do que todas as outras, porque a fazia sem dúvida mais agradáveis a Deus. Se lhe fôra dada escolha, teria ela preferido à própria maternidade divina a vantagem de ser livre do pecado original. A mais eminente dignidade não lhe teria parecido capaz de a compensar da infelicidade de ter estado um só instante na inimizade de Deus, fora da sua graça. Ah! Quanto não são diversos nossos sentimentos! Quantas vezes não temos nós passado dias, meses e anos inteiros, em tão deplorável estado! Aprendamos hoje de nossa divina Mãe, que a única coisa que devemos temer é o pecado, e que, não são as qualidades do corpo, do espírito e do nascimento, o que deve verdadeiramente merecer a nossa estima e apreço; mas a graça de Deus, a virtude, a santidade, a inocência de coração.

Quanto fez por conservá-la

Ainda que a Santíssima Virgem foi isenta de toda a fraqueza e inclinação para o mal; concebida com todos os privilégios da inocência e confirmada em graça por uma providência especial; contudo temia o pecado do qual, pela onipotência divina, estava perpetuamente preservada; fugia cuidadosamente de todas as ocasiões dele, conservava-se alerta e excitava uma contínua vigilância sobre os sentidos. Passava uma vida laboriosa, penitente e mortificada; fazia todos os dias novos esforços para se adiantar na perfeição. Que exemplo para nós, que, longe de termos sido confirmados em graça, nascemos no pecado, e com uma inclinação tão violenta para o mal! Para nós, cheios de hábitos criminosos, e tão fracos na virtude! Será, pois, de admirar que demos quedas tão frequentes e criminosas, se tomamos tão poucas precauções para evitar o pecado, e se muitas vezes até parece que procuramos todos os meios mais próprios para irritar as nossas paixões?!

ORAÇÃO

Mãe amabilíssima de Jesus, eu me sinto deveras animado, quando na vossa imaculada Conceição vos vejo calcando o demônio aos pés. Sois a mulher forte, anunciada desde o princípio do mundo para esmagar a cabeça da infernal serpente. Esmagaste-la desde o primeiro momento de vossa existência, e sempre resististes a seus tiros envenenados. Misericordiosíssima Virgem, lançai sobre mim olhos compassivos, vede as profundas feridas que este cruel inimigo tem feito em minha alma. Ah! Se eu tivesse sido mais fiel em implorar o vosso socorro, não teria tantos golpes mortais! Daqui em diante, em todas as tentações, me dirigirei a vós com humilde confiança, e espero que tereis piedade de mim, que me dareis a mão, que me alcançareis a força de combater todos os meus inimigos, e que, depois de ter alcançado vitória neste mundo, irei receber no céu a corôa da imortalidade, prometida aqueles que legitimamente combaterem.

Agora se faz o Ato após a Meditação

EXEMPLO

Uma lembrança do mês de Maria

Jerônimo era um pobre operário que, apesar de dotado de excelente coração, tinha-se deixado dominar pelo vício da embriaguez. Viúvo havia pouco mais dum ano, a mulher, criatura muito piedosa e temente a Deus, deixara-lhe uma filha e três filhos, que ele todas as noites abandonava para ir a uma taberna, aonde gastava a maior parte do que ganhava, e que devia servir-lhe para alimentação dos filhos.

Uma tarde, quando deixara o trabalho e se dispunha a sair da oficina, esta ideia lhe atravessou a mente:

“Que estarão a fazer os rapazes? Vou espreitá-los antes de ir para a venda”

E este pensamento, ou brotasse do seu bom natural, ou fosse uma inspiração da sua defunta esposa, que velava por ele lá do céu, o que é certo é que Jerônimo, acendeu o cachimbo, saiu da oficina e dirigiu-se para a sua morada no quarto andar de um grande edifício, dividido em pequenas habitações, aonde viviam algumas vinte famílias de operários.

Ao subir a escada, um ruído de vozes agudas, de cânticos infantis lhe feriu o ouvido:

“Bravo! Parece que lá por cima estão muito contentes”

E continuou subindo vagarosamente a fumar no seu cachimbo

“Os rapazes estão a cantar!”, continuou Jerônimo

Chegando à porta de onde saíam as vozes, escutou alguns momentos e, como o canto continuava, impeliu-a ligeiramente sem fazer ruído, julgando surpreender os filhos nos seus jogos infantis.

As crianças continuavam a cantar. Jerônimo entrou sem que o sentissem. Um espetáculo inesperado se lhe deparou então.

Sobre a cômoda de pinho estava uma imagem da Virgem, colocada num troninho de cartão, forrado de papel cor de rosa. Aos lados da imagem, umas jarrinhas de flores naturais, margaridas e lilases, e uma vela de cera, acesa num castiçal de ferro bronzeado, formavam um quadro simples e gracioso, no meio do qual parecia comprazer-se a Divina Mãe dos órfãos!

Aos pés do altarzinho, em frente da Virgem, as crianças ajoelhadas formavam um grupo encantador! A menina mais velha, com um livro na mão, cantava um verso, e os irmãozinhos respondiam em coro, cantando com toda a força, e fixando na Virgem os olhos bem abertos, repletos de admiração, de inocência e candura!

“Temos tolice!” — murmurou Jerônimo

O coro que rompia nesse momento, cortou-lhe a palavra. Era suave esse canto que saía de lábios puros e voava ao infinito nas azas da candura.

Da janela entreaberta, deslizava um sopro da briza que enchia o quarto de frescura e fazia ondular os finíssimos cabelos das louras crianças. Os últimos raios do sol, inundavam o quarto de uma claridade mística e empalideciam ligeiramente a chama vacilante da vela.

Como a brisa aumentava com risco de constipar as pobres crianças e apagar a luz, a pequena menina estendeu o braço e, sem sair do lugar que ocupava, fechou a janela. Apagada a luz do dia, a chama da vela retomou o seu brilho, espargindo um pálido clarão, semelhante ao dos raios da lua, numa bela noite de estio! O canto continuava sempre, e os meninos, piedosamente ajoelhados, pareciam serafins adorando o Eterno.

Lá em baixo, o ruído dos passes dos operários que voltavam das oficinas, portas que se fechavam, vozes que chamavam da escada, faziam como um murmúrio do órgão ao longe, acompanhando um coro aéreo, na esfera celeste. Jerônimo com o cachimbo na boca, negro pelo fumo, tinha-se colocado de pé, à entrada da porta, contemplando, não sem certo prazer, mas com assombro, o espetáculo inesperado, o canto infantil, que primeiro o tinha feito murmurar com desprezo:

“Tolice!”

Pouco a pouco, a influência desta atmosfera perfumada e pura, semelhante à que se respira sob a abóbada dos templos, produziu-lhe uma impressão singular; a atitude das criancinhas ajoelhadas, cujas vozes exalavam ondas de poesia, comovera-o; um sentimento invencível de respeito o invadiu, e, instintivamente, como envergonhado da sua falta, ocultou o cachimbo no bolso. No mesmo instante cessou o canto, e a presidente, sem se voltar disse em voz alta.

“Oremos por nossa mãe” — e imediatamente começou a oração — “Ave-Maria, cheia de graça… etc.”

Prece suave, doce, harmoniosa, exalada por essas vozes infantis, tão puras, tão ternas, murmurada com respeitosa lentidão por pequeninos seres, que, com as mãozinhas erguidas diante da imagem venerada, pareciam sorrir a sua mãe ausente, que eles julgavam no céu.

Uma doce comoção, poderosa, irresistível, se apoderou lentamente de Jerônimo, que, com os olhos cheios de lágrimas, e vencido pela força do exemplo e pelo poder da oração, sem pronunciar uma palavra, receoso de despertar desse sonho, caiu de joelhos atrás dos filhinhos!

Ah! Nessa noite, bem podiam esperá-lo os companheiros lá na taberna!

Quando os filhinhos se levantaram, abraçou-os ternamente, com o pranto nos olhos e a alegria no coração; e eles suspenderam-se-lhe do pescoço, loucos de contentamento!

Sua pobre mãe, tinha-os ensinado a orar e a fazer o mês de Maria. Todas as noites, enquanto esperavam Jerônimo que só entrava por altas horas, a mãe com os filhinhos orava por ele.

As crianças, com essa volubilidade encantadora, com essa tímida expansão, muito tempo refreada, contavam-lhe circunstanciadamente tudo isto, sem exprobações, sem amargura, ingenuamente, felizes por encontrarem de novo um pai que não ralhava, e de falarem de sua saudosa mãe, que tanto os estremecia. E Jerônimo escutava-os encantado, extasiado, satisfeito da alegria dos filhos; e, enquanto duas lágrimas lhe rolavam pelas faces, murmurava:

“Ah! Virtuosa mulher!”

No dia seguinte, quando os pequenos iam principiar os cantos e a oração à Virgem, chegou Jerônimo arquejante de fadiga. Vinha satisfeito. Suas calejadas mãos, enegrecidas pelo carvão da forja, queimadas pelos estilhaços do ferro incandescente, estavam nesse momento repletas de mimosas flores.

“Que lindas flores!” — exclamavam as inocentes! — “São realmente lindas, meus meninos, não é verdade? Sou eu quem presenteia hoje a Santíssima Virgem” — “Lembrei-me que teríeis necessidade de flores para Nossa Senhora, e eu podia fazer o sacrifício de não ir hoje beber à venda. Vossa mãe, no céu, (acrescentou Jerônimo muito baixo) ficará mais satisfeita, vendo-me aqui, do que com os companheiros da orgia. Que dizeis, meus filhos?”

Durante todo o mês de Maria, o vinho foi substituído em cada noite por um soberbo ramo de flores, oferecido a Nossa Senhora, e desde então ninguém mais viu Jerônimo na taberna.

Quem não há de celebrar com fervor este bendito mês?

OUTRO EXEMPLO

O óbolo do soldado e Nossa Senhora das Vitórias 

A esmola dada como Deus manda é uma chave de ouro que abre o céu e fecha o inferno. Uma pequena moeda, caída na mão do pobre, centuplica-se em favor de quem a dá pelo amor de Deus, como o grão de trigo que, semeado em boa terra, produz uma espiga.

No ano de 1853, Bernardo, um pobre soldado do 44 de linha, entregou a Mr. Germainvile (um cristão que durante muitos anos consagrou generosamente o tempo e o trabalho, ao bem-estar temporal e espiritual dos soldados) a soma de 16.000 réis, destinada para a obra da Santa Infância. Esta quantia era tão desproporcionada com os meios de um pobre soldado, que Mr. Germainvile ficou deveras surpreendido:

“Perdão, Senhor, disse-lhe Bernardo, esta quantia não é minha; foram os meus camaradas que me pediram para lh’a entregar. Meus são apenas 500 réis, que nem vale a pena mencionar”

“Engana-se, respondeu Mr. Germainvile, um copo de água dado em nome de Nosso Senhor, é como o orvalho celeste que faz crescer as flores e os frutos. Creia que esta pequena esmola será multiplicada por Deus, que dá sempre cem por um!”

“Oh! Se Ele me pagasse depressa, respondeu Bernardo, sorrindo tristemente! Tenho meu pobre pai a morrer à fome e parece-me que não merecia tal castigo! O pobre velho foi soldado e, depois de passar a maior parte da vida a servir a pátria, vê-se agora reduzido à última miséria!”

“Bernardo, disse-lhe Mr. Germainvile, sente-se a esta mesa e escreva uma carta ao imperador; mas escreva exatamente o que lhe ditar o coração”

Bernardo sentou-se, refletiu alguns momentos, e por fim, entregando o coração a Deus, escreveu uma carta comoventíssima, descrevendo a desgraçada situação de seu pai. Quando terminou, disse-lhe Mr. Germainvile:

“Venha comigo. Para mais assegurar o bom resultado da sua petição, vamos pedir a proteção de um alto personagem muito influente”

“E a pessoa à casa de quem vamos, é de posição muito elevada? perguntou timidamente o pobre soldado.

“O mais elevada possível”, respondeu-lhe o amigo

“E não terá ela dificuldade em me proteger?”

“Nenhuma, contanto que junte às minhas as suas orações”

Saíram e no momento em que chegavam à porta da igreja de Nossa Senhora das Vitórias, disse Mr. Germainvile:

“Eis a morada do personagem, a quem nos dirigimos”

E entraram. Aí, humildemente prostrados diante da imagem da Consolara dos Aflitos, colocaram-lhe aos pés a carta e ficaram muito tempo em oração.
Decorreram três semanas. A carta tinha sido entregue, mas o Imperador não respondeu. Uma noite em que Bernardo, bastante desanimado, contava os dias decorridos, o correio entregou-lhe uma carta vinda de Paris. Dizia assim:

“O imperador chega amanhã a Satory, para assistir à grande revista. Orai e esperai”

Bernardo beijou a carta e retirou-se para a tenda. Nessa noite sonhou que o monarca o louvava por ter praticado aquele preceito: — Honrarás teu pai e tua mãe.

No dia seguinte de manhã, Satory estava em festa; as tropas em formatura e de grande uniforme aguardavam a chegada do imperador.

Às 11 horas e meia soltaram-se calorosas aclamações, e numerosas salvas da artilheira saudavam a sua chegada.

Procedeu-se à revista, e no fim, Napoleão, entrando para a tenda de um simples soldado, que o seu ajudante de campo lhe indicou, chamou por Bernardo.

“Aqui estou, meu Imperador”

“Aproxima-te meu amigo. Não foste tu que me escreveste uma carta há perto de três semanas, recomendando-me teu pai, um valente soldado, que serviu dignamente a pátria durante 26 anos?”

“É verdade real Senhor, fui eu!”

“És um filho exemplar e muito digno de teu pai. Conta com a minha proteção e por agora aceita isto

E o imperador deu-lhe dez moedas de ouro.

O pobre Bernardo, sufocado pela comoção, esteve alguns momentos sem poder falar, e por fim exclamou com todo o entusiasmo:

“Viva o Imperador! Viva Nossa Senhora das Vitórias! Viva!!”

LIÇÃO
Sobre a Graça Divina

Alma cristã, recebeste no Batismo a graça santificante, que Maria recebeu no primeiro instante da sua Conceição.

Esta graça te deu o direito de chamar pai a Deus e a Jesus Cristo irmão; foste constituída herdeira de Deus e coerdeira de Jesus Cristo, e o reino do céu te foi destinado.

Entendes bem toda a excelência destes gloriosos privilégios? E entendes também as obrigações que eles te impõem?

Oh! Quão poucos cristãos há que façam nisto reflexão, e que forcejem por sustentar a dignidade de sua elevação com a santidade de suas ações.

Quão poucos há que trabalhem por conservar a estola da inocência, símbolo da candura da pureza e da piedade de filhos de Deus!

Fazem vanglória das fortunas do mundo e, com desordenado modo de pensar, no seu espírito ocupa o último lugar a graça, que, rigorosamente falando, é quem merece toda a estimação. Correm ansiosos no alcance dos bens e heranças da terra, e descuidam-se, e até desprezam, em certo modo, a eterna herança dos bens celestiais,

Almas ingratas, desgraçadas vítimas do pecado, ah! Ao menos não endureçais o coração à voz divina, que vos desperta!

Ainda vos resta segundo batismo em que recobreis a graça da adoção que tendes perdido: é o da penitência.

Recorrei a Ele confiada e sinceramente; o Pai celeste nada deseja com tanta ânsia, como restituir-vos a sua amizade; porém recorrei a Ele sem demora, talvez que passado pouco tempo não o possais fazer.

Máxima Espiritual

“A alma sem a graça tem o nome de viva e na realidade está morta” (Santo Afonso Maria de Ligório)

Jaculatória

Sancta Dei Genitrix, ora pro nobis
Santa Mãe de Deus, rogai por nós

Agora se faz as Encomendações e outras Orações


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(SILVA, Pe. Martinho António Pereira da. Flores a Maria ou Mês de Maio consagrado à Santíssima Virgem Mãe de Deus. Tipografia Lusitana, Braga, 1895, 7.ª ed., p. 49-62)