A conversão vem da graça e da bondade de Deus
O Senhor livrar-me-á de todas as más obras, diz São Paulo, e me conduzirá a seu reino celestial. A Ele seja dada a glória pelos séculos dos séculos. Amém: Liberavit me Dominus ab omni opere malo, et salvum faciet in regnum coeleste, cui glória in secula seculorum. Amen. (2 Tm 4, 18).
Adão, Davi, Madalena, Paulo, Agostinho etc. e todos os pecadores que se convertem não se convertem senão pela graça e pela misericórdia de Deus.
Diz São Paulo que Deus é Quem, por um efeito de sua boa vontade, opera em vós, não somente o querer, senão também o executar: Deus est enim qui operatur in vobis et vele, etperficere, pro bona voluntate (Fl 2, 13).
Sem mim, diz Jesus Cristo, nada podeis fazer: Sine me nihil potestis facere (Jo 15, 5). Aquele que está em pecado mortal, morreu; assim, pois, aquele que está morto, não pode naturalmente ressuscitar; somente Deus o pode fazer.
Perdemo-nos sem Deus; porém, não podemos voltar à vida, não podemos nos converter, sem o auxílio de Deus.
Senhor, diz o Salmista, o rei pediu-vos a vida, e Vós lhe concedestes prolongar seus dias pelos séculos dos séculos: Vitam petit a te, et tribuisti ei etc. (Sl 20, 5). O Senhor enviou-me libertação desde o Céu, entregou ao opróbrio aqueles que me pisoteavam: Missit de coleo, et libeavit me; dedit in opprobrium conculcantes me (Sl 56, 4).
Deus é Aquele que tanto faz habitar muitos com unânimes costumes em uma mesma casa, como põe em liberdade aos prisioneiros; de modo similar expulsa aos que Lhe irritam e aqueles que habitam nos sepulcros: Deus qui inhabitare facit unius moris in domo, qui educit vinctos in fortitudine, similiter eos qui exasperant, qui habitant in sepulcris (Sl 68, 7).
Deus enviou sua misericórdia e sua verdade, e resgatou minha alma de entre os filhotes dos leões: Missit Deus misercordiam suam, et veritatem suam; et eripuit animam meam de medio catulorum leonum (Sl 56, 4-5). No deserto fendeu um rochedo, e deu-lhes de beber como um caudaloso rio, pois fez brotar de uma rocha torrentes de águas, que correram a maneira de rios: Interrupit peram in eremo, er adaquavit eos velut in abysso multa; et eduxit aquam de petra, et deduxit tamquam flumina aquas (Sl 77, 15-16).
Não a nós, Senhor, não a nós, senão a teu Nome seja dada toda a glória, para fazer brilhar tua misericórdia e tua verdade: Non nobis, Domine, non nobis, sed nomini tuo da gloriam (Sl 113, 9).
De tais textos deduz-se que a conversão é obra de Deus e não puramente nossa.
O Senhor desata aos cativos, o Senhor ilumina aos cegos: Dominus solvit compeditos, Dominus illuminat coecus (Sl 145, 7-8). Senhor, atraí-me atrás de Vós, diz a Esposa dos Cânticos: Trahe me post te (Ct 1, 3).
Deus é Aquele que muda os corações. Tirarei seu coração de pedra, e lhes darei um coração de carne, diz o Senhor, por boca de Ezequiel: Auferam cor lapidum de carne eorum, et dabo eis cor carneum (Ez 11, 19)., a fim de que andem pelo caminho de meus preceitos, guardem minhas leis e as pratiquem, de modo que sejam eles o meu povo, e eu seja o seu Deus (Ez 11, 20).
Observai, diz Santo Agostinho, as bestas selvagens e até os animais domésticos sobre os quais estabelece o homem seu império. Nem o cavalo, nem o leão domam-se por si mesmos: assim sucede com o homem. Para domar ao leão e ao cavalo, é preciso o homem; para domar o homem é preciso Deus; e o homem não se doma por meio da natureza, mas por meio da graça (Serm. IV de verbis Domini in Matth.).
Senhor, diz Jeremias, convertei-me a Vós, e eu me converterei; porque Vós sois o Senhor, meu Deus: Converte-me, et convertar, quia tu Dominus Deus meus (Jer 31, 18).
Convertei-nos a Vós, Senhor, e nos converteremos; renovai nossos dias como a partir do princípio: Converte nos, Domine, ad te, er convertemur, innova dies nostros, sicut a principio (Lm 5, 21).
Deus deseja ardentemente a conversão do pecador
Quero misericórdia, diz Jesus Cristo, e não sacrifício; porque eu não vim para chamar os justos, mas os pecadores: Misericordia volo, et non sacrificium; non enim veni vocare justos, sedpeccatores (Mt 9, 13). Jesus Cristo deu Sua vida pela conversão dos pecadores, para resgatá-los.
Eis que estou à porta, diz o Senhor no Apocalipse, e bato: se alguém ouve minha voz e me abre seu coração, entrarei nele, e com ele cearei, e ele comigo: Ecce sto ad ostium, et pulso; si quis audierit vocem meam, et aperuerit mihi januam, intrabo ad illum, et coenabo cum illo, et ipse mecum (Ap 3, 20).
Filho meu, dá-me teu coração: Praebe, fili mi, cor tuum mihi (Pr 23, 26).
Não quero a morte daquele que morre, diz o Senhor Deus: Convertei-vos e vivereis (Ez 18, 32).
Juro por mim mesmo, diz o Senhor, que não quero a morte do ímpio; antes, quero que o ímpio converta-se, deixe seu mal caminho e viva. Convertei-vos, convertei-vos de vossos caminhos perversos. E por que haveis de morrer, ó vós, os da casa de Israel? (Ez 23, 11).
Deus, diz Santo Agostinho, começa por operar em nós para excitar nosso querer, e coopera concluindo a conversão naqueles que a querem. Adverte-nos para curar-nos; acompanha-nos na saúde para fazer-nos merecer; avisa-nos falando-nos; segue-nos para nossa glorificação. Adverte-nos para que vivamos na piedade; acompanha-nos para que vivamos com Ele na eternidade[1].
O Senhor, diz o Eclesiástico, é paciente para com os mortais, e derrama sobre eles sua misericórdia; vê a presunção de seus corações, que é má, e conhece o transtorno de cada um, e sabe que é perverso: por isso, derramou plenamente sobre eles Sua misericórdia. A misericórdia de Deus estende-se sobre toda carne. Ele tem compaixão de qualquer um que receba o ensino da misericórdia e que se apressa a praticar seus preceitos (Ecl 18, 9-14).
O mesmo Deus virá e salvá-los-á, diz Isaías: Deus ipse veniet, et salvabit vos (Is 35, 4).
Alma infiel, diz o Senhor por boca de Jeremias, tu seguistes tuas inclinações corrompidas; todavia, volta para mim, e Eu te receberei: Tu fornicata es; tamen revertere ad me, dicit Dominus, et ego suscipiam te (Jer 3, 1).
Pecadores, lançai para longe de vós todas as prevaricações com que vos manchastes, e fazei-vos um coração novo e também um espírito novo (Ez 18, 31).
Se Eu, que sou vosso soberano Juiz, inclino-me a vosso favor; e se Eu me valho de todos os meios para não lançar contra vós a sentença de condenação; se Eu, vosso Deus, ofendido com vossas prevaricações, postergo e não quero vingança; se Eu perdoo fácil e prontamente; se Eu vos curei quando estáveis mais distantes da cura, por que vos perdereis agora? Tendes por Advogado a meu Filho feito Homem e morto por vós; tendes por Juiz a vosso protetor. Por que haveis de perecer? Pecadores, não podeis resistir a meu poder, nem subtrair-vos à minha justiça; aliás, minha misericórdia não vos rejeita. Lançai-vos em meus braços; então, desarmar-me-ei e perdoar-vos-ei.
Eis aqui o que diz o Senhor Deus dos Exércitos por meio do profeta Zacarias: Voltai para mim, povo meu, e Eu me voltarei a vós: Haec dicit Dominus exercituum: Convertemini ad me, et convertar ad vos (Zc 1, 3).
São Gregório diz muito acertadamente: Deus, que expulsa o pecador, acolhe o penitente; também chama a si seus inimigos, perdoa os pecados aos que se convertem; exorta aos preguiçosos, consola aos aflitos, instrui aos que O desejam, ajuda aos combatentes, fortifica aos que trabalham, ouve aos que clamam por Ele desde o fundo do coração[2].
Maravilha da conversão
Em outro tempo, diz São Paulo, éramos uns insensatos, uns incrédulos metidos no erro: Eramus aliquando et nos insipientes increduli, errantes (Tt 3, 3). Com a conversão, tornamo-nos prudentes, cheios de fé, cidadãos do céu. O pecador que não ama nada além da terra torna-se habitante do céu com sua conversão, diz São Jerônimo: Terram eram, coelum factus sum (In Psalm. CXXXIII).
Senhor, diz o Real Profeta, advertistes ao rei com as bênçãos de vossa doçura; pusestes sobre sua cabeça uma coroa de pedras preciosas (Sl 20, 4). Ele vos pediu a vida, e lhe concedestes os longos dias do tempo e da eternidade: Vitam petiit a te, et ribuisti ei longitudinem dierum saeculum, et in saeculum saeculi (Sl 20, 5). Sua glória é grande pela salvação que lhe destes; rodeaste-o de glória e de grande formosura: Magna est gloria ejus in salutar tuo; gloriam et Magnum decorem impones super eum (Sl 20, 6). Fareis com que ele seja uma benção eterna; Vós o cumulareis de alegria, manifestando-Vos a ele (Sl 20, 6).
Aguardando ao Senhor, ele me livrou do lago da miséria, e do lodo imundo: Eduxi me de lacu miseriae, et de luto foecis (Sl 39, 3).
Ó Senhor, Vós derramastes a benção sobre a terra: Vós libertastes do cativeiro a Jacó; perdoastes as maldades de vosso povo; sepultastes todos os seus pecados. Ó Deus, voltando-vos a Face para nós, dar-nos-eis vida; e vosso povo regozijar-se-á em Vós (Sl 84, 2-7).
O Senhor livrou minha alma da morte; meus olhos, das lágrimas; e meus pés, do precipício. Aceito serei eu pelo Senhor, na região dos vivos: Eripui eniam meam de morte, óculos meos a lacrymis, pedes meos a lapsu; placebo Domino in regione vivorum (Sl 114, 8-9).
Senhor, atraí-nos, correremos atrás de vós, percebendo a fragrância de vossos perfumes: Trahe me; post te corremus in adorem unguentorum tuorum (Ct 1, 3).
O Senhor retira do vício ao pecador, a quem converte, e leva novamente à virtude; Ele o conduz da ignorância à fé, da carne ao espírito, da tibieza ao fervor, da justificação à perfeição, dos atos fáceis às ações maiores e mais heroicas, da terra ao céu, do temor ao amor, do amor dos prazeres ao amor das cruzes e à mortificação etc.
Quantas admiráveis maravilhas há em uma verdadeira conversão!
Negra sou, porém formosa, diz a Esposa dos Cânticos: Nigra sum, sed formosa (Cant. I, 4). A alma pecadora é negra; porém, torna-se formosa por meio da conversão e da penitência.
O pecador está acorrentado; porém, quando se converte, Deus rompe suas cadeias, entrega-lhe um cetro real, dá-lhe poder sobre os demônios, que haviam sido cruéis para com ele; e promete-lhe, caso persevere, um esplendor eterno.
Dissiparam-se as trevas, e a verdadeira luz brilha agora no coração convertido, diz o Apóstolo São João: Tenebrae transierunt, et verum lumen jam lucet (1 Jo 2, 8). Vejo um céu novo e uma nova terra (Ap 21, 1).
A obra da criação do universo em seis dias é o emblema da obra da conversão e da justificação do pecador.
No primeiro dia, a luz se levanta sobre ele: faça-se a luz de minha graça neste coração pleno de trevas, diz o Senhor; e a luz foi feita: Fiat lux; et facta est lux (Gn 1, 3).
No segundo dia, cria-se o firmamento, isto é, a alma põe-se sobre as coisas da terra: Fiat firmamentum (Gn 1, 16).
No terceiro dia, aparece a terra, e esta é separada das águas: o pecador não está mais submerso e perdido no oceano da concupiscência; converte-se em uma terra fértil que produz frutos de salvação.
No quarto dia, o sol toma o seu lugar nesta criação; a caridade apodera-se do coração; a lua e os astros, isto é, a fé e todas as virtudes, brilham nele.
No quinto dia, nascem os peixes e os pássaros: o pecador convertido nada nas águas da misericórdia de Deus; como a águia feita para voar ao céu, dirige-se rapidamente até as montanhas eternas.
Por fim, no sexto dia, que viu o primeiro homem, e nele a toda a sua raça, criado à imagem de Deus, vê ao pecador que volta a ser a imagem e semelhança viva de seu Criador.
E logo o convertido descansa no Senhor: Requievit die septimo (Gn 2, 2).
Com a conversão, Deus muda o coração do penitente: de um coração mesquinho, vil, covarde, escravo e corrompido etc. faz um coração grande, elevado, forte, real e santo etc.
Abandonado o pecador, à semelhança do templo de Jerusalém quando o Senhor permitiu que fosse profanado, por efeito da cólera de Deus onipotente, enquanto persevera no pecado; é elevado como foi depois a uma glória soberana, aplacado que está Aquele grande Senhor, diz a Escritura: Quiderelictus in ira Deu omnipotens est, iterum in magni Domini reconciliatione cum summa glória exaltabitur (2 Mac 5, 20).
Senhor, diz Santo Agostinho, chamaste-me, gritaste, e destruíste minha surdez; fizeste resplandecer teus relâmpagos; resplandeceste, e destruíste minha cegueira; inflamaste-me, e eu recobrei a vida, e suspiro por Ti. Saboreei-te, e agora tenho fome e sede; tocastes-me com vossa mão e ardi no desejo de tua paz[3].
No pecador convertido verifica-se aquilo que profetizou Isaías a respeito da vinda de Jesus Cristo ao mundo, quando disse: Deus mesmo em pessoa virá e salvar-vos-á. Então, abrir-se-ão os olhos dos cegos, e abrir-se-ão os ouvidos aos surdos; então, o coxo saltará como o cervo, e se desatará a língua dos mudos; porque as águas transbordarão no deserto, e correrão riachos na solidão; pois que realmente o cego, surdo, coxo e mudo é o pecador antes de sua conversão, ou melhor, antes que a água da divina graça transborde no deserto de sua alma: Deus ipse veniet, et salvabit vos. Tunc aperientur oculi coecorum, et aures surdorum patebunt; tunc saliet sicut cervus claudus, et aperta erit língua mutorum; quia scissae sunt in deserto aquae (Is 35, 4-6).
Aquela terra tão árida converter-se-á em um lago; os mananciais da graça regarão aquele coração seco. Ali onde habitam dragões, nascerá o verdor das canas e dos juncos, isto é, das virtudes; e ali estará uma senda e um caminho real, que se chamará caminho santo: o impuro não passará por ele; os insensatos não se perderão nele. Nenhum leão, nenhum animal feroz transitará por ali: é o caminho dos homens que foram libertados da escravidão do pecado (Is 35, 7-9).
O Senhor consolará a Sião, reparará suas ruínas, acrescenta Isaías: seus desertos serão lugares de delícias; sua solidão será novo Éden. Tudo respirará alegria e regozijo, ouvir-se-ão ressoar as ações de graças e os cânticos de louvor[4].
Filhos rebeldes, convertei-vos a mim, diz o Senhor por boca de Jeremias: sou vosso esposo, eu vos introduzirei em Sião. Convertei-vos a mim, filhos rebeldes, e Eu vos curarei. Eis aqui o que diz o Senhor: Fazei que sejam retos vossos caminhos e vossos passatempos, e habitarei convosco. E sucederá naquele dia, diz o Senhor dos Exércitos, que eu farei em pedaços o jugo que Nabucodonosor impôs sobre teu pescoço; romperei as cadeias, e não te dominarão mais os estrangeiros, senão que os filhos de Israel servirão ao Senhor, seu Deus. Tomar-te-ei da terra distante, e a teus descendentes da terra de seu cativeiro; e Jacó voltará, descansará e gozará de todos os bens, e não temerá a ninguém. Eu cicatrizarei tua chaga e curarei tuas feridas[5].
Ouvi a São Bernardo: Ainda que esteja carregada de vícios, entorpecida nas redes do pecado, apanhada como vítima dos prazeres criminosos, cativa, desterrada, prisioneira em seu corpo, submergida na lama, cravada na carne, devorada de cuidados, entregue ao erro e à mentira, manchada, plena de desespero, morta, condenada antecipadamente ao inferno, uma alma, assim o cremos e ensinamos, pode voltar em si mesma; pode, não somente conceber a esperança do perdão e da misericórdia, mas ainda converter-se e ousar aspirar às núpcias do Verbo. Não tema fazer aliança com Deus; não titubeie em sujeitar-se ao suave jugo de amor do Rei dos Anjos (Serm. LXXIII, in Cant.).
Há numerosos exemplos de penitentes que chegaram a ser grandes santos: Santa Maria Madalena, Santa Maria Egípcia, Santa Pelágia, Santa Taís, São Paulo, Santo Agostinho etc. Deus tirou estas almas da lama das paixões; tomou-as por esposas, e fez delas anjos da terra.
O Senhor, diz o Profeta Baruc, voltará a trazer-vos conduzidos com o decoro de filhos ou príncipes do reino: Adducet illos Dominus portatos in honore sicut filios regni (Br 5, 6).
Se o ímpio, diz o Senhor por boca de Ezequiel, fizer penitência de todos os seus pecados, e guardar todos os meus preceitos, e agir segundo o direito e a justiça, terá vida verdadeira e não morrerá. Não me recordarei mais de todas as iniquidades que ele cometeu; viverá pelas obras de justiça que tiver realizado. E quando o ímpio afastar-se da impiedade que operou, e proceder com retidão e justiça, dará ele mesmo a vida à sua alma; porque, se ele entra novamente em si mesmo e aparta-se de todas as suas iniquidades, terá verdadeira vida e não morrerá[6].
Eis aqui nove dons inestimáveis que Deus promete pela boca de Ezequiel e concede ao pecador que se arrependa e se converta:
1.° Derramarei sobre vós uma água pura, e sereis purificados de todas as vossas manchas: Effundam super vos aquam mundam et mundabimini ab omnibus inquinamentis vestris (Ez 36, 25);
2.° Dar-vos-ei um coração novo: Dabo vobi cor novum (Ez 36, 26);
3.° Arrancarei vosso coração de pedra, e dar-vos-ei um coração de carne: Auferam cor lapideum de carne vestra et dabo vobis cor carneum (Ez 36, 26);
4.° Porei um novo espírito no meio de vós: Spiritum meum ponam in medio vestri (Ez 36, 27);
5.° Farei com que andeis pelo caminho de meus preceitos, que guardeis minhas leis e as pratiqueis; pelo que abundarei em boas obras, em virtudes e em méritos de toda classe: Et faciam ut in praeceptis meis ambuletis et iudicia mea custodiatis et operemini (Ez 36, 27);
6.° Habitareis na terra que dei a vossos pais, isto é, vivereis no seio de minha Igreja, em paz, com alegria e abundância de bens espirituais; e, por fim, achareis o Céu: Et habitabitis in terra quam dedi patribus vestris (Ez 36, 28);
7.° Sereis o meu povo: Eritis mihi inpopulum (Ez36, 28);
8.° Serei vosso Deus: Et ego erro vobis in Deum (Ez 36, 28); isto é, serei vosso protetor, vosso defensor, vossa mãe, vosso rei; vosso guia, vosso defensor e vossa recompensa; em Mim, encontrareis todo bem; e
9.° a terra erma ver-se-á cultivada, e dirão: Aquela terra inculta foi transformada em jardim de delícias: Terra inculta facta est ut hortus voluptatis (Ez 36, 35).
A mão do Senhor esteve sobre mim, diz o mesmo Profeta, e me levou em espírito, e me pôs no meio de um campo que estava pleno de ossos. Fez-me dar uma volta ao redor deles: estavam em grande número estendidos sobre a superfície do campo, e secos em extremo. Ele me disse: Filho do homem, tu acreditas, acaso, que esses ossos possam tornar à vida? Eu respondi-lhe: Vós o sabeis, Senhor Deus: Filii hominis, putasne vivente ossa ista? Es dixi: Domine Deus, tu nosti (Ez 37, 3). E Ele me disse: Profetiza sobre esses ossos, e dir-lhe-ás: Ossos áridos, escutai a palavra de Deus: Et dixit ad me: Vaticinare de ossibus istis, et dices eis: Ossa árida, audite verbum Domini (Ez 38, 4). Profetizei, pois, como Ele mo havia mandado, e o espírito entrou nos mortos, e ressuscitaram: Et ingressus est in ea spiritus, et vixerunt (Ez 37, 10). E Ele disse-me: Filho do homem, todos esses ossos representam a família de Israel; eles (os hebreus) dizem: Secaram- se nossos ossos, e pereceu nossa esperança, e nós já somos ramos cortados. Portanto, profetiza, e dir-lhes-ás: Eis aqui o que diz o Senhor Deus: Eu abrirei vossas sepulturas, e vos retirarei delas e vos conduzirei à terra de Israel. E saberei que eu sou o Senhor, quando eu abrir as vossas sepulturas, e vos houver tirado delas. Infundirei em vós o meu espírito, e tereis vida, e vos farei descansar em vossa terra; e sabereis que eu, o Senhor, digo e faço, diz o Senhor Deus (Ez 37, 11-14).
Todos esses prodígios cumprem-se, entretanto, de modo mais admirável, na alma do pecador que se converte!
Não tens que divertir-te por minha ruína, ó tu, inimiga minha, porque, todavia, eu voltarei a levantar-me, diz o profeta Miqueias; e quando estiver nas trevas do cativeiro, o Senhor será minha luz: Cecidi, consugam, cum sedero in tenebris, Dominus luz mea est (Mq 7, 8).
Deus voltar-se-á para nós, diz o mesmo profeta, e terá de nós compaixão; sepultará no esquecimento nossas iniquidades, e lançará no mais profundo mar todos os nossos pecados: Revertetur, et mirebitur nostri; deponet iniquitates nostras, etprojiciet inprofundum maris omniapeccata nostra (Mq 7 , 19).
Se te converteres ao Todo-poderoso, disse Elifaz a Jó, serás restabelecido e afastarás de tua morada a culpa: Si reversus fueris ad Omnipotentem aedificaberis, et longe facies iniquitatem a tabernáculo tuo (Jó 22, 22-23).
Lavai-vos, disse o Senhor por meio do profeta Isaías, purificai-vos, apartai para longe de meus olhos a malignidade de vossos pensamentos, cessai de agir mal, aprendei a fazer o bem, buscai o que é justo, socorrei ao oprimido, fazei justiça ao órfão, amparai a viúva. Vinde, debatamos: ainda que vossos pecados sejam como escarlate, tornar-se-ão vossas almas brancas como a neve; e ainda que fossem tingidas de vermelho como o carmesim, tornar-se-ão da cor da lã mais branca (Is 1, 16-18).
Ó quantas maravilhas em uma verdadeira conversão!
A conversão de um pecador é a maior das graças; é mais admirável que os milagres
Ó milagre, exclama Santo Agostinho, ó misericórdia! Olhai: ontem, este homem vivia entregue à embriaguez: hoje, é um modelo de sobriedade; ontem, era uma fossa de impureza: hoje, está pleno de modéstia; ontem, era um blasfemo: hoje, louva a Deus; ontem, era escravo da criatura: hoje, é um fiel servidor do Criador (In Psalm. LXXXVIII). Ontem, era besta feroz, hoje, é um cordeiro; ontem, desprezava, insultava, maltratava, maldizia aos pobres; hoje, respeita-lhes, honra-os, ama-os, cuida-lhes, bendi-los e despoja-se por eles. Estes são grandes milagres; e quem os produz? A graça onipotente da conversão.
Se alguém purificar-se destas coisas, diz São Pedro, será um vaso de honra e terá utilidade para o serviço do Senhor, preparado para todas as obras: Se quis se emundaverunt, erit vas in honorem sanctificatum et utile Domino, ad omne opus bonum paratum (2 Tm 2, 21).
Quem eram os Apóstolos antes de descer-lhes o Espírito? No dia de Pentecostes, ouviu-se, de repente, um ruído do Céu. Reunidos os Apóstolos, vieram como umas línguas de fogo que se dividiram e descansaram sobre cada um deles; e todos ficaram plenos do Espírito Santo (At 1, 2-4).
Que obreiro é o Espírito Santo!, exclamava São Gregório: instrui em um instante, e ensina tudo o que quer. Desde que está em contato com a inteligência, ilumina; apenas a seu toque, a ciência mesma se produz. Desde que ilumina, muda o coração: tal coração renuncia, de repente, à suas inclinações da terra, e já não é mais o mesmo. Reflitamos em qual estado encontravam-se os Apóstolos e o que o Espírito faz neles! Pedro, que tremia à voz de uma criada e renegava seu Mestre, alegra-se em meio aos açoites, às cadeias, nos cárceres; é mais forte que o mundo inteiro (In Act. Apost.).
Vede a Paulo, que respira somente ameaças e sangue: Spirans minarum et coedis (At 9, 1). “Saulo, porque Me persegues?”, disse-lhe Jesus Cristo. “- Que quereis que eu faça, Senhor?”: “— Saule, Saule, quid me persequeris?” “— Domine, quid me vis facere?” (At 9, 4-6). Já se prepara para obedecer, diz Santo Agostinho, aquele que se transforma em pregador; o lobo converte-se em cordeiro; o inimigo em um defensor intrépido: Jam parat se ad obediendum, qui prius saeviebat adpersequendum; jam formatur ex persecutore praedicator, ex lupo ovis, ex hoste miles (Serm. XVI, de Sanct).
Como o Inferno, Saulo não suspirava senão pela morte e o martírio dos fiéis; uma vez transformado, Paulo converte-se em modelo de todas as virtudes, e não suspira senão pela glória de Deus e pela saúde do universo. Pouco antes, queria apagar o nome de Jesus Cristo e destruir todos os cristãos; agora, eis que, sozinho, deseja morrer por eles, e não deixa de consagrar-lhes sua vida, expondo-se às fadigas das viagens, aos trabalhos, às perseguições, à fome, à sede, aos cárceres, às cadeias, às flagelações, aos naufrágios, aos perigos, aos tormentos e a mil mortes para estender o reino de Jesus Cristo e sua Igreja, e, de tal maneira, que parece transformado inteiramente em Jesus Cristo; e pode muito bem dizer: Jesus Cristo é minha vida; e a morte é, para mim, vantagem: Mihi vivere Christus est, et mori lucrum (Fl 1, 21). Vivo, mas não sou eu quem vive, mas é Cristo Quem vive em mim: Vivo, jam non ego, vivit vero in Cristus (Gl 2, 20).
O Cordeiro morto por suas ovelhas, diz Santo Agostinho, mudou em cordeiro a Paulo que era um lobo: Ab Agno pro ovibus mortuo, fit ovis de lupo (Serm. XIV, de Sanct.).
Manifestarei a Paulo, disse Jesus Cristo, o quanto terá que sofrer por meu Nome: Ego ostentam illi oporteat eumpro nomine meopati (At 9, 16).
Aquele que se esforçava em apagar o nome de Jesus Cristo, diz Santo Agostinho, deve agora sofrer para a honra deste divino Nome. Ó misericordioso castigo: Quae faciebat contra nomen, patiatur pro nomine! O soevitia misericors! (Ut supra).
Paulo termina abatido e convertido; logo que recobra a vista, está pleno de força; prega Jesus Cristo. Não tem vergonha de sua mudança, diz São João Crisóstomo; não teme renunciar ao que antes constituía sua glória: Non erubescebat mutationem, neque formidabat destruere ea in quibus antea clarescebat (De laudib. S. Pauli.).
Sob todos os conceitos, a conversão das nações pagãs é o maior dos milagres.
É o maior dos milagres:
1.° sob o ponto de vista do assunto: são homens orgulhosos, carnais, cruéis, bárbaros e indisciplinados aqueles que, então, submetem-se à cruz de Jesus Cristo;
2.° sob o ponto de vista dos motivos que fazem ocorrer o milagre: a conversão e a santidade cristã consistem na mortificação dos sentidos e das paixões, na humildade, na castidade, na paciência, no amor aos inimigos, e outras virtudes que repugnam à natureza corrompida;
3.° sob o ponto de vista dos instrumentos: é obra de doze pescadores, pobres, desprezíveis, ignorantes, grosseiros, sem apoio, sem dinheiro e mesmo sem eloquência;
4.° enfim, sob o ponto de vista do objeto: tem por objeto, não a glória da terra, senão a glória celestial. Dirigimo-nos ao Céu, apesar das inclinações da natureza, pelo caminho das cruzes, das provas e de toda a classe de privações.
Explicando o capítulo VII do Evangelho de São Lucas, que conta como Jesus expulsou um demônio do corpo de um mudo, diz o Venerável Beda: Três milagres foram feitos neste homem: era cego, e voltou a ver; mudo, e falou; possuído pelo demônio, e ficou livre. Estes três milagres repetem-se, a cada dia, na conversão dos pecadores. O demônio é expulso, recebem a luz da fé, e sua boca, que estava muda, abre-se para louvar a Deus[7].
Converter a um pecador por meio do ensino e da oração, diz São Gregório, é um milagre mais portentoso que ressuscitar a um morto: majus est miraculum praedicationis verbo et orationis solatio peccatorem convertere, quam mortuum suscitare (Lib. III, Dialog., c. XVII I). Com efeito, o morto não põe obstáculos à sua ressurreição, enquanto o pecador endurecido opõe aos esforços do apóstolo sua própria vontade perversa. É o maior milagre, diz em outra parte o mesmo Santo, comover a obstinação de um pecador, que fazer vibrar um raio (Ut supra).
A justificação do ímpio, diz Santo Agostinho, é uma obra maior, mais difícil, mais divina que a criação do universo: Justificatio impus majus, difficilius e divinus est opus, quam creatio universi (Homil.).
Que grande é, exclama o Eclesiástico, que grande é a misericórdia do Senhor, e a clemência que Ele exerce em favor dos que se convertem a Ele! Quam magna misericordia Domini, et propitiatio illius convertentibus ad se! (Ecl 17, 28). Esta misericórdia não se pode conceber nem se expressar, porque é imensa, incompreensível, infinita.
Quereis ter uma ideai da extensão da misericórdia de Deus para com o pecador, a quem Ele perdoa?
1.° Medi a grandeza dos suplícios do Inferno que o pecador tem merecido;
2.° considerai a baixeza e as misérias do homem que ofende a Deus; a misericórdia divina as absorve como o mar absorve uma gota de chuva; o abismo de nossa miséria chama ao abismo da misericórdia;
3.° estudai a multidão e a enormidade dos pecados que o homem tem cometido: a misericórdia de Deus é infinitamente maior, não somente porque apaga a mancha que eles imprimiram, e a injuria que fizeram a Deus, por mais numerosos e graves que sejam, senão ainda e, sobretudo, porque põe no seu lugar a graça e a amizade de Deus, e faz do pecador um filho e herdeiro do Pai celestial assegurando-lhe a glória eterna.
Acrescentai que a graça da conversão perdoa sempre ao penitente, primeiro uma parte da pena; e, logo em seguida, toda a pena devida ao pecado. Digamos, pois, com o Rei Profeta: As misericórdias do Senhor são superiores a todas as suas obras: Miserationes ejus super omnia opera ejus (Sl 114, 9).
Ó infinita misericórdia de Deus!, exclama São João Crisóstomo. Quando o mundo inteiro estava debaixo do jugo do pecado, veio o Criador do universo, e afastou as causas do pecado, e as fez desaparecer, a fim de que ninguém, no porvir, pudesse desesperar de sua salvação. Se vós sois ímpios, pensai no publicano; se sois impuros, vede o perdão concedido à mulher adúltera; se sois homicidas, considerai ao ladrão elevado na cruz; se estais cobertos de crimes, pensai em Paulo, o perseguidor; ele, primeiramente inimigo cruel de Jesus Cristo, e, logo depois, pregador do Evangelho; primeiramente coberto de pecados, e, depois, dispensador das graças de Deus; primeiramente, cizânia, depois, espiga de trigo; primeiramente lobo faminto, e, logo, pastor fiel do rebanho; primeiramente chumbo vil, e, depois, ouro puro; primeiramente pirata, e, depois, admirável piloto. O que é o pecado na presença da misericórdia divina? Uma teia de aranha que nunca resiste ao vento: Quid enim est peccatum ad misericordiam? Tela araneae, quae, vento flante, nusquam comparet (Homil. II, in Psalm. L. et in Serm. V).
Quem não há de admirar, diz Cassiano, a operação milagrosa de Deus na conversão dos pecadores, e quem não haveria de exclamar com todo o afeto de sua alma! E aprendi que Deus é grande quando tenho visto, de um avarento, Ele fazer um pródigo; de um voluptuoso, um homem casto; de um orgulhoso, um homem humilde; de um ser débil e delicado, um homem mortificado e um soldado invencível; de um amigo da opulência e dos prazeres, um penitente que jejua e priva-se de tudo para aliviar aos pobres. Estas são seguramente as mais admiráveis obras de Deus; estes são os maiores prodígios que Ele tem operado na terra (Lib. Justific.).
Quão consoladora é a conversão do pecador para o Céu, para a Igreja e também para o próprio pecador
Quem dentre vós, diz Jesus Cristo, se tem cem ovelhas e perde uma, não deixa as noventa e nove para ir buscar a que se perdeu, até que a encontre? E quando a encontra, põe-na sobre os ombros, pleno de alegria. E chegando a sua morada, reúne a seus amigos e a seus vizinhos, e diz-lhes: Alegrai-vos comigo, porque encontrei a ovelha que eu havia perdido (Lc 15, 4-6). Em verdade, digo- vos que haverá mais alegria no Céu por um só pecador que faça penitência, do que por noventa e nove justos que não necessitam fazê-la: Dico vobis, quod ita gaudium erit in caelo super uno peccatore paenitentiam agente, quam super nonaginta novem iustis qui non indigentpaenitentia (Lc 15, 7).
Receba eu de Ti este gozo no Senhor, diz São Paulo a seu discípulo Filêmon; dá em nome do Senhor este consolo ao meu coração: Refice viscera mea in Domino (Fm 1, 20). É o que sucede quando um pecador se converte. O pecador experimenta uma felicidade e uma paz indizíveis. A Igreja, esta terna Mãe, derrama lágrimas de alegria: como o pai do filho pródigo, recebe este filho extraviado, abraça-o, aperta- lhe em seu seio maternal, despe-o de seus andrajos, adorna-o com vestes esplêndidas, mata ao bezerro gordo etc., e exclama: Meu filho estava morto e ressuscitou; eu o havia perdido, e voltei a encontrá-lo: Filius meus mortuus erat, et revixit; perierat, et inventus est (Lc 15, 24).
Pecando e condenando-se a si mesmo, o homem entristece a Igreja: convertendo-se, enche de consolos o coração desta terna Mãe, como a volta do filho pródigo encheu de consolos o coração de seu pai.
A paz reina na alma do pecador que volta de seus extravios: Factus est in pace locus ejus (Sl 75, 3). Deus inunda seu coração com as doçuras da paz: Loqueturpacem in eos qui convertetur ad cor (Sl 84, 9). O Senhor sacia a alma que renunciou às coisas do mundo; sacia-a com bens, a ela que está faminta e desejosa de voltar a si mesma: Satiabit animam inanem; et animam esurientem satiavit bonis (Sl 106, 9). Senhor, assim o pode dizer o pecador convertido: indicaste-me o caminho da vida; Vós me cumulais de alegria manifestando-me vosso rosto; em vossa destra estão as delícias da eternidade (Sl 15, 11).
Quando o Senhor, acrescenta o Salmista, livrar a Sião de seu cativeiro, estaremos plenos de alegria: In convertendo Dominus capitivitatem Sion, facti sumus consolati (Sl 125, 1).
No momento da conversão é quando o Senhor consola a alma, repara todas as suas ruínas, fertiliza aquele deserto e faz dele seu jardim predileto; inspira-lhe alegria, ações de graças e cânticos de louvor (Is 51, 3). Então, é quando o pecador exclama com Santo Agostinho: Formosura sempre antiga e sempre nova, tarde comecei a Vos amar! (Lib. Confess.)
Homens cegos, mergulhados nos vícios, que buscais vossa felicidade nos prazeres insensatos da carne e do mundo; ah, se conhecêsseis os dons de Deus, as castas e incomparáveis delícias que desfruta um coração que renuncia ao mundo e a seus enganosos prazeres, e que se dá a Jesus Cristo com uma sincera conversão; quão vis e desprezíveis vos pareceriam, então, o mundo, suas alegrias, suas riquezas e honras! Exclamaríeis com o Rei Profeta: Um dia passado em vossa morada vale mais que mil, Senhor, sob as tendas dos pecadores: Melhor est dies uma um atriis tuis super millia (Sl 83, 11).
O pecador reconciliado com Deus pode dizer com São Paulo: Jamais o olho viu, jamais o ouvido percebeu, jamais o coração do homem imaginou o que Deus reserva aos que O amam: Oculus non vidit, nex auris adivit, nec in cor hominis ascendit, quae proeparavit Deus iis qui diligunt illum (1 Cor 2, 9).
O mundo corrompido, os pecados endurecidos, não conhecem nem concebem estes inefáveis consolos; não compreendem mais que as coisas terrestres, e não as de Deus, diz São Paulo: Animalis homo non percipit esa quae sunt spiritus Dei (1 Cor 2, 14). O Pai celestial, diz Jesus Cristo, oculta estas maravilhas aos sábios e aos prudentes do século, e não as revela senão aos pequenos (Mt 11, 25). Oculta-as aos pecadores orgulhosos que não se querem converter; porém, revela-as aos pecadores que se humilham e pedem graças.
É fácil converter-se
Um pecador que não quer se converter, está sem Jesus, diz São Paulo; porém aquele que deseja sua conversão, está em Jesus Cristo. Estava apartado de Deus; e se aproxima Dele pelo Sangue do Salvador: Eratis sine Christo; nunc autem in Christo Jesu: vos qui eratis longe, facti estis prope in sanguine Christi (Ef 11, 12-13).
Uma graça extraordinária descansava no coração dos primeiro fiéis, dizem os Atos dos Apóstolos: Et gratia magna erat in omnibus illis (At 4, 33). Não temos as mesmas graças para converter-nos? As graças não nos faltam; somos nós que faltamos. Temos o ensino, a Palavra de Deus, sua lei, suas inspirações, os Sacramentos, os remorsos etc. Não sejamos cegos, nem surdos, nem mudos, e nos converteremos.
Imitemos aos tessalonicenses, que tanto aproveitaram as graças que lhes havia levado São Paulo. Vós mesmos sabeis, dizia-lhes aquele grande Apóstolo, que nossa chegada entre vós não foi sem fruto: Ipsi scitis, fratres, introitum nostrum ad vos, quia non inanis fuit (1 Ts 2, 1).
A graça de Deus, nosso Salvador, revelou-se a todos os homens, escreve o grande Apóstolo a seu discípulo Tito: Apparuit gratia Dei Salvatoris nostri omnibus hominibus (Tt 2, 11); para ensinar-nos a renunciar à impiedade e aos desejos do mundo, e a viver neste mundo com temperança, justiça e piedade: Erudiens nos, ut abnegantes inpietatem, et secularia desideria, sobrie et juste, et pie vivamus in hoc saeculo (Tt 2, 12).
É necessário não adiar nossa conversão
Basta querer converter-se. Aquele que o quer, pode. Se ouvirdes a voz de Deus, não se endureçam os vossos corações: Hodie si vocem ejus audieritis, nolite obdurare cosrda vestra (Sl 94, 8).
Assim que o pródigo disse: Levantar-me-ei e irei ter com meu pai: Surgam, et ibo adpatrem meum (Lc 15, 18); levantou-se e pôs-se a caminho: Et surgens venit ad patrem suum (Lc 15, 20).
Sabemos, diz São Paulo aos Romanos, que o tempo corre e que chegou a hora de despertarmo-nos de nosso entorpecimento: Et hoc scientes tempus, quia hora est jam nos de somno surgere (Rm 13, 11). Nós vos exortamos, em nome de Jesus Cristo, para que vos apresseis a reconciliar-vos com Deus, escreve o mesmo Apóstolo aos Coríntios: Obsecramus pro Christo reconciliamini Deo (2 Cor 5, 20).
Nós vos exortamos a que não recebais em vão sua graça; porque diz o mesmo Apóstolo pela boca de Isaías: No tempo favorável, Eu vos ouvi, no dia da salvação, Eu vos socorri. Eis aqui, agora, o tempo favorável; eis aqui, agora, o dia da salvação[8]. Apressemo-nos a purificar-nos de todas as manchas do corpo e do espírito[9].
Levantai-vos, vós que dormis, saí de entre os mortos, e Jesus Cristo iluminar- vos-á, prossegue dizendo o Apóstolo aos Efésios: Surge, qui dormis, et exsurge a mortuis, et illuminabit te Christus (Ef 5, 14). Levantai-vos, pecadores, é o dia da graça; Jesus Cristo, sol de Justiça, levantou-se para vós.
Amai-vos, cada dia, uns aos outros, escreve aos Hebreus, enquanto dure o que a Escritura chama de hoje, não aconteça que algum de vós, seduzido pelo pecado, caia no endurecimento[10].
Levanta-te já, disse o Anjo a Pedro que estava acorrentado e no cárcere; e imediatamente se lhe caíram as cadeias das mãos: Surge velociter; et ceciderunt catenae de manibus ejus (At 12, 7). Tomai vosso calçado, vosso cinto e vossa veste, e segui-me; e Pedro, saindo, seguia-o. Depois que passaram pela primeira e segunda guarda, chegaram à porta de ferro que conduz à cidade, e ela abriu-se por si mesma diante deles (At 12, 8-10). Pedro, caindo em si, disse: Agora, vejo que o Senhor enviou seu anjo, livrando-me das mãos de Herodes e da expectativa de todo o povo judeu (At 12, 11).
Porque Pedro levanta-se imediatamente, caem rompidas suas cadeias, abre-se o cárcere, toma seu calçado, seu cinto, sua veste, segue o Anjo, passa a primeira e a segunda guarda, a porta de ferro gira sobre seus gonzos: é a porta que conduz para a cidade. Caído em si, reconhece que o Senhor enviou a seu Anjo e livrou-o da mão de seus inimigos.
Acrescentemos, agora, que todas essas coisas tem lugar no pecador que não adia sua conversão. Caem as cadeias de seus pecados e de sua dura escravidão: o cárcere do inferno abre-se e solta sua vítima; toma o calçado da verdade, o cinto da pureza, a veste da graça e de Jesus Cristo; escuta e segue a seu Anjo da Guarda, os santos pensamentos, as saudáveis inspirações; atravessa os obstáculos do mundo e da concupiscência; cede a porta do endurecimento e dirige-se à cidade eterna. Reconhece a mão e a bondade de Deus; está pleno de reconhecimento, e, como Pedro, proclama as maravilhas da misericórdia divina. Está livre de seus inimigos, e já chegou a Deus.
É preciso imitar a Davi. Já o disse, exclama este Rei Profeta, agora começo a converter-me, volto a Deus sem demora; esta mudança, conheço-a, é verdadeiramente obra da destra do Altíssimo: Et dixit: Nunc coepi, haec mutatio dextrae Excelsi (Sl 77, 11).
Poderia se dizer, ainda que em outro sentido, ao pecador que adia sua conversão, aquilo que Alexandre, bispo de Alexandria, dizia a Santo Atanásio, que fugia do Episcopado por temor e humildade: Figis, Athanasi; at non effugies: Atanásio, fugis; porém não escapareis.
Pecadores, fugis de Deus que vos chama, que quer que volteis a Ele; pois bem, vós não escapareis do Deus Vingador que há de vos julgar e vos condenar: Fugis, at non effugies.
Jesus está agora às portas de vosso coração, chama, quer entrar nele para purifica-lo, para cumulá-lo de graças e mudá-lo em Paraíso; abri-Lhe este coração enfermo, manchado e asqueroso; amanhã, talvez, será muito tarde…
“— Saulo, Saulo, porque me persegues?” perguntou Saulo.
“— Quem sois, Senhor? ”
‘“— Eu sou Jesus Nazareno, a quem tu persegues.”
“— Senhor, que quereis que eu faça?”, (perguntou novamente o converso).
“— Levanta-te, entra em Damasco, e ali te será dito tudo quanto deves fazer”, (respondeu-lhe seu misericordioso Senhor).
E agora, Saulo, diz Ananias, o que esperas? Levanta-te, recebe o batismo e purifica-te de teus pecados, invocando o nome do Senhor (cf. At 22, 7-16).
Pecadores, Deus diz-vos como a Saulo: Porque me persegues? Tende a prontidão da vontade deste recém-convertido, e exclamai: “— Que quereis que faça?” Não faltará um caritativo Ananias que vos diga: Levantai-vos da tumba de vossas iniquidades, recebi o batismo da penitência, e purificai-vos de vossos pecados, invocando ao Deus que perdoa.
Pecadores, diz o Eclesiástico, tende piedade de vossa alma, fazendo-vos agradáveis a Deus com uma conversão pronta e sincera: Miserere animae tuae, placens Deo (Eclo 30, 24).
Aquele que queria fazer esmola, diz Santo Agostinho, deve começar por si mesmo. Em sua infinita bondade, Deus não somente nos aconselha, senão que nos conjura que saiamos do triste estado de pecado mortal. Escutemo-Lo. Não nos aconteça que, mais tarde, no dia do Juízo, Ele não nos queira mais escutar. Ouçamos-Lhe quando nos diz por meio do Profeta: Tende piedade de vossa alma, fazendo-nos agradáveis a Deus. Que respondereis a este urgente convite? Deus conjura-vos que tenhais piedade de vós mesmos; e não quereis! Deus te roga ut tui miserearis, et non vis! Advoga por vossa causa ante vós; e nada por alcançar! Causam tuam apud te agit; et a te non potest impetrare! Como haverá de prestar atenção a vossas súplicas, quando Lhe imploreis no dia do Juízo, se vos negais a escutá-Lo agora, quando vos roga tenhais compaixão de vós mesmos: Et quomodo te audiet ille in die judicii suplicantem, cum tu eum pro teipso nolueris audire rogantem? (Homil.).
É muitíssima malícia, diz São Bernardo, não ter piedade de nós e rejeitar a Confissão, que é o único remédio depois do pecado; guardar em vosso seio um fogo que devora, em vez de apressar-nos a lançá-lo longe; não dar ouvidos, atenta e docilmente, ao Profeta que vos dá este sábio conselho: “Tende piedade de vossa alma; tratai de agradar a Deus”. Com quem pode ser bom aquele que é cruel consigo mesmo?[11].
Filho, quando estiveres enfermo, não descuides de ti mesmo, antes, pelo contrário, faz oração ao Senhor, e Ele te curará: Fili, in tua infirmitate non despicias te ipsum, sed ora Dominum, et ipse curabit te (Eccli. XXXVII, 9).
Lavai-vos, pois, diz o Senhor por boca de Isaías, purificai-vos, apartai de minha vista a malignidade de vossos pensamentos corrompidos; cessai de fazer o mal: Lavamini, mundi estote, auferte malum cogitationum vestrarum ab oculis meis; quiescite agere perverse (Is 1, 16).
Ó prevaricadores, entrai em vós mesmos: Redite, praevaricatores, ad cor (Is 46, 8).
Levanta-te, levanta-te, arma-te de fortaleza, ó braço do Senhor, acrescenta Isaías: Consurge, consurge, induere fortitudinem brachium Domini (Is 51, 9). Levanta-te, levanta-te; arma-te de tua fortaleza, ó Sião; veste-te os vestidos de gala, ó Jerusalém, cidade do Deus Santo; porque já não voltará doravante a passar pelo teu meio incircunciso nem imundo[12].
Ergue-te do pó, levanta-te, Jerusalém; levanta-te, toma alento; rompe as cadeias do cativeiro, ó escrava filha de Sião. Eis aqui o que diz o Senhor: Fostes vendidos a preço baixo, e sereis resgatados sem dinheiro[13].
Buscai ao Senhor enquanto Ele pode ser encontrado; invocai-O enquanto está perto: Quaerite Dominum dum inveniri potest; invocate eum dum prope est (Is 55, 6). Ouvi como comenta São Bernardo estas palavras de Isaías: Notai, diz-nos, que há três causas que impedem que achem a Deus aqueles que O buscam:
1.° Não O buscam no tempo preciso;
2.° Ou não O buscam como devem;
3.° Ou não O buscam onde é necessário[14].
Que abandone seu caminho o ímpio, diz Isaías, e o homem iníquo seus pensamentos; que voltem ao Senhor; Ele terá compaixão deles; que voltem; o Senhor é rico em misericórdia[15].
Levanta-te, ó Jerusalém, prossegue Isaías, recebe a luz; porque veio tua lâmpada e nasceu sobre ti a glória do Senhor: Surge, illuminare, Jerusalém; quia venit lumen tuum, et gloria Domini super te orta est (Is 60, 1).
Ânimo, pecadores, que até agora estivestes sepultados nas trevas do pecado e do esquecimento de Deus; caístes e dormistes no leito de todas as iniquidades; estivestes presos no cárcere do demônio, e sofrestes o cativeiro do Inferno. Ânimo! Levantai-vos! Saí deste sono e deste cárcere; olhai, recebei a luz de Deus e de sua graça; despertai, levantai a cabeça, abraçai com vossas mãos a Cruz de Jesus Cristo, vosso Salvador, que vos oferece o uso da vista, a liberdade e a alegria; sede iluminados, recebei como um espelho a luz da fé, do arrependimento e da graça, a fim de que sejais transformados e, com a mudança de vossa vida e vossos bons exemplos, sejais também vós astros esplendorosos.
Jerusalém, exclama o profeta Baruc, despe a veste de luto que correspondente à tua aflição. E reveste-te do esplendor e magnificência daquela glória perdurável que te vem de Deus: Exue te, Jerusalém, stola luctus et vexationis tuae; indue te decore et honore ejus, quae a Deo tibi est sempiternae gloriae (Br 5, 1). O Senhor te revestirá com um duplo manto da justiça, e porá sobre tua cabeça um diadema de honra sempiterna: Circundabit te Deus diploide justitiae, et imponet mitram capit honoris aeterni (Br 5, 2).
Convertei-vos, disse o profeta Ezequiel, e fazei penitência de todas as vossas maldades: e não serão estas as causas de vossa perdição: Convertemini, et agite poenitentiam aba omnibus iniquitatibus vestris; et non erit vobis in ruinam iniquitas (Ez 18, 30).
Agora, pois, diz o Senhor, convertei-vos a mim de todo o vosso coração com jejuns, com lágrimas e com gemidos. Rasgai vossos corações, e não vossas vestes (Jl 2, 12-13).
Ainda quarenta dias, e Nínive será destruída: Adhuc quadraginta dies, et Ninive subvertetur (Jn 3, 4). É, pois, preciso que nos apressemos. A exemplo dos ninivitas, deixai de pecar, fazei penitência. Então Deus retirará as ameaças, e vos perdoará.
A perseverança no pecado é deplorável
Pecadores, que deveríeis estar mortos para o pecado, como ainda perseverais em tão horrível estado?, pergunta o grande Apóstolo: Qui enim nortui sumus peccato, quomodo adhuc vivemos in illo? (Rm 6, 2).
Ah, longe de perseverar no mal, reconheçamos com Santo Agostinho nossa desgraça por não haver amado antes a Deus. Quão tarde Vos amei, Formosura sempre antiga e sempre nova, exclama o Santo: Quão tarde Vos amei! Sero te amavi, pulchritudo tam antiqua et tam nova; sero te amavi! (Lib. Confess.).
Em vez de continuar seguindo pelo caminho do mal, dedicai-vos a compreender, com o Profeta, quão amargo e tão mal é ter abandonado ao Senhor vosso Deus: Scito quia malum et amarum est reliquisse te Dominum Deum tuum (Jr 2, 19).
Se o justo, diz o Senhor por meio de Ezequiel, aparta-se da justiça e comete a iniquidade, bem como praticar todas as abominações que costuma fazer o ímpio, porventura terá a vida? Todas as obras de virtude que havia feito, serão esquecidas, morrerá na prevaricação em que caiu, e no pecado que cometeu[16].
Se o justo que cai e não se levanta está perdido, qual será a sorte daquele que sempre foi pecador e quer sê-lo até ao fim?
Que coisa assombrosa: queremos perseverar na inimizade de Deus, na escravidão, na morte da alma, perder o Céu e fazer-nos merecedores, cada dia mais e mais, de um Inferno eterno!
Aquele que vive no pecado mortal, não vive, diz Santo Agostinho. Que morra para o pecado, a fim de não morrer para a eternidade; que se converta, para não ser condenado: Qui male vivit, non vivit. Moriatur, ne moriatur; mutetur, ne damnetur (De Morib.).
É preciso deixar o pecado
Para converter-se, é preciso renunciar ao pecado e deixá-lo já. A morte nos separa de tudo: a conversão, que é a morte do pecado, deve também separar-nos do pecado.
Assim como Jesus Cristo ressuscitou da morte à vida, para a glória do Pai, diz-nos o grande Apóstolo, devemos também nós andar com uma vida nova: Ut quomodo Christus surrexit a mortuis per gloriam Patris, ita et nos in novitate vitae ambulemus (Rm 6, 4).
Sabei que nosso homem velho foi crucificado juntamente com Ele, a fim de que o corpo do pecado seja destruído em nós, e que doravante não sejamos escravos do pecado; porque quem morreu desta maneira, está justificado do pecado. Considerai-vos também como que mortos ao pecado pelo Batismo, porquanto viveis para Deus, em Jesus Cristo, nosso Senhor![17]
Comentando estas palavras, diz São Próspero: O que é morrer para o pecado, senão deixar logo de viver ações condenáveis, não escutar mais aos desejos da carne, não cobiçar nada e ser como aquele que está morto? Um morto não fala mal de ninguém, não despreza a ninguém, não tem ódio, não trata de inclinar alguém ao pecado, não prejudica a ninguém, não é invejoso, não zomba dos aflitos, não obedece à luxúria, nem à gula (In Sentent.).
Assim como empregastes os membros de vosso corpo em servir à impureza, diz São Paulo, e à injustiça para cometer a iniquidade, da mesma maneira vós deveis empregá-los agora para servir à virtude, a fim de vos santificardes[18].
Deixemos, pois, as obras das trevas, e revistamos as armas da luz. Revesti- vos de Nosso Senhor Jesus Cristo, e não trateis de contentar os caprichos de vossa sensualidade[19].
Purificai-vos do velho fermento, diz o mesmo Apóstolo, a fim de que vós sejais uma massa inteiramente nova: Expurgate vetus fermentum, ut sitis nova conspersio (1 Cor 5, 7).
Formado da terra, o primeiro homem é terreno; vindo do Céu, o segundo é celestial: assim como levamos em nós mesmos impressa a imagem do homem terreno, levemos também a imagem do homem celestial[20].
Que tudo seja novo, corações, palavras e obras, diz Santo Tomás: Nova sint omnia, corda, voces e opera (Hymn, in Fest. Corp. Christi).
Jesus Cristo morreu, diz Santo Anselmo, para fazer-nos morrer para o pecado, e ressuscitou com o objetivo de fazer-nos ressuscitar para as obras de justiça[21] .
Jesus Cristo, diz São Paulo, morreu por todos, a fim de que aqueles que vivem não vivam mais para si mesmos, senão para Aquele que por eles morreu e ressuscitou[22]. Se alguém está em Jesus Cristo, já é nova criatura; o velho que habita nele desapareceu, e tudo vem a ser novo, pois que tudo foi renovado: Si qua ergo in Christo nova criatura, vetera transierunt; ecce facta sunt omnia nova (2 Cor 5, 17).
É preciso, diz aos Efésios, despojarmo-nos do homem velho, segundo o qual vivestes em outros tempos, e que se corrompe seguindo a ilusão das paixões. Renovai-vos no interior de vossa alma, e revesti-vos do homem novo que foi criado à semelhança de Deus, em justiça e santidade verdadeira[23].
Como Abraão, aquele que se quer converter, diz São Jerônimo, deve sair da terra em que habita, que é seu corpo; deve deixar sua parentela; deve abandonar aos caldeus, que são os demônios, e habitar na região das virtudes (Comment.).
Renunciai a todos os vossos peados, diz o Apóstolo aos Colossenses: Nunc autem deponite et vos omnia (Cl 3, 8). Desnudai-vos do homem velho com suas ações, revesti-vos do novo: Expoliantes vos veterem hominem, et induentes novum (Cl 3, 9).
São Bernardo diz com muito acerto: Há dois homens, o antigo e o novo; o velho Adão e Jesus Cristo; aquele da terra, este do Céu; a velhice representa-nos Adão, a novidade a Jesus Cristo. Há três vantagens e três novidades: porque há a velhice do coração, da língua e da carne, e assim pecamos de três maneiras, por pensamentos, por palavras e por obras. No coração, encontram-se os desejos da carne e da terra, o amor impuro e o amor do mundo; na boca, a jactância e a maledicência; na carne, a concupiscência e o pecado. Tudo isso é a imagem do homem velho, e tudo isso se deve renovar. O coração renova-se excluindo os desejos carnais e terrestres, e admitindo o amor a Deus e à Pátria Celestial. A jactância e a maledicência devem dar lugar à confissão sincera dos pecados que temos cometido e ao elogio do próximo. A concupiscência e os crimes, esta velhice do corpo, devem desaparecer, por sua vez, ante a continência e a inocência; de tal maneira que estas virtudes aniquilem os vícios que lhe são contrário (Serm. XXX).
Senhor, diz o Salmista, livrastes da morte a minha alma, e preservastes a meus pés da queda, a fim de que possa ser grato aos olhos de Deus, na luz dos viventes: Eripuisti anima meam de morte, et pedes meos de lapsus, ut placeam coram Deo in lumine viventium (Sl 55, 13).
Aparta-te do pecado, endireita tuas ações e purifica teu coração de toda iniquidade, diz o Eclesiástico: Averte a delicto, et dirige manus, et ab omni delicto munda cor unum (Eclo 38, 10). O Senhor exige, pois, três coisas para que uma conversão seja perfeita:
1.° que nos apartemos do pecado, isto é, que nos afastemos do espírito e da vontade, e formemos a resolução de não mais pecar;
2.° que dirijamos nossas mãos para fazer boas ações; e
3.° que purifiquemos nosso coração de toda iniquidade por meio da contrição, da confissão e da satisfação.
Lançai para longe de vós, diz Ezequiel, todas as prevaricações com que vos manchastes, e formai-vos um coração novo e um espírito novo[24].
Assim como o velho Adão, diz São Bernardo, tomou o homem inteiro e o assumiu até o fundo das entranhas, assim também agora Jesus Cristo, que a tudo curou, tudo resgatou, e tudo quer glorificar, deve assumir-nos inteiramente: Sicut fuit vetus Adam effusus per totum hominem, et totum occupavit, ita modo totum obtineat Christus, qui totum curavit, totum redemit, totum et glorificabit (Serm. XXV).
Deus deseja a conversão do pecador e dá-lhe sua graça; o pecador, por sua vez, deve desejar sua conversão e cooperar com a graça
Tendo perdido a Jesus Cristo, a Santíssima Virgem e São José voltaram ao Templo, e acharam-No em meio dos Doutores. Ao encontrá-Lo, seus pais ficaram maravilhados, e sua Mãe disse-Lhe: Filho, porque agiste assim conosco? Olha como teu pai e eu, plenos de aflição, temos te buscado: Ecce pater tuus et ego dolentes quaerebamus te (Lc 2, 48). A alma que perdeu a Jesus Cristo, deve buscá-Lo:
1.° com a dor e das lágrimas de um coração contrito;
2.° com uma grande solicitude e um grande zelo;
3.° deve buscá-lo entre os doutores, isto é, entre os homens instruídos e piedosos.
As duas asas com que a alma dirige-se a Jesus Cristo são a inteligência iluminada por Deus e a vontade excitada e fortalecida por Ele.
Renunciando, diz o Apóstolo São Tiago, a todas as impurezas e a todos os desregramentos, recebei com docilidade a Palavra Divina, que tem sido sugerida em nós e que pode salvar nossas almas[25].
É preciso destruir a árvore silvestre que está em nós, e enxertar o ramo cultivado que É Jesus Cristo, bem como a virtude. Este enxerto será arraigado mediante a seiva divina da graça e dos santos desejos.
Rompamos as cadeias do pecado e sacudamos longe de nós o molesto jugo do demônio, diz o Salmista: Dirumpamus vincula eorum, et projiciamus a nobis jugum ipsorum (Sl 2, 3).
É preciso que o pecador diga com o Real Profeta: Compadecei-vos de mim, Senhor, segundo a grandeza de vossa misericórdia; e segundo a multidão de vossas bondades, apagai minha iniquidade. Lavai-me cada dia, mais e mais, minhas manchas; e purificai-me de meu pecado[26]. Não vos recordeis mais, Senhor, de nossas antigas iniquidades; antecipem-se a nosso favor vossas misericórdias; pois nos encontramos reduzidos a uma extrema miséria. Socorrei-nos, ó Deus, nosso Salvador; e, pela glória de vosso Nome, livrai-nos, Senhor, e perdoai-nos os nossos pecados[27].
Livrou aos que jaziam entre as trevas e sombras da morte, aferrolhados na aflição e entre cadeias; porém, clamaram ao Senhor em sua angústia, e livrou-os de suas misérias, rompeu suas cadeias[28].
Aproximai-vos de Deus com ardentes desejos de vos converterdes, e Ele se aproximará de vós, diz o Apóstolo São Tiago: Appropinquate Deo, et appropinquabit vobis (Tg 4, 8).
Quereis saber por qual caminhos nos aproximamos de Deus? Ei-lo:
1.° afastando-nos do demônio e resistindo-lhe;
2.° humilhando-nos;
3.° desejando voltar a Deus. Olhai que prodígio, irmãos meus, diz Santo
Agostinho: Deus habita no mais alto dos Céus; se vos elevais, Ele foge de
vós; se vos humilhais, Ele desce a vós (Homil.).
Aproximemo-nos de Deus.
4.° pela penitência;
5.° pelo amor a Deus, praticando obras de caridade;
6.° orando.
São Gregório diz que os pecadores formam, muitas vezes, boas resoluções; porém voltam a cair nos mesmos pecados assim que estão tentados, porque seu coração não mudou e não se converteram a Deus seriamente.
Querem ser humildes, exclama, porém sob a condição de que não se lhes despreze; consentem em contentar-se com aquilo que possuem, porém sob a condição de que usarão também de seu supérfluo; propõem-se a viver castamente, porém sem mortificar sua carne; a ser pacientes, porém sem sofrer provas; querem as virtudes sem se darem ao trabalho de adquiri-las; não sabem vencer um combate em campo raso, e querem triunfar de uma cidade fortificada (Pastor.).
Pelo contrário, a humilhação é o caminho da humildade, diz São Bernardo; os sofrimentos conduzem à paciência, a mortificação à castidade, o jejum à sobriedade (In Psalm.).
Afastamo-nos de Deus de três maneiras, diz Hugo de São Vitor: pela vaidade, pela afeição a si mesmo, e pela curiosidade para com o próximo. Voltemos a Deus com a confissão de nossas faltas, com a compunção do coração e a mortificação da carne. É preciso que a verdade encontre-se nas palavras, a pureza na alma, e a sobriedade na maneira com que satisfazermos as necessidades do corpo.
Explicando aquelas palavras de São Lucas (Lc 7, 36): Havia na cidade uma mulher pecadora, São Gregório diz: Esta mulher, entregue desde cedo à libertinagem, usava perfumes para agradar e atrair; porém, pôs logo aos pés de Jesus aquilo que havia vergonhosamente empregado para adornar seu corpo, e ofereceu-o a Deus de um modo digno de elogios. Seus olhos haviam desejado as coisas da terra, e agora estão plenos de lágrimas; sua boca havia pronunciado palavras de orgulho, e agora beija os pés de seu divino Mestre. Sacrifica tudo aquilo que havia servido para seus prazeres criminosos, e pratica tantas virtudes quantas faltas havia antes cometido. Quer que tudo o que nela havia ofendido a Deus manifeste a sinceridade de sua penitência. Que motivo obrigava esta mulher a obrar assim? Era o ardente desejo de se converter e obter misericórdia.
É-nos preciso recordar a felicidade que experimentávamos antes da queda no pecado
Recordai-vos dos benefícios do Senhor, e voltarão a Ele, disse o Salmista: Reminiscentur, et convertentur ad Dominum (Sl 21, 28).
Isto fez com que o filho pródigo se levantasse, saísse do lugar em que vivia em uma profunda miséria, e voltasse a seu pai. Comparou o triste estado em que se achava com a felicidade que experimentava na casa paterna. Esta comparação fez- lhe refletir, e exclamou: Ó quantos criados tem pão em abundância na casa de meu pai, enquanto eu, seu filho, estou aqui perecendo de fome: In se autem reversus, dixit: Quanti mercenarii in domo patris mei abundant panibus, ego autem hic fame pereo (Lc 15, 17). Que ditoso eu era a seu lado e que desgraçado sou longe dele! Que ditosa era a época de minha primeira comunhão, e quão ditoso era quando me aproximava frequentemente à sagrada Mesa Eucarística etc. Quão desgraçado sou! Pois, desde que tendo abandonado o meu Deus, os Sacramentos, a oração, lancei- me no caminho criminoso das paixões enganosas! Surgam, et ibo ad patrem meum… Então, eu irei a meu pai e lhe direi: Meu pai, pequei contra o céu e contra ti! (cf. Lc 15, 18).
Depois da conversão é preciso perseverar
Senhor, diz o Real Profeta, rompestes minhas cadeias; a Vós oferecerei um sacrifício de louvor, e invocarei o nome do Senhor: Dirupisti vincula mea; tibi sacrificabo hostiam laudis, et nomem Domini invocabo (Sl 115, 16-17).
Não olvidemos, diz São Paulo aos Romanos, que Jesus Cristo ressuscitado de entre os mortos não morre outra vez, e que a morte não terá mais domínio sobre Ele: Scientes quod Christus ressurgens ex mortuis jam non morritur; mors illi ultra non dominabitur (Rm 6, 9).
Tendo sido livres do pecado, fizestes-vos escravos da justiça: Liberati a peccato, servi facti estis justitiae (Rm 6, 18).
Podendo cantar sobre a derrota da morte este cântico de ressurreição: “Ó morte, onde está tua vitória? Inferno, onde está teu aguilhão? ”, jamais temos de entrar em seu império entregando-nos ao pecado.
Em outro tempo, não éreis senão trevas, mas, agora, sois luz no Senhor. E, assim, procedei como filhos da luz: Eratis aliquando tenebrae, nunc autem lux in Domino; ut filii lucis ambulate (Ef 5, 8).
Se ressuscitastes com Cristo, buscai-o, pois Ele está no Céu, sentado à direita de Deus; deleitai-vos nas coisas do Céu, não nas da terra: Si consurrexit cum Christo, quae sursum sum, quaerite, ubi Christus est in dextera Dei sedens; quae sursum sunt, sapite, non quae super terram (Cl 3, 11-2).
Convertestes-vos, deixando os ídolos para servir ao Deus vivo e verdadeiro: perseverai (1 Ts 1, 9). Todos somos filhos da luz e filhos do dia; não pertencemos nem à noite, nem às trevas; não nos deixemos, pois vencer pelo sono; antes, velemos e sejamos sóbrios: Omnes vos filii lucis estis, et filii diei; non sumus noctis, neque tenebrarum; igitur non dormiamus, sed vigilemos et sobrii simus (1 Ts 5, 5).
Marchai com passo firme pelo reto caminho, e, se alguém chega a vacilar, que tenha cuidado de não se extraviar. Pelo contrário, corrija-se: Gressus rectos facite pedibus vestris, ut non claudicans quis erret, magis autem sanetur (Hb 12, 13).
Aquele que persevere, não será condenado pela segunda morte: Qui vicerit, non laedetur a morte secunda (Ap 2, 11).
Deveres dos pastores e dos confessores com respeito aos pecadores
O sacerdote que busca e recebe um pecador e demonstra-lhe notável humildade e caridade, pode chegar a reduzir-lhe e a destruir os pecados, diz São Gregório: Ad destruenda peccata pervenire ille potest. Qui peccatores magna humilitatis ostensione et magna caritatis affectione demulcet (Pastor.).
Pastores e confessores, abri vosso coração, a fim de que os pecadores entrem nele para saírem convertidos, desaparecendo todos os seus erros por meio de vossa paciência e caridade.
Anda, disse o Senhor a Jeremias, e repete até o vento norte, e faz que estas palavras sejam ouvidas: Eis o que diz o Senhor: Converte-te, ó tu, rebelde Israel, que não ocultarei meu rosto para não te olhar; pois eu sou santo e misericordioso, e não conservarei sempre meu rancor[29].
Quantas vezes deverei perdoar a meu irmão quando pecar contra mim? Sete?, perguntou Pedro a seu divino Mestre. Perdoarás setenta vezes sete, respondeu-lhe Jesus (Mt 18, 21-22), isto é, sempre que o pecador esteja disposto a emendar-se e converter-se.
Porque Deus perdoa ao homem e não ao Anjo
Os Santos Padres indicam cinco motivos que explicam o fato de que Deus perdoa ao homem e não ao Anjo.
O primeiro é que o homem pecou por fragilidade da carne; por esta razão, obteve misericórdia;
O segundo é que o Anjo pecou sem ser tentado por ninguém; enquanto que o homem pecou tentado pela serpente;
O terceiro é que nem todos os Anjos caíram, senão somente parte deles; enquanto que na pessoa do primeiro homem, toda a natureza humana, toda a humanidade perdeu-se. Segundo São Gregório, ainda que Adão tenha pecado, sua posteridade não foi de todo indigna do perdão, porque ela não foi sua cúmplice;
O quarto motivo é que o Anjo, tendo grandíssima inteligência, pecou com sua plena vontade e com malícia, enquanto que o homem não pecou com malícia, e sua vontade foi solicitada e seduzida;
O quinto é que o Anjo recebeu, desde o momento de sua criação, o mais alto grau de honra que poderia receber, e que pela contemplação do Criador devia haver-se confirmado na graça e haver-se feito impecável. Eis aqui porque, caído de tão alto, não lhe foi dado levantar-se de sua queda por meio da penitência. O homem, pelo contrário, colocado na terra com um corpo formado de barro, devia reproduzir-se antes de chegar, sem morrer, à melhor vida, foi precipitado em um estado mais longínquo da bem-aventurança que o Anjo; por isto, é-lhe dado um período de tempo para fazer penitência, o qual não é concedido aos anjos (rebeldes).
Referências:
[1] Ipse, ut velimus, operatur incipiens, qui volentibus cooperatur perficiens; Praevenit ut sanemur, et subsequitur ut sanati vegetemur; praevenit ut vocemur, et subsequitur ut glorificemur: praevenit ut pie vivamus, et subsequitur ut cum illo semper vivamus (De gratia et lib. arbitr., c. XVII).
[2] Deus, qui abjicit delinquentem, convertitur ad poenitentem; vocat etiam adversos, donatpeccata conversis, hortatur pigros, consolatur afflictos, docet studiosos, adjuvat dimicantes, confirmat laborantes, exaudi corde clamantes (In Psalm. VII, Poenit.)
[3] Vocati, et clamasti, et rupisti susditatem meam; corrucasti, splenduisti, et fugasti coecitatem; flagrasti, et duxi spiritum, et anhelo tibi. Gustavi, et esurio, et sitio. Tetigisti me, et exarsi in pacem tuam (Lib. Confess.).
[4] Consolabitur Dominus Sion, et consolabitur omnes ruinas ejus; et ponet desertum ejus quase delicias, et solitudinem ejus quase hortum Domini. Gaudium et laetitiae invenietur in ea, gratiarum actio, et vox laudis (Isai. LI, 3)
[5] Convertimini, filii, revertentes dicit Dominus: quia ego, vir vester, […] et introducam vos in Sion. […] Convertimini, filii, revertentes et sanabo aversiones vestras (Jer. III, 14.22). Haec dicit Dominus: […] bonas facite vias vestras, et studia vestra, et habitabo vobiscum (Jer. VII, 3). In die illa, ait Dominus exercituum, conteram iugum eius de collo tuo, cincula ejus disrumpam, et non dominabuntur ei amplius alieni, sed servient Domino Deo suo […] Salvabo te de terra longínqua, et semen tuum de terra captivitatis eorum; et revertetur Jacob, et quiescet, et cunctis affluet bonis, et non erit quem formidet. Obducam cicatricem tibi, et a vulneribus tuis sanabo te (Jer. XXX, 8.10.17).
[6] Si autem impius egerit paenitentiam ab omnibus peccatis suis quae operatus est, et custodierit universa praecepta mea, et fecerit iudicium et iustitiam, vita vivet, non morietur. Omnium iniquitatum eius, quas operatus est, non recordabor; in iustitia sua, quam operatus est, vivet […] Et cum averterit se impius ab impietate sua, […] et fecerit iudicium et iustitiam, ipse animam suam vivificabit. Considerans enim, et avertens se ab omnibus iniquitatibus suis, quas operatus est, vita vivet, et non morietur (cf. Ezech. XVIII, 21-28).
[7] Tria signa simul in uno homine perpetra sunt: coecus videt, mutus loquitur, possessus a daemone liberatur. Quod quotidie completur in conversione credentium: ut, expulsoprimum daemone, fidei lumen aspiciant, deinde ad laudes Dei tacencia prius ora laxentur.
[8] Exhortamur enim vacum gatiam Dei recipiatis, ait enim: Tempore accepto exaudivi et, et in die salutis adjuvi te. Ecce nunc tempus accepitabile, ecce nunc dies salutis. (II Cor. VI, 1-2).
[9] Mundemus nos ab omni inquinamento carnis et spiritus (II Cor. VII, 1).
[10] Adhortamini vosmetipsos per singulos dies, donec hodiecognominatur; ut non obduretur quis ex vobis fallaciapeccati (Heb. III, 13).
[11] Magna revera malitia tui te non misereri, et solum post peccatum remedium confessionais a teipso repellere; ignemque in sinu tuo involvere, potius quam excutere; nec praebere, aurem consilio sapientes qui ait: Miserere animae tuae, palcens Deo. Proinde, qui sibi nequam, cui bonus? (Epist.)
[12] Consurge, consurge, induere fortitudine tua, Sion; et induere ventimentis gloriae tuae, Jerusalem, civitas Sancti; quia non adjiciet ultra ut pertranseat per te incircuncisus et imundus (Isai. LII, 1).
[13] Excutere de pulvere, consurge, sede, Jerusalem; solve vincula colli tui, captiva filia Sion. Quia haec dicit Dominus: Gratis venundati estis, et sine argento redimemini (Isai. LII, 2-3).
[14] Attendite tres esse causas quae quaerentes frustrari solent, cum aut videlicet non in tempore quaerunt, aut non sicut oportet, aut non ubi oportet (Epist.).
[15] Derelinquat impius viam suam, et vir iníquos cogitationes suas, et revertatur ad Dominum, et miserebitur ejus; et ad Deumnostrum, quoniam multus est ad ignoscendum (Isai. LV, 7).
[16] Si autem averterit se iustus a iustitia sua, et fecerit iniquitatem secundum omnes abominations, quas operari solet impius, numquid vivet? Omnes iustitiae eius quas fecerat non recordabuntur: in praevaricatione quapraevaricatus est, et in peccato suo quodpeccavit in ipsis morietur (Ezech. XVIII, 24).
[17] Hoc scientes quia vetus homo noster simul crucifixus est, ut destruatur corpus peccati, et ultra non serviamus peccato. Qui enim mortus est, justificatus est a peccato. Ita et vos existimate vos mostuos quidem esse peccato, viventes autem Deo in Christo Jesu Domino nostro (Rom. VI, 6.7.11).
[18] Sicut exhibuisti membra vestra servire immunditiae et iniquitati ad iniquitatem, ita nunc exhibete membra vestra justitiae in santificationem (Rom. VI, 19).
[19] Abjiciamus opera tenebrarum, et induamur arma lucis. Induamini Dominum nostrum Jesum Christum, et curam carnis ne feceritis in desideriis (Rom. XIII, 12-14).
[20] Primus homo de terra, terrenus; secundus homo de caelo, caelestis […] sicutportavimus imaginem terreni, portemus et imaginem caelestis (I Cor XVI, 47.49).
[21] Christus mortuus est ut nos moreremur peccato; et resurrexit, ut ad justitiae opera resurgeremus (De Similit.).
[22] Pro omnibus mortuus est Christus; ut et qui vivunt, jam non sibi vivant, sed ei qui pro ipsis mortuus est et resurrexit (II Cor. V, 15).
[23] Deponere vos secundum pristinam conversationem veterem hominem, qui corrumpitur secundum desideria erroris. Renovamini autem spiritu mentis vestrae, et induite novum hominem qui secundum Deum creatus est in iustitia et sanctitate veritatis (Ephes. IV, 22-24).
[24] Projicite a vobis omnes praevaricationes vestras, in quibus praevaricati estis; et facite vobis cor novum er spiritum novum (Ezech. XVIII, 31).
[25] Abjucentes omnem immunditiam et abundantiam malitiae, in mansuetudine suscipite insitum verbum, quod potest salvare animas vestras (Iac. I, 21).
[26] Miserere mei, Deus, secundum magnam misericordiam tuam, et secundum multitudinem miserationum tuarum, dele iniquitatem meam. Amplius lava me ab iniquitate mea, et a peccato meo munda me (Psalm. L, 1-3).
[27] Ne menineris iniquitatum nostrarum antiquarum; cito anticipent nos misericordiae tuae, quia pauperes sumus nimis. Adjuva nos, Deus, salutaris noster, et propter gloriam nominis tui, Domine, libera nos; et propitius esto peccatis nostrispropter nomen tuum (Psalm. LXXVIII, 8-9).
[28] Sedentes in tenebris et umbra mortis, vinctos in mendicitate et ferro. Et clamaverunt ad Dominum cum tribularentur, et de necessitatibus eorum liberavit eos (Psalm. CVI, 10-13).
[29] É muito significativo o texto ao qual o autor faz referência: “Apesar de tudo isto, Judá, a sua irmã infiel, não voltou a mim de todo o seu coração, mas apenas de mentira — oráculo do Senhor.E o Senhor me disse: A renegada Israel é mais justa do que a infiel Judá. Vai, pois, proclamar estas palavras no norte; tu dirás: Volta, renegada Israel —oráculo do Senhor. Não farei cair sobre vós a minha ira, porque sou misericordioso —oráculo do Senhor, não guardo rancor para sempre. Reconhece, apenas, a tua falta: Que te rebelaste contra o Senhor, o teu Deus, que esbanjaste os teus caminhos com os estrangeiros debaixo de toda árvore verde; mas não escutastes a minha voz —oráculo do Senhor (Nota do tradutor).