Deus é a própria bondade por natureza
O próprio Deus é a bondade, é fazer o bem… Não é Deus quem nos impõe os males, e os suplícios que sofremos; somos nós quem os atraímos.
São Paulo chama a Deus “Pai das Misericórdias”: Pater misericordiarum (2 Cor 1, 3). E o é com justiça, diz São Bernardo; porque Deus não e o Pai das condenações, e dos castigos. É Ele o Pai das Misericórdias, porque, por natureza, é causa e origem do bem. Os juízos severos e os castigos vêm de nós; nossos pecados no-los atraem (Serm. V, in Nativ. Dom.).
Deus é o Pai das Misericórdias. Nossas misérias são tão grandes e multiplicadas, que o real profeta Davi não pede a Deus que nos trate segundo sua misericórdia, senão segundo a multidão de suas misericórdias: Secundum multitudinem miserationum tuarum, dele iniquitatem meam (Sl 4, 3).
Eis que o Senhor sairá de sua morada, e descendo de seu trono atropela as grandezas da terra, diz o profeta Miqueias: Ecce Dominus egreditur de loco suo, et descendet, et calcabit super excelsa terrae (Mq 1, 3).
Quanto à sua substância, à sua essência, Deus é invisível; aos olhos do corpo, Ele somente pode ser visto por suas obras. Quando sai, é como um juiz vingador, para condenar e castigar os crimes dos homens e das nações. Deus, dizem São Jerônimo e outros Doutores, sai de sua mansão quando castiga; porque é próprio da natureza de Deus ter lástima e salvar. A mansão, a morada de Deus, é a bondade e a clemência. Assim, pois, quando Ele, ultrajado pelos pecados dos homens, irrita-se e castiga, parece que sai do lugar onde habita, parece que renuncia à clemência, despoja-se da bondade de sua natureza, e toma uma severidade que não lhe é natural.
Deus é como a abelha. Naturalmente, a abelha produz o mel; não é de seu natural o ferroar; e, por isto, não o faz senão quando a estorvam e a contrariam. É próprio da natureza de Deus o ser doce e bom. O dever da vingança é penoso a Deus, que é todo bondade e amor. Porém, com seus crimes, os malvados obrigam- No a que castigue. Assim, por bondade Ele não cessa de admitir-lhes e conjurar-lhes para que volvem a Ele, prometendo-lhe seu perdão (Comment.).
O desejo de Deus é de fazer o bem
Estou à porta, diz o Senhor no Apocalipse, e chamo: se alguém me ouve e abre a porta, entrarei em sua casa e comerei com ele, e ele comigo: Ecce sto ad ostium, et pulso; si quis audierit vocem meam, et aperuerit ianuam, introibo ad illum, et coenabo cum illo, et ipse mecum (Ap 3, 20).
Para excitar nosso querer, diz Santo Agostinho, Deus começa a operar em nós; e quando temos a vontade de agir, é nosso colaborador para concluir a obra: Ipse, ut velimus, operatur incipiens qui volentibus cooperatur perficiens (De Grat. Et de Lib. Arbitr.).
Adverte-nos para que nos curemos, acrescenta, e acompanha-nos para que façamos um bom uso da saúde espiritual que nos deu. Adverte-nos na vocação, e acompanha-nos a fim de que sejamos glorificados; adverte-nos para fazer-nos viver na piedade, e acompanha-nos a fim de que mereçamos a vida eterna[1].
Filho meu, dai-me teu coração, diz o Senhor nos Provérbios: Proebe, fli mi, cor tuum mihi (Pr 23, 26). Eis que vim para atear fogo sobre a terra, diz Jesus Cristo, o que hei de querer senão que arda? Ignem veni mittere in terram; et quid volo, nisi ut accendatur? (Lc 12, 49).
Não seria, porventura, o desejo de fazer bem o que Lhe levou a criar-nos a sua imagem, e a reparar a preço de seu Sangue esta imagem manchada e desfigurada pelo pecado? Não seria, então, o desejo ardente de encher-nos de bens, que Lhe obrigou a permanecer conosco na divida Eucaristia, e a ser nosso alimento?
Não se antecipou Deus ao rei Davi com bênçãos amorosas? Praevenisti eum in benedictionius dulcedinis (Sl 20, 4).
Bondade de Deus, sobretudo, na Redenção
Dois grandes motivos obrigaram a Deus a enviar-nos seu Filho único e querido para resgatar-nos: sua misericórdia e nossa miséria. Acolheu a Israel, seu servo, lembrando-se de sua misericórdia, diz a bem-aventurada Virgem Maria: Suscepit Israel puerum suum, recordatus misercordiae suae (Lc 1, 54). Teve piedade de nossas desgraças; quis tirar-nos dela e devolver-nos a Deus e ao Céu.
A causa de nossa reparação é tão somente a bondade de Deus, diz São Leão: Causa reparationis nostrae non est nisi misericordia Dei (Serm. de Nativ.).
Sim, Deus amou tanto o mundo, que lhe deu seu único Filho: Sic Deus dilexit mundum, ut Filium suum unigenitum daret (Jo 3, 16).
A maior prova de bondade é dar a vida por seus amigos; porém, Jesus Cristo levou sua bondade muito além, posto que deu sua vida por seus inimigos. São João Batista foi enviado de Deus para que ensinasse a ciência da salvação a seu povo, para que obtivesse o perdão de seus pecados, pelas entranhas misericordiosas de nosso Deus, dizia seu pai Zacarias, que fez este Sol nascente, isto é, Jesus Cristo, vir nos visitar do alto do céu: Per viscera misericordiae Dei nostri; in quibus visitabit nos, oriens ex alto (Lc 1, 78).
Foi tão grande a bondade de Deus, que, de certo modo, deu a si mesmo ao dar-nos seu Filho. Recebi a divina imagem de Deus, diz São Gregório Nazianzeno, porém não a conservei; Deus toma minha carne, a fim de dar a salvação à sua imagem, e à minha carne, a imortalidade: Divinam imaginem accepit, non custodivi; ille carnis meae particeps fit, ut et imagini salutem, et carni immotalitatem afferat (In Distich.).
Jesus Cristo encarnou-se para espiritualizar-nos, diz o Papa São Gregório; humilhou-se para elevar-nos; saiu para fazer-nos entrar; fez-se visível para manifestar-nos as coisas invisíveis; foi açoitado para curar-nos, sofreu os opróbrios para livrar-nos da afronta eterna; morreu para dar-nos vida (Serm. in Nativ.).
Eis aqui o tabernáculo de Deus entre os homens, diz São João, no Apocalipse, e o Senhor morará com eles; eles serão seu povo, e o mesmo Deus, habitando no meio deles, será seu Deus: Ecce tabernaculum Dei cum hominibus, et habitabit cum eis. Et ipsi populus eius erunt, et ipse Deus cum eis erit eorum Deus (Ap 21, 3).
Aquele que é a vida veio aos que haviam morrido, diz Santo Agostinho; Aquele que é manancial da vida, cujas águas dão a imortalidade, consumiu a taça de dor que não havia merecido: Vita, venit ad mortem: fons vitae, unde bibitur ut vivatur, bibitur hunc calicem qui ei non debatur (Serm. in Pass.).
A graça de Deus Salvador manifestou sua benignidade e amor aos homens, salvou-nos, não por causa das obras de justiça que houvéssemos feito, senão por sua misericórdia (Tt 3, 4-5).
Por Jesus Cristo, diz o Apóstolo São Pedro, Deus fez-nos grandes e preciosos favores que tinha prometido; Ele no-los deu, a fim de que por eles participemos da natureza divina: Per quem maxima et pretiosa nobis promissa donavit; ut per haec efficiamini divinae consortes naturae (2 Pd 1, 4).
Infinita bondade de Deus
Bendito seja, diz o Apóstolo São Pedro, o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que por sua grande misericórdia nos regenerou com uma viva esperança de vida eterna, mediante a ressurreição de Jesus Cristo, de entre os mortos, para alcançar algum dia uma herança incorruptível, e que não se pode contaminar, e que é imarcescível, reservada nos céus para vós (1 Pd 3, 4).
A bondade de Deus é muito grande, é infinita:
- por ser Deus sua mesma bondade;
- por ser um dos objetos a que se propôs entregar à morte o próprio Filho de Deus para resgatar-nos;
- por ser outro dos objeto a que se aplica, os homens, seres vis, plenos de pecados e de toda espécie de misérias; Deus exaltou-os e cumulou-os de graças e de glória. Aqui, podemos dizer com o Salmista: Confitemini Domino quoniam bônus, quoniam in saeculum misericórdia ejus: Louvai ao Senhor por ser infinitamente bom; por ser eterna a sua misericórdia;
- pela abundância de dons que nos deu. Conferiu-nos benefícios, favores e graças sem conta e não deixa de no-las prodigalizar todos os dias. Vossa bondade é o que me faz ser o que sou, Senhor, diz Santo Agostinho; porque como pude merecer ser capaz de invocar-vos? Sois a bondade suprema, bondade que me deu o ser e proporcionou-me os meios de ser-me útil a mim mesmo (In Psalm.);
- a bondade de Deus é muito grande se a considerarmos no tempo e no lugar em que se exerce; porque se estende aos homens de todos os séculos e de todos os países, segundo aquelas palavra do Rei Profeta: Que o diga Israel que o Senhor é bom, e que é eterna sua misericórdia: Dicat num Israel quoniam bônus, quoniam in saeculum misericordia ejus (Sl 117, 2). E esta bondade esta operando eternamente para os Santos;
- é muito grande se se a considera na finalidade a que se propõe a respeito de nós, que é conduzir-nos ao reino dos Céus. Muita razão tem, pois São Pedro em dizer: Descarregai em seu amoroso seio todas as vossa solicitudes, pois é tem cuidado de vós: Omnem sollicitudinem vestram proicientes in eum, quoniam ipsi cura est de vobis (1 Pd 5, 7).
Aquele que tomou cuidado antes que existísseis, diz Santo Agostinho, como haveria de abandonar-vos agora que sois aquilo que Ele queria que fôsseis? Jamais Ele vos faltou, não Lhe falteis, pois, jamais; ou melhor, não vos falteis a vós mesmos[2]. O bebê vive sem inquietação e descansa sossegadamente no regaço de sua mãe; opere do mesmo modo com respeito a Deus, que é nosso Pai e nossa Mãe, todo homem que se julga fiel.
Ó, exclama Santo Agostinho, quão bom sois, Deus onipotente, que cuidais de cada um de nós como se não tivésseis que cuidar mais do que de um só homem, e cuidais de todos os homens juntos como se não formassem mais que um só[3].
O que é o homem, pergunta o Real Profeta, para que dele cuideis? Ou o filho do homem para que o visiteis? Quid est homo, quod menmor es ejus; aut filius hominis, quoniam visitas eum? (Sl 8, 5). Vós o fizestes um pouco inferior aos anjos; vós o coroastes de glória e de honra, e destes-lhe o império sobre todas as obras de vossas mãos. Todas elas as pusestes sob a planta de seus pés: todas as ovelhas e bois, e ainda as feras do campo, as aves do céu e os peixes do mar que fendem suas ondas[4].
Deus, diz São Bernardo, sobrecarrega de tal modo minhas costas com suas misericórdias e benefícios, que já não sinto nenhum outro peso: Sic onerat me mieserationibus suis, Deus, sic obruit beneficiis, ut aliud ônus sentire non possim (Serm. de Septem Misericordiis).
A benção de Deus é como um rio que inunda, diz o Eclesiástico (Eclo 39, 27). A bondade de Deus é um rio imenso que sai do mesmo trono de Deus, corre até o centro da terra, e a tudo rega, fecunda, alimenta e vivifica. Corre sem cessar e com abundância; penetra a alma e o coração.
Em todas as partes se manifesta a bondade de Deus; porém sobre tudo na criação…; na Cruz…; na justificação do pecado…; em nossos altares… e no Céu[5].
A bondade de Deus é um tesouro imenso
O Senhor pastoreia-me, diz o Salmista, nada me faltará. Ele me colocou em lugar de pastos; conduziu-me junto a umas águas que restaura e recreiam. Converteu minha alma. Conduziu-me pelos caminhos da justiça, para a glória do seu Nome. De tal sorte, ainda que eu caminhasse pelo meio da sombra da morte não temerei nenhum desastre, porque Vós estais comigo. Vossa vara e vosso báculo tem sido meu consolo. Aparelhastes diante de mim uma mesa abundante, à vista de meus perseguidores. Banhastes de óleo e perfumastes minha cabeça. E quão excelente e o meu cálice que tão santamente me embriaga! E me seguirá tua misericórdia todos os dias de minha vida, a fim de que eu more na casa do Senhor, por largo tempo (Sl 22).
Ó Deus, Vós distribuireis uma chuva abundante e aprazível a vossa herança, diz o Salmista: Ela viu-se aflita; porém, Vós a recreastes. Pluviam voluntariam segregabis, Deus, haereditati tuae, etc. (Sl 67, 10).
Deus, tesouro infinito, não busca outra coisa que nos enriquecer com seus dons, e não exige ao homem senão que os queira receber. Abre bem a tua boca e a saciarei, diz por meio de seu Profeta: Dilata os tuum, et implebo illud (Sl 80, 10). Encherei teu espírito e teu coração de todos os meus tesouros. Tão logo, Senhor, seremos cumulados de vossas misericórdias, e nos regozijaremos e recrearemos todos os dias de nossa vida (Sl 89, 14).
Eu farei, diz o Senhor por Jeremias, que voltem os cativos de Judá e os cativos de Jerusalém, e restituir-lhes-ei seu estado primitivo. E purificá-los-ei de todas as iniquidades com que pecaram contra mim; e perdoar-lhes-ei todos os pecados com que ofenderam-me e desprezaram-me. Isso fará com que às nações de toda a terra, perante esta notícia, cheguem todos os benefícios que lhe havia feito, celebrarão com gozo meu santo Nome, e elas me louvarão com vozes de júbilo, e ficarão plenas de assombro e de um saudável temor, à vista de tantos bens e da suma paz que eu lhes concederei (Jr 33, 7-9).
Nossos interesses são os de Deus
Derrubando Jesus Cristo a Saulo no caminho de Damasco com o poder de sua graça, disse-lhe: Saulo, Saulo, porque me persegues? Saule, Saule, quid me persequeris? (At 9, 4). Notai que era a Igreja a quem Saulo perseguia; porém Jesus Cristo olhava como feitos a Ele mesmo os males com que Saulo sobrecarregava os primeiros fieis. Assim é que não lhe diz: ‘Por quê persegues a meus filhos, a minha Igreja’; senão, “Por quê me persegues? Por quê me persegues em minha Igreja até a morte; sendo assim, Eu te persigo por meio dela para dar-te a vida? Minha Igreja não te fez dano, jamais te ofendeu: por que a persegues? Ao persegui-la, a mim me persegues!”
Jesus Cristo disse a seus Apóstolos: Aquele que vos escuta, escuta-me; e aquele que vos despreza, despreza-me: Qui vos audit, me audit; et qui vos spernit,, me spernit (Lc 10, 16). Ele olha os seus como seus próprios membros. É o que diz São Paulo aos Coríntios: Sois o corpo de Jesus Cristo, e os membros unidos a outros membros: Vos estis corpus Christi et membra de membro (1 Cor 12, 27). Assim é que Salvador dizia a seu Pai: Rogo que todos sejam uma mesma coisa, e que, como Vós, ó Pai, estais em mim, e eu em Vós, por identidade de natureza, assim seja eles uma mesma coisa em nós por união de amor: Ut omnes unum sint, sicut tu, Pater, in me, et ego in te, eu et ipsi in nobis unum sint (Jo 17, 21).
Nossos interesses são os de Deus, de tal maneira, que jamais abandona aos que se unem a Ele: Non relinquam vos orphanos; veniam ad vos (Jo 16, 18). Eis aqui, diz em outra parte, que eu estarei convosco todos os dias, até a consumação dos séculos: Ecce ego vobiscum sum omnibus diebus, usque ad consummationem saeculi (Mt 28, 20).
A bondade de Deus ajuda-nos, defende-nos e compadece-se de nossos males
São Paulo havia experimentado esta bondade de Deus que ajuda, que protege e que afasta os ataques, quando dizia a seu discípulo Timóteo: A primeira vez que defendi minha causa, ninguém me socorreu, todos me abandonaram. Porém, o Senhor me prestou sua assistência e fortaleza, e fui livre da boca do leão. O Senhor me livrará de toda obra má; Ele me salvará e me levará para seu reino celestial[6].
Deus, ao perdoar o mal que o homem fez, diz o venerável Beda, ajuda-lhe para que não volte a cair no pecado, e conduz-lhe à vida, onde o mal é impossível (In Psalm.).
Senhor, diz o Salmista, sereis o sustento do débil e do órfão: Orphano tu eris adjutor (Sl 10, 14). Senhor, vós me ajudastes: tu, Domine adjuvisti me (Sl 85, 17). O Senhor é meu socorro, sustenta-me, não temerei as ameaças, nem os maus tratamentos dos malvados: Dominus mihi adjutor; nom timebo quidfaciat mihi homo (Sl 117, 6).
Em todos os tempos e em todos os lugares, o Senhor presta sua assistência a seu povo, diz a Sabedoria: In omni tempore, et in omni loco assistens eis (Sb 19, 20).
O pontífice que temos, diz São Paulo aos Hebreus, não é de tal natureza que não possa compadecer-se de nossas debilidades, posto que foi experimentado como nós por toda classe de males, à exceção do pecado. Acorramos, pois, com a confiança ao trono da graça, com o objetivo de receber misericórdia e achar graças e socorros em tempo oportuno[7].
Não é a bondade de Deus a que sofre nossa fragilidade? Ela purifica aos indignos, alimenta aos ingratos, tolera aos que a despreza, reanima aos extraviados, e recebe misericordiosamente aos pecadores que se arrependem e fazem penitência.
A bondade de Deus perdoa facilmente
Deus está pleno de misericórdia, diz o Salmista; perdoa o crime e não quer a perda do culpável[8]; não deixa de moderar sua ira; contém seu furor; recorda-se de que o homem não é mais que carne, um sopro que passa e não volta[9]. Vós, Senhor Deus, sois doce e compassivo, paciente e pródigo em misericórdias: Tu Domine Deus, miserator et misericors, patiens et multae misericordiae (Sl 85, 15). Sois indulgente para com todos, Senhor, diz a Sabedoria, porque vos pertencem a vós, que tanto amais as almas (Sb 11, 27).
Eu lhes purificarei de todas as iniquidades que cometeram, e perdoar-lhes-ei todos os seus crimes, diz o Senhor por boca de Jeremias[10].
Convertei-vos e fazei penitência de todas as vossas iniquidades, diz o Senhor por meio do profeta Ezequiel, e não serão mais causa de vossa ruína (Ez 18, 30). Lançai para longe de vós todas as vossas prevaricações com que vos manchastes, e formai-vos um coração e um espírito novos; e porque haverás de morrer, diz o Senhor Deus: convertei-vos e vivereis: Quia nolo mortem morientis, dicit Dominus Deus: revertimini et vivite (Ez 18, 32). Se depois que eu tenha dito ao ímpio morrerás de uma morte má, ele fizer penitência de seu pecado, e praticar obras boas e justas; se devolver o depósito que se lhe havia confiado; se restituir o que havia roubado; se caminhar pelas sendas de meus mandamentos, que é o caminho da vida; se não fizer nada injusto, viverá e não morrerá. Não se lhe imputarão todos os pecados que tenha cometido; terás, pois, a vida verdadeira (Ez 33, 14-16).
Se Eu, que sou Juiz supremo, tomo vossa defesa, ó pecadores, e me nego, de certo modo, ao firmar vossa sentença de reprovação; se Eu, que sou vosso Rei, perdoo-vos ainda que me tenhais insultado; se Eu vos faço graças de meu próprio movimento; se Eu vos devolvo a saúde, porque havereis de morrer, casa de Israel? Quare moriemini, domus Israel? (Ez 33, 11).
Morreremos, dizeis, porque a lei, ministro da morte, condena a seus transgressores. Porém, não sou eu o advogado encarregado de defender-vos e fazer- vos evitar as perseguições de vosso acusador? A lei condena-vos. Porém, eu absolvo aos que se arrependem. Porque haveis de morrer? Quare moriemini? Morreremos, porque nossos pais pecaram. Porém, Eu que vivo, digo que os filhos não levarão a iniquidade de seus pais. Porque haveis de morrer, casa de Israel? Quare moriemini, Israel? Morreremos, porque fizemos um pacto com a morte, e uma aliança com o inferno por nossos grandes e numerosos pecados. Porém, está em vossa mão o romper deste pacto: Voltai e vivei. Porque haveis de morrer, casa de Israel? Quare moriemini, Israel? Morreremos, porque, sobrecarregados sob o peso do corpo, inimigo da alma, caímos no barro. Porém, depois, querendo, Eu vos farei um coração novo, neste corpo de pecados. Porque, pois, haveis de morrer? Quare moriemini? Morreremos, porque é demasiado difícil adquirir a vida com a observância da Lei. Porém, é fácil para vós fazer-vos uma alma e espírito novos que vos elevem até Mim, e que vos façam alcançar graças poderosas por meio das quais adquirireis a vida e observareis a Lei. Porque haveis de morrer, casa de Israel? Quare moriemini, Israel? Morreremos, porque já estamos condenados à morte pela justiça divina. Porém, Eu, que não quero a perda eterna daquele que a Morte arrebata no tempo, arrancarei de suas mãos aqueles que haviam de ser sua presa. Porque haveis, pois, de morrer? Quare moriemini? Morreremos, porque Deus esqueceu-nos por causa de nossos pecados. Porém, Eu, o Senhor, não posso esquecer aos justos que oram por vós. Se, em Sodoma, houvesse tão somente dez justos por intercessores junto a mim, tê-la-ia conservado, apesar de seus crimes. Em consideração aos justos que por vós pedem graça, e a fim de ouvi-los, Eu os perdoarei. Porque, pois, haveis de morrer? Quare moriemini, Israel? Morreremos, porque não podemos resistir ao poder divino. Porém, recorrei à misericórdia de Deus, e sereis fortes contra ele, como o foi em outro tempo, Israel? Quare moriemini? Somente uma coisa debilita-vos, acusa-vos, condena-vos e vos dará a morte: é que não quereis mudar de vida, nem corrigir-vos; não sabeis fazer todavia os sacrifícios necessários para viver por Deus. Porém, Eu, vosso Criador, não cessarei de advertir e de exortar a melhores sentimentos àqueles que se veem acossados de semelhante frenesi. Porque haveis, pois, de morrer, casa de Israel? Quare moriemini, domus Israel? Repito-vos, outra vez, não quero a morte do pecador; quero ao contrário, que se converta e viva. Voltai, pois, convertei-vos e vivei. Quem é o pecador que poderia resistir a esse admirável quadro da bondade divina.
Escutai a Santo Agostinho: Deus, diz, amou o ímpio, a fim de fazer-lhe justo; amou ao enfermo, a fim de curar-lhe; amou ao perverso, para novamente o trazer ao bom caminho; amou ao que havia morto, para devolver-lhe a vida: Dilexit impium, ut facieret justum; dilexit infirmum, ut faceret sanum; dilexit perversum, ut faceret rectum; dilexit mortuum, ut faceret vivum (Homil.).
Sois um Deus bom, diz o mesmo Doutor, e dais ao homem aquilo de que necessita para que possa fazer o que mandais. Deus es, et homini donas unde facias eum facere quod mandas (Ut supra).
Deus, acrescenta ainda Santo Agostinho, não manda coisas impossíveis; manda-vos que façais o que podeis, e que peçais a força de cumprir o que não podeis; e, ademais, ajuda-vos a fazê-lo: Deus impossibilita non jubet; sed jubendo monet, et facere quod possis, et petere quod non possis, et adjuvat ut possis (In Epist. ad Rom.).
A bondade de Deus vem em nossa ajuda com consolos
Nosso Deus é o Deus de todo consolo, diz São Paulo: Deus totius consolationis (2 Cor 1, 3).
Todas as amarguras transformam-se em doçura quando os consolos inundam a alma. Em todos os séculos, os Santos fizeram essa doce experiência. Estes consolos tiram os espinhos das cruzes, e as cruzes, que são tão pesadas para os infelizes entregues às voluptuosidades do mundo, são ligeiras, amáveis e plenas de encanto para os que amam a Jesus Cristo.
A bondade de Deus dá com abundância
Deus derrama liberalmente seus dons sobre todos, diz o apóstolo São Tiago: Dat omnibus afluenter (Tg 1, 5).
Deus, diz Santo Tomás:
- dá com liberalidade; não vende;
- dá a todos, não a um somente;
- dá com abundância;
- dá com generosidade, sem jogar na cara.
Enrubesça-se a preguiça humana: Deus até está mais disposto a dar-nos do que nós em receber. O próprio da natureza de Deus, sua inclinação, é doar.
Deus, diz Santo Agostinho, é todo para nós. Se tendes fome, será vosso pão; se tendes sede, será vossa bebida; se estais nas trevas, será vossa luz; se estais nu, Ele vos revestirá de imortalidade: Deus tibi totum est. Si esuris, panis tuus est; si sitis, aqua tibi est; si in tenebris, lumen; si nudus, immortalitate tibi vestis est (Trac. XIX, in Joann.).
Deus se me dá inteiramente, inteiramente está à minha disposição, diz São Bernardo: Tuus mihi datus, et totus in meos usus expensus (Serm. III in Circumsis.).
Meu pai e minha mãe me abandonaram; porém, Deus tomou-me sob sua proteção, diz o Salmista: Pater meus et mater mea delerinquerunt me, Dominus autem assumpsi me (Sl 26, 10).
Casa de Jacó, diz o Senhor por meio de Isaías, e vós todos, restos da casa de Israel, escutai-me: Eu mesmo levar-vos-ei nos braços até a velhice, e até vossos últimos dias; Eu vos criei; carreguei-vos sobre minhas costas; Eu vos levarei e vos salvarei[11].
Estas expressões: Eu vos levarei em meu seio, em minhas entranhas, sobre minhas costas, indicam-nos quão maternal é a providência de Deus, seu terno amor e seus cuidados, até superiores aos de uma mãe. Deus não somente alimenta ao corpo, senão que alimenta também a alma, e fortifica-a com sua graça, sua doutrina, suas inspirações, sua palavra, seus sacramentos, seu sangue, seu corpo, sua alma e sua divindade. Como uma mãe, Deus força ao cristão no seio da Igreja, dá-lhe a vida, amamenta-o, acaricia-o, presta-lhe calor no seu regaço, educa-o, instrui-o, dirige-o até que possa conduzi-lo ao Céu.
Eu vos levarei e vos prodigalizarei todos os meus cuidados até vossa velhice: as mães não amamentam a seus filhos, nem os levam em seus braços, senão durante alguns anos… talvez somente durante alguns meses; porém Deus leva-nos até a velhice.
Apoiei-me sobre vós, Senhor, desde o seio de minha mãe[12], diz o Real Profeta; não me rejeiteis quando chegar minha velhice, nem me abandoneis quando tenham decaído as minhas forças: In te confirmatus sum ex utero; ne projicias me in tempore senectutis; cum defecerit virtus mea, ne derelinquas me (cf. Sl 70, 6.9).
Poderia uma mãe, prossegue o Senhor por boca de Isaías, poderia uma mãe esquecer a seu filho? Pois ainda quando ela o esquecesse, Eu não vos esquecerei nunca (Is 49, 15). Olha como Eu te levo gravado em minhas mãos: Ecce in manibus meis descripsi te (Is 49, 16); quer dizer, conservo constantemente vossa recordação, jamais vos esqueço, cuido de vós e de tudo quanto vos interessa, como se estivésseis gravados em minhas mãos, de tal maneira, que não posso olhá- las sem ver-vos.
Jesus Cristo tem realmente à Igreja, sua esposa, e a todos os fieis gravados nas Sagradas Chagas de suas mãos, de seus pés e de seu lado, nas feridas que recebeu e cuja marca conservará eternamente. Ali, inscreveu nossos nomes, não com tinta, senão com Sangue; não com pluma, senão com cravos; não sensivelmente no exterior, senão em sua Carne; e tão profundamente, que nem a eternidade poderá apagá-los. De suas Mãos, de seus Pés, de seu Lado emanaram todos os dons da graça, os sacramentos e os bens espirituais, que são a riqueza, a força e a salvação de sua Igreja.
Deus é tão bom, que deseja que sua vingança não chegue a efeito, e que Lhe atem as mãos; porém quer ser livre, seja na manifestação de sua bondade, seja nas graças que Ele concede.
- Sabeis, diz o Senhor por boca de Jeremias, os pensamentos que nutro a vosso respeito.
- São, Senhor, pensamentos de cólera e de castigo?
- Não; “são pensamentos de paz e não de aflição”: Ego scio cogitationes quas cogito super vos, aid Dominus, cogitationes pacis et non aflictionis (Jr 29, 11).
Serão meu povo, e eu serei seu Deus. E dar-lhes-ei um só coração e um só culto, a fim de que me temam todos os dias de sua vida, e que a paz esteja com eles e com seus filhos depois de sua morte. Farei com eles uma aliança eterna, e não deixarei de fazer-lhes o bem. E meu gozo estará em fazer-lhes benefícios (Jr 32, 38-41).
Quem é, pois, Deus? Ele é o bem infinito; nada é comparável à sua bondade. Ele é o Bem Incriado, que, quanto mais possui, mais gasta e faz feliz.
Deus quer a felicidade e a salvação de todos, diz o grande Apóstolo: Omnes homines vult salvos fieri (1 Tm 2, 4).
Deus, diz-nos Santo Agostinho, não se ocupa mais que de minha salvação; este é o motivo pelo que eu O vejo inteiramente decidido a guardar-me, como se se esquecesse de tudo o mais e não quisesse ocupar-se mais do que de mim. Manifesta- se continuamente e em todas as minhas partes, e não deixa de estar sempre pronto em meu obséquio; em qualquer parte aonde eu vá, Ele não me deixa; em qualquer parte, onde eu esteja, não se afasta; está presente em tudo o que eu faça[13].
Ó duros e intratáveis filhos de Adão a quem não pode enternecer nem uma bondade tão grande, nem uma chama tão viva, nem um amor tão ardente! Exclama São Bernardo: O duri et obdurati filii Adam, quos mollit tanta benignitas, tanta flamma, tam ingens ardor amoris, tam vehemens amor! (Serm. II de Pent.).
Deus queixa-se de nossa ingratidão
Considerai o excesso da bondade de Deus para com os homens. Esta bondade manifesta-se até em suas queixas contra nós, que estão plenas de doçuras, de compaixão e de amor.
Achando-se próximo de Jerusalém, Jesus Cristo derramou lágrimas ao divisar seus muros, e disse: Ah! Se tu soubesses agora mesmo o que te pode trazer a paz! Porém, neste momento, tudo está oculto à tua vista (Lc 19, 41-42).
Ó filha de Sião, tu, a quem amo, a quem honro, enriqueço e instruo; tu, que és testemunha de minhas bondades e prodígios tão numerosos e tão grandes; tu, a quem cumulo de benefícios extraordinários, como não conheces? Porque me recusas, persegues-me e dispõe-te a condenar-me, a crucificar-me e a dar-me a morte? Por ti desci do céu sobre a terra, nasci em um estábulo, e vivi penosos e contínuos trabalhos, no meio de sofrimentos, da pobreza e de todas a privações. Visitei-te, instrui-te, curei-te, à tua vista, a teus leprosos, a teus coxos, a teus enfermos, a teus cegos, surdos, mudos e paralíticos; fiz milagres para multiplicar os pães que deviam alimentar-te; devolvi a vida a teus mortos; já faz quatro mil anos que teus pais me desejavam; e tu foges de mim, desprezas-me, calunias-me, aborreces-te de mim e me persegues.
Povo meu, que te fiz Eu? Em que te ofendi? Reponde-me: Popule meus, quid fecit tibi, aut quid molestus fui tibi? Responde mihi (Mq 6, 3).
Porventura, ofendi-te arrancando-te da terra do Egito, libertando-te da casa da escravidão e dando-te por chefe a Moisés e a Aarão? (Mq 6, 4).
Pode dizer-se de cada homem em particular o que aqui se diz da filha de Sião e do povo de Israel? Estáveis perdidos, e vim ensinar-vos o caminho; éreis pobres, e vim enriquecer-vos; éreis escravos, e vim dar-vos a liberdade; estáveis condenados, e vim a absolver-vos; estáveis mortos, e vim dar-vos a vida! Quem mais poderia eu ter feito por vós que eu não tenha feito? Quid est quod debui ultra facere vineae meae, et non feci ei? (Is 5, 4).
Se houvesse sido um inimigo aquele que Me houvesse ultrajado, Eu o teria sofrido; porém, és tu, ó homem, que aparentavas ser outro Eu, meu guia e meu amigo; tu que juntamente comigo tomavas o doce alimento, que andávamos em companhia na casa de Deus (Sl 54, 13-15). Ah! Que arrebate a esses tais a morte, e desçam vivos ao inferno!
É necessário que mostremos reconhecimento perante as bondades de Deus.
Meios de manifestar nosso reconhecimento
Por tantas bondades, é preciso manifestar a Deus nosso reconhecimento e nosso amor, e os meios que temos de empregar, são:
- Ter Nele uma confiança ilimitada. Não vos preocupeis convosco, diz São João Crisóstomo, confiai tudo a Deus; porque, se quiser cuidar de vós, vós o fareis como homens débeis; porém, se deixais Deus obrar, Ele a tudo atenderá: às coisas temporais, às espirituais, etc. (Homil. LVI );
- Temer a Deus. Sua misericórdia derrama-se de geração em geração sobre aqueles que O temem, diz a Santíssima Virgem: Misericórdia ejus in progenies etprogênies timentibus eum (Lc 1, 50).
- Conservar o coração simples e reto. Que bom é o Deus de Israel para aqueles que tem o coração reto! exclama o Salmista: Quam bonus Israel Deus his qui recto sunto corde! (Sl 72, 1).
- Louvar e bendizer a Deus. Louvar seu nome, porque o Senhor é doce, e sua misericórdia é eterna, acrescenta ainda o Salmista: Laudate nomem ejus, quoniam suavis est Dominus, in aeternum misericordia ejus (Sl 99, 4-5). Ó minha alma, bendize ao Senhor, e não te esqueças jamais seus benefícios: Benedic, anima mea, Domnio, et noli oblivisci omnes retributiones ejus (Sl 102, 2).
- Instar para que todas as criaturas louvem a Deus e deem-lhe graças. Céus, exclama Isaías, celebrai ao Senhor; terra, estremecei de alegria; montanhas, fazei ressoar seus louvores: Laudate, caeli; et exulta, terra; jubilate, montes, laudem (Is 49, 13).
- Converter-se…
- Observar a Lei de Deus.
Referências:
[1] Praevenit ut sanemur, et subsequitur, ut sanati vegetemur; praevenit ut vocemur, et subsequitur, ut glorificemur; praevenit ut pie vivamus, et subsequitur, ut cum illo semper vivamus (De Grat. et de Lib. Arbitr.).
[2] Qui habuit tui antequam esses, quomodo non habebit curam, cum jam hoc es quod voluit ut esses? Nunquam tibi deest: tu illi noli desse, tu tibi noli desse (Psalm. XXXIX).
[3] Ó tu, bone Omnipotens, qui sic curas unumquemque nostrum tamquam solum cures, et sic omnes tamquam singulos! (Lib. III Confess. c. XI).
[4] Minuisti eum paulo minus ab angelis, gloria et honore coronasti eum, et constituisti eum super opera manuum tuarum. Omnia subiecisti sub pedibus ejus, oves et boves universas, insuper et pecora campi, volucres caeli, etpisces maris, qui perambulant semitas maris (Psalm. VIII, 6-9).
[5] Há uma grande semelhança entre essa sentença de Cornélio a Lápide (séc. XVII) e a Ladainha da Divina Misericórdia (séc. XX) segundo os escritos de Santa Faustina. Nesta frase de Cornélio encontra-se o eco do desejo humano de reconhecer a bondade de Deus, enquanto que, na Ladainha da Divina Misericórdia, encontra-se o modo de coroar e saciar tal desejo, revelado privadamente por Deus à sua serva consagrada (Nota do tradutor).
[6] In prima mea defensione nemo mihi adfuit, sed omnes me dereliquerunt. Dominus autem mihi adstitit, et confortavit me; et liberatus sum de ore leonis liberabit me Dominus ab omni opere malo, et salvum faciet in regnum suum caeleste (cf. II Tim. IV, 16-18).
[7] Non enim habemus pontificem qui non possit conpati infirmitatibus nostris; temptatum autem per omnia, pro similitudine absque peccato. Adeamus ergo cum fiducia ad thronum gratiae; ut misericordiam consequamur, etgratiam inveniamus in auxilio oportuno (Heb. IV, 15-16).
[8] Ipse autem est misericors, et propitius fietpeccatis eorum, et non disperdet eos (Psalm. LXXVII, 38).
[9] Et recordatus est quia caro sunt, spiritus vadens et non rediens (Psalm. LXXVII, 38)
[10] Emundabo illos ab omni iniquitate sua, etpropitius ero cunctis iniquitatibus eorum (Jer. XXXIII, 8).
[11] Audite me, domus Iacob, et omne residuum domus Israhel, qui portamini a meo útero, qui gestamini a mea vulva. Usque ad senectam ego ipse, et usque ad canos ego portabo; ego feci, et ego feram, et ego portabo, et salvabo (Isai. XLVI, 3-4).
[12] “Ó meu Deus, sois meu amparo, desde antes que eu nascesse” é outra possível de tradução (Nota do tradutor).
[13] Nihil aliud agit Deus, nisi ut meae saluti provideat; et ideo totum ad mei custodiam occupatum video, quase ominium oblitus sit, et mihi soli vacare, velit. Semper praesentem mihi se exihibet Deus, semper paratum offert, quocumque me verto, me non deserit; ubicumque fuero, non recidit; quidquid egero, pariter asssitit (In Medit. ).